Better In Time escrita por Juliana Natelli


Capítulo 5
Uma Estranha Manhã




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Helga havia vindo de carona com Phoebe para festa, então teve que chamar um táxi para ela e Arnold, não se esquecendo de mandar uma mensagem de texto à sua amiga para avisar que sairia mais cedo. Arnold tirou um rápido cochilo com a cabeça apoiada na janela. Ele ainda não estava com a melhor das aparências, mas Helga estava entusiasmada demais por estar dividindo o banco traseiro com o loiro para reparar.

Quando chegaram à frente da velha pensão, Helga serviu de apoio para o garoto, que saiu cambaleando do carro.

- Onde estamos? - Arnold perguntou.

- Nossa, não reconhece a própria casa? Está mal mesmo, hein Arnoldo... Anda, cadê a chave?

Ele tirou um molho de chaves do bolso, mas pareceu confuso em relação a que chave escolher. Helga revirou os olhos.

- Me dê isso aqui – tomou as chaves da mão de Arnold e acertou na primeira tentativa.

- Caramba, você é mágica! - Arnold exclamou, ainda fora de si.

Helga ruborizou até a alma.

- É, algo assim.

Dentro da pensão estava completamente silencioso. Helga fez de tudo para subir todos os lances de escada fazendo menos ruídos quanto possível. Não que Arnold estivesse cooperando muito...

Após aquela tarefa árdua, eles finalmente estavam no quarto do garoto. Helga ficou momentaneamente paralisada.

Ah, o quarto dele! Com certeza o lugar estava um pouco diferente da última vez que o vira. Alguns novos pôsteres, um videogame, um aparelho de som... Mas continuava tão aconchegante como antes. Isso talvez se devesse ao teto envidraçado que dava vista ao céu da noite, a qual estava especialmente estrelada naquele dia. Helga estava tentada a observar tudo com a maior minúcia, porém lembrou-se do estado atual do dono do quarto.

Ela tinha muito o que fazer.

-x-x-x-x-

Os raios de luz do dia incomodavam profundamente os olhos de Arnold. Oh e como sua cabeça doía. Mas o que havia acontecido? Por que estava de pijama? Ele não se lembrava de ter voltado para casa. Aliás, todas as suas lembranças acabavam a partir do momento em que Lila havia se despedido dele e, ainda assim, havia um trecho meio nebuloso antes disso. Não, ele não poderia ter realmente dançado com Helga G. Pataki.

Tentou se sentar na cama e a dor atacou novamente. Como ele gostaria de culpar Stinky e Gerald por estar daquele jeito... Porém, agora que estava sóbrio, sabia que a culpa era inteiramente sua, afinal, de quem havia sido a escolha?

Então, notou que havia alguém deitado em seu sofá do outro lado do quarto. Com os passos pesados e o estômago um tanto embrulhado, Arnold se forçou a caminhar até a pessoa. "Não acredito." Ah sim. Suas memórias nebulosas provavelmente eram reais. Helga estava dormindo tranquilamente ali em seu quarto.

Atingido por um milhão de pensamentos simultâneos, Arnold sentiu seu estômago dar a volta completa. Reprimiu a ânsia e decidiu que precisava de um copo d'água. "É, água, isso deve ajudar...". Então, desceu as escadas.

Na cozinha, encontrou seus avós, que tomavam o café-da-manhã. Sua avó estava vestida de vaqueira, mas ele já havia aprendido a não perguntar o porquê das excentricidades da senhora. Bom, não que ele tivesse condições de arranjar mais perguntas para sua mente no momento.

- Bom dia, baixinho – seu avô Phil baixou o jornal que lia para saudar o neto.

- Hã.. Er, olá, vovô – Arnold respondeu, indo pegar um copo.

- Teve uma noite agitada, não? Que horas você voltou?

- Para falar a verdade, não me lembro.

Phil olhou-o desconfiado.

- Está tudo bem, Arnold?

O loiro engasgou com a água e teve um ataque de tosse. Ao se recompor, deu um sorrisinho amarelo.

- É claro, por que não estaria? Com licença, eu preciso, hum, resolver uma coisa...

E dito isso, Arnold sumiu da vista dos avós.

Droga, o que havia acontecido? Se ele pudesse se lembrar... Meu Deus, havia uma garota no seu quarto – e não qualquer uma. Será que eles...? Não, não, é claro que não. Mas então o que Helga fazia ali?

Ele precisava de respostas e só havia uma maneira de consegui-las: perguntando a Helga.

Cautelosamente, Arnold subiu as escadas para o sótão e adentrou no quarto. Para sua surpresa, a loira já estava de pé arrumando o sofá em que havia dormido. Ao notar o rapaz ali, Helga sobressaltou-se, levando a mão ao coração.

- Er, me desculpe, eu... - Arnold ia dizendo.

- Não, tudo bem. Só estava ajeitando minha bagunça.

Arnold fez que sim com a cabeça e os dois caíram num silêncio constrangedor. "As respostas, Arnold! As respostas!" uma vozinha incômoda chiava na mente dele. O loiro inspirou fundo, a fim de adquirir a coragem de que precisava para prosseguir.

