A Prova De Fogo escrita por Miss Swen


Capítulo 5
Tudo ou nada


Notas iniciais do capítulo

Baseada em spoilers do episódio 5x02 'Cloudy with a chance of murder'



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Cabelos levemente grisalhos, olhos escuros e um jeito um tanto quanto arrogante, essa era a descrição exata de Jeff Simons.
Ele estava sentado bem na minha frente, não parecia nervoso e muito menos preocupado.
Castle estava do meu lado analisando o homem assim como eu.
Resolvi começar.
–Sabe por quê está aqui não é Sr. Simons?
–Presumo que seja por causa da Grace.
–Isso mesmo.
–Eu não tenho nada a ver com o que aconteceu com ela! - afirmou antes mesmo que eu pudesse aprofundar o assunto.
–Então por quê fugiu quando a polícia chegou?
–Porque eu sabia que vocês iam achar um jeito de me ligar a isso tudo. Olha, eu posso ser muitas coisas, mas não sou assassino.
–Talvez, mas adúltero o senhor é! - afirmei com certa provocação.
–Espera... O que?
–Nós sabemos que o senhor mantém relacionamentos extraconjugais. E sabemos também que um deles era com Grace Adams.
–Oh, não! Eu até posso fazer isso que você falou, mas não com a Grace. Com ela não! - exclamou.
–Por quê com ela não?
–Eu até tentei levar o que a gente tinha adiante, mas ela não quis quando descobriu que eu sou... - suspirou – Casado.
–E isso frustrou você? - Castle perguntou.
–Na verdade não. Eu posso ter qualquer mulher que eu quiser, por quê me importaria com ela?
–Talvez porque ela tivesse provas da sua vida dupla. - instiguei.
–Do que está falando?
–Da matéria que ela investigava, na qual o senhor está envolvido.
–Ah, sim, eu sei. Quando descobri tentei fazê-la desistir pois afetaria muito a minha reputação, mas ela estava irredutível.
–E por isso a beijou?
–Sim, digamos que eu joguei com todas as minhas armas, mas infelizmente não foi suficiente.
–Então ela não cedeu a você? - perguntou Castle novamente.
–Não, tanto que depois que nos beijamos ela me deu um tapa e disse que não ia cair no meu charme outra vez.
–Vocês se relacionavam há muito tempo?
–Não. Eu a conhecei em uma festa, ela estava lá tentando arrumar contatos importantes, gente pra investir na carreira dela. Então começamos a conversar, nos demos bem e uma coisa levou à outra... - parou um pouco e fitou o vazio, parecia perdido nas lembranças – Na manhã seguinte eu deixei meu telefone, tinha gostado mesmo dela, mas aí as coisas não saíram muito como planejadas.
–Explique isso.
–Eu estava no meu consultório, ela deve conseguido o endereço com um dos amiguinhos jornalistas dela, apareceu lá e me pegou com a minha esposa. Foi um tanto quanto constrangedor ter que apresentar uma à outra.
–Eu posso imaginar. - disse com sarcasmo – Mas e depois?
–Depois ela ficou furiosa, disse que não queria me ver nunca mais.
–E isso foi quanto tempo antes da conversa no estúdio?
–Pouco mais de um mês antes. - explicou.
–Ok. – eu estava pensando.
–Já posso ir? - perguntou e fez menção de se levantar.
–Ainda não. Sente-se por favor.
–O que mais querem de mim?
–Que me diga onde estava na terça, entre as 22:00 da noite e 01:00 da manhã.
–Tudo bem, eu estava em um jantar de negócios com alguns sócios e depois fui pra casa.
Eu já ia dizer que iria checar o álibi dele e sair da sala quando o silêncio se rompeu.
–Não acredito que se deu por vencido! - afirmou Castle, inesperadamente.
–Como é? - Jeff parecia confuso.
–Você não parece o tipo de cara que desiste fácil de algo que quer. E com certeza queria impedir Grace de publicar a matéria, mas como ela não cedeu aos seus ‘encantos’ deve ter ficado muito bravo. - achei graça no modo como disse ‘encantos’ e no tom da frase em geral.
Olhei para Jeff.
–Bom, naturalmente que eu não esperava que ela fosse ser tão inflexível, mas não a mataria por isso. Certamente encontraria outra maneira de proibir que ela publicasse a tal matéria.
–Que maneira? - questionei.
–Eu conheço gente muito importante detetive, não seria difícil arrumar algum empecilho.
–E foi o que você fez?
–Eu não precisei. Ela mesma desistiu, mas o motivo eu desconheço.
–Está bem, fique aqui. Aviso quando puder ir embora.
