O Segredo De Westminster escrita por Nica Tomlinson


Capítulo 1
O pacto.


Notas iniciais do capítulo

Então gente, esse é meu primeiro capítulo e é só pra mostrar pra vocês o começo de tudo. espero que gostem. Nenhum dos personagens aí mencionados são os que eu coloquei na lista, esses são antepassados deles e as meninas sao das escolhidas. boa leitura >....



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"A noite é sublime! – Tem longos queixumes,

Mistérios profundos que eu mesmo não sei;

Do mar os gemidos, do prado os perfumes,

De amor me mataram, de amor suspirei!

      - Agora eu vos juro... Palavra! – não minto!

      Ouvi-a formosa também suspirar;

      Os doces suspiros que os ecos ouviram

      Não quero, não posso, não devo contar!"

- Segredos, Casimiro de Abreu.

Westminster, 15 de outubro de 1692.

Aquela era para ser uma noite como outra qualquer. A brisa fria soava por entre as árvores, e arrepiavam aqueles que andavam pelas ruas quando a noite caía. Era uma noite comum, todos os cidadãos já estavam adormecidos em suas casas, aconchegados debaixo de seus cobertores quentes e mornos, com suas cabeças reclinadas por sobre o travesseiro, e com a lareira acesa, para que o frio não tomasse conta. As crianças já estavam na cama, e as velas e lampiões estavam apagados. Westminster estava calma e silenciosa. Porém, ao mesmo tempo, tenebrosa. O vento corria pelas casas como um grito agoniado, e atiçavam moças da vida que passeavam por ali. Tudo estava certo. Porém, na floresta, seis famílias se reuníam para selar um segredo. Um segredo que, se descoberto, mudaria o rumo de toda a humanidade. Um segredo que precisava ser escondido. Enterrado.

-Blackhurn! Blackhurn! Cabott já chegou? - o jovem e arduoso Joseph Yark sussurava para outro jovem, Stephan Blackhurn, que caminhava lentamente, adentrando cada vez mais na mata negra.

-Ainda não. Ele estava tentando ter notícias de Salem, e de Elizabeth. Tentei dizer à ele que viesse logo, mas acho que ele foi incapaz de me ouvir.

Os dois jovens ouviram barulhos dentro da mata e logo se assustaram com mais dois jovens se juntando à eles.

-William, Edward, que bom que vocês chegaram. Temos que fazer isso logo! - gritou Joseph. - Vocês sabem que os aldeões logo chegarão aqui! 

Eram Edward Grooselyn e William NewHamond. Dois jovens duques que passavam suas tardes de verão inteiras estudando, enquanto os outros jovens farreavam e enchiam a cara.

-Vocês viram o que eles fizeram à Salem? Parece que houve um verdadeiro massacre lá. - William comentou.

-É, parece que até a pobre Sra. Rosewood foi condenada à forca.

Todos se calaram depois disso.  A Sra. Rosewood era uma velha babá, que vivera todos os anos de sua longa vida aqui em Westminster, mas que, em seus dias finais, havia se mudado para Salem para ficar mais próxima de sua única filha, Matilde. Cuja qual tinha tido um caso com William antes de se mudar para Massachussets.

"Sra. Rosewood não merecia.", Joseph pensou. "Ela era uma boa pessoa, não merecia."

A injustiça parecia inevitável. Quantos inocentes, quantos erros, quanta maldade. E, no fundo, o coração de Joseph doía. Doía, pois sabia que sua cidade seria a próxima. Quem será que ele perderia? Talvez sua mãe, seu pai. Felícia... Pensou nela por uma última vez. Seus olhos, seus cabelos, o gosto doce e intoxicante de seus lábios rubros. Felícia Sparks. Um nome que ele nunca mencionaria de novo, depois de sua ia à Salem.

Stephan também pensava em uma garota. Uma, não. A garota. O nome dela? Jamais se esqueceria. Célia. Um nome distante, estranho, mas que ele nunca esqueceria. Nunca se esqueceria de seus cachos caídos nas costelas e o jeito como seus olhos brilhavam toda vez que ele estava por perto. Nunca quisera admitir, mas estava apaixonado por ela. E ter que deixá-la, aquilo ainda doía mais do que o que estava prestes à fazer.

Os quatro meninos ouviram ruídos abafados vindo da cidade, e então viram dois meninos saindo da clareira. Logo, o alívio tomou conta. 

-Cabott, Kendrick, o que, diabos, vocês estavam fazendo? - gritou William.

-Calma, Will. Estávamos só passeando. - Daniel Kendrick deu um sorriso e cumprimentou à todos com um aperto de mão, enquanto Oliver Cabott fitava os pés.

Um silêncio perturbador desceu sobre a roda de amigos, e todos se entreolharam, pensando no que estavam prestes à fazer. Nenhum deles realmente acreditava que ia dar certo, ou que duraria por mais de 300 anos, mas estavam dispostos à fazer. 

-Está na hora. - Oliver falou, pela primeira vez.

Os seis amigos caminharam até o celeiro Johnson abandonado e entraram. Aquele havia sido o ponto de encontro deles desde que descobriram sobre Ele. Havia sido ali que eles se encontraram pela primeira vez, há quase vinte anos atrás e seria ali que cada um deles se veriam pela última vez. Sentaram-se em roda como seus antepassados faziam, e invocaram o círculo.

-Você fez? - Joseph perguntou à Edward Grooselyn.

