Sai do mercado me segurando nas coisas e olhei em volta, do outro lado da rua tem uma vitrine que reflete meu reflexo, e o que ele está refletindo? Uma garota com o cabelo todo bagunçado, o joelho ralado, a coxa vermelha, a maquiagem borrada e o rosto sujo de areia. Ouvi passos vindo atrás de mim e gelei.

Você não entendeu que eu vou te ter pra mim por bem ou por mau?– sua voz ecoou em meus pensamentos e eu me arrepiei.

– Querendo brincar mais vadia? - sua voz disse no pé do meu ouvido e eu fechei o punho.

– D-de n-novo n-não, p-por favor - gaguejei com medo de ele querer fazer o que fez comigo novamente.

– Tudo bem, eu já estou um pouco cansado, agora vai embora - ele me empurrou no meio da rua me fazendo cair de cara no chão, vi sua sombra entrar no mercado novamente, me levantei com pressa, com medo que ele voltasse e muda-se de ideia.

Andei apressada até a esquina escura mancando e parei na mesma, arrumei meus cabelos e limpei um pouco meu rosto. Olhei para o final da rua e tinha uma lanchonete ali, estou com fome e sono, e não posso voltar pra casa desse jeito. Manquei até a lanchonete e abri a porta que fez barulho quando abri, fazendo todos me olharem, uma moça veio até mim.

– Você está bem? - perguntou preocupada.

– Não. - disse cabisbaixa.

– O que aconteceu? - perguntou levantando meu rosto.

– Eu fui a.. - não sei se completo a frase, suspirei pesado e terminei, que se foda aquele podre - abusada.

– Quem foi que fez isso com você, querida? - ela parecia assustada e todos estavam em silêncio.

– Não posso contar, se eu contar a vida da minha família e amigos corre risco de morte e a minha de ser abusada frequentemente. - minha voz saiu falha.

– Você precisa se lavar, vamos até minha casa - ela me puxou pra dentro da cozinha da lanchonete e depois que passamos pela porta que saia da cozinha entramos num corredor longo, ela entrou na última e única porta do corredor me arrastando escada a cima.

Entramos no provável quarto dela e ela pediu para eu sentar na sua cama, abriu seu guarda roupa e tirou roupas limpas dali.

– Porque está me ajudando? - perguntei.

– Quando eu tinha sua idade, eu também fui abusada por um homem podre, eu já passei pelo que você está passando e isso é horrível, você se sente suja só de pensar que um homem te tocou sem sua permissão, sem estar preparada - desabafou.

– Eu sinto muito - disse olhando para o chão.

– Não sinta - disse me dando uma blusa moletom e roupas íntimas limpas, que por sorte eram do mesmo tamanho da minha - O banheiro é ali, sinta-se a vontade, eu estarei aqui fora qualquer coisa - disse me dando um beijo na bochecha.

– Obrigado por me ajudar - disse isso e entrei no banheiro, fechando a porta.

Me despi e me encarei no espelho, toquei todo o meu corpo delicadamente e da cintura para baixo estava dolorido, só de me mexer eu sinto uma dor imensa, pior que cólica. Entrei devagar no box e coloquei todo o meu corpo debaixo da água quente, deixei minhas lágrimas silenciosas escorrerem. Como aquele homem pode fazer isso comigo? Ele tirou minha virgindade, uma coisa minha, que eu tenho o direito de saber a hora certa. Ele acabou completamente com a minha vida, eu fui tocada por um podre homem que é meu chefe e vai dar meu pagamento todo mês, terei que te satisfazer toda noite depois do trabalho pra não acabar com a vida dos meus amigos, igual ele está fazendo com a minha, porque existem homens como ele no mundo? Eu o odeio, eu odeio minha vida, eu odeio pessoas como ele, eu me odeio.

– Se você colaborar será mais fácil pra você - sussurrei pra mim mesma de baixo d’água.

Peguei um xampu que tinha ali e lavei meu cabelo como nunca tinha lavado antes, eu estava tirando toda a sujeira de anos que nunca saíram, eu me sinto suja, podre como se tivesse pulado num lixão e virado lixo com todas aquelas tralhas, mas acho que a partir de agora eu sou um lixo, serei usada todos os dias e reciclada depois, tirei o xampu e logo depois passei o condicionador. Depois de tomar um banho demorado na casa de uma desconhecida, vesti a roupa que ela tinha me dado e sai do banheiro. Ela estava sentada na cama olhando para o chão.

– Posso falar com você? - disse quando percebeu minha presença, assenti e ela bateu ao seu lado da cama, como sinal que era pra eu sentar - Você está trabalhando pro Gregue, não está?

