Daisuki escrita por AC3


Capítulo 24
Curinga


Notas iniciais do capítulo

Hora de pegar essa galera na praia e não soltar mais ^^



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– Mana, dá uma força aqui?

Quantas vezes eu teria mais de ficar fitando o espelho? A imagem não mudaria por minha conta. Por mais que a Rin insistisse que havia algo de gracinha em mim, não conseguia ver. Nem relance.

A barriga era desproporcional. Os pelos irritavam. O cabelo parecia de um psicótico. A bermuda parecia grande demais para mim. Por que ter que ficar mostrando assim? Devia pegar uma camiseta...

– Não se atreva!

Era impossível confundi-la. Já escancarara a porta com um objeto não identificável na mão. Podia tanto ser um pirulito como uma faca de sangue. O impulso da ida completou a volta, ficamos sozinhos no banheiro fechado.

– Por que essa gritaria toda, Rin?

– Tinha de chamar sua atenção, oras. Vamos, vamos, larga logo essa camiseta. Você não vai precisar mais dela... – o que ela realmente queria dizer com aquilo?

– Mas... – do que ela entenderia? Ela não ligava para o que as outras pessoas sequer pensavam. Um garoto simplesmente inseguro era fora de seu mundo – tirando os estereótipos ukes – e como conselheira era tão boa quanto cozinheira: já a vi queimar miojo.

Tudo bem, em relação ao Shion-kun ela teve grandes créditos, sim. Fora isso era uma desastrada, colocar-me nas mãos dela era perdição. O tempo urgia para irmos a praia. Tic tic tac tac.

– Ah, porque eu não posso ficar e pronto?

– Porque essa é uma grande chance de se firmar para o Shion-kun. Vem, qual é a razão pra tanto estardalhaço?

Eu posso acabar com tudo.

– Esqueceu que ele nem pensava direito em atração masculina antes de nosso relacionamento? Tenho que dar um jeito de atraí-lo de uma forma, e não penso em nenhuma! Tudo se ajunta para afastá-lo de mim...

– Claro que não. Isso é apenas tensão-pré-praia. Dá-se um jeito em tudo, você vai ver: os pelos a gente depila, o cabelo vai molhar, a barriga é apenas sua impressão. Vamos logo antes que eles desconfiem de alguma coisa.

Ela me depilou com uma velocidade tão grande que me espantei – o que segurava era uma gilete, afinal. Ficou bem melhor do que eu esperava, tinha de admitir. Até sorri a minha imagem.

– Lembre-se que sempre é possível colocar um biquíni...

– O quê?!

Rin já tinha saído do cômodo.

– Tem certeza de que não quer ir, Gakupo? Vamos, vamos...

Ela o pentelhava de forma abusiva. Não parecia-me óbvio o motivo, algo de hábito, rotina. Sinal de amor verdadeiro? Quem sabe... os finais felizes não acabam entre discussões supérfluas?

Observava apenas por prazer trivial. Nada tinha a fazer e nada pensava em fazer. A sala não era grande, eu me cobria vendo a TV ligada. O casal ainda discutia em tons leves e jocosos a ida ou não de meu novo conhecido, o patamar amiguesco não se enquadra ainda, ao banho de mar.

Eu não ia. Não estava com vontade e o sono me atacava com fervor. A Meiko viraria a cara e eu estaria confortavelmente descansando em meu chatô de poucos centímetros. Outro bocejo a caminho. Sentia-me burro com o fato de encher meu cérebro de ar a todo o momento...

Isso só seria possível com minha estadia solitária na casa, ou seja, todo mundo deve ir: a mais velha foi quem deu a ideia, a filha dela e o cara de cabelo azul se acompanharam, Meiko aceitou de cara, os gêmeos tinham batido o cartão. O único que não se decidira era Kamui-kun.

Todo espreguiçado, talvez a própria namorada o estirasse no chão enquanto eu não olhava, bocejos seguidos como os meus. Ele podia estar com sono também se ficasse. Pelo menos não teria de me preocupar com repreensões da Meiko. “Dormir é um acordo, se um dormir, todos dormem”. Essa foi a primeira regra maluca do verão... Tem outras, não se preocupe.

– O que você vai ficar fazendo aqui? Temos que aproveitar que o sol não está tão tarde, depois, não vamos conseguir ir...

