Annie não citou nomes o que no começo me deixou um pouco confusa, mas depois eu entendi o que ela queria dizer.

Meu filho nunca substituirá Prim, mas eu sei que um dia eu estarei pronta para recebê-lo. Filhos não preenchem nenhum buraco do nosso passado. Ele vai trazer alegria, felicidade para a família. Para isso o casal precisa estar preparado. Peeta estava preparado, mas eu... Só tinha certeza de uma coisa: Peeta iria me apoiar e me ajudar, não importa qual fosse a minha escola. Eu sabia que eu teria que decidir.

– Com licença Srta. Everdeen – quando me virei um homem estava parado na porta. – Eu gostaria de saber se a senhorita, vai continuar a utilizar o quarto andar.

– Quarto andar?

– Sim senhorita, Como a senhorita Cresta e a Senhora Everdeen desocuparam, eu gostaria de saber se você vai utilizar o quarto andar ou se posso limpar e trancar o apartamento.

– Desculpa. Acabei entrando no andar errado. Faça o que você tem que fazer, não se preocupe comigo, já estou subindo.

– Desculpe o incomodo senhorita Everdeen – ele falou e saiu do quarto.

Eu peguei os sapatinhos, o bilhete e voltei para o elevador. Agora no andar certo fui para o quarto e deitei na cama colocando o sapatinho na minha frente.

Acabei adormecendo olhando para os pequenos sapatos de lã branca e segurando o bilhete de Annie.

Quando acordei Peeta estava deitado do meu lado. Abri meus olhos com dificuldade e focalizei seu rosto.

– Que horas são? – perguntei sonolenta.

– Duas horas.

Levantei rapidamente e procurei o bilhete que não estava na minha mão. Tirei toda a coberta da cama, mas ele não estava lá.

– Cadê...? – perguntei para mim mesma?

– O que foi Kats?

– O sapatinho...

– Está aqui – ele pegou o sapatinho e o bilhete da sua mesinha de cabeceira. - Esses?

– Peeta o que você tanto conversava com Annie?

– Acredito que o mesmo que você – ele me falou me integrando o bilhete e os sapatos.

– Peeta...

– Não precisa Katniss...

– Eu sei que você quer muito e acho que eu não posso continuar negando isso até mesmo por que...

Ele me beijou. Seus braços na minha cintura e minhas mãos entrelaçando seus louros cabelos. Perdi-me em meus pensamentos enquanto ele me beijava.

(.....)

Depois de uma tarde inteira com Peeta, nos chamaram para o jantar. Só saímos do quarto às seis horas. Effie tinha vindo jantar com a gente, e Haymitch estava sóbrio, acho que pelo fato de amanhã ser a entrevista com Caesar.

– Que dia vocês vão querer voltar? – Effie perguntou enquanto comíamos a sobremesa.

– Não sei.

– Quero ficar mais um dia aqui na Capital – Haymitch se engasgou quando terminei minha frase.

– O que? – Peeta exclamou surpreso.

– Amanhã vamos ao Caesar e depois de amanhã passamos o dia aqui e daí vocês podem escolher se querem pegar o trem a noite ou na manhã do dia seguinte.

– Se é assim que você quer, hoje mesmo vou acertar o horário do trem. – Effie falou.

Depois do jantar eu puxei Peeta para o quarto Talvez Haymitch precisasse de um momento com Effie, quem ia saber qual seria a próxima vez que eles voltariam a se encontrar?Quando Haymitch estava com Effie, ele era completamente diferente do cara que eu conheci antes de ir para a Arena. Quando Haymitch sabia que Effie apareceria ele usava roupas inteiras e bem passadas, tomava banho e passava perfume, mas principalmente ele não bebia, e ficava sóbrio o dia inteiro. Ela conseguia controlá-lo e fazia ele feliz. Era o suficiente.

– O que você está fazendo? – perguntei para Peeta enquanto ele escrevia alguma coisa em um caderno.

– Lista de convidados.

– Para que?

– Nada em especial... Só para o meu casamento.

– Seu casamento?

– Se a noiva não se preocupa com o casamento o noivo tem que correr atrás.

– A noiva se preocupa com o casamento ela só...

