POV: Zayn

                Eu estava do lado de fora da casa, via a neve cair levemente no chão enquanto minha mente voava longe dali. Eu estava com o CD que Liam tinha me dado em minhas mãos.

                Eu precisava ouvir aquilo para saber do que se tratava. Minha mente ansiava de tanta curiosidade, mesmo que eu já soubesse que tinha alguma relação com o que tinha acontecido no dia em que nos beijamos pela segunda vez, mas ainda assim, eu não tinha certeza do que exatamente ele tinha a dizer. Eu precisava saber se ele estava arrependido ou se queria insistir naquele sentimento.

                E se ele quisesse insistir? Eu iria aceitar?

                Eu seria capaz de retribuir aquele sentimento que eu nem sequer sabia o que significava? Desde o nosso segundo beijo, minha mente voltava com uma frequência impressionante para aquele assunto. Eu não conseguia entender em que momento da minha vida tudo tinha dado errado.

                Beijar Liam pela primeira vez tinha sido uma brincadeira. Beijá-lo novamente, um erro. Eu não conseguia mais tirar aquele garoto da minha cabeça. Nem mesmo Perrie, a garota que eu tive que terminar porque ia para aquele maldito colégio, conseguia suprimir a vontade que eu tinha de ficar com Liam. Era uma atração muito maior do que puramente física, era algo que vinha de dentro de mim e eu não conseguia explicar.

                Ele, aparentemente, correspondia a esses sentimentos e não parecia ter tantas dúvidas quanto eu. Logo ele, que era o careta, estava se mostrando muito mais maduro do que eu.

                Fui em direção ao pequeno escritório que a casa tinha. Não era bem um escritório, era mais um quartinho onde tudo era jogado dentro, porém, era lá que os Styles costumavam colocar o computador, logo, o quarto recebeu o nome de escritório. Esperei o computador ligar com impaciência, batucando com os dedos na mesa, e inseri o CD no drive.

                Agora era a hora. Eu ia ouvir o que Liam tinha a dizer.

                - Zayn? – A voz confusa de Niall me pegou desprevenido, dei um salto da cadeira e olhei para ele.

                - O que está fazendo aqui? – nem tentei disfarçar o tom desconfiado da minha voz, eu queria aquele garoto longe daqui. – Eu não vou dormir agora, pode ir. Louis já deve estar na cama.

                - O que você está fazendo. – Niall simplesmente contornou meu corpo e sentou-se na cadeira ao lado da que eu estava sentado momentos atrás. – Vai ouvir música? A essa hora da noite? Está com insônia?

                Pude perceber pelo irlandês forte que estava presente em seu sotaque que Niall ainda estava completamente bêbado. Eu não queria que ele ouvisse o que quer que Liam tivesse para me falar. Não por eu sentir pena dele ao notar que seu amado e idolatrado Liam preferia o bad boy aqui, mas porque eu tinha medo da reação que eu teria ao ouvir aquilo.

                - Vou ouvir com você – o pequeno irlandês simplesmente puxou um dos fones de ouvido conectados a caixa de som e o colocou. Minha primeira reação foi retirar o fone dele e manda-lo ir dormir, mas não sabia se fizesse isso adiantaria.

                Aquele garoto, talvez, até precisasse entender melhor o mundo. Um mundo em que Liam me quer ao invés dele. Sentei novamente e coloquei o outro fone.

                No início, só pude ouvir estática e uma respiração leve ao fundo. Niall olhou para mim com o rosto confuso. Logo, logo ele saberia o que Liam tinha a dizer.

                Por mais incrível que aquilo fosse; também foi totalmente esperado. Ao invés de simplesmente começar a falar o que queria, um leve som de piano começou a se destacar na estática.

                Liam ia cantar para mim.

He takes your hand, I die a little
(ele pega sua mão, eu morro um pouco)
I watch your eyes, and I'm in riddles
(Eu vejo seus olhos e estou em pedaços)
Why can't you look at me like that?
(por que você não pode me olhar assim?)

                Eu não entendia muito bem aquelas palavras. Liam tentava mostrar que estava sempre me observando?

