Corri para o píer e havia um barco não muito grande todo preto. Embarquei e Ling me mostrou minha cabine, não era grande mas estava muito bem arrumada com alguns adereços da Tribo da Água. Passamos um dia no mar e depois fomos de trem para o palácio do Senhor do Fogo.

–Ainda existe o Senhor do Fogo? – perguntei para Ling.

–Sim, ele se chama Chang. Para a Nação do Fogo é um dos melhores que já existiu, faz muito pelo o povo. – disse Ling.

–Ele é quem ira me treinar?

Ling deu uma risada e quando percebeu que eu não estava rindo parou envergonhado.

–O Senhor do Fogo tem que cuidar da Nação do Fogo, as filhas dele vão te treinar, Lee e Ming.

–Tudo bem então.

O palácio era enorme como uma aldeia. A arquitetura era magnífica, impunha respeito sé de olhar. As pessoas vestiam roupas parecidas com a de Ling, algumas toda preta, outras, toda vermelha. Os homens vestiam kimonos e as mulheres vestidos, alguns eram de seda outros de algodão, mas todos igualmente bonitos. Os moradores estavam sempre sorrindo o que poderia confirmar o que Ling disse sobre o Senhor do Fogo Chang ser um dos melhores que já tomaram o trono.

Ling me levou até meu quarto, ele não era tão bonito como o da Mansão Beifong, mas tinha seu charme rústico. Uma cama ao lado da parede direita, um armário na parede esquerda, um espelho ao lado do armário e um tapete de pele no chão, as lamparinas estalavam com o crepitar do fogo e um vento morno entrava pela janela. Era um bom lugar.

A primeira noite na Nação do Fogo foi um pouco tensa, por mais que o Senhor do Fogo fosse bom ainda existiam os assaltantes dobradores de fogo e na mesma noite um grupo desses assaltantes invadiu o palácio. Os não dobradores gritavam e soldados tentavam capturá-los, mas eram muitos.

Corri em direção a praça e consegui ver alguns bandidos. Eu sabia que tinha que tomar uma decisão e rápida.

–Ei bobocas! – gritei, mas ninguém ouviu. – EI SEUS BOBOCAS !!

Dois olharam para mim rindo. Chegaram mais perto e eu fiquei ao lado da fonte, o da esquerda – cara grande com ombros largos e feição de lutador. – deu um passo a frente ao colega e disse:

–O que a garotinha quer? – ele deu uma risada de deboche

–Eu estava pensando em dar uma surra em você dois! – dei um sorriso sarcástico.

–Há! Vamos ver se vai ter essa pinta de durona quando colocarmos fogo em você. – o outro disse.

O grandão deu um soco para frente e uma bola de fogo veio em minha direção, me protegi com a água da fonte e ele se afastou um pouco.

–Ora, uma rata dobradora de água. Achei que esses inúteis estavam todos congelados nos icebergs. – ele riu.

–Inútil? Isso é o que vamos ver! – eu disse.

Fiz uma parede de água me separando dele e comecei a jogar dardos de gelo nos dois, eles se protegiam com o fogo, eu aumentei a velocidade e eles davam passos para trás, fiz dois filetes de água e joguei com força entres os pés dele fazendo um corte na terra com formato de “X” e os bandidos começaram a correr.

–Não vão fugir não! – me assustei com o tom da minha própria voz.

Ergui a terra sob os pés deles os fazendo caírem de cara no chão. Cobri eles de água e os deixei presos sob uma grossa camada de gelo só com a cabeça para fora.

–Idiotas! – eu disse.

Ajudei os soldados a protegerem as pessoas. Depois de quase três horas de lutas e coisas em chamas conseguimos prender os bandidos, estavam em vinte e todos dobradores, os levamos para a prisão e depois voltei para o meu quarto, estava exausta.

Quando estava quase dormindo ouvi um barulho na janela, acordei assustada e vi uma sombra na frente da minha cama e levantei de pressa.