– Relaxa Kats. Eu só estou brincando.

– Então, quem foi a primeira pessoa que você colocou nessa lista?

– Uma tal de Senhora Everdeen.

– Ah! Acho que ela vai ficar feliz com isso.

Peeta me beijou concordando. Onze horas eu e Peeta fomos dormir com a lista de convidados feita. Não seria nada muito grande e iríamos fazer em nossa casa mesmo. Sem exageros e principalmente, sem Capital.

(...)

Quando acordei o sol brilhava pela janela. Eu tinha me esquecido de fechar a cortina na noite anterior. Lentamente levantei e fechei as cortinas para Peeta dormir até mais tarde. Troquei de roupa, escovei meus dentes e prendi meu cabelo na mesma trança lateral de sempre. Essas atitudes já viraram rotina.

Quando cheguei à sala, me senti muito sozinha. Eu não estava com fome, não estava com sono, não queria ver televisão. Às vezes eu escutava os trabalhadores da Capital arrumando a mesa para o café da manhã. Eu não lembrava de que horas eu precisava estar no Caesar com Peeta, só sabia que era melhor eu me preparar para todos os tipos de perguntas. Mas tinha uma pergunta em especial que sempre nos perguntavam e desta vez, acho que eu saberia dar a resposta certa.

(...)

Eu nem percebi o tempo passar; quando percebi já estava indo para o programa. Estava um dia muito bonito, o sol continuava brilhando e o céu estava todo azul. Quando chegamos, Cam me puxou pela mão e disse, principalmente para Peeta.

– Não entrem no camarim até eu chamar.

– O que está acontecendo Cam?

– Katniss, tenho uma péssima noticia. Plutarch trouxe seu vestido pronto e ele está obrigando você a usá-lo. Sério desculpa mesmo, mas ele me obrigou. Tentei mudar para o melhor possível, mas eu não sei se você vai gostar...

Ele ajudou a me trocar e depois de pronto ele deixou eu me olhar no espelho com medo do que Plutarch me obrigaria a usar, abri meus olhos e virei lentamente para o espelho.

– Clam. É...

– Foi só uma brincadeira, o que achou?

– É perfeito!

Normalmente eu não me importava muito com vestidos, mas esse eu tinha que admitir, era lindo! Sua cor era um tom de rosa super claro, como cor areia. A parte de cima era super justa com um decote... Maior do que eu já tinha usado, e tinha brilho por ela até a altura do umbigo onde “começava a saia”. A saia do vestido era leve, solta e super confortável. Cam me disse que a saia era mullet, mais longa na parte de trás e até acima do joelho na parte da frente.

– Posso chamar Peeta?

Confirmei levemente com a cabeça e voltei a me olhar no espelho. Eu realmente estava linda. Acho que o que me fazia mais bonita era que seria a última vez, pelo menos desse mês. Só voltaria a capital no ultimo final de semana do próximo mês. A não ser que eu e Peeta viajássemos em uma romântica lua de mel, só que...

–Então Peeta, o que achou?

Quando me virei de frente para eles, notei os olhos azuis que eu mais amava me olhando sorrindo.

– Está linda Kats... Como sempre.

Eu corri para seu abraço. Eu não sei o porquê, mas eu estava me sentindo muito feliz.

– Quanto tempo para começar o programa?

– Peeta você vai para o camarim ao lado trocar de roupa. Katniss você nem percebeu, mas teu vestido não tem fecho, então eu vou marcar daí você tira para eu fazer os últimos ajustes, enquanto isso você vai para a maquiagem. Peeta depois que você provar a sua roupa, provavelmente, terei que ajustar a barra da calça.

Com uma cara de chateado com si mesmo, Cam marcou meu vestido e depois pediu para tirá-lo.

– Cam, posso te perguntar uma coisa? – Agora só estávamos eu e ele no camarim.

– O que quiser – ele tentou disfarçar um sorriso falso, que não deu muito certo.

– Por que você parece tão triste?

Ele respirou fundo e pensou duas vezes, como se a resposta fosse proibida.

– Sabe quando você tem mais problemas do que deveria?

