Oracle - The Beginning escrita por


Capítulo 6
Capítulo 3 - Dons e suas dores : Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Sorry galerinha por ficar partindo os capítulos, é que ficam meio grandinhos e tals, e também assim fica mais tempo para eu escrever os capítulos mais tranquilo, sem pressa. =)
Sobre o capítulo.. Bom, foi meio chatinho escreve-lo porque o personagem estava passando por um momento delicado que meche com os sentimentos e sentidos deles e tentei expressar ao máximo como era isso... algo não muito bom, rs. Mesmo assim gostei do resultado. Bjos.
Leiam as notas finais ^^ e boa leitura.



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O resto da semana foi ótimo, eu e Anna conversamos quase todas as aulas. Exceto nas primeiras e segundas aulas, que ela colocava o papo em dia com Claire. Apeguei-me um pouco a ela, andávamos bastante tempo juntos. No recreio Claire, Evelyn e Lorran se juntavam a nós. Ele conversava um pouco comigo, mas passava o recreio todo olhando para Anna. Isso me incomodava um pouco, não o sei por quê.

Na sexta feira cheguei um pouco atrasado. Acordei com uma tremenda dor de cabeça, meus olhos ardiam um pouco e meus ouvidos também. Estava um pouco abatido, mas apesar disso dava para aguentar ir pra aula. Acho que não era a aula que mais me atraia, era Anna. Eu me sentia bem quando estava perto dela.

Como de costume ela estava sentada com Claire quando entrei na sala. O professor Sheldon de geografia, não me chamou atenção quando entrei. Ótimo, não queria ouvir os resmungos de professores tão cedo, não estava com paciência nenhuma para isso. Na verdade eu estava nervoso, com raiva de alguma coisa.

Sentei sozinho na minha carteira no fundo da sala e abaixei a cabeça. Não me preocupei em tirar meu caderno nem os livros da bolsa, não estava a fim de fazer dever. A aula corria normalmente enquanto eu não fazia nada, só fiquei de cabeça baixa sobre os braços.

A dor de cabeça, de ouvido e ardência nos olhos só aumentava, e pra piorar meu nariz começou a arder também. 

— Jean – ouvi um sussurro me chamar, apesar de haver algumas conversas na sala esse sussurro foi mais audível para mim.

Levantei a cabeça e olhei ao redor caçando o dono dessa voz.

— Sou eu, Hector – novamente o sussurro invadiu minha cabeça.

Olhei para a mesa dele na frente da sala e ele estava ao lado de Jessie, como sempre. Estava virado para frente. Suspirei.

— O que quer? – eu disse, também por sussurro.

— Você está bem? – perguntou-me.

Durante a semana conversei com Hector. Ele era um cara legal, contou-me um pouco de sua história. O pai dele era caçador e tinha sido morto por um grupo de lobisomens numa emboscada. Ele agora morava apenas com a mãe. Já a história de Lorran era mais triste, ele havia perdido o pai e mãe. Hector me contou que o pai dele era um excelente caçador e havia sido morto brutalmente por um vampiro de quase um milênio de vida. Então Lorran passou a morar com a avó.

— Eu estou meio tonto, é só isso – sussurrei baixinho.

— Tem certeza? — perguntou desconfiado.

Era estranho conversar com alguém por sussurro sendo que a pessoa estava a certa distância, mas eu já estava acostumando com essas coisas. Era quase que natural. Meu sussurro era tão baixo que mesmo se tivesse alguém do meu lado não ouviria.

— Sim — respondi. – Eu tenho uma pergunta — disse a ele.

— Faça. 

— Eu nem estava com minha atenção auditiva em você, como me chamou por sussurro e eu escutei? 

— É tipo uma ligação direta entre caçadores, se você sussurrar para Lorran ou Bryan eles escutarão, mesmo que não estejam prestando atenção em você – explicou-me.

— A qualquer distância? — perguntei.

— Não, não. Tem que estar a uma distância audível para nós. Por sussurro, acho que uns cem metros. 

