Esperando O Fim escrita por Chiisana Hana


Capítulo 12
Capítulo XXII




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Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são meus, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

ESPERANDO O FIM

Chiisana Hana

Capítulo XII

Cusco, Peru.

Quando Esmeralda acordou, sentiu-se confusa por um instante, sem saber direito onde estava. Voltou a si quando viu Ikki deitado no carpete, dormindo profundamente. Olhou para ele com ternura e sufocou o riso quando o comparou a um cachorrinho dormindo ao pé da cama do dono. Ele passou a noite ao lado dela e acabou sucumbindo ao sono e ao cansaço das últimas horas. Se tivesse forças, ela o teria colocado na cama. Como não conseguia, deitou-se ao lado dele e acariciou-lhe os cabelos.

Já tinha notado a cicatriz na testa dele, bem como diversas outras nos braços, mas só agora olhava direito para a marca. Estava bastante claro que ele havia passado por muitas batalhas e ela pensou que gostaria de ouvi-lo falar sobre isso. Queria mesmo saber tudo o que ele fizera nesses anos e se tinha encontrado o irmão que ele dizia tanto assemelhar-se a ela.

Abraçou-o e ele acabou acordando.

– Desculpa, não queria acordá-lo – disse Esmeralda.

– Não faz mal, minha querida – ele disse, bocejando. – Dormiu bem?

– Muito bem! Já você... Olha só, dormiu no carpete!

Ikki riu.

– Não se preocupe comigo. Já dormi em lugar pior.

O cavaleiro sentiu uma vontade urgente de beijar Esmeralda, de colar-se a ela, de fazer amor até não aguentar mais. Sentiu vontade, mas ao mesmo tempo sabia que devia ir devagar. Ela já tinha sofrido toda sorte de abusos ao longo da vida e ele não queria fazer parte do rol de abusadores. Estava determinado a esperar até que ela tomasse a iniciativa, mesmo que demorasse.

– Onde você mora? – ela perguntou, aninhando-se no colo dele.

– No Japão – ele respondeu. – Eu acho. Tenho um apartamento lá, mas passei muito tempo por aí, pelo mundo, andando. E na verdade não sei se é para lá que vamos... Meu irmão está na Grécia e eu queria muito que você o conhecesse.

– Seu irmão? Então vocês se reencontraram? Você sempre disse que eu me parecia com ele.

– Sim, você lembrava bastante ele quando criança. Agora já não se parecem tanto, ele está mais velho, perdeu um pouco das feições infantis.

– E eu pareço ser bem mais velha do que sou... – ela completou tristemente.

– Isso não importa, minha querida – ele disse, gentilmente acariciando os cabelos dela.

– Então, você vai me levar para a Grécia? – ela mudou de assunto, assumindo uma expressão esperançosa.

– É o que estou querendo, sabe? Acho que lá vai ser melhor pra você. Mas podemos ficar em Lima ou aqui em Cusco, se você quiser. Pra mim qualquer lugar está bom.

– Eu não quero ficar no Peru ela disse. – Só tenho lembranças ruins daqui. Quero ir com você para a Grécia.

Ikki sorriu satisfeito. Ficaria mesmo onde ela desejasse, mas ir para Atenas seria o ideal.

– Então está certo assim – ele disse. – Iremos assim que seus documentos ficarem prontos.

– Será que seu irmão vai gostar de mim?

– Ele vai te adorar! Meu irmão é a pessoa mais gentil e amável desse mundo.

E além do Shun, você vai conhecer meus outros irmãos.

– Mais?

É uma longa história, mas sim, tenho mais alguns irmãos, filhos só do meu... pai.

Pai? Mas você não era órfão?

– Na verdade, acabei descobrindo que sou filho de um velho safado bilionário. Eu, Shun e muitos outros... Nós acabamos recebendo uma parte da herança.

Esmeralda começou a rir, deixando Ikki intrigado.

– E eu achando que você tinha arrumado esse dinheiro todo fazendo coisas erradas!! ela exclamou, ainda rindo.

Ikki também riu das “coisas erradas”. Definitivamente tinha feito algumas coisas ruins na vida, mas felizmente o dinheiro não tinha vindo de um erro seu.

Então Esmeralda perguntou sobre as cicatrizes e Ikki falou de como ganhou aquela na testa no dia em que ela tinha “morrido”. Depois falou das guerras, sem mencionar os detalhes mais violentos e reforçando as partes heroicas e a amizade inquebrantável que o uniu ao irmão e aos irmãos.

