Ele parecia chocado; talvez, também, eu tenha visto um lapso de decepção passar pelo seu rosto antes dele fazer uma careta e sorrir. 

- Olá- cumprimentou.- Me disseram que esse era o quarto da minha irmã. É aqui mesmo?

- Depende- dei de ombros e ele me olhou confuso.

- De que? Ou você é minha irmã ou não é.

- De quem são seus pais- falei séria fazendo ele rir.

- Sou filho de Hefesto.

- Então muito prazer irmãozinho- estendi a mão dramaticamente como cumprimento. Depois de alguns segundos com ela estendida, fiz uma cara de dor e a baixei.- Tudo bem- falei com fingida voz de choro.- Eu vou superar essa horrível decepção... Tentarei não me atirar do...

Ele começou a rir e eu tive de acompanha-lo pois ele ria de um jeito engraçado. Desesperadamente, mas em silencio.

Meu pai escolheu esse momento para chegar, pelo menos eu acho, porque eu o vi uns cinco minutos depois de começar a rir. Ele nos olhava de modo curioso e parecia se segurar para não rir junto, optando por apenas sacudir a cabeça levemente. 

- Parece que não vou ter trabalho com a relação de vocês dois...

- Nenhum, o... Qual é seu nome mesmo?-  nossa sessão retardadice fez com que eu esquecesse de perguntar... 

- Adam- respondeu.- E o seu?

- Amy.

- Ja chaga vocês dois. No caminho eu passei pela Ayla e pedi que ela servisse o café mais cedo hoje. Assim nós comemos juntos antes dos dois irem para o acampamento.

Todo o bom humor que eu estava se esvaiu e eu me sentei na mesa desanimada. Quando Ayla apareceu com as coisas eu mal a cumprimentei, era somente mais alguém para eu sentir falta. Por mais que aqui eu não tivesse muitas pessoas, todas as que eu via era importantes para mim. Parte da família, e eu teria de me afastar deles somente por causa dela. Alem de me abandonar agora denunciava a minha existência a Zeus... Sinceramente, não sei como essa mulher representa o amor, deve ser por isso que ele está tão em falta nos dias de hoje. Só de pensar em tudo o que ela já fez para o meu pai...

- Não fique assim, Amy- falou Adam. Na minha distração meu pai já havia saído e eu nem percebera.- Ele foi pedir permissão a Zeus para nos teletransportar para o acampamento- explicou.- O acampamento é legal. Tenho certeza que vai gostar.

- Talvez eu goste- disse para fazer ele se sentir melhor. Se bem que depois que meu pai saiu as coisas melhoraram bastante. Ele parecia inseguro perto do pai, como se tivesse medo de fazer algo errado e ser repreendido. Esse, acho, era o maior defeito do meu pai: ele era distraído demais; até mesmo comigo, que passei a vida toda ao lado dele. A diferença é que eu já estava acostumada.

Eu precisava ter uma conversinha com meu pai, ele não devia estar visitando o acampamento com frequência... 

...

- Zeus não permitiu que eu os levasse, mas Apolo se ofereceu para faze-lo. Vocês se importam?

- Bom, eu não conheço Apolo pessoalmente...- nos estávamos caminhando pelo castelo em direção a sua saída, meu pai tinha ido nos buscar no quarto, interrompendo nossa conversa.- Mas pelo que eu ouvi nas histórias ele é meio... Añ... Digamos que andar no carro do sol me deixa um pouco nervosa... Andar com alguém tão...

Ouvi uma risada suave atras de mim e um homem alto e loiro nos alcançou. Os olhos dele eram azuis, e o corpo bastante definido, o que ficava evidente na regata branca que usava. Ele sorria como um ator de novela, e parecia andar em uma passarela. Para completar ele olhava fixamente para mim, como se eu fosse a figura mais interessante do mundo.

- Falando de mim?- perguntou. Ao meu lado vi Adam fazer uma reverencia, dirigindo-se a ele como senhor Sol. O deus nem mesmo olhou para ele uma segunda vez.- Não há problema, todas as mulheres ficam nervosas diante de mim. Prometo que isso não diminuirá suas chances comigo.

Se ouve algum encanto, senhoras e senhores, ele acaba de ser quebrado.

- Eu ia dizer: arrogante, galinha e chato, mas obrigada por adicionar narcisista na minha lista- que cara irritante. 