— Entendi.

— Mas não vamos precisar disso. John vai fechar o oráculo em nosso grupo.

Mais algo novo.

— O que significa? – perguntei.

— Outro dia eu te explico. Agora preciso terminar o dever. 

— Ok – eu disse desanimado.

Oráculo? Grupo? Meu Deus, minha cabeça está cheia de duvidas, não dava para aguentar. 

— Hector – sussurrei jogando minha atenção para ele, eu ainda estava de cabeça baixa. 

— Fale – ele sussurrou de volta.

— Esse grupo em que falou, somos nós, caçadores?

— Sim. Eu, você, Lorran e Bryan. – disse. 

— O que é Oráculo? – perguntei, tentando esclarecer todas as minhas dúvidas. 

— Mais tarde falamos sobre isso, fique tranquilo – foi só o que disse.

Deixei quieto e parei de falar com ele. Meus olhos começaram a arder mais, parecia que tinha pingado molho de pimenta neles. Meu ouvido aumentou a dor, como se tivesse enfiando uma caneta dentro. E Minha cabeça parecia que tinha um sino ecoando dentro dela. O arrependimento bateu, eu deveria ter ficado em casa. Dá pra ver que isso não é normal, definitivamente. Talvez esteja desenvolvendo algum dom. Meu pai me falou que isso ocorreria, mas eu achei que só doía a parte que ia desenvolver. No caso dele foi o olfato, então ele sentiu uma ardência terrível no nariz e a dor de cabeça padrão. Comigo estava acontecendo em vários pontos.

Respirei fundo e continuei de cabeça baixa tentando ignorar as dores. Minhas emoções também estavam desbalanceadas. Uma raiva inexplicável estava tomando conta de mim. Eu precisava ir embora.

— Sr. Jean Konery – ouvi o professor chamar.

Levantei a cabeça e olhei pra ele, que estava em pé na frente da classe.

— Pois não, professor – eu disse baixo, tentando me acalmar.

— Copiou a matéria que está no quadro? – ele disse apontando para o quadro cheio.

Acha que sou cego?

— Não, não copiei – disse com arrogância.

— Então copie, tem vinte minutos – ordenou.

Peguei minha caneta e comecei a copiar, de má vontade.

Não era um dia bom para o professor pegar no meu pé, que droga. Pra que copiar esse tanto de besteira? Eu só queria ir embora e descansar, para ver se essas dores chatas davam trégua. Do jeito que estava não dava para aguentar, a minha vontade era gritar, algo do tipo.

— Terminou senhor Sr. Konery? – dei um pulo na cadeira.

Que chatice!

Coloquei as duas mãos na perna, uma segurando a caneta.

— Qual é? Eu estava copiando, porque não para de encher meu saco? – eu disse alto, enfurecido.

—Como é que é? – Franziu o cenho e olhou pra mim, indignado e surpreso.

— Isso que ouviu, não enche a droga do saco! Estou copiando na boa vontade e você não para de azucrinar! – A sala toda parou de copiar e lançaram os olhares a mim.

Entre eles o de Anna de surpresa e Hector de censura. Estes se destacavam para mim.

— Te convido a se retirar da sala Sr. Konery – ele disse rispidamente.

— Com muito prazer – eu disse fechando a mão, fazendo a caneta se romper em pedacinhos.

Levantei, fechei o caderno e botei os restos da caneta sobre a mesa. Saí da sala sem olhar para cara do professor. Assim que saí ouvi novamente um sussurro em minha cabeça. 

— Você precisa ir embora, não está bem – era Hector.

— O que você tem a ver com isso? – sussurrei de volta. 

— Eu já passei por isso, sei como é. Deve estar sentindo uma dor insuportável e irritação sem motivo. Bom, irritado deu para perceber.

— Tanto faz. Agora me deixa em paz um pouquinho.

— Mas... – antes que ele pudesse terminar eu tapei os ouvidos.

O corredor estava vazio, melhor assim. Andei até o banheiro.

