Matrix Processing escrita por Raphael Redfiel


Capítulo 1
Capítulo 1




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Ele odiava cada parte daquele apartamento, cada centímetro era tão sem vida que o deixava frustrado. Mesmo morando a duas quadras da praia nada o tirava daquela sensação de falso. O mundo para ele não existia, aquilo tudo parecia mais um jogo de xadrez, sendo ele apenas mais um peão esperando para ser destruído ou se tornar alguma peça útil para o jogo. Crescer ou perecer, eis a questão. Mas tudo mudaria no momento que recebeu uma mensagem.

Era noite, ele havia passado a maior parte do tempo hackeando, só nesses momentos ele podia se sentir vivo. Sendo filho de uma família rica, seu quarto possuía os mais modernos dispositivos que alguém poderia comprar, vários monitores e processadores espalhados pelo quarto, ele havia deixado tudo para achar o que ele dizia ser "a sua paz interior". Aquele era seu covil e ninguém conseguiria rastrear suas ações, nem mesmo os seus próprios criadores, a CERN, uma empresa Suíça, apesar do mundo achar que haviam sido os Estados Unidos os criadores da World Wide Web. Na Internet era mais conhecido como Anjo de Prata, depois de cada golpe que fazia, deixava sua marca, uma grande asa prateada envolta por uma auréola. Ele mais uma vez estava invadindo os sistemas da CIA, quando todas as telas ficaram negras.

— Mas que droga! — exclamou.

Procurou ver o que havia acontecido, ligou a luz do quarto, a força não havia acabado e mesmo que tivesse ele tinha uma bateria que daria energia o suficiente para uma hora inteira. Sem entender nada ele começou a mexer nos fios. Então ele reparou em palavras surgindo na tela.

"Não se preocupe, está tudo funcionando, eu apenas parei seu sistemas momentaneamente".

Sentando-se rápido ele começou a digitar.

"Quem você pensa que é? Quando eu descobrir como você fez isso eu vou acabar com você!".

"Carlos, não vim aqui para te prejudicar, vim ajudá-lo"

"Como você sabe meu nome, cretino?".

"Imagino que você possua muitas perguntas no momento, mas apenas vou responder a que mais te intriga, o mundo que você vive é uma mentira, sim tudo que você vê, tudo que esta tocando é uma farsa".

"Quem é você?".

"Sou Neo, já fui como você Carlos, descobri a verdade e decidi encará-la".

"Digamos que eu acredite em você"

"Era esse o sentido"

"Me conte mais então!".

"Tudo bem, serei breve porque não temos muito tempo, o mundo que você vive não é mais nada do que um programa do computador central, a Matrix, todos os humanos são basicamente o The Sims da Matrix".

"Isso explica tudo! Por isso que sinto falta de algo, que tudo aqui é falso".

"E tudo é, a não ser os humanos, todos existem, mas suas mentes estão todas na Matrix".

"O que eu devo fazer então amigo?".

"Você quer descobrir a verdade?".

"Quero!".

"Tenho uma coisa importante a dizer, os agentes devem estar chegando aí a qualquer momento, preciso que você deixe tudo aí, leve apenas seu laptop".

"Você deve estar brincando, não?".

"Eu falo sério, suba as escadas até o fim e espere na porta da sala das máquinas".

Então as telas voltaram mais uma vez ao normal. Ele não queria acreditar naquilo, como aquele cara poderia saber seu nome e ainda mais o convencer a fazer aquela loucura. Mas ele sabia que deveria fazer aquilo, era a única coisa que fazia sentido depois de anos. Como havia pedido Neo, ele pegou o laptop e deixou o apartamento. Olhou mais uma vez para o corredor branco, ficou feliz de pensar que aquilo tudo eram apenas dados. Abriu a porta de incêndio e começou a subir as escadas quando ouviu muitos passos tomarem o corredor. Sem pensar duas vezes ele retirou seu tênis e começou a subir a escada até que pudesse sair correndo sem que fosse escutado. Então depois de 10 andares ele chegou até uma enorme porta de metal, avançou para entrar, mas seu laptop começou a tocar.

"Que bom que acreditou em mim, mas sinto em dizer que eles estarão aí, precisamos ser rápidos".

O som de passos tomou as escadas, alguém estaria lá em pouco tempo.

"Instalei um programa nessa porta, ela vai te levar a um corredor cheio de desvios e portas, mas você precisa apenas correr sempre em frente, você saberá qual porta entrar quando chegar, mas seja rápido porque eu vou desinstalar o programa assim que você estiver próximo à porta".

"Entendido"

Ele olhou mais uma vez para o mundo que ele estava deixando e decidido abriu a porta. Um imenso corredor branco se estendeu à sua frente, várias portas e corredores apareceram.

— Parado! — ordenou alguém atrás dele.

Então ele conseguiu avistar um emaranhado de homens com ternos negros e óculos escuros o vigiando, ambos pareciam clones um do outro.

— Adeus babacas — disse ele jogando seu laptop contra eles e fechando a porta.

Correu o quanto suas pernas podiam agüentar, ele precisava chegar ao final o mais rápido possível. Seguiu sempre reto como Neo havia dito e aos poucos foi avistando o que ele achou ser a porta. Mas logo percebeu que os agentes estavam em seu encalço, então ele acelerou mais o passo.

— Fantástico — disse chegando no final do corredor, que terminava em uma imensa sala circular com várias portas — Neo seu sacana! — exclamou encontrando uma porta com o símbolo que ele sempre usava, a asa prateada e a auréola.

Como Neo havia mencionado o programa seria desinstalado no momento que ele chegasse no lugar. Todas as paredes, chão e portas começaram a se despedaçar em pequenos quadrados sumindo na imensidão negra, escondida pelas paredes. Olhando uma última vez para trás ele viu os agentes chegando até ele, alguns sendo engolidos pelas trevas que surgiam, com um movimento obsceno entrou pela porta. Fechou-a com força e esperou, observando onde estava, percebeu um simples corredor em L com o chão coberto por placas negras, paredes brancas e a porta por onde havia saído, agora sem o símbolo.

— Droga eu joguei o laptop! — exclamou ele pensando na burrada que havia feito.

Quando disse isso a porta se abriu revelando um bonito cômodo.

— Acho que isso não vai ser problema — falou uma voz vinda do cômodo.

— Neo?

— Não — então de uma cadeira saiu um homem de pele negra e óculos escuros — Eu sou Morpheus, irei levá-lo a realidade, por favor sente-se.

Os dois sentaram um de frente ao outro. Então ele viu na mesa uma bandeja e nela havia dois comprimidos e um copo de água.

— Aqui nesta bandeja existem duas pílulas, a vermelha abrirá sua mente e o trará para fora da Matrix, já a azul o fará voltar para seu apartamento e todas as memórias sobre isso serão apagas, agora me diga você já fez sua escolha?

— Sim — Então se aproximou da mesa, pegou a pílula vermelha e engoliu ajudando com um pouco de água — E agora?

— Você verá.

Então ele sentiu o mundo distorcer, sentia ser dissolvido por tudo, era como se estivesse sendo engolido para o infinito. Então ele acordou e quando abriu seus olhos viu pela primeira vez o mundo real, aquilo era o real, um emaranhado de casulos onde vários humanos adormecidos eram cultivados como baterias para as máquinas. Ele não se sentia decepcionado nem mesmo triste, depois de anos ele podia ser sentir vivo, ele sempre havia dito em toda sua vida que preferia se machucar com a mais dura verdade, do que se iludir com a mais bela mentira.


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