- Então, Helga... Minha memória está meio fraca, será que você poderia... Você sabe...

- Esclarecer as coisas?

- Isso mesmo.

Tentando parecer mais confiante do que estava, Helga incorporou um tom de monotonia na voz.

- Bom, nada demais. Você bebeu além da conta e eu acabei tendo que te trazer pra casa. Como você não parava de vomitar, tive que ficar cuidando de você durante a noite e dormi por aqui. Pois é, fim de história. Acho melhor eu ir... - ela calçou os sapatos de salto e foi andando até a porta.

Arnold piscou repetidamente, tentando alinhar todas as informações.

- Calma, Helga! Não vai nem comer nada?

- Tem certeza de que é uma boa ideia, Arnold? O que eles pensariam se soubessem que eu passei a noite aqui?

Ela tinha um ponto válido.

- Pelo menos deixa eu te acompanhar até a porta.

A loira sentiu as bochechas esquentarem e fez um vago sinal positivo.

O caminho até a porta fora maçante para ambos. Arnold ainda estava um pouco atordoado com os recentes acontecimentos e tentava processar tudo, ao mesmo tempo que se esforçava para lembrar da noite anterior. Ter Helga ao seu lado naquele momento era tão inusitado que ele só conseguia se preocupar mais e mais a cada segundo, inúmeras possibilidades atormentando sua mente.

Já Helga, francamente, ela não sabia como suas pernas ainda podiam suportar o peso de seu corpo. Elas estavam bambas e trêmulas, às vezes vacilantes, mas felizmente Arnold parecia não ter reparado. Bom, isso porque o garoto não estava olhando-a diretamente, senão sua expressão poderia denunciar a insegurança que sentia. Oh meu Deus, aquela situação era tão estranha, o que Arnold estaria pensando dela? Será que isso tudo havia sido tão bizarro a ponto do loiro sequer querer falar com ela novamente?

"Agora você já está paranoica!" sua mente advertia e ela precisou concordar. É, talvez fosse já exagero de sua parte. Contudo, ela não havia descartado aquela suposição ainda.

Tiveram sorte. Não havia ninguém próximo à entrada para testemunhar seu adeus.

Arnold prontamente abriu a porta para a garota, que se posicionou na soleira. Mais alguns instantes de um silêncio desconfortável pairaram, até Arnold dizer:

- Eu acho que...Er... Muito obrigado por me ajudar, Helga.

Ela fez o melhor que pôde para não corar.

- Não foi nada, eu... – "Gentil demais, Pataki." Foi quando a loira percebeu que ainda não havia sido grosseira com o garoto.. – Quer dizer, na próxima, é melhor não ser descuidado! Se não fosse por mim, sabe-se lá o que teria acontecido a você... Mas, para sua sorte, ontem era o meu dia de fazer caridade. Sendo assim, minha cota do mês já está cheia, não volte a abusar...

Arnold ficou por alguns segundos estático. Helga o encarava com uma sobrancelha erguida e muito desdém.

Então, o loiro sorriu para a surpresa dela.

- Você não muda mesmo, não é, Helga? Tudo bem, não se preocupe, serei mais cauteloso na próxima. Realmente, te devo uma!

Helga o fitou com completa incredulidade.

- Hã... O quê!?

- Isso mesmo, estou te devendo uma.

Ela franziu a testa, um pouco irritada.

- Você não me deve nada, tá legal? Apenas esqueça que tudo isso que aconteceu, nem ouse contar para o Gerald!

- Mas, Helga...

- Você ouviu, Arnoldo! Pegue essa história e a enterre. Espero não ouvir nenhum comentário segunda-feira de manhã.

E, com isso, a loira marchou para a rua e seguiu caminho para casa, deixando um Arnold totalmente confuso ao pé da porta.

O que ele havia dito de errado? Bom, não era a primeira vez que tinha seus agradecimentos rejeitados pela garota, porém aquilo o intrigava agora mais do que nunca. A maneira repentina com a qual o fizera desta vez despertara seu interesse.

De qualquer modo, ele respeitaria a vontade dela. Sua boca era um túmulo.

Arnold fechou a porta devagar, um sorriso de gratidão ainda brincando nos lábios.

X-X-X-X

"Droga, Helga! Você fez isso de novo!" A mais nova Pataki se amaldiçoava enquanto andava. Por que ela tinha que ser tão impulsiva e estar sempre na defensiva? Não teria sido tão difícil se despedir civilizadamente de Arnold, e mesmo assim ela não conseguira. Estivera tão perto de melhorar sua relação com o garoto e pusera tudo a perder. Bom, as coisas haviam voltado a ser como antes, a mesma coisa dos últimos anos.

Helga estacou no lugar e uniu as mãos como se fosse rezar, porém apenas baixou a cabeça, uma pergunta insistente martelando em sua mente.

"Será que um dia eu serei capaz de mudar?"


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Notas finais do capítulo

Bom, esse é o último capítulo que eu tenho pronto, vão ter que esperar um pouquinho pelos próximos... Mas não se preocupem que não abandonarei a fic viu? ;D
Bjooooos!