–Mas eu tenho um compromisso.
–Ele vai ter que esperar! - afirmei saindo, seguida por Castle.
Aquela investigação não estava indo a lugar algum, tudo era muito confuso, um suspeito mencionava outro e ninguém parecia culpado. Provas estavam ausentes, e agora a conversa com Jeff Simons não havia sido muito produtiva.
Me perdi em pensamentos tentando encontrar algo que pudesse ter passado despercebido, mas fui chamada de volta à realidade por Castle que passou a minha frente, me impedindo de continuar andando.
Eu o olhei, ele parecia nervoso, curioso e até mesmo impaciente. Me senti mal, eu estava chateada mas ainda tinha medo de confessar o motivo.
–O que é? - perguntei com um tom zangado, como sempre fazia para fugir do que realmente me irritava.
–Você está bem? - ele perguntou.
–Sim.
–Não é o que parece.
–Nem tudo é o que parece Castle, acostume-se! - disse de um jeito rude ao me desviar e passar por ele.
–Aí tem! - exclamou ao me alcançar – Me diga o que aconteceu.
–Não aconteceu nada tá bom? Eu só estou cansada de correr atrás de pistas falsas, só isso.
–Não, você ficou assim depois que... - ele parou de falar e de andar também.
Sua expressão era de surpresa.
Parei e voltei um pouco para olhar para ele. Alguns segundos de silêncio e falou:
–Oh meu Deus. Você conversou a Kristina não é mesmo? - perguntou me puxando pelo braço para um lugar mais reservado.
–Conversei. - confirmei, ainda sem gostar de ouvi-lo pronunciar o nome dela.
Ele fitou o chão, constatou que eu sabia sobre o beijo e que esse era o motivo da minha repentina mudança de humor.
–Então você já sabe sobre... - hesitou.
–Digamos que eu tive uma conversa interessante com ela.
–Beckett eu...
–Não se preocupe, eu sei separar as coisas - eu não sabia – Falamos sobre isso depois.
Me virei e comecei a caminhar, meu passos denunciavam meu estado, que era de muita raiva.
–Mas...
–Depois Castle! - elevei a voz e continuei andando.
Não podia mais evitar, era real, uma ‘colisão’ entre nós era eminente.
Respirei fundo e me lembrei onde estava, não tinha como demonstrar meus sentimentos ali, seria errado e perigoso. Naquela altura, fingir já havia se tornado um hábito.
Ryan estava ao lado da minha mesa, esperando por mim. Antes que eu chegasse mais perto ele veio ao meu encontro.
–Beckett eu descobri uma coisa.
–O que? - perguntei ao olhar uma pasta que ele tinha nas mãos.
–Esses são os registros telefônicos do celular da vítima - me entregou uma folha repleta de números – E esses são os números pra quem ela ligou e de quem recebeu ligações na noite em que foi morta. Agora veja esse aqui, bate com a hora em que ela estava conversando com Peter Jones.
–É ele disse que o celular dela tocou e que ela falou com alguém que a deixou muito nervosa.
–Eu já sei que foi essa pessoa.
–E quem era?
Ao me mostrar o nome eu não acreditei, era Will Thurman. Já havíamos conversado com ele, o álibi tinha sido confirmado, como poderia estar envolvido?
–Will Thurman? - perguntei.
–O próprio. Parece que ele não foi totalmente sincero conosco.
–Traga-o até aqui.
–Ok.
Ryan saiu e eu me sentei. Estava pensativa mas esperançosa, aquele poderia ser um bom desfecho.
Meu celular tocou chamando minha atenção, era uma mensagem do Castle que dizia:
Nós precisamos conversar. Estou te esperando no estacionamento.
Por favor, venha!
Ir, ou não?
Eu tinha dúvidas e precisava esclarecê-las, mas para minha surpresa, quando me deparei com a tão esperada conversa que devíamos ter, eu estremeci. Senti muito medo, não queria brigar com ele, demoramos tanto para ficar juntos, passamos por tantas coisas, e quando começamos de um jeito tão bom, algo chega e ameaça isso.
Então fiz uma pergunta a mim mesma:
“Vale à pena insistir nisso?”
Em menos de dois segundos minha mente já havia formulado a resposta, é claro que com a ajuda essencial do meu coração, que gritavam incessantemente:
“Sim, mas é claro que vale! Eu esperei muito tempo até me sentir realmente pronta. Posso estar vulnerável agora, mas isso não significa que eu deva desistir.”
Criei coragem e fui em direção ao elevador, determinada a resolver aquela situação de uma vez por todas.
‘Escuridão’, essa era a palavra certa para definir aquele estacionamento lotado de carros.