Ataque de remorso. Boa tática! É comum as femme fatale utilizarem-nas quando observam presas comprometidas. Geralmente acompanha um movimento sensual, um gesto que leve a depravação. Realmente, a tal da Megurine-san não era uma femme fatale. Não no momento, pelo menos.

O que ele poderá responder? Isso o definirá como que personagem na trama? Se sim, é o idiota controlado pela luxúria que logo logo será destruído por ela. Caso não, é o convicto e fiel homem de honrarias e dignidade. Ninguém gosta muito de nenhum dos dois.

– Luka, por favor, eu não estou a fim de ir...

Algo súbito! Houve uma mudança, um singular momento que tive sorte de captar. Remetia tristeza, compreensão, sina. Um truque de vítima? Não importa, a mulher se emocionara. Nenhuma emoção transpassaria por mais daquele segundo. Ambos os oculares se viravam fixamente para meu conhecido, perdido por um momento no que fazer. A decisão veio em seguida com nenhuma palavra proferida. Tinha firmeza com falta de garra. Podia ser considerado algo de pena. Uma forma simples de se mostrar superior.

– Tudo bem, então – não havia superioridade...

Megurine-san saiu da sala logo após um beijo na bochecha do namorado. Não era algo romântico, nem remetia a paixonite. Eu vi como algo carnal: fútil em ser inocente, mancomunado no desejo físico.

No fim, só o Gakupo e o Kimura-san conseguiram ficar na casa, dormindo. Não que eu não quisesse vir – não ia perder qualquer oportunidade de ver meu casal favorito – mas conseguir ir contra uma decisão da Meiko era uma proeza.

E lá pro meio do caminho até a praia, a Miku veio pra cima de mim. Não, literalmente pulando em cima de mim, mas com uns papos que me pareceram suspeitos:

– Kagamine-san, por que será que o Gakupo não quis vir? Será que aconteceu alguma coisa entre ele e a Megurine-san?

Sei, sei... Alguma coisa você tá querendo menina, e não é nenhum daqueles troços verdes que você come não. Tinha que desbaratiná-la, porque se ela suspeitasse de qualquer coisa, já caía em cima feito aqueles pesos dos desenhos.

– Sei lá, Hatsune. O Gakupo dorme pra caramba também.

– Será que ele tá mesmo dormindo? Neste sol?

Ótimo! Não que eu não gostasse de conversar com a Miku, mas quando ela queria informação, meu deus... Não parava até conseguir! Quantas vezes ela não já me venceu pelo cansaço?... Não! Isso envolve o Len e eu persistir bravamente até o fim...

... se eu sobreviver...

Com o Shion-kun falando com a Meiko e com a Megurine, eu acabei ficando sozinho olhando o caminho a minha volta. Era tudo tão tranquilo e calmo que nem parecia que ligavam para os problemas do mundo. E nem deviam ligar mesmo.

– Deve estar bem pensativo mocinho – era a mãe da Miku. Quase tive um infarto...

– Que nada, só olhando a paisagem...

– Sei, sei... – ela disse, claramente não acreditando no que eu falava – só cuidado pra não se machucar viu?

– Como? – gelei. O que a mãe da Miku pensaria? Será que ela seria um daqueles pais que apoia o movimento LGBTT ou aqueles religiosos loucos que querem nos exorcizar? Ou algo no meio? Droga, eu não precisava disso agora...

– Se você não tomar nenhuma iniciativa, como aquela a Meiko vai notar que você está aqui – ufa! Ela entendeu tudo errado (eu devia ficar feliz por causa disso?) – Tem que fazer presente, Kagamine-kun, se não o Shion passa a sua frente...

– Que isso... Ele não tá querendo nada com ela não... – era bom que não estivesse mesmo, senão minha irmã...

– Sei, sei... – de novo aquela resposta odiosa! – mas eu tenho um negócio pra essas coisas, hein? Se você sempre ficar atrás de sua irmã, nada vai acontecer.

A conversa acabou aí, deixando-me com uma confusão de pensamentos maior do que eu poderia imaginar. Será que era por isso que estava todo naquele “lenga-lenga” como a Rin tinha falado? Será que eu devia tentar agir sozinho? Mas eu não sei nada dessas coisas!

