Fernando acordou naquela manhã cedo devido ao seu trabalho, no qual teve de se esforçar muito para se manter concentrado. Estava decidido a ignorar o que ocorrera na noite anterior e só se preocupar com as suas obrigações. 

  Enquanto vinha embora no ônibus lotado, pensava em como tudo aquilo parecia louco.  A falha declaração, a descoberta de que Taio o usava, e agora, o beijo que ele recebera de Rafael e que ele tinha que admitir, mesmo que internamente, que havia gostado. E admitir isso a si mesmo era um tanto perturbador. Ele não sabia como se sentir sobre isso. Ele tendo gostado significa que agora gostava de homens? Que virara gay?

  Então ele olhara ao seu redor, procurando uma garota bonita, esperando que somente ao olhar pra ela suas dúvidas fossem respondidas. Foi um pouco difícil sua procura, já que o ônibus  estava lotado, mas ele pode encontrar uma mulher que achou bonita. Mas mesmo assim, não lhe pareceu satisfatório, a duvida permaneceu e ele decidiu não tentar novamente.

   Ao chegar no seu apartamento tinha em mente que não iria pra escola naquele dia.  E a sua velha desculpa de estar cansado lhe foi convincente o suficiente para se convencer. Sendo assim, tirou os sapatos, a blusa e se jogou no sofá. Não importa o que Rick viesse dizer, ele ia ficar ali e pronto.

   Lembrar do amigo, lhe fez pensar se deveria contar sobre isso. Decidiu que não enquanto ligava a TV.  Passava novela. Ele até assistiu por um tempo, mas logo seus pensamentos o fez  perder a atenção. Foi só quando a companhia tocou que ele acordou pra vida e pensou seriamente se deveria ir atender.

   Larga mão de ser besta! Disse a si mesmo se levantando do sofá e andando até a porta. Olhou pelo olho mágico, mas não conseguiu ver ninguém. Deu de ombros, devia ser algum pirralho fazendo gracinhas. Quando estava no meio do caminho de volta ao sofá, a companhia tocou novamente e ele olhou de novo pelo olho mágico, mas não havia ninguém. Irritado decidiu esperar. Assim que a companhia tocou ele abriu a porta rapidamente  com a palavras na ponta da língua pra xingar quem quer fosse.

   Mas quem estava lá era Rafael.

  No primeiro instantes os dois só ficaram quietos, se encarando. Depois, Rafael deu uma tossida forçada e disse:


  - Eu vim conversa com você. – e esperou que Fernando entendesse as palavras e o convidasse pra entrar. Demorou um pouco, pra ele se desfazer da surpresa, mas o acabou fazendo e se recriminando por não ter posto uma camisa.

  - Entra. – disse em voz baixa dando-lhe passagem.  Pegou a camisa do sofá e a vestiu pedindo em seguida pra que ele  se sentasse.

    Rafael o fez sentindo-se ansioso, a conversa dele com Rick fora tranquila mas mesmo assim, ele não conseguia evitar senti-se assim.


     - Ele é meu melhor amigo. – disse Rick na noite anterior, o olhar sério pra ele. Estava sentado na cadeira da mesinha de computador. Curvado pra frente, com os cotovelos apoiados nas pernas e as mãos entrelaçadas. –  Ele é da família pra mim, como um irmão. E você sabe,a família a gente protege não importa do que for. – e fez uma pausa  pra organizar melhora as palavras que diria a seguir - Eu não sei o você pretendia com isso. Se era pra se divertir, se achou engraçado confundir o garoto que se atrapalhou numa declaração, enfim... O problema agora é que você o beijou e se bem conheço Fernando, deve estar pensando em várias coisas. Não que me importo com a sexualidade que ele venha a ter agora, mas ele é um cara sensível e emotivo.

    Rafael que estava sentado em sua cama o olhava e escutava atentamente, esperou ele dizer tudo o que queria.

    - Deve estar se torturando pensando milhões de coisas. Ele tentou ser forte com toda essa historia, então eu quero ouvir de você. – e seu olhar ficou-se em seus olhos – Aquilo foi coisa de momento ou não?


       - E então. – disse Fernando despertando-o de seus pensamentos – Sobre o que você quer falar?

      - Me desculpa. – disse – Me desculpa pelo que fiz ontem.

      -... – Fernando desviou o olhar para a TV, desligado por ele antes de se sentar. – Não foi nada. – disse sentindo-se estranho, alguma coisa no peito – Tá tudo bem...  – disse , mas não sabia se havia sido pra ele ou para Rafael - Foi só um beijo... Sem importância... Não importa...  – e sentiu sua voz vacilar ao dizer - Era só isso?

    - Era. – confirmou Rafael que havia olhado pra tudo naquele cômodo, menos pra Fernando.


         - Eu não sei. – disse Rafael finalmente depois de alguns minutos pensando sobre isso. – Eu não sei de verdade.

        - Então é melhor pensar bem no que vai dizer a ele quando o ver. – falou Rick dando a conversa por encerrada.


     - Ce-certo.  – disse Fernando não entendendo porque sua voz estava trêmula. Levantou-se – Na-não se preocupe... Com isso...

   - Tá. – disse se levantando também e indo pra porta rapidamente – Nos vemos depois.

   
   - Tá. – respondeu e fechou a porta quando ele saiu. – Tá...