Comecei a andar, esforcei minha visão procurando por Castle mas ainda assim estava difícil. Então eu o vi, encostado em uma pilastra com as mãos nos bolsos e encarando o vazio.
Tentei ser discreta, mas minhas botas denunciaram a minha chegada. Ao me ver ele trocou de posição e se virou para mim.
–Que bom que você veio.
–É, mesmo esse não parecendo ser o lugar nem a hora própria pra uma conversa como essa... Eu estou aqui. - falei ao ficar de frente para ele.
–Quanto antes a gente falar sobre isso melhor.
Me surpreendi com a confiança com que ele disse aquilo.
–Eu sei... Mas então, quem começa? - minha boca estava seca, meu coração temia diante do que ele poderia me revelar, embora achasse que seria impossível me sentir pior do que naquele momento.
–Acho que sou eu...
–É eu também acho! - cruzei os braços
–Ah, e por quê acha isso? - perguntou reagindo a minha postura firme
–Bom, porque até onde eu saiba, foi você quem fez besteira.
–Besteira? Como assim Beckett? - senti o olhar dele me invadir.
–Não se faça de desentendido. Você sabe muito bem o que fez!
–Se soubesse não estaria perguntando.
–Vai continuar com isso?
–Isso o que?
–Fingir que não sabe do que eu estou falando!
–Mas eu realmente não sei.
Andei em círculos, me vi obrigada a dizer com todas as letras o que tanto me incomodava.
–Então não se lembra de ter beijado Kristina ontem à noite?
Segundos em silêncio, ficava cada vez pior.
Pra onde aquela conversa nos levaria?
–De fazer o que? - falhou na última palavra
–Não me obrigue a repetir.
–Eu não acredito! - exclamou e se virou, passando a mão nos cabelos – Foi isso o que ela te disse?
Confirmei com a cabeça.
–E você acreditou?
–Queria que eu fizesse o que?
–Que tal que confiasse um pouco mais em mim? - se aproximou sem tirar seus olhos dos meus.
–Castle, é só admitir!
–Eu não vou admitir uma coisa que não aconteceu!
Eu simplesmente não consegui contestar, ele não demonstrou incerteza nem por um instante.
–Então... - engoli em seco – Vocês dois não...
–Não! – respondeu ao ver que eu não conseguiria terminar.
Um vento gelado entrou por algum lugar desconhecido e atingiu meu rosto.
Não estava preparada para aquilo.
De repente tudo começou a voltar em flashbacks: a conversa com Kristina, meu coração chateado com a mentira que Castle teria me contado...
Tudo parecia apenas um pesadelo que minha mente insegura tornava realidade.
–Bom, acho que sendo assim... É melhor nós voltarmos ao trabalho. - falei fitando o chão enquanto dava pequenos passos na direção oposta.
Senti a mão dele no meu braço, de um jeito suave mas decisivo.
–Não antes de falarmos sobre isso.
–Sobre o que? - perguntei ainda sem conseguir encará-lo.
–Ora Beckett, isso tudo!
Fique parada, como se qualquer movimento pudesse ser fatal.
Ao notar que eu não diria nada ele começou:
–O que exatamente ela te falou?
Suspirei ao não encontrar outra saída a não ser refrescar minha memória com as falsas palavras de Kristina que quase roubaram minha paz.
–Que depois do jantar ela te convidou pra entrar no apartamento dela e que você recusou. Então ela te puxou pra dentro e que quando você decidiu ir embora ela... - a última parte me angustiava, mesmo agora sabendo que não havia acontecido – Te beijou.
–Eu devia ter imaginado.
–Mas se não aconteceu nada entre vocês, por quê ficou tão nervoso quando eu disse que tinha tido uma conversa ‘bem interessante’ com ela? Por quê me chamou aqui? O que tem pra me dizer?
Foi a vez dele não conseguir me encarar.
–É complicado.
–Castle...
–Ok. Bom, eu entrei no apartamento dela, nós conversamos mas eu comecei a me sentir desconfortável, aí resolvi ir embora. Levantei, peguei meu casaco e...
–Espera, por quê tirou o casaco? - perguntei interrompendo-o.
–Porque senti calor! Mas a questão é... Que de fato ela tentou me beijar.
–E eu aqui me sentindo culpada por desconfiar de você! - me virei de costas.
–Você me ouviu? Eu disse que ela ‘tentou’ não que conseguiu. - falou ao ficar em frente a mim.
–Tudo bem. E como foi que você a impediu?
–Com a verdade.
–Eu não entendi.
–Eu disse que estava interessado em alguém, com quem eu pretendia me relacionar em breve. - pude notar o cuidado que ele tomou com cada palavra.
