O sinal indicando o final das aulas finalmente havia tocado, e Eiji e Aika sairam apressados pela porta corrediça da sala de aula. Eiji permanecia em silêncio, mas com um discreto sorriso nos lábios, aquele tipo de sorrisso que permanece no rosto que uma criança quando a mesma descobre uma coisa nova. Aika permancia pensativa, reorganizando em sua mente todos os fatos obtidos naquele turbulento dia. Ela se deepcionara com Hayato, deixara de gostar de um garoto o qual amou por 6 anos, abraçou o melhor amigo pela primeira vez, viu-o corado na sua presença 2 vezes e sentiu borboletas em seu estômago quando o mesmo a olhou de maneira terna e gentil. Um olhar nunca visto antes no rosto do garoto. E Aika estava muito confusa. Ela não entendia porque em 6 anos de amizade, nunca percebera que o amigo era um homem, não um garoto.

            O que Aika ainda não sabia, é que Eiji a conhecia tão bem que sabia que ela se sentia dessa forma. Ele sabia que ainda haveria uma possibilidade, mesmo que ínfima, de Aika amar-lhe. E Eiji já perdera tempo demais, certamente, ele abraçaria essa oportunidade.

            Os passos até a saída foram lentos, quase como um martírio assim que os dois sequer ousaram dizer uma palavra, como na volta do intervalo. Eiji só estava esperando o momento certo. E Aika só estava tentando ouvir o que seu coração dizia, quando então, ela finalmente ouviu.

“Eiji-kun é lindo não é?” uma garota começou, com voz esganiçada. A outra logo prosseguiu “Blah, desista Mei-chan, ele não vai olhar pra você. Desde o 4ª ano, ele só sabe olhar pra Aika-tosca-chan!” a segunda continuou, com uma voz indiferente, porém um pouco irritada. “Desde o 4ª ano hãn? Eiji-kun é tão kawaii! Ele está se guardando para ela! Não é lindo?!” “Claro! Seria lindo se fosse comigo, e não com ela!”.

            E então, Aika finalmente entendeu.

            Desde de criança, sua mãe lhe contava histórias de samurais que salvavam belas princesas, e de casais de nobres que se amavam, e por serem de famílias inimigas preferiam viver juntos de si do que de suas famílias. E desde de criança ela sempre desejou que isso acontecesse com ela também. Ela era uma garota do 1ª colegial que areditava em contos de fadas, e ficou tanto tempo procurando seu samurai, acreditando veemente de que ele era Hayato. O único problema é que ela estava olhando para o lado oposto.

            E então ela olhou para o lado certo, e o viu.

            Eiji estava lá, como sempre estivera. A face irritada, os olhos semi-cerrados, os curtíssimos cabelos pretos e a aparência severa e amarrotada, escondendo um homem gentil que apenas queria ficar perto da garota que ama, protegendo-a e amando-a de maneira que nenhum mais faria.

            Aika sentia-se tão estúpida por ter perdido 6 longos anos apenas para virar para a direita e ver o que ela sempre desejara. E ele estava lá, no fim do 6º ano, como estivera nos outros, apenas esperando para que ela olhasse para o lado certo. E finalmente ela olhara.

            E suspirou, um sorriso travesso e aliviado formando-se discreto em seus lábios. Quando focalizou o olhar na saída, percebeu o milagre da primavera: As árvores, belas criações dos deuses lançando suas lágrimas de felicidade por sobre a terra, e soterrando-as, havia a lágrima de felicidade dos deuses. Neve na primavera. Neve branca como porcelana sendo coberta por uma fina e majestosa camada de flores rosadas que se esparramavam no chão. Como seria possível? O calor e a brisa primaveril não haviam passado. Apenas caía neve do céu. Neve macia e gelada, que apesar de esfriar a pele, aquecia o coração dos enamorados.

            E então todas as dúvidas de Aika se esvaíram profundamente. A neve na primavera, conto antigo do romance da montanha do dragão* estava lá para provar que ela estava certa. E ela não ousou esperar mais. Apenas puxou Eiji pelo braço, arrastando-o até o pátio central da escola. E então, ele viu.

            O clima fresco e agradável da primavera continuara, mas estava tudo completamente branco como no inverno. Aquela fina camada de veludo se espalhando por todas as coisas que ousavam entrar em seu caminho. Fechando a vista, se via as pequenas flores esparramadas pelo chão, como pérolas esparramadas na mesa de um joalheiro. E ele enfim percebeu que Aika o encarava com aquele sorriso maravilhoso nos lábios. Depois que o deslumbre pelo cenário tornou-se menor, ele olhou para a garota, e a mesma apenas disse uma frase. Uma frase que, para o coração de Eiji, não precisava de interpretação, seu significado era pleno.

- Eiji, eu olhei para o lado certo.

            E então, ele sorriu. Aquele sorriso aliviado e cheio de felicidade que as crianças dão aos seus pais quando recebem um presente no Natal, e então, ele a puxou, lentamente, para si, aproximando cada vez mais os corpos que até pouco tempo haviam se separado. Ele mordeu o lábio nervoso, enquanto fitava a face da garota tomar um tom rosado novamente. Ela sorriu e fechou os olhos, lentamente, apoiando-se na ponta dos pés para alcançar o rosto do garoto. E então ele teve certeza. Ele acabou com o pouquíssimo intervalo que havia entre os corpos. Ele a beijou.

            Foi um beijo calmo, que expressava, entretando, toda a urgência de dois seres completamente desiludidos de serem amados. Aquela boca tão conhecida, mas até então nunca tocada, agora revelava aos dois novos amantes todos os sonhos mais profundos e desesperados que um dia tiveram sonhando com outras pessoas, que se revelaram apenas a eles mesmos, como uma imagem de espelho. E eles sentiam que não queriam mais se separar. O contato era pleno, completo, saciando toda a vontade de sentirem o gosto do amor verdadeiro. Eles estavam em paz agora. Estavam olhando para o lado certo.

            Eles, certamente, nunca mais olhariam para outro lado que não fosse aquele.

            Eles se separaram, não por ar, mas por estarem deslumbrados demais. Precisavam ter a certeza de que aquilo não era um sonho. E Eiji pôde notar que Aika ainda sorria. E ele também.

- Achei que você nunca olharia. – ele comentou divertido, enquanto entrelaçava seus dedos nos da garota.

- Não enche saco Eiji! – ele comentou, divertida, enquanto depositava um beijo na face do outro e rumava para casa.

            Aquele 1ª de Março ficaria marcado na história do Japão. E principalmente, na história de 2 pessoas: Eiji e Aika.