Esmeralda ouviu tudo com interesse e curiosidade. Durante o treinamento de Ikki, ouviu falar do cosmo e dos poderes dele, e sempre quis entender mais sobre o assunto. Gostou especialmente da história da luta nas terras geladas de Asgard com o rapaz que tocava harpa.

– Ikki por que você não desistiu de mim? – ela perguntou, surpreendendo-o com a mudança de assunto.

– Porque eu a amo... – ele confessou num sussurro.

Ela sorriu e aproximou a face dele.

– Então me beije... – Esmeralda sussurrou de volta. – É o que estou esperando desde que nos encontramos...

Ikki beijou-a lentamente, sem pressa, saboreando devagar, tocando de leve os lábios dela, temendo que ela fosse uma miragem e desaparecesse com o toque. Somente quando teve certeza de que era real, entregou-se ao beijo e a todas as sensações provocadas por ele.

De fato, ele sentia como se sua vida amorosa estivesse começando agora. Era verdade que tinha vivido bons momentos com Pandora, mas o que sentia por Esmeralda era incomparável. Ela experimentava a mesma sensação, pois estar com Ikki fazia todo seu sofrimento parecer um pesadelo distante.

–S-A-I-N-T-S-

Atenas, Grécia.

“Aqui estou outra vez”, Seika pensou ao passar por Rodório. Já fazia algum tempo que Seiya tentava convencê-la a voltar para Atenas, mas só agora ela se sentiu forte o suficiente para ir. Não sabia bem se queria rever Shaka depois do fim do breve relacionamento com ele, mas decidiu encarar isso.

Seiya foi buscá-la no aeroporto e de imediato ela notou como ele parecia feliz. Tinha ficado magoada quando ele escolheu ficar em Atenas ao invés de voltar ao Japão, mas agora via que ter ficado com Saori definitivamente fez bem ao irmão. Quando finalmente o reencontrou, além de estar temporariamente inválido, ele tinha perdido muito da alegria e do riso fácil que lhe eram tão característicos desde a infância. Agora parecia que recuperara tudo isso e Seika acabou alegrando-se.

– Você vai ficar uns dias comigo e com a Saori no Santuário – ele disse quando entraram no carro. – Mas logo o condomínio ficará pronto e iremos para lá.

– Sei... – ela murmurou, pensando que não importava se ele a hospedaria na casa de Sagitário ou no Templo Principal, pois de qualquer forma teria de passar pela casa de Shaka para chegar até lá.

“Mais cedo ou mais tarde terei que revê-lo”, ela pensou. “Então que seja logo”.

Os irmãos chegaram ao Santuário e começaram a subir a escadaria das Doze Casas. Seika cumprimentou educadamente as pessoas que encontrou, mas não parava de pensar em Shaka. Ele estava lidando bem com sua ausência? Ainda estaria com a gatinha? Seika teve resposta para a última pergunta ao pôr os pés na casa de Virgem. O animal, que já não era apenas um filhotinho, dormia tranquilamente no salão principal, ao lado do dono, que meditava em posição de lótus. Seika sentiu o coração acelerar ao revê-lo, mas Shaka permaneceu imóvel, de olhos fechados, e não demonstrou notar que ela e Seiya passavam por ali.

– Esse ser meditador é bem estranho – cochichou Seiya com a irmã, mas ela não lhe deu ouvidos. Prestava atenção em Shaka, na expressão serena dele, e se perguntava se em algum momento o cavaleiro sentiu sua falta.

–S-A-I-N-T-S-

June e Shun suspiraram desolados ao entrar no arquivo do Santuário. A construção ficava na parte mais baixa do local, afastada das Doze Casas, entre a arena e os alojamentos. Tinha sofrido pequenos danos na guerra, os quais já tinham sido reparados. Entretanto, o entra e sai de pedreiros acabou piorando o que já era uma bagunça.

A maior parte da papelada estava razoavelmente preservada, mas se encontrava espalhada pelo chão, em pilhas sem qualquer ordem, documentos recentes misturados a coisas que datavam de dois, três séculos atrás.

– É, teremos muito trabalho pela frente – Shun disse.

– Será que encontraremos mesmo algum registro meu? – June indagou insegura.

– Há uma pequena possibilidade, então vamos nos agarrar a ela, não é? Em todo caso, se não encontrarmos nada, pelo menos teremos prestado um baita serviço ao Santuário.

– Essa parte é verdade. Ninguém ia querer fazer isso espontaneamente.

– Com certeza. O Mestre teria que acabar nomeando alguém que viria na maior má vontade pra cá.