–Em breve?
–O que queria que eu dissesse? Que estou de fato namorando alguém?
–Na minha opinião essa é verdade. Ou estou enganada?
–Está certa, mas sabe que eu não poderia dizer isso.
–Por quê não?
–Porque ela iria me encher de perguntas pras quais eu não poderia dar respostas sinceras e etc.
Ele estava certo.
–E ela aceitou a sua explicação?
–Eu pensei que sim, mas agora vejo que não.
–Como assim?
–Se ela tivesse acreditado no que eu falei, não teria inventado uma mentira como essa pra você.
–Acha que ela desconfia sobre nós dois?
–Não chega a tanto, mas deve estar curiosa pra saber a quem eu me referia.
–E por quê falar comigo?
–Porque ela sabe que confiamos um no outro, então deve ter achado que você saberia por quem eu estou interessado e contaria pra ela.
Tudo começava a ter um novo sentido.
–É... Vendo por esse lado.
–Eu sei. Só espero que você não tenha dito sobre...
–Ah não. Eu agi naturalmente, não se preocupe.
–Naturalmente? Você?
–Por quê é tão difícil de acreditar?
–Ora porque eu te conheço, sei como esse tipo de coisa te afeta.
–Pois não afetou! - e lá estava eu escondendo mais uma vez o quanto tudo aquilo me atingia.
–Está bem. - ergueu as mãos em sinal de rendição.
–E o que faremos agora?
–Acho que podemos encerrar esse assunto, depois de tudo não acredito que ela volte a me procurar.
–É mais ela está envolvida no caso, ainda podemos precisar mantê-la por perto.
Senti um nó na garganta ao reconhecer tal possibilidade.
–Sobre isso eu não posso fazer nada.
–Eu sei.
–Acho melhor a gente subir.
–É eu também acho.
Começamos a andar lado a lado rumo ao elevador, mas Castle resolveu me perguntar.
–Então... Tudo resolvido entre nós?
–Claro, com tanto que Kristina fique bem longe. - falei aquilo só para ver a reação dele, que foi como eu esperava: uma pequena risada e um leve toque na minha mão.
Eu me sentia bem melhor, sem todo aquele peso da possível traição que teria sofrido, sem sentir que parte do que eu acreditava estava exposto.
Ao chegar no andar, avistei Esposito, parecia impaciente.
–Hey, Ryan chegou com o suspeito, aonde você estava?
–Ah... - hesitei – Colocando ordem em algumas coisas.
Castle passou para o lado de Esposito.
–Sei. - ele disse semicerrando os olhos, suponho que estava desconfiado.
–E em que sala ele está?
–Na 3.
–Ótimo, eu vou até lá.
Cheguei na porta da sala de interrogatório, respirei fundo e girei a maçaneta.
Lá estava ele, Will Thurman, sentado na cadeira, com uma roupa diferente da do dia anterior é claro.
–Desculpem pela demora. - falei olhando para Ryan que estava de pé em um canto da sala.
–Tudo bem. - ele disse.
Não fiz questão de sentar, queria que aquilo tudo acabasse logo.
–Por quê não nos disse que falou com Grace na noite em que ela foi morta? - perguntei.
–Porque eu sabia que isso faria de mim um suspeito.
–Me diga sobre o que conversaram.
–Eu não posso.
–Acho que o senhor não entende a gravidade da situação Sr. Thurman, trata-se de uma investigação de assassinato, eu posso acusá-lo de obstrução da justiça sabia?
–Eu adoraria ajudar, mesmo. Mas se fizer isso, vou estar colocando a minha vida em risco.
–Pensei que fosse amigo da vítima.
–E eu era, mas não dessa Grace, e sim daquela garota cheia de sonhos do interior. Eu não sei quem é essa mulher que vivia aqui.
–Está dizendo que ela tinha mudado?
–Isso, e muito. Logo que eu a vi sabe, quando ela me apresentou a ideia da matéria, eu logo vi que não era coisa boa. Ela me olhava de um jeito diferente, um jeito vazio.
–Vazio?
–Eu sei que parece estranho, mas foi o que eu percebi.
–Então por quê concordou em ajudá-la?
–Bom, porque nós fomos amigos por um bom tempo, ela já tinha me ajudado muito, achei que devia isso a ela.
–Preciso que seja mais claro.
–Eu já disse que não posso. Isso tudo envolve coisas mais sérias do que imagina detetive.
–Eu não ligo, só me importo em descobrir quem matou Grace Adams.
–Tudo o que eu posso dizer, ao menos agora, é que a Grace descobriu um coisa sobre o passado dela. E foi por essa coisa que ela resolveu não publicar a matéria.