O queixo dele caiu, por alguns segundos, então ele voltou a sorrir, brilhante, e tirou uma chave do bolso do jeans e continuou a andar, girando ela nos dedos. Pressionou um botão e um carro se materializou com uma forte luz no meio do pátio. Era, sem dúvida, o carro mais chamativo que já vi. O modelo era esportivo e a cor era de um vermelho vibrante. Ele era baixo, e emitia uma leve luz, mesmo depois de alguns segundos parado. O interior dele era todo de couro preto, e uma musica agitada tocava auto do interior. As portas abriram automaticamente apenas com um estalar de dedos do Deus e quando fui entrar vi que ele era climatizado. 

- Apolo se aproximou, indicando para que eu sentasse no lugar do carona. Ignorei-o e me dirigia para o banco de trás, sentando-me ao lado do meu irmão. 

- É, Apolo, parece que você encontrou alguém que não lhe quer...- a voz de meu pai debochou ao fundo.

- Adoro mulher difícil...- respondeu o Deus entrando no carro. Adam, ao meu lado, bufou com indignação.

Ele ligou o motor e o carro começou a voar, tomando altitude.

- Então- começou o deus- você é filha de Hefesto?

- Não... De Afrodite- como eu amo ironia. 

- Você parece filha de Afrodite. Não tem nada a ver com meu irmão. É muito diferente de como já imaginei qualquer filha dele.

- Já você é exatamente como imaginei.

- Lindo?

- Não. Burro.

Ele ficou quieto o resto do percurso, somente me olhando de tempos em tempos. O carro percorria o caminho em alta velocidade, o que me preocupou quando começamos a perder altitude. Eu acho que ele não sabia pousar.

- APOLO!- berrei quando passamos a um centímetro de um avião.- CUIDADO!

- Peça desculpas- falou o deus do sol, rindo.

- Não- bufei.

- Tá bom então- o carro acelerou ainda mais, e agora se ia em direção a um prédio.

- Amy- disse Adam, nervoso.- Acho melhor você se desculpar.

Mais que merda! Adam está com medo. Eu, ao contrario dele, não tinha, mesmo que ninguém soubesse, eu era uma deusa e não morreria. Além do mais eu teria uma chance de bater muito em Apolo depois. Mas agora... 

- Desculpe- pedi. Nós íamos cada vez mais rápido em direção ao alto edifício. Sinceramente, eu estava com vontade de revirar os olhos, mas tinha que pensar em meu irmão. A vida DELE dependia disso.

- Só se você falar que eu sou o deus mais bonito do olimpo.- disse diminuído o ritmo do carro. 

- Nem nos seus maiores sonhos- di imortales, ele era um idiota. Muito mais do que jamais pensei. 

- Tudo bem- falou. Nos aproximamos cada vez mais do prédio, e ele aumento novamente a velocidade, estávamos a menos de 100 metros quando Adam não aguentou e acabou berrando. Ele até que suportou bastante.

- EU FALO- berrei e Apolo desviou subitamente o rumo do carro, mudando para uma direção quase oposta, saindo do centro da cidade. 

- Estou esperando- comentou enquanto o maravilhoso carro ganhava altitude rapidamente. 

- Você é o deu mais bonito do Olimpo- eu tinha a sensação de estar engolindo uma bebida muito amarga. Eu nem achava ele tão bonito assim; Apolo tinha aquele tipo de beleza feita, como se fosse perfeito de mais, e isso o assemelhasse a uma boneco. Os olhos eram azuis demais, o cabelo de uma loiro excessivamente perfeito, como se ele tivesse passado horas na frente do espelho, planejando o penteado. A roupa dava a impressão de que ele era uma daqueles menininhos ricos que sempre tiveram dinheiro para ter roupas de marca e não cansavam de compra-las. Não podia negar que ele era bonito. Seria mentira. Mas depois de tudo o que eu vivi preferia um sorriso que não fosse tão auto-sufuciente. 

- Eu sei- sorriu o deus,fazendo o carro descer, dessa vez com cuidado. O lugar onde ele pousou parecia uma imenso campo de morangos, embora tivessem algumas videiras mais a frente.- Bem vindos ao ao acampamento meio-sangue- anunciou animadamente pulando para afora do carro.