Depois do banho não me lembrava de muita coisa senão ter simplesmente apagado na cama. Quando acordei estava ainda um tanto cansado e parecia dopado. Por quanto tempo eu havia adormecido? Não sei ao certo, mas sabia que fora um sono sem sonhos, escuro, calado, e não parecia ter sido tão longo, mas agora pensei seriamente se não havia perdido o jantar.

Levantei-me e fui procurar por alguma roupa mais "adequada" e encontrei já algumas na gaveta do quarto, estranhamente sendo todas do tamanho perfeito para meu corpo. Peguei então uma simples calça preta e uma camiseta vermelha e saí do quarto.

O trem era realmente grande, e parecia que cada compartimento era um "cômodo". O quão rico eles eram para construir coisas assim? Se bem que não eram bem da Capital, mas sim do Distrito 6 que cuida dos meios de transporte, mas mesmo assim o pensamento percorreu minha cabeça.

Não foi muito difícil de encontrar o compartimento do restaurante, onde já pude encontrar todos sentados à mesa, inclusive uma “pessoa a mais”. Um homem de estatura mediana, corpo forte, pele clara. Os cabelos eram já grisalhos e os olhos castanhos pareciam atentos a qualquer coisa que estivesse em volta, e agora, estavam atentos a mim. Elfort, meu mentor, vencedor da 15ª edição dos Jogos Vorazes com somente quinze anos.

— Haymitch! — exclamou Alva quando me viu. — Sente-se conosco, estamos conversando sobre algumas coisas dos Jogos.

Caminhei em direção à mesa e sentei-me. Logo que encostei na cadeira um grupo de serviçais se aproximaram e serviram o jantar. Arregalei os olhos. Havia ali um pato inteiro com laranjas, purê de batatas, peixe assado, salada e uvas. Nunca havia visto tanta comida assim, ainda mais ao meu dispor, e percebi que os outros tributos, até mesmo Maysilee que não era tão pobre, tiveram a mesma reação que eu tive. Assim que colocaram a comida vieram com bebidas, servindo suco de amora, cereja e morango para que pudéssemos escolher.

Todos nós nos entreolhamos, pasmos, até mesmo nos questionando se era tudo real e poderíamos mesmo comer aquilo. Alva nos olhou com aquela expressão agitada e riu.

— Ora, comam logo, ou esperam que a comida se sirva por si só?

Aquilo pareceu nos despertar, pois logo todos nós quatro tributos estávamos colocando a comida em nossos pratos, os sucos nos copos e nos empanturrando. Eu tentei não comer muito nem muito rápido, mas era difícil me controlar muito nesse caso.

— Comam — disse Elfort de repente, chamando a atenção de todos. Ele era o único que não havia se servido, e ficava apenas nos observando com aqueles olhos espertos e rápidos. — Comam o quanto puderem, pois vão sentir muita falta disto na Arena. Eu garanto.