–Eu preciso de mais.
–E eu quero um advogado!
–Está bem, como quiser.
Saí da sala, Ryan estava ao meu lado.
–Eu acho esse cara suspeito.
–É eu também, mas precisamos de coisas concretas.
Fui para sala de descanso, onde Esposito estava analisando mais coisas sobre a tal matéria ‘Jenua’.
Ao nos ver entrar ele se ajeitou na cadeira.
–E aí? Como foi?
–Nada produtivo só mais mistérios e peças faltando. - falei com um tom desanimado ao me sentar na cadeira ao lado dele.
–Talvez isso que eu achei possa ajudar.
–E o que foi?
–Bom, examinei a conta bancária da vítima e ela fez vários depósitos de quantias bem altas em uma conta no nome de Peter Jones.
–Peter? O cameraman?
–Isso.
–Então ele não nos contou tudo o que sabia.
–Na verdade acho que ele não sabia quem mandava o dinheiro. Grace fazia tudo anonimamente.
–Por quê?
–É o que eu estou tentando descobrir...
–Aqui está! - exclamou Castle, que estava na outra ponta da mesa, lendo alguns arquivos.
–O que encontrou?
–Tem um nome aqui.
–Peter Jones?
–Não, Allyson Jones.
–E quem é essa?
–Segundo as informações, é uma jornalista interna da emissora em que a vítima trabalhava.
–E o que ela tem a ver com tudo isso? - Ryan perguntou.
–Bom, muito, já que ela é a mãe do Peter. - disse ao erguer uma pasta e mostrar uma foto de uma mulher de aparentemente 50 anos.
–E o que ela faz nos arquivos da matéria? - perguntei.
–Aí é que a coisa começa a fica interessante. - abaixou a pasta e começou a analisá-la de novo, mas sem deixar de falar – Aqui diz que ela já se envolveu em vários romances fora do casamento, mas que o que realmente culminou no divórcio, foi com um homem do interior, que a identidade vinha sendo mantida em segredo... Mas espera, nossa! - arregalou os olhos.
–O que foi?
–Eles descobriram quem era o tal homem, o nome dele está aqui.
–E quem era?
–Pelo sobrenome deve ser parente da vítima: Oliver Adams.
Antes que eu pudesse dizer algo mais, Ryan se adiantou.
–Mas esse é o pai dela.
–Então o pai de Grace era amante da mãe de Peter Jones?
–É o que parece. - Castle disse.
–Faz sentido, pois Will Thurman disse que Grace tinha descoberto uma coisa sobre o passado dela.
–E fica cada vez pior. - foi a vez de Esposito falar ao ‘tomar’ a pasta das mãos de Castle – Parece que o motivo principal do divórcio foi que o ex-marido da Sra. Jones começou a desconfiar da paternidade do filho e fez um exame de DNA sem o conhecimento da esposa, o qual revelou que ele não era o pai biológico.
–Deixe-me adivinhar, o pai era Oliver Jones? - palpitei.
–Ele mesmo.
–Isso explica o porque da desistência de publicar a matéria. Isso traria a tona muito mais do que ela poderia suportar. - Castle comentou.
–É, mas precisamos de provas. Vou falar com Will de novo, agora ele não pode mais fugir do assunto.
Um celular tocou, todos olhamos em nosso bolsos mas logo constatamos que o barulho vinha da direção de Castle.
–Ah, só um momento. - se levantou e saiu da sala.
Reuni as pastas e as coloquei de volta na caixa.
–Ryan, vá na frente que eu já vou.
–Está bem. - pegou a caixa e seguiu em direção à sala de interrogatório.
–Esposito, vá falar com o ex-marido da Sra. Jones... Como é mesmo o nome dele?
–Fhilip.
–Pois é. Tudo isso sobre paternidade dá a ele bons motivos para querer matar Grace Adams.
–Pode deixar.
Ele saiu também, e quando me preparava para fazer o mesmo, Castle apareceu na porta.
–Você não vai acreditar em quem acabou de me ligar! - ele disse colocando o braço no batente, me impedindo de sair.
–Quem?
–Kristina.
Era impressionante como a simples pronuncia daquele nome me embrulhava o estômago.
Já havia me causado tantos problemas, tantas dúvidas, e quando eu começava a acreditar que estava livre dela, tudo voltava com força total.
–E o que ela queria?
–Me convidar pra uma festa na emissora. Só pra gente que trabalha lá, mas que pode levar quem quiser.
–E o que você disse? - ainda tinha medo.
–Que não né!? Essa história já deu o que tinha que dar.
