Tomando Chá Com Os Mortos escrita por IFToldoTASilva


Capítulo 8
E agora?




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Já se passaram 2 semanas que minha mãe esta no hospital...

Vou lá todos os dias depois e antes da aula. Não vejo Ethan dês do “acidente de carro”, com toda a certeza ele está com medo de ser preso.

Se não fosse pela minha mãe eu mandaria ele para a cadeia com muito prazer e um sorriso irônico.

Hoje ela volta para casa, mais ainda deve ficar de repouso. Fico melhor com ela em casa, me sinto mais segura...

- Então como está se sentindo mamãe?

Perguntei enquanto ajudava ela a se sentar na poltrona da sala já em casa.

- Ah, estou muito melhor só por poder estar em casa...

- Que bom mãe, se precisar de qualquer coisa é só me ligar, tenho que ir para a escola agora... a menos que você queira que eu fique...

Não to nem um pouco afim de ir para a escola hoje.

- Não filha, pode ir! Eu vou ficar bem...

Minhas técnicas de fuga... Não deram certo...

- Tudo bem então mamãe, qualquer coisa liga e eu venho correndo! Te amo!

- Também te amo... Boa aula!

Ela disse me dando um beijo na testa. Peguei minha mochila e me dirigi para o hospício que eu chamo de escola...

Como sempre eu sou a primeira a chegar, sento na escada e abro meu livro. Gosto muito de ler, me distrai, me tira da realidade, é simplesmente perfeito para mim! Enquanto lia e comia uma maçã o pessoal da escola foi chegando, cada um com o seu grupinho, sua gangue. Sim, eu sou excluída, mas isso não me incomoda, prefiro ficar longe de qualquer pessoa como as pessoas daqui. Elas são totalmente rotuladas, seguem padrões e são impressionantemente falsas.

- Olá Sam, você ficou um bom tempo sem vir... Esta tudo bem?

Levei um susto! Era o Roby, zelador da escola, o único ser que conversa comigo por aqui...

- Ah, olá Roby... Pois é tive uma viajem de família, mais está tudo bem sim.

Mentir já virou minha especialidade.

- Ah sim... Acho melhor você ir para não se atrasar...

- Ok, to indo até o almoço...

- Até!

Me dirigi junto com a multidão de alunos para a sala de Física, minha primeira aula de hoje...

Ah como eu odeio Física! Na verdade odeio tudo que envolva números e professores que cuspam para falar.

Sento no fundo como sempre, no canto perto da janela. Ninguém se senta perto de mim, típico.

   O professor começa a falar, ou melhor, a cuspir. Não presto muita atenção, meus pensamentos estão ligados em casa, na minha mãe... Como será que ela está?

   As outras aulas até que foram suportáveis, na hora do almoço me sentei-me à mesa do canto da cantina, sozinha. Nessa hora gosto de observar as pessoas, é engraçado o modo como cada um se comporta, alguns me lembram de macacos, outros já me lembram de piranhas... Talvez o ser humano ainda não tenha deixado sua origem animal no passado...

- Ei garota?

Um garoto forte veio se aproximando de mim, o que ele quer?

   Levanto minha cabeça lentamente para poder olhar pra ele. Danyen, capitão da equipe de futebol americano da escola, metido, se acha o “bonzão”. Ah como eu odeio gente assim...

- Fala comigo?

Pergunto só para ter certeza de que ele quer realmente falar comigo, cara idiota.

- Claro morena, é Samantha certo?

- É Samantha nada além de Samantha e com toda a certeza não é “morena”, e nem nunca vai

ser.

   Esse cara não se toca não?

- Ta pode ser...

Poder ser?! Quer morrer?!

- Sabe Samantha eu e os meus amigos vimos sua mãe saindo do hospital...

  O QUÊ?! Aquela dor retorna, seguro firme para me manter sentada.

- O que foi Sam? Seu papai bateu denovo na mamãe? E você é tão idiota que nem defender ela você consegue? Tem mais um machucado novo? Que foi tem medo do papai? Ou está chocada por eu saber dessas coisas?

   O que ele falou e o sorriso irônico que acompanhavam cada palavra dele me irritaram completamente! Eu já nem sabia o que ia fazer... Só sabia que não iria me controlar por muito tempo...

- Como você sabe dessas coisas?

- Simples... Eu e os meus amigos gostamos de andar por aquele bairro escuro a noite...

- Tava fugindo da policia?

  Ninguem é louco o suficiente para andar por lá de noite...

- Seu pai que precisa correr da policia.

