Já havia passado alguns dias e logo era sexta-feira. Helga observava, suspirando a nuca de Arnold. Ela sentava atrás dele na aula de inglês. Era boa na matéria e normalmente aprestaria atenção na professora, mas o cheiro que o loiro a sua frente exalava a tirava do sério! O jeito como o cabelo do garoto enrolava levemente nas pontas, fazia Helga viajar em seus devaneios.

"Oh, se eu pudesse tocar seus fios de linho dourados e sentir eternamente seu perfume inconfundível que supera o odor de uma rosa desabrochada na primavera..."

- E qual é a sua metáfora, Helga? – a professora Waterson questionou.

- Seus olhos verdes são como duas esmeraldas raras e valiosas as quais o valor é impossível de se estimar, oh...

Todos se viraram para ela. Só então Helga se tocou que havia dito aquilo em voz alta e que aquele no qual se inspirara também a estava olhando com estranheza.

- É-é só um exemplo de metáfora! – resmungou, gaguejando e tentando parecer insensível ao que disse.

- Ótima essa, Helga! – a professora se entusiasmou.

Então o sinal tocou.

- Bom fim de semana, classe – a Srta. Waterson dizia aos alunos que se levantavam das carteiras e saíam da sala. – Ah, Helga, espere um minuto.

A loira estranhou o pedido, mas esperou. Assim que todos haviam saído, ela se aproximou da professora.

- Sim, Srta. Waterson?

- Bom, eu raramente faço isso apenas quando noto algo de especial num aluno. O professor Lawrence me contou sobre seus conhecimentos acima da média sobre Literatura e a professora Black elogiou muito suas técnicas de escrita. Estive pensando se não gostaria de ter uma coluna quinzenal no jornal da escola!

Helga arregalou os olhos. Aquilo era realmente inesperado.

- O quê? Uma coluna? Ah, não... Eu não poderia...

- Ora, por favor, Helga! Por que não nos agradar com uma coluna poética? Ou quem sabe pequenas crônicas...

- Como? Nem pensar! Não sei se nesse tempo que fui sua aluna você percebeu, mas eu não sou muito de me expressar por palavras ao menos fora do papel.

- Você devia explorar mais essa sua sensibilidade – a mulher pôs uma mão no ombro da loira. – Por trás de seu exterior hostil, há um interior sensível e delicado – ao julgar pela expressão da garota, ela ainda não estava muito convencida. – Olhe, estou te dando essa chance. Normalmente só escalo veteranos para o jornal, mas você é uma exceção...

- Bom, eu... – Helga foi se afastando um pouco. – Eu não sei... Se, por um acaso, eu topasse teria uma condição.

A professora abrir um largo sorriso.

- Não quero créditos. Não quero meu nome, série, apelido, abreviatura, nada! No máximo um pseudônimo.

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- Arnold, Gerald! – o loiro ouviu alguém chamá-los. Ele estava guardando o material no armário com Gerald ao seu lado.

- Ah, oi, Sid – ele disse ao moreno que estava acompanhado por Stinky.

- Cara, tivemos uma idéia incrível!

- E qual seria?

Stinky e Sid chegaram mais perto e olharam para os lados para ter certeza de que não seriam ouvidos por ninguém.

- Vamos espiar as garotas do nosso ano saindo da ginástica! – Stinky disse e riu com o amigo.

Arnold se sentiu um tanto confuso.

- Tipo no vestiário? E isso não é proibido?

- É, mas que se dane! A gente ia chamar o Harold, mas como ele entalou no duto da última vez achamos melhor deixar pra lá...

- Última vez? – Gerald perguntou, incrédulo. – Vocês já tentaram antes?

- É claro! – Sid respondeu, como se aquilo fosse óbvio. – Vai dizer que nunca tiveram a mínima curiosidade... Estão dentro?

- Ah, eu tô fora! – o garoto de pele amorenada disse. – Eu não sei vocês, mas eu não preciso disso.

- Você quem sabe, Gerald... – Stinky falou, seco. – E você, Arnold?

- Não sei, não me parece muito correto...

- Qual é! Deixa de ser o cara certinho uma vez na vida e faz algo de divertido!

- Não me parece tão divertido... – Arnold deu os ombros. Os dois o olharam descrentes. – Olhe, a questão é que não acho que seja uma boa idéia, poderíamos ser suspensos...