–Concordo. - sorri – Mas ainda fico surpresa por ela voltar a te procurar.
–É , algumas pessoas não sabem a hora de parar. - falou ao abaixar o braço.
–Vou falar com Will Thurman.
–Boa sorte. - ele desejou.
–Obrigada.
Passei por ele me sentindo mais leve, apenas mais um susto bobo.
Kristina era passado, ou pelo menos eu desejava que fosse.
Ao entrar na sala, Will já estava acompanhado por seu advogado, que logo se apresentou a mim.
–Brian Kleever, represento o Sr. Thurman. - informou ao me estender a mão.
–Olá. - cumprimentei em resposta – Nós temos novidades, mas precisamos de algumas respostas do seu cliente.
–Com tanto que não violem os direitos.
–Pra começar Sr. Thurman, sabemos que Grace descobriu que Peter era irmão dela.
–E eu com isso?
–Bom você disse que ela tinha descoberto algo sobre o passado. Seria isso?
–Eu não sei.
–Pois eu acho que sabe. Só não quer falar, porque ao contrário do que tanto diz, nunca foi amigo dela de verdade.
–Mas é claro que fui! Só que ela estava diferente.
–E você não gostava disso.
–Óbvio que não.
–Então deve ter ficado irritado ao perceber que ela não era mais a mesma. Talvez irritado a ponto de querer puni-la por isso.
–Hey, eu nunca machucaria a Grace!
–Então nos diga o que de fato aconteceu. Sobre o que você falaram na noite em que ela foi morta?
–Tudo bem, eu falo.
–Will não... - o advogado tentou impedir.
–Eu não posso deixar que eles pensem que eu faria mal a ela! - ele afirmou.
–Vamos, diga!
–Eu sabia da história do pai da Grace com a mãe do Peter, porque foi a mim que ela procurou logo que descobriu. Pra ela foi como se tudo desabasse, todo o orgulho que ela sentia por vir de uma família sólida desapareceu quando ela soube da traição. Ela ficou em choque é claro, mas aí começou a ver o outro lado, o de ter um irmão sabe, porque até então ela achava que era filha única, aí aos poucos foi se aproximando do Peter, sempre querendo ajudar na carreira dele, até arrumou pra que ele fosse o cameraman dela. Ele só é alguns anos mais novo, e a Grace achou que precisava cuidar dele.
–Por isso fez vários depósito na conta bancária dele?
–É. Essa parte dela continuava igual.
–E o Peter sabe disso?
–Não, ela ia contar pra ele naquela noite, ela tinha uma outra caixa só sobre o caso dos pais dele, mas aí eu recebi uma ligação, que dizia pra gente ficar longe disso, caso contrário, todos sofreríamos as consequências.
–Então alguém não queria que a verdade fosse revelada?
–Isso, aí eu liguei o mais rápido possível pra Grace e pedi pra ela não falar nada pro Peter. Ela relutou um pouco, mas finalmente entendeu a gravidade da coisa e disse que ao menos por enquanto, iria ficar quieta.
–E quem era essa pessoa que falou com você?
–Uma voz retorcida, não dava pra reconhecer, mas pediu pra encontrar com a Grace no restaurante do hotel, naquela noite.
–E você deu o recado a ela?
–Dei, ela disse que iria. Eu tentei alertar sobre o perigo mas ela estava determinada, falou que ninguém ia destruir o pouco de família que ela ainda tinha.
Uma dúvida surgiu na minha cabeça.
–Só mais uma pergunta... Kristina sabia que você e Grace continuavam se falando, ou melhor, que dividiam esse segredo?
–Não. Eu até achei bom, parecia que a Grace finalmente tinha entendido que não dava pra confiar naquela mulher, porque ela me fez jurar que não contaria nada pra ninguém, principalmente pra Kristina.
–E sabe o por quê?
–Suponho que seja porque ela não se importaria em publicar a matéria mesmo sabendo que envolveria a vida pessoal da Grace.
–Ok. O senhor está liberado Sr. Thurman. Pode ir agora.
Saí da sala acompanhada por Ryan.
–Temos que checar de novo as câmeras do hotel. - ele falou.
–É, talvez tenhamos deixado passar algo.
Alguns minutos depois e lá estávamos Ryan, Castle e eu revendo as gravações do hotel Glamour’s.
Diversos ‘vai e volta’ depois, chegamos ao ponto em que a vítima aparecia no restaurante, se sentava em uma mesa e esperava por alguém, alguns minutos se passaram e essa pessoa não chegava. Então ela aparece, aproximamos a imagem e ao deixá-la nítida pude ver aquele rosto que tanto me incomodava: sim, Kristina Coterra era a pessoa misteriosa que queria falar com Grace.