– Pois é. Vem cá, você achou mesmo que o Ikki estava diferente? – ela perguntou, referindo-se ao telefonema que Shun recebeu.

– Dava pra sentir que ele falava de uma forma mais leve. Estou realmente ansioso para ver que surpresa é essa que ele falou... ou quem é a surpresa.

– Bom, tomara que seja menos bandida que a Pandora.

Shun riu. Sabia que June era bastante ciumenta, mas nunca tinha entendido direito como surgiu essa rivalidade entre as duas. Subitamente começou a se perguntar como Pandora estaria. Depois do fim do namoro com Ikki, ninguém mais teve notícias dela. Pelo menos ele sabia que se ela tentasse entrar em contato, encontraria Pani no apartamento de Ikki.

–S-A-I-N-T-S-

Três meses depois...

As obras no condomínio Olympus terminaram e finalmente os cavaleiros puderam voltar para lá. Dohko sentiu-se aliviado. As escadarias intermináveis do Santuário desencorajavam um pouco a movimentação das pessoas, especialmente de Saori e Marin, cujas gestações se aproximavam do final. Aos oito meses, Saori já se sentia bastante cansada para enfrentar as escadarias do Santuário e gostou de ir para sua casa no condomínio. Ficou exatamente como ela queria: grande, arejada e com um jardim onde ela já vislumbrava seu filho brincando com Seiya.

Com quase sete meses, Marin ainda estava bem disposta, subia e descia as escadarias sem dificuldade, para desespero de Aiolia, que desejava vê-la quietinha. Ele comemorou a volta para o condomínio, pois lá pelo menos não teria que se preocupar tanto com a esposa.

Na nova rua, além da casa de Saori, dez novas casas estavam prontas. Shun e June mudaram-se para uma delas, Shiryu e Shunrei para a casa vizinha.

Todas as manhãs, Dohko ia ver Keiko e levava a neta para passear pelo condomínio, desfilando orgulhoso com ela pela rua. Depois, quase sempre, se reunia com o discípulo, que o estava ajudando a examinar os perfis de crianças órfãs para encontrar aspirantes a cavaleiros.

Com a aprovação da deusa, Dohko implementou grandes mudanças no sistema de treinamento(1). Ao invés de um treinador por discípulo, haveria uma turma e vários cavaleiros revezar-se-iam na função. Além do mais, como ele fazia questão de que as crianças frequentassem aulas regulares, Saori financiou a reforma da escolinha de Rodório, onde as crianças teriam aulas comuns em um período. O tempo de treinamento foi estendido para oito anos e todo tipo de castigo excessivo foi banido, o que não queria dizer que as provas seriam fáceis. Com o novo sistema, todos os cavaleiros de ouro dispuseram-se a colaborar, exceto Mu, que já tinha seu discípulo e o encargo de restaurar todas as armaduras. Shun e June, já empenhados com a questão do arquivo, também foram dispensados.

Hyoga continuou vindo à Grécia quase todos os dias. Para facilitar, Kiki ia buscá-lo, pois assim era mais rápido e bem menos desgastante. Na hora em que estava livre das gravações, chamava o garoto e então passava a noite em Atenas e era levado de volta ao amanhecer. Eventualmente tinha cenas noturnas para gravar, então ia para Atenas durante o dia. Dormia pouco, mas o sacrifício valia a pena. Gostava de estar perto da ‘kukla’, boneca tanto em grego quanto em russo, e apelido ao qual ele e Mu se habituaram a usar para Natássia.

A equipe de filmagem notou seu cansaço, mas todos pensavam que era por conta do excesso de disposição que tinha demonstrado nos primeiros dias. Hyoga dedicou-se intensamente, pois gostava da carreira, divertia-se interpretando outra pessoa, mas sentiu-se aliviado quando acabaram as gravações. Teria algum tempo de folga até o lançamento do filme e as viagens de divulgação, por isso mudou-se para o condomínio e ocupou a terceira casa da nova rua. Queria aproveitar todo o tempo disponível para ficar perto da filha e passava bastante tempo com ela na casa de Mu e Eiri. Embora sentisse um pouco de inveja do clima familiar e da harmonia que havia entre o casal, não estava arrependido. Acreditava que o melhor para Eiri era viver com alguém que a amasse de verdade. Só esperava um dia também conseguir amar alguém serenamente como Mu amava Eiri,

–S-A-I-N-T-S-

Cusco, Peru.

