Capítulo 5 - Cambridge

A primeira lua cheia depois do encontro chegou, e Teresa não conseguia dormir, mas mesmo assim manteve as luzes apagadas para a mãe não desconfiar. Era fim de setembro e o frio tinha acabado de chegar, preparado para ficar. Teresa estava enrolada nos seus lençóis cor-de-rosa, e prestes a pegar no sono quando ouviu a porta a abrir-se. Pensou que seria a mãe, mas estava enganada.

–Klaus – murmurou ela, vendo a sua silhueta no escuro.

–Olá, Teresa. Como vais?

–B-bem – murmurou ela. O sono estava a dar a melhor sobre ela.

–Cansada?

Teresa acenou que sim. Os primeiros testes estavam a chegar e ela estava a estudar que nem uma louca. Queria tirar as melhores notas a tudo o que podia para poder ter as melhores médias possíveis. Já sem falar que Teresa estava no clube de ténis, jornalismo e teatro da escola, nadava a nível federado e ainda tinha aulas no ginásio. Para as línguas, ela tinha aulas fora da escola em três institutos: um de Inglês, outro de Francês e outro de Espanhol. Tudo isso desgastava-a, mas ao mesmo tempo mantinha-a entretida e cheia de energia. Só quando chegava a casa é que percebia que durante o seu dia tinha mantido um sorriso no rosto para todos e tinha tido energia para tudo o que precisava.

–Então é melhor deixar-te dormir. Só preciso de saber: está tudo bem?

Teresa voltou a acenar com a cabeça e confirmou:

–Só cansada.

Klaus suspirou e lutou outra vez contra o desejo de a tocar, sabendo que ela não ia gostar disso.

–Estás preparada para o mês que vem?

Teresa olhou-o confusa e acendeu a luz.

–O que vai acontecer no próximo mês?

–Vou apresentar-me à tua mãe como teu tutor – respondeu ele com muita calma e sentando-se de frente para ela na cama.

–Ah, isso – disse ela, desanimada. Teresa esperava que fosse algo mais animador, como por exemplo, ele deixá-la em paz e dizer que tudo aquilo tinha sido um engano.

–Não estejas assim, sweetheart – falou Klaus e tirou do bolso do casaco um envelope branco. – Isto chegou ontem.

Teresa arregalou os olhos quando viu o símbolo da Universidade de Cambridge no envelope como emissora da carta.

–A sério? – indagou ela e arrancou-lhe a carta das mãos. Ficou uns segundos com ela, absorvendo a rugosidade do papel e a verificar se era mesmo verdadeira.

–Abre! – incentivou ele, ao ver o entusiasmo e receio dela.

Ela fitou-o muito atenta.

–Só esta é que respondeu?

–Achas? Com a média que tens todas as Universidades te queriam, mas como sou eu que escolho…

–Então Oxford não aceitou?

–Oxford é mais perigosa que Cambridge. Vai por mim que conheço muitos vampiros em Oxford.

Teresa estremeceu, mas voltou a focar-se na carta e abriu-a. Lá dentro estava a pré-confirmação da inscrição dela. Era o primeiro passo para o resto da sua curta vida.

–Obrigada, Klaus – falou ela com lágrimas nos olhos e pegou na mão dele.

Porém largou-a logo. A corrente elétrica que passou entre os dois surpreendeu-a, e também o surpreendeu a ele. Klaus sorriu, sabendo que estava no caminho certo: ela era a arma de Esther, caso contrário não tinha sentido aquela descarga vinda dela.

–Sentiste isto, não foi? – indagou ela, engolindo em seco.

–Sim, senti. E pela tua expressão, tu também.

–Eu… estou cansada – gaguejou ela e voltou a meter a carta dentro do envelope, colocando-a na sua mesa de cabeceira.

–Claro que sim. Já é tarde para uma humana tão estudiosa como tu.

Klaus levantou-se e ela voltou a recolher-se debaixo dos lençóis.

–Até ao próximo mês, Teresa – disse ele em inglês com o seu sotaque britânico evidentemente forte.

Teresa sorriu e fechou os olhos. Klaus fechou a luz e desapareceu na escuridão.

©AnaTheresaC