Grooselyn tirou um livro preto, de capa de couro e escrito à mão de dentro do casaco e colocou no meio da roda. O livro flutuou até a mão de cada um, e eles assinaram, um após o outro, a renúncia de tudo o que possuíam e tinham direito por nascência.

Daniel foi o último.  Colocando o livro de volta no centro, todos eles se levantaram. Um baú preto, de metal e todo decorado surgiu diante deles. Oliver foi o primeiro. Deu um paço à frente e jogou todos os seus pertences pessoais dentro do baú. Cartas, documentos, poemas, textos, fotos, esboços de livros e seu anel de família. Stephan foi o segundo. Jogou troféus, prêmios, medalhas e seu bracelete da família Blackhurn.

Daniel hesitou, mas então deu um passo á frente. Também jogou tudo. Documentos, fotografias que ele gostava de tirar, cartas de amor que escrevia de vez enquando, e seu medalhão que ganhara de seu avô. Foi então, a vez de Edward. Este jogou seus projetos, desenhos, fotos, modelos e seu monóculo que era de seu pai.

William jogou suas letras de músicas, suas cantigas e sonetos, poemas e canções, além de cartas endereçadas à Salem que ele nunca mandara e fotos antigas. Jogou também seu pingente, que possuía a foto de sua mãe, que morrera em seu parto.

O último, Joseph, deu um passo à frente e respirou fundo. Era hora de dar adeus. Jogou seu livro favorito e seu diário, onde escrevia tudo o que passava. Derramou no baú, todos os seus desenhos perfeitos e suas quadros pequenos que ele pintava com perfeição. Jogou também seu relógio de bolso, que fora seu primeiro presente em toda a sua vida. 

Depois de todos os pertences jogados, os seis amigos começaram a recitar palavras que, juntas, selariam um pacto. Um pacto onde as seis famílias cresceriam e se desenvolveriam. Bem, se o segredo nunca fosse revelado. Se, um dia, o segredo viesse à tona, as famílias seriam perseguidas. E uma nova era começaria. 

Mas não era por aquilo que estavam fazendo isso. Estavam selando esse pacto, pois a caça às bruxas logo chegaria à Westminster. E então, suas famílias estariam salvas. Contanto que o segredo estivesse salvo.

Os amigos deram as mãos e começaram a falar em voz alta.

-Nós, em troca do nosso sacrifício, pedimos aos espíritos da noite, aqueles que se aconchegam na superfície mórbida da névoa, sobre a terra macia, que faz surgir a flora, que alimenta a fauna, que precisa da água para viver, assim como a luz precisa do fogo, e o fogo precisa do ar. Nós oferecemos neste círculo, nossas almas. Que estão vendidas e assinadas, residindo para sempre neste livro. Nós oramos aos espíritos que aceitem nossa oferenda, e selem, conosco, esse pacto. Esse segredo.

A cada palavra dita em uníssono pelo grupo, o tempo parecia mudar. O vento leve como um assovio agora se transformava em um grande temporal, apagando as velas trêmulas que iluminavam o salão. Mas os seis jovens não se assustaram. Nem ao menos se importaram com o escuro. Estavam já acostumados. Assim, continuaram.

-Nós, herdeiros de Cabott, Blackhurn, Grooselyn, Yark, Kendrick e NewHamond, ordenamos que aceitem nossa oferenda, e selem nosso pacto, com o sangue que brota em nossas veias, e com a alma que habita nossos corpos. 

O vento parara de soprar. As velas se acenderam. Os amigos arfavam. Eram normais. O pacto estava feito.

-E assim, nosso pacto foi aqui selado, e nosso sacrifício foi testemunhado pelos espíritos que aqui co-vivem conosco. Agradecemos ao espírito. Que este nos conceda fé e luz durante nossa jornada. Que o Segredo nunca seja descoberto. E que nossas famílias permaneçam seguras. 

Os garotos terminaram o ritual com um grito: "quod ita fiat". Que significava, "Que assim seja feito".

Assim que terminaram, os meninos caíram ajoelhados no chão. Arfando e ofegando diante do que tinham feito. Não estavam mortos, afinal. O ritual tinha funcionado. Eles poderiam viver!

-Não estamos mortos. - Stephan comentou.

-Você jura? - Daniel falou e todos riram. Satisfeitos por serem os primeiros na história da magia à realizar um ritual de pacto com sucesso.

-O que fazemos agora? - Oliver disse e todos fitaram seus olhos azuis. - Quero dizer, com isso. - ele apontou para o baú negro. Que agora possuía um cadeado enorme de madeira, com todos os símbolos de suas marcas entalhados por sobre a superfície.

Todos fitaram Edward, o gênio do grupo.E, como quem anuncia um funeral, ele disse:

-Enterramos.

Os meninos ficaram em silêncio por um tempo pensando no que haviam acabado de fazer. Em todas as consequencias que aquele ato poderia causar. Pensando que haviam acabado de fazer história, mas que ninguém nunca saberia disso, à não ser eles mesmos.

Ah, coitados. Se soubessem o que estava acontecendo naquele momento, há centenas de metros de distância. 

O destino ria da cara deles. Pois, naquele momento, enquanto enterravam o baú, e enterravam seu segredo junto à ele, eles não tinham a mínima idéia que, em Salém, um grupo de seis bruxas selava um outro segredo, realizando um outro pacto. Fundando uma nova fraternidade em meio ao massacre. Uma nova era começava para Westminster. As irmãs de Salem estavam chegando.


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Notas finais do capítulo

gostaram? mereço reviews?