Outros Universos, Outras Realidades escrita por Cíntia


Capítulo 18
Passado




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"O conhecimento do passado nos limita ou nos beneficia?"

Lembranças

POV Peter

Eu estava em meu quarto. Aquela confusão me enlouquecera. O genial Dr. Walter Bishop, aquele que me pressionavam a alcançar quando estava na escola e mais ainda na Universidade, era uma farsa. Suas idéias e invenções eram roubadas.

Bem, pelo menos parte delas. Já que ao menos a janela devia ser genuína, apesar de ter sido usada como uma ferramenta de usurpação.

Talvez devesse chorar, mas as lágrimas não saiam. Há muitos anos não conseguia chorar de decepção, raiva. Era como se os acontecimentos em meu passado secassem todas as minhas lágrimas em relação a tais sentimentos.

De certa forma, essa ação não era tão surpreendente, mas me ferira mesmo assim. Antes ele era um dos homens mais inteligentes do mundo, cientista respeitado, e admirado. E agora como seria visto? Não era aquilo que imaginava nem na área profissional.

Depois de momentos em que estive imerso em mim mesmo, vejo Anna. Ela está comigo desde que eu soube da janela. Não conversamos, mas notei a sua presença. Ela está aqui por mim, para me apoiar, ela percebe o meu olhar:

– Peter, se você quiser posso te deixar sozinho- Anna fala compreensiva

– Sim...- por um momento pensei que seria melhor, mas ... – Não... por favor,fique aqui comigo!

Ela se aproxima, e me abraça, movo meus braços em volta dela, e a aperto contra mim. Preciso dela, dessa proximidade. Do seu calor e carinho. Nesse momento ela é a única coisa boa em minha vida. A única que me deixa feliz.

Acordo e vejo Anna em meus braços. Ela me observa atenta e sorri com carinho:

– Já amanheceu? – pergunto

– Não, mas é de madrugada. Você dormiu um pouco. Está melhor?

– Não sei.

– Está mais calmo. Isso já é bom.

– É. E como estão as coisas? Muito escândalo? – pergunto sem estar realmente interessado

– Não sei, Peter. Fiquei com você desde então... Meu telefone está desligado – ela me beija e volta a deitar em meu peito

– Obrigado por ficar comigo.

– Não agradeça por isso. Queria ficar perto de você – ela me olha de forma interrogativa

– Pode falar, Anna. Sei que você quer me dizer algo.

– Você deveria ouvir o seu pai. Ele queria te explicar, talvez ...

– E por que acreditaria nele? Ele já mentiu para mim. Essa não é a primeira vez.

– Mesmo que não acredite, devia ouvi-lo. É o seu pai.

– Talvez seria melhor que não fosse.

– Não. Walter te ama, Peter. Tenho certeza disso. Não renegue um pai assim, muitos filhos querem isso dos pais, e você tem dele. E a história da janela não tem relação com você, não diminui o sentimento dele – ela falava com muita emoção, devia estar lembrando de algo pessoal

– Sabe? Eu queria voltar a ser Josh. Tocar na minha banda. Não ter nenhuma relação com Walter Bishop. Uma vida tranqüila.

– Você não pode. Mesmo não querendo ser, você é Peter Bishop. È um alvo. E estará em perigo. Há essas pessoas... Tá querendo desistir da investigação?

– Não... Quero me livrar dessa ameaça. Mas depois, eu vou embora para viver a minha vida longe dele. Vou voltar a ser Josh.

– Sei.. – ela sorriu- e vai tocar numa banda, viver num lugar afastado, pegar mulheres em bares.

–Xiiii. Não – coloquei meus dedos nos lábios dela - De jeito nenhum! Nada de mulheres. Haverá só você. Trabalhando ou não comigo, meus sentimentos não mudarão. Quero você ao meu lado.

– Peter... Não sabemos qual vai ser a situação... não dá para planejar. – seu olhar era um pouco triste

– Nada mudará o que eu sinto. Você terminando o seu trabalho, pegando outro serviço, acontecendo o que acontecer... Eu te amo e ficarei ao seu lado. Acredite em mim - eu a olhava, queria que ela visse a verdade em meus olhos e que aquela tristeza desaparecesse

– Não somos donos do nosso destino assim – seu olhar ainda era triste – Mas vou dar um voto de confiança a você, acredito!- ela sorriu e eu a beijei profundamente...

Ela já se aninhava em meus braços novamente, mas tinha um olhar enigmático e voltei a falar:

– O que foi? Mais alguma coisa?

– È algo que me deixa curiosa. Mas tenho medo de trazer lembranças ruins a você.

– Pode falar, depois do que eu descobri hoje, não acho que a situação irá piorar muito.

– Tá bom! – ela ainda me olhava indecisa- O que aconteceu entre você e Walter no passado? Por que foi embora? Por que você não o chama de pai?- eu não esperava por aquilo, mas era bem colocado e resolvi contar, Anna merecia saber aquela história, mesmo que lembrar daquilo me fizesse mal

– Me lembro de Walter sempre um pouco distante da minha mãe. Ele era muito empenhando em suas invenções, em seu trabalho e talvez isso tenha afastado os dois. Mas teve uma época que essa situação piorou bastante. Walter se afastou mais ainda dela, e até de mim. Eu tinha 15 anos, e mesmo naquela fase adolescente de buscar independência, percebi que havia algo estranho. Um dia, vi minha mãe desesperada, chorando... Sabe eu a adorava, sempre carinhosa e compreensiva, ela não merecia aquilo. Ela disse que abandonaria o meu pai, que ele a traía com uma mulher que freqüentava o laboratório dele, uma tal de Rebecca Kibner. Não sei exatamente, parece que ela era uma cobaia ou coisa assim. Eles tiveram uma discussão horrível. E minha mãe estava decidida a ir embora e me levar com ela. Mas Walter não deixou, ou melhor, a ameaçou caso me levasse junto. Mesmo assim ela decidiu ir embora, e me prometeu que ia procurar um advogado e voltaria para me buscar.

– Ela voltou para te buscar?- perguntou Anna com certo cuidado em sua voz

– Não, mas não foi culpa dela. Pouco depois que saiu da casa, ela sofreu um acidente e morreu. No dia seguinte, eu acordei com essa notícia. Foi horrível. Desde então o chamo de Walter. E decidi que um dia iria embora, esse momento veio anos depois, quando estava na faculdade e me sentia cada vez mais sufocado em ser o filho dele. Ele fora o responsável ... – a raiva tomava conta de mim - Minha mãe estava muito nervosa e triste quando saiu, não tinha condições de dirigir. Não deveria ter saído daquela forma, e se eu estivesse no carro, talvez o acidente não teria acontecido.

– Talvez sim, talvez não, e se você estivesse com ela poderia ter morrido também.

– Não faz muita diferença. Walter acabou com ela. Se ele não tivesse agido daquela forma, ela ainda estaria viva. A culpa é dele.

– Mas não foi intencional, não dá para saber aonde nossas ações vão dar. A quem iremos ferir. Pense nisso, converse com ele. Tente resolver as coisas. Aposto que se sentirá melhor. Mais livre pelo menos. – de certa forma, as palavras de Anna já me acalmavam

– Vou pensar... você, hein? Sempre tentando conciliar eu e Walter. Até hoje não entendo isso.

– Ele é a sua única família. Talvez entendesse se não tivesse mais ninguém, se não houvesse mais chances de acertar as coisas. É só nessas horas que se percebe que algumas coisas são irreversíveis. Não quero que você se depare com uma situação assim, e se arrependa de não ter agido.


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