When you walk by, I try to say it
(quando você passa, eu tento dizer)
But then I freeze, and never do it
(mas eu congelo e nunca digo)
My tongue gets tight, the words get trapped
(minha língua enrrola, as palavras ficam presas)

                Eu não conseguia mais pensar em nada, deixei que a voz dele invadisse minha cabeça enquanto meus olhos ficavam marejados com as lágrimas que insistiam em se formar. Pude sentir o corpo de Niall enrijecer ao meu lado. Ele tinha finalmente entendido o que significava tudo aquilo.

I hear the beat of my heart getting louder whenever I'm near you
(eu escuto a batida do meu coração ficando alta sempre que estou perto de você)

                O fone foi arrancado do meu ouvido com violência. Niall estava de pé.

                Pude notar que seus olhos estavam vermelhos e lágrimas grossas desciam por suas bochechas pálidas. Ele não deveria ter escutado tudo aquilo. Eu deveria me sentir mal, mas estava me sentindo ótimo. Eu queria que ele notasse que Liam não era dele, que eu também podia estar na jogada. Eu queria que ele notasse que aquilo não era uma competição justa, era um jogo ganho.

                Minha cabeça estava confusa quanto a tudo que eu sentia naquele momento. Eu adorava Niall como amigo, mas sentia raiva dele agora. Eu queria que ele saísse da vida de Liam e tinha certeza que ele desejava o mesmo para mim.

                Niall simplesmente se virou e saiu do pequeno escritório. Eu continuei olhando para a porta por algum tempo. O que aquilo iria afetar na nossa amizade? Se é que ainda existiria algo que eu poderia chamar de amizade.

                O pior de tudo era pensar em Liam. Depois disso, como seria minha relação com ele?

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POV: Liam

                Eu estava sozinho na cozinha, sentado no escuro. A pouca luz que existia naquele aposento vinha da lua que brilhava lá fora e trazia uma aura sombria a casa de campo dos Styles. A carta de Niall estava a minha frente. Eu não sabia mais o que fazer com ela.

                Passei meus olhos sobre ela pela quarta vez e voltei a reparar em alguns pontos que me chamavam atenção. O meu irlandês estava em dúvidas, assim com eu estivera há alguns anos. Ele não sabia exatamente o que pensar e eu sabia o quanto aquilo doía para ele.

                Eu queria coloca-lo no braço e confortá-lo até que ele pudesse entender tudo que passava na cabeça dele, mas isso seria bem pior. Se eu me aproximasse dele agora, só traria mais dúvidas para uma mente que já não aguentava mais.

                Vi uma sombra seguir rapidamente até o quarto dos outros garotos, mas não consegui identificar quem era. Mesmo que o sono estivesse se aproximando cada vez mais de mim, dormir era minha menor prioridade. Eu precisava organizar meus pensamentos e tinha que fazer aquilo de uma forma que não desse esperanças a Niall e nem o magoasse.

                Primeiramente, eu nem sabia o que sentia por Zayn, mas sabia que era forte. Era algo muito mais forte que uma mera paixonite, porém era selvagem; era diferente daquilo que as pessoas costumavam chamar de amor. Já com Niall, eu ainda não tinha pensado nele como homem. Ele era meu companheiro e meu amigo, me dava uma sensação melhor de companheirismo e amizade. Eu sabia que Niall nunca me faria mal e nunca machucaria meus sentimentos, fora que aquilo que eu sentia por ele era o mais próximo do que o que costumam chamar de amor.

                Com Zayn não existia segurança. Com Niall ainda não existia um algo a mais.

                Desde que eu tinha assumido para mim mesmo minha orientação, eu nunca tinha estado em uma situação como aquela. Eu precisava mostrar a mim mesmo que eu era forte. Eu precisava mostrar a mim mesmo que eu sabia fazer a escolha certa e que, independente da escolha, eu conseguiria ser feliz.

                Eu estava pronto pare decidir sobre meu futuro. Eu estava pronto para entender onde meu coração queria me levar e iria para onde quer que fosse. Eu precisava daquele tempo para mim, eu precisava colocar minha cabeça no lugar. Não podia brincar com os sentimentos de Niall e nem esperar para sempre por uma resposta de Zayn. Parar de me queixar sobre a vida era uma grande necessidade. Não era a hora de pensar apenas nas coisas ruins, era hora de mergulhar na minha mente e descobrir o que eu sentia.

                Só restava entender o que é essa coisa que tantos chamam de amor.