– E-estou - gaguejei com medo do que ela iria fazer.

– Não se preocupe não farei nada e não direi a ninguém, eu soube que iria entrar uma funcionária nova no mercado e suponho que seja você - suspirou pesado – Bom, Gregue é um homem casado com Patricia, suponho que saiba quem é - mexi a cabeça como sinal de positivo - Patricia sabe que Gregue faz isso com suas funcionárias adolescentes, ela é minha irmã - suspirou pesado novamente - ela tem nojo do que ele faz, mas ela não larga dele porque ama dinheiro e Gregue tem muito disso, todas as funcionárias de Gregue, jovens como você, foram abusadas e cometeram suicídio por não aguentar o que ele fazia com elas, ele não abusava só delas, ele batia, as fazia de empregada, e você é uma menina linda, tem muito pra viver e você não pode fazer que nem elas, seja forte e aguente firme eu vou estar aqui sempre que precisar - sorri amigável - eu vou tentar te ajudar querida.

– Obrigado por me dizer tudo isso e por me ajudar, sei que posso confiar em você - suspirei - mas ainda não sei seu nome - sorri sem graça.

– Maggie Carter e o seu querida? - perguntou sorridente.

– Megan Summer - sorri o mais amigável que consegui.

– Bom Megan, está com fome? Acho que sim, você parece que não comeu nada. - disse fazendo careta.

– Na verdade eu não comi, eu só almocei e tive um dia cansativo, quando cheguei em casa meu irmão me contou a noticia que iria trabalhar, eu não queria, mas ele me obrigou, eu estou morrendo de fome - disse passando a mão na barriga.

– Então vamos comer, coloque seu tênis que vamos descer pra lanchonete, por minha conta - disse sorrindo alegre. Maggie é baixa, do meu tamanho, têm cabelos castanhos claros e olhos azuis intensos, ela é bem branquinha, com certeza ela é linda. Coloquei meu all star e descemos as escadas conversando, até que agora, depois que conheci Maggie e ela me ajudou, eu estou um pouco feliz, descobri que ela é dona da lanchonete.

– Se sente ali, eu já estou indo - ela apontou pra última mesa do estabelecimento e eu assenti e sentei-me à mesa e logo recebi uma mensagem.

Onde você está? Estou preocupada, seu horário de trabalho já acabou! xx Cait

Bufei e respondi.

O Gregue pediu ajuda pra arrumar o escritório e eu o ajudei, eu não comi hoje, só almocei por culpa de vocês, então eu vim numa lanchonete comer, não vou aguentar andar seis quarteirões só com água no corpo, querida. xx Meg

Ela logo respondeu.

Desculpa bêh, foi culpa do Chaz, coma bem e volte pra casa logo, tome cuidado. xx Cait

Fiquei tensa com esse tome cuidado, mal sabe ela que o pior já aconteceu hoje.

O celular começou a vibrar novamente em minhas mãos, era uma mensagem do Ryan.

Meg, estou preocupado, mas só de saber que está segura numa lanchonete fico um pouco mais tranquilo, traz hambúrguer pra mim? Estou com fome de comida de lanchonete. xx Ryan

Respondi.

Para de me iludir, valeu? E levo sim seu babaca, você não merece, mas eu levo. xx Meg

Maggie veio com uma bandeja cheia de coisas nela, ela colocou em cima da mesa e eu pude ver o que tinha ali, dois hambúrgueres, muita barata frita, milk-shake de morango, chocolates.

– Pra que tanta coisa? - perguntei.

– Você precisa ficar forte - disse ela sorridente.

– Obrigado por me ajudar - comecei a comer com calma tudo aquilo conversando com Maggie, ela é uma ótima pessoa.

[…]

Depois de comer, Maggie insistiu em me trazer em casa, eu hesitei no começo, depois eu aceitei, pois eu sabia que era perigoso voltar a pé e sozinha pra casa a essa hora. Chegamos no prédio e eu beijei sua bochecha, olhei pra cima e Ryan sorria pra mim, revirei os olhos.

– Muito obrigada por me ajudar - disse meio envergonhada.

– De nada querida, amanhã, depois do trabalho, passa na lanchonete para comer e nós conversarmos melhor - ela disse me abraçando.

– Pode deixar, irei aparecer lá todos os dias - ri pelo nariz.

– Vou esperar - riu, sai do carro batendo a porta e atravessei a rua, entrei no prédio correndo logo para o elevador, apertei freneticamente o botão e logo o elevador se abriu e Harry estava lá dentro, quando ele me viu um sorriso se abriu em seu rosto que me fez dá um passo pra trás.

