POV: Niall

              O dormitório inteiro tinha entrado num clima de estudo tão pesado que nem tínhamos tanto tempo para conversar. Eu tinha passado a maior parte do meu tempo com Harry ou Liam tentando revisar tudo que conseguia, mas mesmo assim, após as provas, eu tinha a impressão de que tinha dado tudo errado.

                Harry estava sentado ao meu lado no gramado da praça verde (uma das dez praças da escola), tirava o paletó do uniforme e desabotoava o nó da gravata. Eu e ele tínhamos feito prova na mesma sala e terminamos na mesma hora, então viemos até a praça verde, que era a mais próxima do prédio das aulas do terceiro ano, para esperar que os outros chegassem.

                Pelo visto, nós fomos os primeiros a acabar.

                - Como foi a prova Niall? – Harry finalmente tinha quebrado o silêncio. Ele estava calado desde que saíra da sala, o que me fez pensar que ele tinha se dado tão bem quanto eu.

                - Não muito bem, eu acho.

                - Sei exatamente como é. – falando isso, ele se deitou na grama e ficou a olhar para o céu. Não era normal ver um Harry sério, então comecei a me preocupar realmente com o desempenho que ele tinha tido nas provas.

                - Cara, acho que dá pra passar. Os professores não vão nos querer aqui nas férias de natal. – tentei reconforta-lo, mas me senti um inútil ao ver que ele balançava a cabeça negativamente e virava o rosto para mim. Seus olhos fitavam os meus com uma intensidade assustadora. Lembrava-me muito o meu primeiro encontro com Louis.

                - Só estou preocupado com a vida. – Ele não tirava os olhos dos meus. – você não sente que está no canto errado? Acho que essa escola não é pra gente.

                - Bom, eu nunca quis estar aqui, para ser sincero. – eu consegui desviar meus olhos e agora fitava o céu. – eu queria estar em um apartamento em Londres, cercado por mulheres e vivendo minha liberdade.

                Harry riu baixo e eu pude até notar um tom de deboche. Virei meu rosto para ele e o encarei. Ele ainda não tinha desviado os olhos de mim. Seu sorriso mostrava aquelas covinhas extremamente apertáveis e ele parecia se divertir com a minha resposta. Fiquei indignado, odiava ser tratado como uma piada.

                - Você é mesmo uma incógnita Niall. – ele sorriu mais abertamente. – Confesso que ainda não consegui te desvendar. Louis também não conseguiu retirar mais de você do que o que você fala.

                Quer dizer que ele e o senhor Tomlinson andavam falando de mim pelas costas. Claro que isso não era imprevisível. Eles deviam todos falar do pobre irlandês que não parava de comer um minuto sequer. Eu fiquei realmente com raiva e tenho certeza que isso ficou expresso no meu rosto.

                - Calma Horan, nós não falamos mal de você! – Ah é? E o que vocês falam? – Nós só queríamos que você se abrisse mais com a gente. Você está sempre preso no seu próprio mundo e gosta de sofrer sozinho.

                Harry se levantou e segurou minha mão. Ele estava certo. Toda a minha irritação de segundos atrás estava passando e eu ficava confuso.

                - Mas... eu não quero preocupar vocês com meus problemas. – minha voz parecia na defensiva, mas eu não sabia o que pensar sobre tudo aquilo. Eu ainda tinha na minha cabeça que todos falavam mal de mim pelas costas. Eu não confiava em ninguém para falar sobre coisas pessoais e tudo isso era graças aos problemas do meu passado. Que falta fazia um amigo verdadeiro.

                - Sei que só nos conhecemos há três meses. – Harry colocou sua outra mão sobre minha mão e voltou a fitar meus olhos. – Mas você pode realmente confiar em todos nós. Liam e Zayn também são relativamente fechados entre nós, mas quando tem algo que os incomoda, eles vem conversar ou conversam entre si. Você tem que fazer o mesmo Niall. Não guarde todos os problemas em você ou você vai acabar enlouquecendo.

                Por um momento, a imagem de Liam e Zayn trocando confidências me deixou com mais raiva, mas tentei tirar aquilo da minha cabeça o mais rápido possível. Voltei a me preocupar com o que Harry estava falando.

                - E por que você está me falando isso agora?

                - Bom, ninguém, fora o Liam, e talvez nem ele, entendeu muito bem da ultima vez que você ficou com raiva... – o jeito que ele falava deu um nó na minha cabeça e eu fiz a expressão mais confusa que consegui. Harry riu e voltou a falar. – Bom ,você sabe... sobre o incidente do Liam e do Zayn...

                Mais uma vez aquilo era mencionado. Eu sabia que a culpa era inteiramente minha, mas eu já estava muito bem e tinha esquecido aquele assunto. Não tinha?