Chegando lá lavei o rosto na pia e fiquei me encarando no espelho. Realmente Hector estava certo, admito. Normalmente eu não agiria deste jeito com um professor ou com qualquer outra pessoa. Ele só errou na dor, não é uma, eram várias.

O sinal tocou, voltei para sala, que já estava sendo ocupada por outros alunos de outra classe. Parei na porta e olhei para minha carteira para ver se meu material estava lá. Não estava. O professor me encarava de sua mesa. Saí da porta e voltei para o corredor, agora cheio de alunos que se apressavam em entrar em suas salas. Por sorte eu consegui gravar meu horário e as salas. Agora seria aula de física, ficava no terceiro andar.

Quando cheguei pedi licença à professora e entrei logo, indo diretamente a minha cadeira, que sempre era a última da fileira do meio.

Não, não. Como eu pensava, Anna estava lá. Sempre linda com um sorriso no rosto. Em um dia normal eu perderia o fôlego com aquele sorriso, mas hoje não.

Tudo que eu queria era pegar minha bolsa e sair, ir para casa tomar aquele maldito chá ruim e apagar no sono profundo. Só assim as dores dariam trégua.

— Olá, Senhor revoltado – disse Anna sorrindo.

— Oi – respondi e sentei na carteira ao lado dela.

— Trouxe sua mochila – ela tirou a mochila debaixo da carteira e me entregou.

— Valeu – foi só o que eu disse.

Não estava muito a fim de conversar com ninguém, nem mesmo ela. E, além disso, ela tem a Claire não é? Poderia muito bem continuar sentada junto com ela.

— Ah! O professor Sheldon disse que queria você na sala do diretor na hora do intervalo – ela disse.

— Eu não vou. Que se dane o que ele quer.

— Ei, Calma! O que está havendo com você? Era tão calmo, tão...

— Certinho? – interrompi.

— Sim, pelo menos você respeitava os professores.

— Você não me conhece, Anna – evitei olhar para ela.

— Talvez, mas mesmo não te conhecendo muito, eu sei que não está bem – ela disse com total certeza e segurança em seu tom de voz.

— E como sabe?

— Não está olhando nos meus olhos hoje, era uma das coisas que eu admirava em você. Está me evitando – ela era muito esperta, não esperava por isso.

— Digamos que eu não...

Antes que eu pudesse concluir a fala dezenas de vozes invadiram minha mente. Não só vozes, mas também ruídos, barulhos e sons. Eu podia ouvir pessoas rindo, giz riscando quadro, pássaros cantando, motor de carro rugindo, passos de pessoas, o tic-tac do relógio da sala, tudo isso e muito mais ao mesmo tempo. Tudo girando em minha mente enquanto meus ouvidos doíam. Coloquei a as duas mãos para tampa-los tentando evitar aquele estupor de ruídos. Enquanto eu tentava me concentrar para acabar com a dor senti uma mão gelada, sobre a minha mão. Levantei a cabeça. Era Anna, quem mais poderia ser? Só ela tem esse toque delicado e macio.

— Você está quente, muito quente – ela disse, sua voz veio tão alta que parecia estar falando num megafone.

Eu fechei os olhos, respirei fundo, abri novamente e peguei minha mochila. Levantei e andei em direção à saída. Sem querer dei um esbarrão na cadeira de uma menina que fez uma careta.

— Professora, vou à enfermaria, licença – menti.

Saí antes de ouvir a resposta dela. Ou ela respondeu e eu não entendi, já que minha audição estava louca. Prendi a mochila nas costas e fui andando pelo corredor. Aos poucos os ruídos iam desaparecendo até voltar ao normal quando cheguei ao primeiro andar, finalmente.

— Espera – ouvi um leve grito feminino.

Era Anna, estava preocupada comigo. E eu a tratando mal. Mas eu não podia correr o risco de machucá-la. Não podíamos conversar até meu corpo e minhas emoções ficarem totalmente controláveis, não podia arriscar. 