- Você e seus amigos vão denuncia-ló?

Falo com um tom irônico, não tendo certeza se isso seria bom ou não para mim e minha mãe.

- Não sei, se você for boazinha, talvez pense no seu caso.

  Uma pequena indecisão, começa a crescer rapidamente em minha mente. Não sei se faço ou não faço.

- E para você o que significa ser boazinha?

Com delicadeza pergunto.

- Bom, não confio em você tanto assim, queridinha.

- Confie em mim, eu faria qualquer coisa pela minha mãe.

A ira sobe em cima de mim como chamas, e cuspo as palavras para ele.

- Talvez para uma garota que não enfrenta o próprio pai, isso é algo pesado demais.

- O que eu faço da minha vida, não é da sua conta. Por favor, me conte o seu "plano" que o executarei não importa o que seja.

Com medo do que esteja por vir, mas tento parecer firme.

  Percebo que Danyen, o garoto das ameaças, faz um sinal com as mãos e rapidamente dois garotos se aproximam de nós. O Edgar que possuía os cabelos na altura dos ombros, louros e cacheados, seus olhos eram azuis, o observei por alguns segundos, e reparei que ele possuía uma beleza encantadora, porém possuía um olhar de ameaça. E Aron que não chegava a ser tão belo, mas possuía uma aparência simpática, seus cabelos eram negros e curtos, e seus olhos eram escuros como carvão. Eles se sentam a minha mesa, colocando suas bandejas de um jeito ameaçador.

- Eai, como vai ser? Já contou a ela o que vamos fazer.

 Ele chegava cada vez mais próximo de mim, o que me fez me sentir um pouco desconfortável, pois sempre estou só e nunca possui contatos assim com outro ser humano, sem contar com minha mãe é claro.

- Ainda não, mas acho que ela não vai nos trair, pois se trair ela vai se arrepender bastante de tê-lo feito.

Edgar e Danyen soltam uma risada alta, que atrai alguns olhares. Escuto muitas garotas se perguntando qual era o motivo de eu estar com essas belas companhias. Mas não me importo, sempre fui motivo de piadas e realmente aquilo não me atingia.

- Não quero fazer isso, quantas vezes tenho que falar.

Aron fala com um tom de medo, e os seus olhos lacrimejando. Os dois outros garotos o olham com cara de desprezo.

- Pare de enrolar e me conte logo o que vocês querem que eu faça.

O intervalo já estava acabando, e não podia me atrasar mais uma vez na aula de educação física, a professora já não gostava de mim, não queria arranjar motivos para mais encrencas.

- Ok, queremos apenas que você esteja amanhã as 20:00 em ponto, naquela loja que se não me engano é algumas quadras de sua casa, ultimamente ela tem faturado muito, e nós não estamos tendo nada. Você não acha isso injusto?

Não acredito, que terei de participar de um roubo, serei uma cúmplice, lagrimas de raiva tentam escapulir dos meus olhos, mas eu as impeço.

- Não sei de que loja você se refere Danyen.

  Aron apreensivo repete o nome da loja, umas três vezes. Percebo que é difícil para ele tanto quanto é para mim.

 A loja que eles estão se referindo, não sei o nome, mas ela vende auto-peças, a única da cidade.

- Sei a qual vocês se referem, mas vocês querem que eu faça o que?

 Danyen responde, sem nenhum medo de algo errado acontecer.

- Você vai nos alertar de que a encrenca está chegando, você sabe a o que me refiro. Estou confiando em você, você não vai querer decepcionar o "titio" Danyen. Eu sou muito mais poderoso do que você possa imaginar.

- Eu estarei lá, mas e se der errado?

Com muito medo, me deixo levar e sai essa pergunta idiota.

- Acredite nada vai acontecer.

  Lá estava eu, foi à noite e o dia mais longo da minha vida. O medo de ser pega, ou de alguma coisa acontecer e minha querida mãe ser afetada pelas consequências do meu ato, estou tentando protege-lá mas e se eu falhar?

 Tudo agora depende de mim, eu tenho que fazer isso por ela. Ando naquelas longas quadras, com os ventos balançando meu longo e negro cabelo. Finalmente chego àquela loja, sinto um aperto enorme no coração, um sentimento de covardia o invade, mas o deixo partir. Penso uma, duas, três, sete vezes é "pela minha mãe".