- Ah, esquece, Sid! – Stinky foi recuando. – Vamos nós dois, então. – e os garotos foram andando pelo corredor.

- Imagina só a Lila... – ouviram Sid comentar entusiasmado.

Gerald balançou a cabeça negativamente, olhando com desaprovação para os garotos.

- Cara, eles precisam desesperadamente de uma namorada! Espiar garotas num duto de ventilação? É, o negócio tá ficando sério...

O amigo riu.

- Quem somos nós pra falar? Nem temos namoradas igualmente.

- Sim, mas não chegamos nesse estágio de desespero! Mesmo porque eu não acho que eu ficarei muito tempo nessa situação... – disse, sorrindo ao olhar Phoebe do outro lado do corredor. A garota lia alguma coisa num mural e ajeitava seus óculos de vez em quando.

- Vai falar com ela.

O moreno se voltou para o loiro.

- Você acha, cara?

- Claro, você está de olho nela desde a sétima série!

- Ah, não exagera... Ok, talvez seja verdade.

- Talvez? – Arnold tinha uma expressão de quase riso. – Gerald, olhe quem você está tentando enganar. O seu melhor amigo não vai cair nessa!

- Tá legal! Vou falar com ela, mas não agora... Olha a Helga vindo aí.

A loira foi ao encontro da amiga parte japonesa e elas começaram a falar sobre algo.

- Gerald, você não acha que ela mudou bastante?

- Quem? A Phoebe?

- Não, quer dizer, sim, ela também... Mas eu estava me referindo a Helga.

Gerald a analisou discretamente, parecendo pensativo.

- É, não dá pra negar que a garota ficou atraente, mas ela ainda dá nos nervos!

- Pode ser, mas até que menos... Quer dizer, eu sento perto dela em cinco de sete aulas e ela não faz nada pra me encher! Acho que é um grande avanço. E no geral, até que ela nem está tão implicante.

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Depois da aula, Helga foi para casa, viu televisão por uma hora e logo saiu para a rua novamente. Afinal, não queria se atrasar para a consulta com a Dra. Bliss. É verdade que a doutora era psicóloga infantil e que Helga não se encaixava nessa categoria há um certo tempo, mas Bliss abriu uma exceção para a loira pois elas ficaram bastante próximas.

- Entre, Helga – a Dra. Bliss pediu gentilmente ao ouvir alguém bater na porta. A garota não precisou de ordem para se acomodar no divã logo a seguir. – Tudo bem? Como foi a semana?

Helga se espreguiçou, olhando para o teto.

- A mesma coisa de toda primeira semana de aula. Nada demais.

- Alunos ou professores novos?

- Não, os mesmos de sempre – a loira suspirou.

- Arnold está nas mesmas aulas que você de novo?

- É, em quase todas. Menos Artes e Geometria.

A mulher, já um pouco preocupada com a falta de reação da paciente, aproximou sua poltrona da garota.

- Há algo que tenha esquecido de mencionar, Helga?

Helga olhou de relance para a doutora e esta parecia desconfiada.

- Bom, hã... Me chamaram para participar do jornal da escola – disse, com um meio sorriso.

- Isso é maravilhoso!

- É, acho que sim – Helga não parecia tão contente como Bliss esperava.

- E por que essa cara? Achei que realmente gostasse de escrever e tenho de dizer que é ótima nisso pelo que me mostrou.

- Eu sei disso, é só que... – ela hesitou por um instante.

- Seus pais não ligaram para a notícia.

- Na verdade, – a garota se sentou no divã. – eu não contei e acho que nem vou. Eu estou cansada de ser comparada a Olga! Se nada que eu faço é bom o bastante, não vou me dar ao trabalho de contar... Mesmo porque não quero que ninguém saiba disso.

- Nem seus colegas de escola?

- É – deu os ombros.

- E por que não? – Dra. Bliss não entendia.

- Ah, vão achar que eu fiquei toda melosa e sentimental com os meus textos...

- Helga, você sabe que essa sua imagem de garota durona é só uma fachada e também sabe muito bem o porquê.

- É, mas sei lá! Não tô pronta pra que saibam.

Dra. Bliss se endireitou na cadeira e anotou algo na prancheta.

- Ok, e como vai esconder sua identidade? Acredito que os textos sejam creditados a quem os escreve – a psicóloga ficou curiosa.

- Já resolvi isso - um sorriso maroto se esboçou na boca de Helga.

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