–Quem é você? – perguntei.

–Acho que você esqueceu de um dominador de fogo. – a sombra foi em direção a luz fraca da Lua Cheia no quarto.

Era um rapaz de 16 ou 17 anos com o cabelo desgrenhado e um casaco preto com calça vermelha. As feições meio pesadas para a idade como se já tivesse sofrido muito.

–Posso ter esquecido, mas também posso te prender agora!

Peguei meu cantil de água, o destampei e peguei a água de dentro fazendo um chicote. Bati no rosto dele com o chicote e acabou fazendo um corte. Ele ficou muito zangado e me jogou labaredas incendiando o quarto todo, pulei pela janela e corri para o bosque. Cheguei a uma clareira e o dominador de fogo estava na minha cola, parei no centro da clareira e fiquei olhando e ele sorria desdenhoso.

–E agora dominadora de água? Não vejo água em lugar nenhum.

–Mas eu vejo!

Tirei a água das plantas fazendo-as secarem, o rapaz ficou assustado, mas não recuou e começou a dobrar o fogo. Socos e chutes cada vez mais fortes, o fogo estava ficando mais quente e ele dobrava com mais poder. Olhei para o horizonte e descobri o que estava acontecendo, o Sol começou a nascer.

–Parece que sua Lua se fora, agora eu sou mais poderoso! – ele continuava jogando bolas e rajadas de fogo em minha direção.

–Você é que pensa!

Dobrei a terra embaixo dos pés dele e o ergui, o derrubei e o prendi com as rochas deixando só a cabeça dele para fora.

–Mas... Como?! Isso é impossível! – ele ficou assustado.

–Não, não é. Prazer, meu nome é Nikki sou o Avatar. – estendi a mão e sorri ironicamente. – Puxa, esqueci que você está preso.

Ergui a pedra que estava o prendendo e o levei para a prisão. Voltei para meu quarto mas ele estava todo destruído.

Eu estava com muito sono, precisava de um descanso, mas quando estava procurando um quarto não incendiado para dormir Ling me chamou.

–Avatar Nikki!

–Sim... – bocejei. – E que aconteceu Ling?

–O Senhor do Fogo Chang quer lhe ver. – Ling respondeu.

–Agora? Eu precisava de meia hora de sono antes de qualquer coisa. – queixei-me.

–Desculpe Nikki, mas o nosso Senhor é um homem ocupado.

–Tudo bem então. – dei um suspiro pesado.

Ling me levou até um salão muito grande. Havia muitas colunas, todas vermelhas com detalhes dourados. Bem a frente uma parede de fogo se erguia e duas almofadas no chão a frente da parede. Eu e Ling nos ajoelhamos nas almofadas e Ling disse:

–Senhor do Fogo Chang, aqui está Avatar Nikki.

Uma sombra se ergueu por trás do fogo e começou a avançar. O fogo começou a se separar como uma cortina e um homem alto saiu de trás dela, vestia uma túnica preta com bordas vermelhas e bordados dourados em forma de chamas. O cabelo estava dividido de modo com que a parte de trás estava solta e a da frente presa no alto da cabeça. O olhar era bondoso porém autoritário, tinha uma feição dura de general de exército.

–Seja bem vinda a Nação do Fogo Avatar Nikki! – uma voz grave ecoou pelo salão.

–Muito obrigada Senhor Chang, vejo que poderei contar com seu auxilio em minha estádia na Nação do Fogo e em seu palácio, me sinto honrada em estar aqui. – fiz uma reverencia a ele.

Chang chegou a minha frente, se ajoelhou e também me reverenciou.

–A honra é toda minha. – a voz estava num tom mais baixo, mas ainda sim grave. Uma voz forte para um governante de uma nação forte. – Devo-lhe agradecimentos por ajudar meus guardas a capturar os saqueadores.

–Esse é o meu dever Senhor, sou o Avatar e devo ajudar o povo em qualquer situação.