  Olho em meu relógio, onde marcava 20:05, um pensamento perfeito percorre em minha mente "eles desistiram, eles desistiram". Não, os avisto vindo para minha direção, àquela loja seria invadida em cerca de minutos. Pessoas poderiam se machucar, e estou ajudando eles a escaparem. Eles me mandam chegar até eles, e é o que faço. Vejo Edgar e Danyen mexendo em suas mochilas onde retiram, o que parecia ser uma coroa de ferro, mas eles a encaixam em suas mãos, percebo que aquilo era algo diferente.

- O que é isso?

Pergunto para Aron com muito medo da resposta.

- É um soco inglês, cada soco causa mais ferimentos e danos a pessoa atingida.

Com medo como eu, e triste ele responde, enquanto os outros dois ficam felizes e satisfeitos com suas escolhas de armas. Pelo que vejo Aron também não irá participar do assalto como eu, então fico menos despreocupada, porque terei uma companhia que sente o mesmo que eu.

  Edgar se aproxima de mim, dando um beijo em minha boca. O que me incomoda, mas rapidamente se torna bom. Ele começa a rir, e escuto-o dizendo.

- Me de boa sorte, queridinha!- Todos eles começam a rir, o que faz com que o meu desconforto retorne.

  Os dois guardam seus brinquedinhos no bolso, e entram na loja. Aron me fala que se eu avistar uma "encrenca" deveria dar um sinal para que ele possa dar o sinal para os outros, A loja ficava na esquina Aron ficou perto da entrada, e eu do lado da loja, onde nós dois conseguíamos ver as duas ruas que davam para a loja. Eles já haviam visitado a loja, e comprado algumas coisas, para conhecer a loja, eles sabiam que não tinha câmera. Não era comum em nossa cidade as lojas terem câmeras, então isso já não os preocupava. Lá estava apenas o atendente, eles pediram o dinheiro, ou melhor, mandaram entregar-lhe o dinheiro. O homem o entrega, quando eles se viraram para sair o homem liga para policia. Que era muito perto dali, então de longe avisto um carro, faço um sinal com a mão para Aron que percebe rapidamente. Todos nós saímos correndo.

  Percebo que eu estava indo para o lado diferente do deles, estava indo para minha casa. O barulho da serene vai abaixando a cada passo largo e rápido que dou, percebo que eles não estão atrás de mim estão atrás dos garotos, e se eles o pegassem eles me dedariam. Torcendo para que não os peguem e correndo para que não me peguem, eu chego a minha casa, abro a porta rapidamente. Um choque faz com que minhas forças se esgotem e caio de quatro no chão, em minhas mãos o sangue se aloja, mas o sangue não era meu, mas de quem seria?

  Seguindo o rastro de sangue avisto um corpo esticado no chão, me levanto e corro até ele. O viro com as esperanças de que não seja quem estava pensando ser, mas minhas esperanças foram quebradas, me sinto tonta e caio sobre o corpo me sujando de sangue. Começo a chorar lagrima e lagrima percorrem o meu rosto.

Não consigo falar, nem pensar nada, apenas chorar e abraçar, aquele corpo já sem alma. Minha Amélia se foi, minha querida Amélia. Um som de batidas fortes na porta me interrompe, mas não me levanto, na esperança de que seja o Ethan, para que ele fizesse o mesmo em mim o  que fizera com minha mãe, assim estaria ao seu lado. Abro os olhos com muito custo, embaçados por causa das lágrimas.

  Vejo dois homens de uniformes de policias, tento me levantar, mas não consigo a dor da perda tomou conta de mim, começo a balançar o corpo na esperança de lhe dar vida. Os policias se aproximam de mim.

- Samantha precisamos falar com você.

  Me esforço e o som das minhas palavras saem misturados de lagrimas com desespero.

- Eles contaram? Me traíram?

- Sim, eu sinto muito pela sua perda. Vamos começar a investigar o que aconteceu com ela. Mas você precisa ir agora para delegacia. Pelo que vejo agora você possui dois motivos para estar lá.

Eu não queria sair de perto dela... Não podia deixa-lá... Ela era tudo o que eu tinha tudo o que eu amava...

Tudo em mim estava nela e agora em mim tinha um vazio tão grande onde eu apenas podia sentir a dor que queimava...

MÃE! Mãe!

Eu gritava por dentro. Os policiais tentavam me acalmar, tentavam me levar para a delegacia.

-Você prometeu... Que estaríamos sempre juntas... Que só assim ficaríamos bem... E agora?... Mãe!


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Notas finais do capítulo

Está ai gente...
Estou tão triste que nem animo para beijos eu tenho...
Então até o próximo chá...



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