Quando acordei de novo, o tal amigo da Meiko tinha sumido. Não que eu planejasse dormir, mas acabou acontecendo. Levantei-me e fui até a cozinha para estralar as costas em paz.

Já estávamos em nosso terceiro dia na casa. Eu tenho que fazer alguma coisa sobre o Kagamine e o Kaito. O que acontece com aqueles dois, droga?! Não que amor platônico seja problema, já sou expert nisso, mas ver a Luka ficar no fogo cruzado não dá mais. Eu tenho que fazer alguma coisa: pelo bem dela e pelo meu próprio bem. Até pelo bem daqu-

– Bom dia, Kamui-kun. Quer que eu esquento o café? – o amigo da Meiko estava todo amarrotado e parecia que tinha levado uma surra. Estava com o raciocínio obviamente lento e mesmo assim conseguiu aparecer sem que eu percebesse.

– Claro, claro. – sentei na mesa, meio receoso da presença dele ali. Tudo bem, ele foi até legal ontem, mas o quanto ele poderia atrapalhar? Ele é o curinga desse verão. O único que o conhece é a Meiko.

Ele pôs uma xícara de café na minha frente e também sentou para beber a xícara dele. Pegou um pão e passou manteiga, oferecendo-me o pedaço que ele preparara para si.

– Não, não, deixa que eu faço.

Tomamos café de forma tranquila e silenciosa. Arrumamos – quem diria? – a mesa toda bagunçada da cozinha e fomos para o quarto. Na verdade, ele foi para o quarto dele dizendo que ia arrumar a cama. Como me pareceu algo ético a se fazer...

A conversa só começou a acontecer com força quando ligamos a TV num canal público – estava passando anime – e começamos a zoar e nos divertir com a programação matinal. Mesmo não sendo nenhum diálogo profundo e substancial – talvez teve alguns momentos – continuamos trocando palavras mesmo depois da trupe voltar toda molhada e ensebada da praia.


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Notas finais do capítulo

Depois de postar este capítulo na fic errada #Shame T.T Cá estou eu...
Nem vou mais pedir mais desculpas pelo atraso, porque foi muita mancada da minha parte... Muita mesmo... Confesso que escrevi um pouco da fic e deixei ela acumular poeira... Por isso que já pesquisei técnicas de escrita para poder não esquecer essa fic (escrevi tudo que vai acontecer num papel e vou colar no guarda-roupa #AgoraÉSério).
Funcionará assim, o próximo capítulo vai sair até um mês a partir de hoje (ou seja, dia 28 de agosto), e pode ter certeza que ele vai sair porque ele já esta pronto (aeee o/), postarei quando terminar de escrever o 26, aí sempre vai ter um capítulo pronto depois do que eu postei ;).
Acho que esta fic representa bastante coisa para mim e vendo os primeiros capítulos percebo o quanto eu mudei e o quanto eu sou igual ao menino de 2012 que queria que algumas pessoas lessem o que ele escrevesse. Estou aprendendo a trazer de volta coisas que acabei abandonando por motivo nenhum (como K-Pop e Vocaloid) e misturar com coisas que adquiri nesses últimos anos... A questão é: não tenha medo de ser nostálgico e voltar a fazer coisas que você gostava, pode ver Bom Dia & Companhia se quiser, pode voltar a ver pokémon, porque agora você vai ver tudo com olhos diferentes e dessa forma você cresce... Você não joga o passado pra trás, você vai pincelando o seu presente com um pouco de nostalgia e sonhos para que ele se torne uma linda aquarela de inumeráveis cores :).
Aos velhos leitores: muito obrigado por ler este capítulo e não se preocupem que desta vez vamos até o fim. Espero compartilharem alguma sensação de "voltar a fazer algo que não fazia" como escrevi em cima ao ler essa fic.
Aos novos leitores: muito obrigado por ler até aqui e pode deixar que esta história vai acabar sem mais hiatos enormes ;).
Até (no máximo) 28/08 o
PS: Mas, o que fez você reviver a fic e estar tão comprometido, Kaname? Foi um leitor chamado Kaito que fez uma recomendação linda que me emocionou... Muito obrigado pela recomendação Kaito e fico muito feliz que esta fic esteja agradando quem lê (podem comentar aí que vou responder, hein? ^^)