–Então é ela! - Ryan falou.
–Parece que alguém vai ter que nos visitar de novo. - Castle comentou, olhando para mim.
–Dá pra isolar a conversa das duas? - perguntei.
–Dá!
Alguns botões pressionados e lá estavam elas, conversando:
Kristina: Olá querida!
Grace: Mas você? Como?
Kristina: Digamos que eu seja apenas uma ponte.
Grace: Como assim?
Kristina: Andou se metendo aonde não devia, mexendo em coisas que deviam permanecer intactas.
Grace: O que você tem a ver com isso?
Kristina: Já disse, sou apenas uma ponte, um elo.
Grace: Ainda não entendi.
Kristina: Grace, Grace... Sempre tão distraída.
Grace: Chega! Me diz logo o que você quer! É sobre a matéria? Você quer que eu publique, é isso?
Kristina: Não, eu concordei em mantê-la em segredo, lembra?
Grace: Então o que quer comigo?
Kristina: Bom, por mim isso teria acabado há um mês quando você desistiu, mas aí você cometeu o erro bobo de querer contar tudo pra única pessoa que realmente não podia saber.
Grace: Fala do Peter?
Kristina: E de quem mais seria?
Grace: Mas ele tem o direito de saber! Os pais se divorciaram e o motivo é uma mentira, aliás, toda a vida dele é uma mentira!
Kristina: Pena que a pessoa que me mandou aqui não pense do mesmo jeito.
Grace: E quem é essa pessoa?
Kristina: Agora nós chegamos ao X da questão.
Grace: Quem é Kristina?
Kristina: Eu não estou autorizada a dizer, só vim para dar um recado.
Grace: Que recado?
Kristina: Essa pessoa quer marcar um encontro com você.
Grace: Onde e quando?
Kristina: Na quinta-feira, na festa da emissora.
Grace: Por quê tem que ser lá?
Kristina: Eu não faço as regras, apenas comunico.
Grace: Ok, eu vou. Mas como vou encontrá-la?
Kristina: Oh não querida, você será encontrada!
Grace: Por quê se envolveu nisso? Eu pensei que pudesse confiar em você.
Kristina: Lembra do que eu te disse assim que nos conhecemos?
Grace: Claro: ‘vida profissional acima de tudo’.
Kristina: Pois acho que isso responde a sua pergunta. São apenas negócios.
Grace: Mas...
Kristina: Sem ‘mas’. Foi bom te ver, boa noite.
E assim a conversa foi encerrada, Kristina saiu e Grace voltou para o seu quarto.
–Temos que falar com Kristina. - eu disse ainda chocada com toda a situação.
Algumas vezes a havia imaginado como alguém ruim, mas nunca pensei no que faria caso estivesse certa.
–Eu acho arriscado. Ela pode contatar quem orquestrou isso tudo e colocar tudo a perder. - Ryan expos sua opinião.
–E o que você sugere?
–Tínhamos que achar um jeito de entrar nessa festa e confrontar quem está por trás disso tudo.
–Seja quem for já deve estar sabendo que Grace está morta, ou talvez a tenha matado com as próprias mãos, por quê iria aparecer nessa festa?
–Porque claramente se trata de alguém envolvido na imprensa, que consequentemente vai ter que comparecer nessa festa de um jeito ou de outro. É só prestar atenção com quem Kristina fala, e sobre o que fala.
–É mas eu duvido que ela queira colaborar. - Castle disse.
–Talvez ela não precise colaborar, pelo menos não diretamente.
–Está sugerindo que usemos escutas e tudo mais? - perguntei.
–Estou, por quê? Má ideia?
–Não, na verdade pode dar certo, apesar de ser perigoso.
–É mas ainda temos que saber como nos infiltrar nessa festa.
–Acho que eu sei como. - Castle afirmou.
–Você? - eu perguntei, surpresa.
–É, não sei se você se lembra mas Kristina me convidou pra essa tal festa.
Como eu poderia me esquecer?
–Não está pensando em...
–Ora Beckett, ambos sabemos que é a melhor solução, pelo menos por enquanto. A não ser que você conheça outro jeito.
Eu adoraria poder dizer que sim, mas não podia.
–É acho que não tem outro jeito.
A tensão nos dominou, acho que Ryan percebeu, pois logo falou:
–Então acho que nesse caso eu vou ver o que posso adiantar sobre as escutas... Castle... Bom, você fala a com Srta. Coterra.
–Claro! Beckett me ajuda não é mesmo?
–Sim. - só eu sei como gostaria de ter gritado não naquele momento.
Ao notar que Ryan não podia mais nos ver, fiz sinal para que Castle me seguisse.