— Lorran, você já passou por isso, sabe o que estou falando... Anna está aqui – eu disse num tom normal, tinha esperança de que ele ouvisse.

— O que disse? – ela chegou perto.

— Nada. Eu tenho que ir embora, então volte pra sala. Eu vou ficar bem.

— O que está pensando em fazer? A enfermaria não é aqui na porta de saída – Disse séria.

— Não se envolva nisso – tentei ser o mais frio possível, mas com ela era tão doloroso.

Ela chegou mais perto ainda, eu fiquei imóvel. Ela lentamente colocou a mão em minha testa e tirou muito rápido fazendo uma careta.

— Você, você está muito quente, não é febre normal isso... Vem pra enfermaria comigo, agora – impôs ela puxando minha mão, em vão, pois não sai do lugar.

Balancei a cabeça negativamente para ela e me soltei puxando meu braço.

— Mas... – ela perdeu a voz. Seus olhos me encaravam tristonhos e abalados.

É, acho que perdi uma amiga, ou várias, já que Claire e Evelyn eram muito amigas dela. Mas pelo menos ela ia desistir, e eu ia embora atrás de uma solução pra mim.

Me enganei, ao invés de voltar pra sala ela ficou na porta com os braços esticados. Fiquei com muita raiva dela, e isso era inexplicável. Lutei contra essa raiva, eu nunca a machucaria. Ela tinha que me deixar ir logo. E Lorran estava demorando muito.

— Por favor Anna, eu preciso ir – disse sério, ainda lutando contra minha raiva.

Meu coração pulsando acelerado.

— Não, não está em condições de sair assim, muito menos para dirigir – Disse firme.

Eu teria que magoá-la muito para ela me deixar ir.

— Eu não quero sua ajuda, não entende isso? – suspirei. – Eu não preciso de você, vai embora!

Ela recolheu o braço, abaixou a cabeça e saiu da grande porta.

— Vai lá, se mata logo.

Neste instante Lorran chegou.

— Vai direto falar com seu pai, ele vai te ajudar. Eu já passei por isso, é uma droga. Você foi irresponsável em vir à aula hoje, sabe disso – ele sussurrou para mim e eu sabia que Anna não havia ouvido nadinha, apenas eu.

Apesar de saber que tudo que ele disse estava certo e que eu deveria ficar em casa, escutar ele falar assim me deu raiva. Ele se aproximou de Anna e segurou o braço dela.

— Você está bem? - ele perguntou a ela, calmo.

Ela balançou a cabeça positivamente.

— Vá se cuidar – Lorran disse pra mim. – Eu cuido dela.

Era a chance que ele precisava pra se aproximar de Anna, e eu que dei a ele.

— Vai se ferrar! – eu disse cerrando os dentes e saí. 

 

***

 

Foi um alívio chegar em casa, apesar do caminho ter se tornado pura tortura. Eu quase bati em outro carro na saída da escola, na cidade eu quase derrubei um poste e na rodovia quase invadi a floresta. Meus sentidos estavam todos loucos, minha visão escurecia frequentemente, ou focava demais em algo. Como um zoom de uma câmera, porém com muito mais alcance. Meu olfato desaparecia, e logo depois voltava com muitos aromas estranhos ao mesmo tempo. Minha audição mesma coisa, vezes sumia, vezes trazia sons de muito longe.

Quando cheguei meu pai ainda veio me dar bronca. Disse que eu tinha sido irresponsável, o que levou a uma grande discussão. Depois ele me deu um chá, o pior que já tomei na vida e me mandou deitar.

Fiquei na cama pensando nela, a loira dos olhos encantadores. Há essa hora ela deve estar me odiando e o desgraçado do Lorran lá, se aproveitando. Suspirei. Na verdade Lorran era meu amigo, eu não devia estar com raiva dele e sim de mim mesmo.

Olhei no celular e eram dez e vinte e seis. Reparei que tinha algumas mensagens. Quem me mandaria mensagem? Anna? Apressei-me em abrir. Não era de Anna.