– P-pra onde você vai? - gaguejei.

– Vou ir buscar meu jantar - riu.

– Hum, então até amanhã? - perguntei meio envergonhada. Como assim? Sou Megan Summer, dá onde tirei essa vergonha?

– Claro, boa noite - ele beijou o canto da minha boca e eu sorri amarelo, entrei no elevador e apertei no meu andar. Depois de alguns minutos esperando cheguei ao meu andar, abri a porta do apartamento e Ryan avançou em cima de mim tomando a sacola que eu segurava, suspirei cansada e me encostei na parede da sala.

– Como foi o trabalho? - Chaz perguntou.

– S-sem c-comentários - me despertei com sua pergunta, o medo me consumia e o nojo também.

– Aonde arrumou essas roupas? - Justin perguntou me analisando.

– Eu cai numa poça de lama indo pra lanchonete e a moça me emprestou. - disse firme tentando enganar eu mesma.

– Megan estou com fome - Chaz disse e eu o olhei incrédula.

– O que eu tenho a ver com isso? - perguntei sentando no braço do sofá, do lado que Justin estava sentado.

– Que você irá fazer o jantar - Caitlin disse assim, como se fosse obvio, sem eu perceber lágrimas quentes desciam pelo meu rosto.

Vocês se perguntam por que eu estou chorando, bom, primeiro eu não como nada por culpa deles, quase morro num lago, sou estuprada pelo meu chefe e tenho 99% de consciência que vai acontecer isso todos os dias, estou cansada, não me aguento em pé e eles estão me fazendo de empregada? Eu vou ser machucada todos os dias pra proteger a vida deles, vou chegar em casa com roupas diferentes e tudo que eles ligam é pra eles mesmo? Depois vocês dizem que eu devo perdoa-los e sou fria demais.

– Para de drama - Chris disse rindo baixo.

– Isso não é drama - sussurrei e Justin começou a rir.

– Garota, vai logo fazer o jantar - disse rindo ainda, fui até a cozinha me segurando nas paredes, para não cair e peguei uma panela. Olhei fixamente pra frente e tudo estava embaçado, vi pessoas entrando na cozinha, meu corpo ficou mole e tudo ficou escuro.

P.O.V Chaz

O que eu fiz? Agora minha irmã está desmaiada na cozinha e 51% da culpa é minha, eu sou um péssimo irmão, primeiro eu vou embora num momento difícil da vida dela, depois eu obrigo ela a trabalhar e eu e meus amigos fazemos ela de empregada, nem ligamos pra hora que ela chega e que veio num carro de desconhecido? Mereço pena de morte.

– Porque ela desmaiou? Ela não disse que tinha comido? - Chris dizia andando pra todos os lados.

– Vamos pensar um pouco... - Justin disse fazendo cara de pensativo - acordamos 8h00min da manha e depois tivemos um dia agitado (N/a: Sei que dia agitado foi esse... 69) e ela só almoçou, depois ela trabalhou reorganizando toda sessão de um supermercado - disse ele se sentando.

– Eu não aguentaria fazer isso tudo que ela fez hoje sem dormir por 30min, e ela quase morreu afogada num lago - Chris disse parando e sentando ao lado de Justin.

– Nós somos uns monstros - Ryan disse suspirando pesado.

– Concordo com você, estamos fazendo ela de empregada e ainda a largamos quando ela precisou. Não temos uma explicação coerente que convença Megan de nos perdoar - Chris suspirou pesado.

– Então ela só está dormindo, ela não desmaiou - Caitlin disse sentando Megan e a segurando em seus braços.

– Eu a levo pro quarto dela - disse pegando Megan com facilidade no colo, levei ela até seu quarto e a deitei em sua cama - Me perdoe um dia maninha - beijei sua testa e uma lágrima minha molhou sua testa - Boa noite.

Sai do seu quarto deixando minhas lágrimas escorrerem e bati a porta do meu quarto com força. Realmente eu sou um monstro, como eu posso fazer isso com a minha irmã? Eu amo tanto ela, sinto falta de ouvir sua risada, dormir com ela e principalmente aprontar, eu sinto falta da minha pequenina. Sentei na minha cama derrotado, começando a soluçar, passei as mãos no cabelo nervoso e tirei a blusa que eu estava. Sabe o que mais me intriga? Ela não discutiu comigo em não fazer o jantar, Megan sempre discute, ela arruma forças do além pra discutir, será que ela está tão magoada assim que está fazendo greve de silêncio agora? Realmente, quero morrer.