Os dias em Cusco dividiram-se entre os tratamentos médicos de Esmeralda e longos passeios românticos. Ela já estava bem diferente de quando foi encontrada. A aparência macilenta se foi e começou a dar lugar a um corpo saudável. Os cabelos naturalmente loiros recuperaram o brilho e a pele, o viço. Ela também vinha tendo aulas de grego. Aprendia rapidamente e já arriscava conversar com Ikki no idioma.

Nesses três meses, Estebán conseguiu providenciar os documentos dela. Finalmente Esmeralda ganhou certidão de nascimento, carteira de identidade e passaporte. Ter os documentos nas mãos pela primeira vez, fez com que ela se sentisse importante, apesar de não gostar muito de ver o sobrenome de seus pais neles. A mágoa por ter sido trocada por comida ainda existia, mas ela quis saber o que aconteceu com sua família. Estebán acabou descobrindo que os pais dela tinham morrido queimados junto com o filho mais novo quando o barraco onde viviam pegou fogo. Antes disso, a irmã teve o mesmo destino que ela: foi vendida com escrava. Estebán investigou mais a fundo e descobriu que ela tinha morrido de tuberculose poucos meses depois.

O detetive também os ajudou a dar entrada nos papéis do casamento e quando os trâmites ficaram prontos, Ikki e Esmeralda casaram-se discretamente no cartório, pois ele fazia questão de levá-la embora como sua esposa.

– Quando chegarmos lá, faremos uma festa enorme com meus irmãos e amigos – Ikki prometeu depois de assinar os papeis. – Para compensar esse casamento simples e apressado.

– Eu vou gostar de ter uma festa! – ela exclamou. – Nunca tive uma, Ikki!

– Nós teremos.

– Vai ser ótimo, mas o importante mesmo é que estamos juntos. Para sempre.

– Para sempre – ele repetiu.

Os dois voltaram para o hotel, onde almoçaram no restaurante com Estebán e a esposa dele.

– Agora sim meu trabalho está feito, senhor – disse o detetive, após o almoço.

– Sim, Estebán – Ikki disse. – Agradecemos muito por tudo que fez.

– Fico feliz por ter ajudado.

– Feliz e cheio da grana – brincou Ikki, fazendo o detetive corar. – Não se envergonhe. Foi um dinheiro mais do que merecido e sei que vai fazer diferença na sua vida.

– Bastante, senhor – admitiu.

Esmeralda abraçou o detetive, a quem tinha se afeiçoado durante esses meses, e sua esposa.

– Quero que vocês apareçam para nos visitar lá na Grécia – ela disse.

– Serão muito bem-vindos – Ikki completou.

– Uns dias de férias na Grécia não seria má ideia – disse a esposa do detetive.

– Vai ser um prazer! – disse Estebán. – Bom, agora vamos deixá-los a sós, afinal, acabaram de se casar – o detetive completou, erguendo as sobrancelhas de modo cômico. Esmeralda sorriu envergonhada e até Ikki, normalmente não dado a momentos de vergonha, sentiu-se como um menino acanhado.

Quando o detetive e sua esposa partiram, os dois subiram para o quarto. Estavam felizes, porém muito nervosos. À porta, Ikki pegou a esposa no colo e entrou no cômodo carregando-a. Colocou-a sentada na cama e dirigiu-lhe um olhar de puro enlevo.

– Minha esposa – ele murmurou como se fossem palavras sagradas. – Minha esposa – repetiu. – Quase não posso acreditar.

– Senhor e senhora Amamiya – ela murmurou de volta. – Eu gostei, sabia?

– É, eu também – ele disse.

– Durante a minha vida, eu fui obrigada a me deitar com diversos homens... – ela começou a falar, enquanto lentamente abria os botões do vestido azul que usava. – Hoje, pela primeira vez, vou fazer amor porque quero, porque eu desejo.

Por mais que procurasse, Ikki não conseguia encontrar o que dizer. Tinha sido tomado pela emoção de uma forma que ele jamais imaginou.

– Vamos esquecer tudo que nos aconteceu antes e começar do zero – Esmeralda disse. – Obrigada por me salvar, Ikki. Eu te amo.

– Eu também te amo – ele finalmente conseguiu falar. – Eu não deixei de te amar um minuto sequer da minha vida.

Continua...

(1) Antes que venha um engraçadinho falar que copiei isso do Ômega, saiba que eu falei isso no primeiro capítulo de “O Casamento”, escrito em 2004, publicado em 2007.


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Notas finais do capítulo

(1) Antes que venha um engraçadinho falar que copiei isso do Ômega, saiba que eu falei isso no primeiro capítulo de O Casamento, escrito em 2004, publicado em 2007.



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