“Olha Konery, aqui é a Claire. Você é muito idiota, porque tratou Anna daquele jeito? Sim, ela contou. Ela só queria te ajudar. Ela disse que você estava pelando em febre. Ela está muito magoada e a gente também. Espero que melhore e peça desculpas a ela, porque se tu magoá-la de novo vai pagar caro.” Cliquei em responder.

“Lamento muito por isso”. Enviei.

A temperatura era amena, uns quinze graus. E o estranho é que eu não estava com frio, apesar da febre. Alguns minutos depois o sono bateu violento. Aos poucos fui relaxando e deixando-me levar para a escuridão, caindo assim num sono profundo.

Meu celular tocou me tirando do meu sono, que estava ótimo por sinal. Eram seis horas da noite. Sério, ainda ei de saber o que tem neste chá. Aliás, todas as dores sumiram e eu estava me sentindo muito bem, até animado. Foi um alívio ser eu mesmo de novo. Levantei, dei uma boa espreguiçada e fui lavar o rosto no banheiro. Depois voltei pro meu quarto, peguei o celular para ver quem tinha me ligado.

Três ligações perdidas de Bryan exibia o visor do celular. Tinha que ser. Apesar de já saber que era alguma besteira resolvi retornar para saber o que ele queria.

— Alô? – era a voz dele.

— Bryan, sou eu. O quer você quer? – perguntei.

— Finalmente cara! Então, vai ter uma festa hoje, um pessoal da escola marcou. Sabe como é. Os pais viajam e a casa fica livre.

— E...? – ele vai pedir algo, na certa. Sem falar da preocupação com o irmão.

— Me empresta o carro? A pé demora uns trinta minutos – explicou.

Eu gargalhei sarcasticamente.

— Estou bem, obrigado por se preocupar.

— Por isso me poupei de perguntar, sempre fica bem.  Pô cara quebra essa! Como vou pegar alguma garota andando a pé? Por favor! – ele suplicou.

— Não mesmo, vai com o do papai.

— Não dá, ele saiu, volta daqui a dois dias. Levou Hector e Lorran.

— Ele foi caçar?

— Sim, disse que um amigo dele precisou de ajuda em outro estado.

— E porque ele não me chamou, nem você?

— Ele disse que somos muito novos pra isso.

Respirei fundo.

— Quer saber? Vou nessa festa. Passo aí às sete. E não acostuma não, hein. Vou te dar essa carona hoje porque se não fosse por você eu não saberia da festa.

— Beleza, não demora.

Desliguei.

Se eu dissesse que estava com vontade de ir, era mentira, mas eu precisava me distrair. Sentir o que é ser normal de novo, molhar a garganta, dançar, me distrair.

Depois de um bom banho gelado vesti uma camisa, meu casaco preto e uma calça jeans, logo depois coloquei meu tênis. Fechei a casa e apaguei as luzes. A noite estava linda, as nuvens deram uma trégua, as estrelas brilhavam como nunca. Entrei no carro e virei à chave.

Andar de carro por Phenite era a coisa mais tranquila, principalmente à noite porque nunca havia transito. Quando parei o carro na casa de minha mãe Bryan já estava no jardim. Não pensou duas vezes, correu e entrou no carro.

— Anda cara, não quero me atrasar! – já veio logo dizendo.

— Cala a boca – eu disse dando a partida.

À noite a cidade era tão linda.

— Então, papai ligou perguntando se você estava bem.

— Sim, estou – respondi sem dar muita atenção.

— E ele perguntou se você já brincou com seu novo dom...

Epa! Tinha esquecido totalmente disso.

Olhei para a cara dele, indiferente.

— Você não tentou nada? – ele perguntou surpreso.

Balancei a cabeça negando.

— Não está curioso pra saber?

— Estou, mas eu me esqueci disso.

— Como consegue esquecer algo como isso? – ele riu. – Esqueci que gosta de sofrer, todas as dores foram em vão.

— Deixa de ser retardado – eu disse bravo. – Eu me sinto normal.