                - Bom, você sabe... você meio que ficou sem falar com todo mundo do dormitório por dias depois daquele incidente. Você conversou com Liam e ficou tudo bem, mas ninguém entendeu muito bem o que aconteceu. – Harry continuava, eu podia sentir a preocupação na voz dele. Por que ele tinha esperado tanto para tocar naquele assunto.

                Mesmo ele tendo esperado tanto tempo, eu não estava preparado para comentar.

                - Niall... o que você sente por Liam? – Agora o semblante dele era sério e ele tentava ler minhas expressões.

                O que eu sinto por Liam?            

                Eu não sabia dizer. Estava longe de ser um sentimento fraco, mas por falta de experiência em outros relacionamentos, eu não poderia dizer se aquilo que eu sentia por ele se restringia realmente a amizade. Mas o que eu sentia por ele?

                Tudo que eu sempre senti pelas minhas ex-namoradas era algo puramente sexual. Como um adolescente de 16 anos hiperativo, minha primeira namorada passou mais tempo na cama do que falando sobre sentimentos. Agora, eu já tinha completado 18 anos e nunca tinha entendido muito bem o que era amor. Será que era amor que eu sentia por Liam?

                - Harry... eu não sei.

                Harry não pareceu chocado com a minha resposta. Soltou um longo suspiro e olhou para o chão, seguindo uma pequena trilha de formigas. Ele estava realmente preocupado comigo e parecia não querer demonstrar aquilo para que eu me acalmasse, porém uma das vantagens de ser hiperativo é o fato de eu conseguir ler as mínimas expressões que ele fazia em frações de segundo.

                - Niall! Harry!

                O grito que vinha de longe me atingiu feito uma faca. Era estranho pensar que na hora que eu estava finamente me abrindo para meus sentimentos, algo iria atrapalhar.

                Zayn, Liam e Louis chegavam perto da gente.  Tinham acabado a priva e finalmente chegavam ao ponto de encontro. Zayn já tinha retirado o paletó do uniforme e a gravata e parecia extremamente sexy. Louis e Liam ainda estavam devidamente uniformizados e vinham abraçados lateralmente com as mãos entrelaçadas nos ombros um do outro.

                - Nós continuamos nossa conversa depois. – Harry falou num sussurro e deu uma piscadela para mim – teremos bastante tempo nas férias de natal.

                Eu assenti com a cabeça e esperei que eles chegassem com um sorriso no rosto. Ao chegarem, Louis sentou-se ao lado de Harry e deitou sua cabeça no ombro do mais novo. Liam e Zayn sentaram-se em extremos opostos (ainda estavam sem se falar muito). Zayn estava ao meu lado e Liam ao lado de Louis.

                - Como foram as provas? – Zayn iniciava uma grande discussão sobre questões certas e falhas no gabarito.

                A discussão sobre provas durou todo o resto da tarde. Só fomos perceber o quanto tempo tínhamos perdido discutido aquilo quando o sol finalmente se pôs.

                Nessa altura do campeonato, eu já estava deitado sobre meu paletó da farda e olhava para os garotos de lado. Liam estava deitado no colo de Harry que, por sua vez, dividia um grande sanduiche com Louis. Zayn estava com a cabeça sobre minhas pernas, momentaneamente dormentes, e conversava animado com Louis sobre a última questão de administração de negócios.

                - Pessoal, já tá de noite. – eu falei observador, recebendo vários “jura?” ou “é sério? Pensei que ainda estivesse amanhecendo” como resposta.

                Nós nos levantamos e decidimos que era melhor voltar logo para o dormitório, pois ainda tínhamos que arrumar tudo e se preparar para o início das férias de dezembro. Ainda tinham muitas malas para fazer e muitas cartas para enviar.

                - Liam, você vai mesmo, não é? – Louis perguntava pela centésima vez. Liam tinha tido problemas em convencer aos pais de que ir passar as férias de natal na casa de um amigo seria uma boa.

                - Claro claro, acho que só falta a confirmação da minha mãe e o dinheiro das passagens. – O assunto dinheiro não era muito confortável para Liam. Ele e Harry eram bolsista e tinham famílias realmente pobres, se comparadas a minha, a de Louis ou de Zayn.

                Harry não se preocupava muito com isso, pois estava oferecendo a casa, mas Liam se preocupava demais, pois achava que não ia poder ajudar em nada e seria um estorvo. Ele não ficava muito feliz coma ideia de “se aproveitar da nossa boa vontade”

                - Se precisar de grana, eu te empresto alguma coisa – Zayn falou olhando para o lado oposto. Ele não queria parecer bonzinho.

                - Eu também posso emprestar! – Eu não ia deixar que ele fosse o herói