O Senhor do Fogo olhou para Ling e fez um sinal com a cabeça para que saísse. Fiquei sozinha com Chang.

–Acho que devo lhe apresentar as minhas filhas.

Fiz que sim com a cabeça.

–Lee! Ming! – ele as chamou.

Duas moças entraram no salão, uma com o cabelo todo preso com um adereço de chama e a outra tinha o cabelo comprido preso em um rabo-de-cavalo também com um adereço de chama. Estavam vestidas com vestidos de seda pretos até os joelhos com diferença apenas nos desenhos, uma com chamas e a outra com flores e calçavam sapatilhas vermelhas com detalhes dourados. A de cabelos presos com vestido de chamas deu um passo à frente e se curvou para o pai.

–Nos chamou meu pai?

–Sim Lee, quero que conheçam o Avatar. – o Senhor do Fogo disse.

Lee veio até a minha frente e se curvou.

–É um prazer e honra poder treinar o Avatar.

–Não é preciso tanta cordialidade, acho que você é da minha idade. – tentei parecer gentil.

–Creio que podemos começar o treino agora. – disse Lee.

–Eu gostaria de pedir um favor. – falei timidamente.

Chang e Lee se olharam, olharam pra mim e Chang disse:

–O que quiser.

–Eu gostaria de descansar antes do treino, eu fiquei acordada a noite inteira e acredito que não iria aprender nada neste estado. – apontei meus olhos que estavam pesando.

–Claro. – Lee sorriu. – Esperamos você pela tarde?

–Sim. Onde é o campo de treino? – perguntei.

–Quando estiver disposta toque um sino que estará na porta do seu quarto. – disse Lee.

–Muito obrigada... – bocejei. – Desculpa... eu vou indo antes que eu desmaie aqui mesmo.

Chang, Lee e Ming deram um risinho abafado e eu sai do salão. Um criado me levou a outro quarto um pouco mais luxuoso. Deitei na cama e em menos de dois minutos eu dormi.

Meu sonho começou em um lugar calmo cheio de rochas. Reino da Terra. Me vi andando em uma trilha por entre uma vegetação rasteira, estava indo em direção a um acampamento. Parei em frente a uma tenda, havia dois homens lá dentro e estavam discutindo.

–Como pretende atacar a Nação do Fogo e os Nômades do Ar só com dobra de terra?! – um homem com voz muito grave.

–Claro que não! Vamos recrutar soldados da Nação do Fogo e da Tribo da Água. – outro com a voz mais leve falou.

–Não, da Tribo da Água não. – sussurrei.

Tentei destruir aquela tenda e ver o rostos daqueles homens e descobrir o que eles queriam com a Nação do Fogo e os Nômades do Ar, mas eu não conseguia me mexer.

–Por que querem atacar os Nômades do Ar e a Nação do Fogo?! – gritei.

Nada mudou dentro da tenda, os homens ainda estavam dentro da tenda.

Acordei suando com os raios do sol entrando pela janela. Levantei da cama pensativa, aquele sonho não deveria ter sido em vão, eu estava lá, ouvi a conversa e não me sentia muito bem. Decidi deixar o sonho de lado e ir treinar, prometi que estaria no treino pela tarde.

Eu estava suando, minhas roupas grossas não estavam ajudando em nada. Procurei algo para vestir no armário e encontrei um kimono preto com bordas douradas e manga curta que ia até os joelhos, uma calça preta muito justa e sapatilhas pretas. Vesti a roupa, abri a porta do quarto e ao lado direito pendurado com fitas douradas um sino dourado. Toquei o sino e logo uma moça apareceu no corredor.

–Vou te levar até o campo de treino Avatar Nikki. – ela disse se curvando.

–Obrigada. – agradeci.

Percorremos o palácio até chegarmos a uma clareira vazia, era um bom lugar para se treinar por não ter nada que pegasse fogo.

–Boa tarde Nikki! – Ming falou sorrindo e acenando.