— Bom, vamos pensar, Hector tem uma super audição, certo?

— É.

— Lorran pode sentir através das vibrações, certo?

— Exato.

— Então você, deve ter, vejamos bem... visão de calor! – Disse gargalhando.

— Meu Deus! Quando acho que você está finalmente pensando algo que preste você vem com essa, só pode ser sacanagem – eu disse.

— Qual é, igual o Clark Kent! Porque está tão tenso?

— Você tem o dom de me irritar Bryan – disse firme, depois ri.

— Sei. Bem eu né, você que está com a MacUillis na cabeça.

— Não falei com ela ainda.

— Lorran tomou seu lugar – ele disse sorrindo de lado.

— Eu não tenho nada com ela – expliquei.

— Mas gosta muito dela, tá na cara – Bryan disse tudo.

— Você que vê demais. Vamos mudar de assunto.

— Ok, vamos voltar ao papo de antes. Sei lá irmão, tenta algo! Tenta sua visão, sei lá.

Respirei fundo.

— Tá bom – dei mais uma respirada profunda e me concentrei apenas na minha visão. De repente o carro acelerou demais, estava indo muito rápido e ia bater em uma casa. Pisei fundo no freio, foi como se eu tivesse voltado e dado ré muito rápido.

— Está louco, Jean? – Bryan disse assustado.

— Foi mal, é que...

— O que foi isso?

— Não sei, eu tava lá na frente já, íamos bater naquela casa.

— Não, estamos longe ainda, mais de quinhentos metros – ele disse seguro, e realmente a casa estava longe.

— Foi como se minha visão desse um zoom... – Então era isso, minha visão estava melhorada, incrível.

— Então esse é seu dom? Olhar longe? Senhor águia – ele riu alto.

Voltei a dirigir.

— Palhaço – eu ri junto.

— Falando sério, como está lidando com isso? Tipo, uma hora éramos normais e agora estamos nesse mundo totalmente surreal – Bryan às vezes pensa direito. É, talvez ele tenha salvação.

— Não sei, no começo eu fiquei meio surpreendido, mas depois, sei lá, foi fácil aceitar – ele franziu o cenho. – Eu meio que esperava por uma mudança geral em minha vida, só que bem lá no fundo, e isso é mais ou menos uma aventura para mim.

— É, eu sinto o mesmo, tanto é que não me vejo mais como antes.

— É assim mesmo – finalizei o assunto.

Mais alguns minutos e chegamos à casa da festa, a casa estava lotada. Havia muitos carros na frente estacionados, consegui parar a quase trezentos metros da casa.

Andando a passos médios nós atravessamos o jardim, quietos.

Muitos alunos ainda chegavam e pelo jeito a escola toda fora chamada para essa festa.

— Até mais tarde, Jean – disse Bryan entrando e sumindo logo no meio da galera que dançava na pista improvisada na sala.

Fiquei meio perdido lá dentro. O povo estava mutuado pulando ao ritmo da musica eletrônica. Havia muitas luzes piscando, o som estava bem alto, uma verdadeira balada.

Confesso que não estava nem um pouco a vontade ali, estava muito cheio, era impossível andar sem esbarrar em alguém.

— Oi – disse Evelyn surgindo do nada em minha frente.

— Oi, Evelyn – respondi sem jeito. – Me assustou.

— Desculpa – pediu exibindo um lindo sorriso.

— Relaxa, eu que estou perdido aqui, muito cheio – pisquei pra ela.

— É mesmo – ela sorriu. – Bom, vou beber um refrigerante, nos vemos por ai.

— Até mais.

Pelo menos a Evelyn estava me tratando normal. A Claire deve estar me odiando, e a Anna melhor nem pensar.


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Notas finais do capítulo

Créditos de edição GP *-*
O que acharam?
A parte dois ficou muito legal *-*
Acho que postarei sexta... depende, talvez quarta... depende da disposição que eu tiver para terminar o cap 4 =)
Bjos e até a proxima.



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