Ele pegou o vestido da minha mão e sai do camarim. Quais problemas, Cam teria? Eu nunca tinha parado para pensar que todas essas pessoas que me ajudam, ou melhor, que ajudam a Capital, também tem seus problemas.

Um tempo depois Peeta entrou vestindo um roupão igual o meu.

– Como ficou sua roupa? – Perguntei curiosa.

– Cam caprichou dessa vez – ele olhou para baixo e disse algo sobre meu vestido, que eu não consegui entender.

Não demorou a minha equipe de preparação chegar. Eles soltaram meu cabelo e fizeram chapinha enquanto passavam alguma coisa na pele de Peeta.

– É para não ter marcas na pele – explicou Venia.

Peeta não reclamou, nem disse nada. Ele, Flavius, Venia e Octavia pareciam se dar muito bem. Se minha equipe de preparação já falava muito quando conversavam apenas comigo, com Peeta, eles falavam duas vezes mais. No fundo era divertido.

– Ela é sempre tão séria assim? – Flavius perguntou, brincando, para Peeta.

– Às vezes ela até me assusta – ele respondeu me olhando.

Eu peguei uma almofada e joguei na sua cara.

– Ei!

– O que foi não posso falar a verdade? – Ele levantou da cadeira e se ajoelhou na minha frente.

– A verdade não é bem essa – com um movimento rápido, Peeta ficou de pé e me puxou para cima. Estávamos tão perto que, com o silêncio que o camarim estava, poderia sentir e escutar seu coração batendo.

– A melhor verdade que tem, é essa – ele me beijou apaixonadamente. Por um momento não existia mais nada no mundo. Apenas eu e ele.

– Peeta – falei entre os beijos. Parei de beijá-lo e o abracei, para sussurrar no seu ouvido: - Temos plateia.

Com um sorriso no rosto Peeta me deu um último selinho.

– Quem diria que essa é a nossa Katniss Everdeen... – Venia comentou enquanto puxava Peeta de volta para a cadeira.

– O tempo muda as pessoas – Peeta disse.

– O amor muda as pessoas – respondi sorrindo.

Octavia suspirou, acho que ela estava chorando. Depois de cinco minutos Peeta estava pronto. Mas minha produção demorou mais, apesar de que nem vi o tempo passar, pois eles ficaram conversando e foi divertido. Quando eles acabaram já eram quase seis horas.

– Venham se vestir. Em quinze minutos Caesar começa o programa, logo depois vocês já entram.

Voltei para o outro camarim de mãos dadas com Peeta. Lá coloquei meu vestido lindo e fiquei me olhando no espelho. Peeta chegou por trás e me abraçou pela cintura olhando para mim através do espelho.

– Eu achei que isso era impossível.

– Isso o que?

– Não achava que fosse possível você ficar mais bonita a cada dia.

Ele me girou pela cintura e por uma fração de segundo olhou nos meus olhos, mas quando percebi nossos lábios já estavam selados e nossas línguas em uma ritmada coreografia.

– Katniss! – Exclamou Venia da porta do camarim nos interrompendo. – Vai borrar todo seu batom! Venha aqui para eu arrumar isso e depois vocês já podem se aproximar do palco.

Venia me sentou em uma cadeira, tirou o batom do bolso e retocou minha maquiagem. Peeta ficou olhando com um sorriso malando no rosto.

– Nada de beijos – Venia falou enquanto nos aproximávamos do palco.

– Vocês estão lindos! – Effie disse sorrindo.

– Muito bem – disse Haymitch sendo direto, como sempre – O que vocês disserem aqui hoje, será a verdade, então, por favor, pensem milhões de vezes antes de responder e sejam convincentes. Boa sorte e cuidado.

– Vamos Haymitch, é melhor deixar eles a sós antes da entrevista – Effie puxou Haymitch pela mão e ambos saíram do meu campo de visão.

– Kats você vai se sair bem – disse Peeta me abraçando, minha cabeça agora descansava em seu peito. – Você só vai precisar responder algumas perguntas e se não quiser, tudo bem, lembre-se que a guerra acontecer para que haja uma Panem livre.

– Fica comigo? – Perguntei olhando nos seus olhos.

– Sempre.