–Ming, mais respeito com o Avatar! – Lee usou um tom autoritário.

–Me desculpe. – Ming se curvou. – Boa tarde Avatar Nikki.

–Por favor, não gosto de ser tratada assim, só Nikki está ótimo. – sorri.

–Viu Lee, eu falei pra você. – Ming mostrou a língua para Lee.

–Que seja, vamos começar o treinamento. – Lee continuou com a feição fechada. – Dominação de fogo não necessita de movimentos como os outros elementos, deixe suas emoções fortes tomarem conta da sua mente e já vai saber controlá-lo. – Lee explicou.

–Fogo é o elemento mais fácil de ser dominado por ser basicamente alimentado por raiva, força e vontade de poder. – Ming completou. – Vou dar uma demonstração.

Ming se afastou um pouco e ficou em posição de luta, suas feições meigas se transformaram em feições de lutadora nata. Ela deu um soco e fogo surgiu do meio de sua mão, depois deu um salto e chutou com uma perna depois a outra e um arco de fogo se formou do ângulo dos chutes. Ming tocou o chão com a ponta dos pés e logo se levantou sorridente novamente.

–Legal... – murmurei encantada.

–Sua vez! – Ming falou.

–Claro, vamos ver o que eu consigo fazer. – falei.

Me afastei delas, me concentrei, respirei fundo e direcionei minha força de vontade para os punhos e dei um soco no ar. Esperei que saísse uma labareda do meu punho, mas só saiu um pouco de fumaça cinza. Me decepcionei.

–Er... acho que você precisa de mais inspiração. – Ming olhou pra mim e depois pra irmã.

–Claro, minha vez. – disse Lee.

Lee deu dois passos a frente e fechou os olhos, quando os abriu estavam ferozes. Ela deu dois socos rápidos e fogo azul saiu dos punhos, dois chutes de cento e oitenta graus totalizando trezentos e sessenta graus exatos, e mais fogo azul surgiu fazendo uma cortina de fogo.

–Exibida. – Ming resmungou.

–Como ela conseguiu fazer fogo azul? Achei que essa técnica estivesse sido extinta com a Princesa Azula. – falei.

–Como sabe, - Lee começou a falar. – o trono do Senhor do Fogo passa hereditariamente. - ela me olhou e eu confirmei com a cabeça. – Meu bisavô Senhor do Fogo Zuko tinha essa capacidade, mas ela não foi desenvolvida como de sua irmã Azula. A técnica permaneceu na família e eu acabei a desenvolvendo.

–Entendi, mas Ming não vai desenvolver? – perguntei olhando para Ming emburrada no canto de braços cruzados.

–Quem sabe? – Lee deu de ombros.

–Chega de papo, temos uma avatar para treinar. – Ming falou brava.

–Ela não se conforma por ainda não ter aprendido a técnica. – Lee sussurrou no meu ouvido.

–Sei... – sorri.

Algumas horas de treino se passaram e minha técnica de dominação de fogo não estava avançando muito.

–Por que... – dei um soco. – Não... – mais um soco. – Consigo? - chutei.

–Calma! – Ming tentava me acalmar. – Se não conseguiu antes, não conseguira agora de noite.

–Isso é inútil, com a dobra de terra foi tão fácil, porque com a dobra de fogo está sendo mais difícil? – reclamei.

–Você está treinando há apenas algumas horas, tenta relaxar um pouco. – Lee sugeriu.

Olhei para o céu que já estava escurecendo e percebi a Lua ficando mais clara à medida que os minutos passavam. Me sentia mais forte com a Lua Cheia iluminando a clareira.

–Pelo menos consigo dobrar a água mais intensamente durante esta semana. – falei.

–É mesmo, a Lua está linda! – Ming falou olhando para cima.

–Ming, temos o festival para ir! – Lee ficou apressada de repente.

–Ah caramba! Esqueci completamente! – Ming se levantou de pressa.

–Que festival? – perguntei confusa.