- Eu não quero falar com você.

- Você não tem escolha. A não ser que você queira saber que toda Panem descubra que Gale era seu amante, não seu primo.

É claro que Plutarch conseguiu chegar, na pior hora. Estava tudo indo tão bem, até ele chegar. Ele respirou fundo e sentou no sofá.

- Vou chamar Haymitch – Peeta saiu da sala. Eu não queria ficar sozinha com Plutarch, mas toda vez que eu acordava Haymitch, ele vinha de mau-humor e a gente não conseguiria negociar com Plutarch se ele estivesse mal-humorado.

- Você tem que entender que é para o bem de todos, minha que... – como ele estava tentando ser educado para me convencer a vir morar na Capital, ele percebeu que não seria uma boa ideia me chamar de “querida” muito menos ainda de “MINHA querida”.

Eu fiquei em silêncio. Seria melhor eu esperar por Haymitch. Eu não falaria nada enquanto estivesse sozinha com Plutarch.

O que ele queria afinal? Que eu me casasse na frente de toda Panem? Será que ele ainda não tinha percebido que eu já fui exposta de mais depois que eu saí da primeira arena? Eu havia voltado da arena, marcaram meu casamento, escolheram meu vestido, me fizeram usar um vestido ridículo em uma entrevista, me transformaram em tordo, me engravidaram de mentira,  me fizeram voltar para a arena, quase me mataram, me prenderam em um distrito subterrâneo, fizeram eu começar uma guerra (que na verdade o treze só queria o poder), quase mataram Peeta, mataram Prim... Noventa por cento disso,foi transmitido para toda Panem.

Chega! Eu estava cansada de ser exposta desse jeito! Casamento é uma coisa intima. É um dia feliz, que vou torrar os pães com Peeta, em minha casa, com minha pequena família e com poucos amigos. Depois vamos viver nossas vidas como sempre vivemos, só que casados!

E iríamos viver nossas vidas, casados, no nosso distrito! Na nossa casa! Com nossos vizinhos, ou melhor, com o nosso vizinho!

- Plutarch, que surpresa mais maravilhosa, receber você... – Haymitch falava enquanto entrava na sala.

Peeta sentou ao meu lado e segurou minha mão. Eu não tive forças para começar a falar. Tinha uma questão muito séria em jogo. Se as pessoas em Panem descobrissem que tudo foi invenção para a gente sair vivos, poderia acontecer outra rebelião. Tínhamos que tomar muito cuidado com que iríamos falar.

- Haymitch, você sabe muito bem sobre que eu vim falar.

- Sim eu sei. – Haymitch não estava bêbado. Ele estava tentando acordar, mas estava com enxaqueca.

- Pois bem – Plutarch falou enquanto pegava duas pastas. Ele abriu a que tinha uma cor vermelha. – Como eu acho mais provável que vocês se casem na Capital, fui até a catedral, peguei os dias desse ano ainda livres, e fui também aos maiores e melhores salões de festa de toda Panem, para ver as datas. – Como ficamos em silêncio ele continuou enquanto abria a outra pasta, que era meio azulada. – Caso vocês queiram ter um casamento, mas reservado, por que vocês acham que é uma coisa pessoal, fui procurar possibilidades de uma alternativa. Peguei as descrições das maiores e melhores casas da Capital...

- Você realmente acha que a gente vai morar aqui? – Interrompi.

- Perfeito. Acho que a melhor data do casamento seria no dia...

- Para! Para! – Falei irritada. – A gente não vai casar aqui muito menos morar. Dentro de alguns dias estaremos voltando para o doze, e a gente só vem para capital para as entrevistas e voltamos! SÓ!

De dentro do bolso do paletó, ele tirou um papel A4 dobrado em quatro partes. Ele me entregou e eu abri. Quando eu abri tinha uma foto minha e Gale.

Katniss Everdeen,saiba que não pode ter um caso com seu primo, ainda mais quando se está noiva de outro.

Como ele tinha conseguido uma foto nossa? Com certeza ele tinha conseguido do mesmo jeito que Snow descobriu meu beijo com Gale.

- Se você quiser Katniss, amanhã de manhã você e metade de seus amigos estarão sendo condenados à morte. Posso matar todos vocês e sair de inocente. Se acontecer uma rebelião, não vou perder nada...

Ele estava certo. A televisão sempre vai existir e sempre vai precisar de alguém para mandar nela. E Plutarch sabia como se esconder das coisas erradas. Ele era tão fascinado pela história do que era Panem antes de ser Panem, que algumas vezes se fazia de bobo.

Peeta não falou nada. Nem Haymitch. Haymitch estava me testando. Ele queria saber como eu sairia dessa situação. E Peeta não largava minha mão, e mesmo se ele quisesse, eu não o deixaria soltar.

- Sabe Plutarch, uma vez certa pessoa me disse – falei em tom de ameaça – que crianças mortas por paraquedas... O que você me diz sobre matar um círculo de crianças da Capital? E sobre a crise que Panem está passando, enquanto você gasta fortunas produzindo seu programa... Sabe, acho que eu posso ser acusada, de algo que eu realmente fiz, mas o que importa é que eu amo Peeta. E para mim isso basta. Mas você! Bom, Paylor teria que agir, com certeza tiraria seu programa do ar, para cortar custos. Você seria acusado de matar muitas crianças inocentes, sem contar que... – dei uma pausa para ele ficar mais nervoso. – como vocês permitem que uma criança, que não tinha nem quinze anos, vá para um campo de batalha?

Eu tinha que ser forte. Não poderia mostrar para Plutarch que esse assunto era muito delicado, se não ele poderia usar contra mim. Segurei as lagrimas o melhor que pude.

Sabia que essas ameaças não atingiriam Paylor, pois naquela época Coin ainda era presidenta e Paylor, nada tinha a ver com isso.

Plutarch não disse nada. Ele olhou para mim, depois para Haymitch e voltou seus olhos para os meus. Sem jeito, ele colocou os papeis novamente na pasta, arrancou a mini noticia de minha mão e guardou em seu bolso. Plutarch simplesmente levantou e saiu. Ainda em silêncio.

Assim que ele saiu, soltei minha mão da de Peeta e fui correndo para o quarto. Enfiei minha cabeça no travesseiro e comecei a chorar.

Eu não ligava se alguém estava escutando, eu só precisava chorar.