Ao chegar na sala de descanso me virei para ele e falei:
–Você ficou maluco?
–Por quê?
–Como assim por quê... Essa história de festa e...
–Hey, ainda com ciúmes?
–Não! Agora é uma questão de segurança. Ela não é só mais uma mulher bonita e visivelmente interessada em você. Também é suspeita de assassinato.
–Eu sei, conheço os riscos.
–E mesmo assim vai insistir com isso?
–Se for pra prender quem matou aquela garota eu vou sim!
Baixei a guarda ao me lembrar do meu dever como policial.
–Tem razão. Temos que pensar na justiça antes de qualquer outra coisa.
–Verdade. Antes mesmo do seu ciúme.
–Para, já falei que não se trata mais disso!
–Pode não se tratar ‘só’ disso, mas que ainda envolve a questão, ah isso envolve!
E mais uma vez estava ele me decifrando, do mesmo modo de sempre, mostrando o quanto me conhecia bem, o quanto meus esforços para esconder meus sentimentos eram inúteis.
–O que quer que eu diga?
–Nada, só quero que relaxe. Vai dar tudo certo.
–Como pode saber?
–Porque eu vou estar usando escuta, você vai poder monitorar cada coisa que eu fizer ou disser, então isso me deixa meio que em desvantagem.
–E o que seria ‘vantagem’? Estar livre pra poder flertar com Kristina?
Ele riu da minha expressão, acho que até eu teria rido se pudesse me ver, tão instável.
–Não Kate, eu quis dizer...
–Eu sei, está tudo bem. Apenas me prometa uma coisa.
–Manda!
–Que se ela tentar te beijar outra vez, você vai impedir. - disse sorrindo.
–Com todo prazer minha querida. - olhou para os lados para se certificar de quem ninguém podia nos ver – Até porque, a única mulher que eu pretendo beijar, está bem aqui na minha frente.
Sorri de novo, mas dessa vez de um jeito tímido, eu adorava quando ele era carinhoso comigo, mas ainda me precisava me acostumar com a frequência que acontecia.
–Acho bom você ligar pra ela agora... - cortei o clima antes que fosse tarde demais.
–É... E o que eu falo?
–Diz que pensou melhor no convite e que resolveu aceitar.
–Ok. Mas, antes, um café pra criar coragem. Quer um?
–Quero.
Eu fiquei olhando para ele, colocando o café, cada gesto, cada detalhe, tudo era tão importante.
Um ‘filme’ passou pela minha cabeça.
Podia ser insegurança, bobagem ou qualquer outra coisa, mas saber que ele iria a uma festa com Kristina mesmo sem segundas intenções, ainda me incomodava.
O simples fato de não estar presente enquanto eles estivessem juntos ainda deixava meu coração inquieto e cheio de dúvidas.
Apesar de todas as coisas que ele havia me dito, uma parte minha me mostrava um outro lado da história, um lado que não podia controlar: o lado de Kristina.
Que não fazia ideia do meu relacionamento com Castle, e muito menos do fato dele estar disposto a rejeitá-la.
Ela poderia tentar outro beijo, e pior ainda, por um simples descuido, poderia conseguir,
A missão central era prender um assassino, mas para chegar a isso poderíamos precisar usar meios incomuns, como o charme de um certo escritor que quando quer pode fazer qualquer mulher cair de amores por ele.
Se bem que nesse caso não seria necessário, já que a mulher em questão nunca fez menção de relutar, muito pelo contrário, sempre deixou claro suas reais intenções, que mesmo depois de tudo, obviamente não tinham mudado.
Novas perguntas surgiram:
“Se por algum motivo desconhecido, Kristina conseguir beijá-lo, o que mudará na cabeça de Castle?”
“Como ele vai reagir?”
“Algo entre nós vai mudar?”
“A postura firme e segura dele diante do nosso relacionamento permanecerá igual quando for de fato testada?”
Optei por arriscar, era a hora de ver o que aconteceria, de ‘jogar todas as cartas na mesa’.
Eu o tinha ali, comigo, eu o amava, mas a angústia permanecia.
Será que o tempo que levei para poder me entregar a ele teria feito com que o amor que ele sentia a um ano atrás diminuísse de alguma forma?
Seria o tempo mais uma vez o meu maior inimigo?
Algo já estava definido: era a hora de descobrir, de testar, de evoluir para um novo território em nossas vidas.
Havíamos chegado ao tão esperado e temido ponto ‘Tudo ou nada.’

Continua...


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Notas finais do capítulo

Desculpem a demora, estava sem inspiração :/
Mas ela voltou o/
Reviews??



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