   Reconheceu o sentimento de tristeza quando voltou pro sofá. Afundou sua cabeça neste, sentindo uma sensação forte de aperto no peito. Por quê? Perguntava-se, eu nem gosto dele desse jeito. E mesmo ele achando que não fazia sentido, aquela sensação continuava lá. Ele não entendia porque de estar se sentindo assim, deveria estar feliz que não tenha ocorrido nenhuma confusão por causa de um beijo. 

    Inconscientemente ele levou a mão aos lábios, pressionando com as pontas do dedo ao se lembrar de quando o beijo ocorrera. Da sensação, e de como demorara pra dormir pensando naquilo,  tocando os próprios lábios. Não beijara muitas garotas ao longo de sua adolescência, mas aquilo fora diferente. Não se lembrava de ter se sentido dessa forma depois de ter beijado nenhuma delas. 

    Quando a porta foi aberta ele desencostou os dedos dos lábios e sentou-se pra olhar quem entrara. Era Rick, com uma cara séria. Não havia falado com ele desde ontem, então só concordou quando ele disse:

     - Vou tomar um banho e depois nós vamos conversar. 

  E assim foi. Minutos depois ele estava de volta, de roupa trocada e cheirando a sabonete. Sentou-se no sofá e começou dizendo:

     -  Eu vi quando ele te beijou. 

    Os olhos de Fernando arregalaram-se em surpresa, ele pretendia contar ao amigo, mas ainda pensava em como fazer isso.

      - E depois que você entrou, eu fui conversar com Rafael. Uma conversa séria. Perguntei a ele o que estava fazendo e tudo mais. – disse como se contar tudo aquilo fosse cansativo.


      - Como assim? 

     - Perguntei se ele estava fazendo de tudo isso uma brincadeira.

     - Brincadeira?

     - È. – confirmou, já não tinha mais a expressão séria – E tenho uma coisa pra te perguntar.


    -  E o que é? – perguntou Fernando hesitante.

    - Você gostou? Quero dizer, agora você virou gay?

    - Eu... – e Fernando corou, porque apesar de Rick ser seu melhor amigo, não fazia aquilo deixar de ser constrangedor de dizer – Eu gostei. – e ele viu Rick respirar fundo. – Mas eu não sei se sou gay, eu só beijei um cara, quer dizer, ele me beijou.

   Rick ficou quieto pensando sobre isso. Então de repente ele se aproximou mais, sentando-se do seu lado. Fernando ficou olhando pra ele, e não pode evitar corar quando Rick colocou a mão na sua coxa.

      - O-o que...?  - mas Rick fez "shiu" pra ele e levou a mão no seu rosto, aproximando os dois rostos enquanto  a outra mão deslizou pra mais perto da virilha. – Ri-Rick? – e ele estava perto o bastante para fazer Fernando ficar vermelho como um pimentão.

      Então tão de repente como ele começara aquilo ele se afastou. Tirou a mão da sua coxa e lhe direcionou um sorriso. Fernando conhecia aquele sorriso, era o que ele sempre dava quando fazia alguma gracinha, piada ou qualquer coisa que sabia que o irritava.

      - E então?  - perguntou ainda com o sorriso, nem um pouco envergonhado do que acabara de fazer - O que você sentiu?

      Levou alguns segundos pra Fernando entender o que ele acabara de fazer.

     -  Vai se ferrar! – disse com raiva enquanto o outro explodiu numa gargalhada. 

     - Fala logo, você gostou ou não? – pediu ele depois de parar de rir. – Não tem problema se gostou, - e com um sorriso convencido disse – Afinal, eu sei que sou irresistível!

      Fernando mostrou o dedo do meio pra ele, e ate se levantou pra ir pro quarto. Ele ali, achando que era uma conversa séria e ele começa com gracinhas pra testas sua heterossexualidade. 

      - Calma ai, cara! – disse ele ainda com vestígios de um sorriso – Eu não ligo de ter um amigo gay. 

     - Eu não sou gay! – berrou Fernando parando – Eu... Eu só gostei de um beijo que recebi de outra cara, isso não me torna homossexual. – disse com as sobrancelhas franzidas e um pouco menos vermelho.

      - Ah... – fez Rick como se tudo tivesse sido esclarecido agora – Bom, de qualquer forma, eu ainda sou seu amigo e te considero meu melhor amigo não importa se você vire gay ou não. Se comece a namorar com Rafael ou não. Se comece a da...

       - Cala a boca, eu já entendi!!

      -  Cara, você tá muito estressado hoje, vai tomar maracujina!  - disse rindo do nervosismo do outro.

       -  E você pare de fazer gracinhas! – rebateu.

       - Tá, tá... – concordou revirando os olhos. – Ei, comprei um jogo novo, tá afim de perder?

        - Por que acha que vai ganhar se é um jogo novo. – disse voltando pro sofá, já mais calmo.

        - Porque eu  sou o mestre dos  games! – disse de volta com o sorriso convencido levantando pra ir ligar o eletrônico. – E os mestres só ganham.

       - Belo mestre esse que nunca participou de nenhuma competição. – desdenhou Fernando pegando um dos controles.

       - È que eu sou modesto. – disse pondo o jogo e voltando pro sofá com o controle em mãos.

      Em silencio esperaram o jogo entrar no menu, depois de escolhido os personagens pra jogar Rick disse:

       - Acho que vou ter que esconder minhas cuecas a partir de agora.

      Em resposta Fernando deu um soco em seu ombro , massageando-o Rick começou a rir novamente, enquanto Fernando começou a luta e pois o seu personagem pra bater no dele.

      - Ei!