Saímos do palco. Eu sabia do que Johanna estava falando. Acho que nos seis sabíamos. Concordava com ela. Eu nunca iria esquecer de tudo que eles fizeram para a gente.

- O que foi aquilo? – Effie perguntava irritada para Johanna.

- Todos sabem do que eu estava falando – ela olhou para mim. Nunca contei a ninguém que talvez a Capital não tenha matado Prim.

Eu comecei a chorar. Peeta me abraçou e falou no meu ouvido:

- Pra onde você quer ir?

Fiquei quieta. Não queria falar com ninguém. Nem com Peeta. Queria o silencio de sua presença.

Peeta me puxou pela mão até um lugar mais afastado. Percebi que estávamos ao lado da porta dos fundos. Ele parou, me olhou por um segundo e me abraçou. Só isso. Um gesto tão simples, mas com a cabeça em seu peito voltei a chorar. Me sentia tão frágil, tão desprotegida.

- Kats, calma – ele sussurrava para mim – eu to aqui e vou te proteger. Nada vai te machucar eu prometo.

Tirei a cabeça de seu peito e olhei em seus olhos. Ele me beijou. Peeta parou de me beijar me pegou no colo e me levou para um lugar que eu não conhecia. Ele entrou em vários corredores, passou por varias portas até que me deitou no chão.

Era um lugar escuro. Não tinha muita luz, parecia que fora esquecido pelas pessoas. Olhando para cima, dava para ver o céu. Era um fim de tarde bonito.

- O pôr do sol – exclamei baixinho. Foi minha primeira palavra depois que saímos da entrevista.

- Vem aqui – Peeta falou. Deitei em seu braço.

- É lindo.

- Não mais lindo que você. – Ele me deu um beijo. Só paramos para ver o fim do pôr do sol.

- Peeta, eu preciso te contar uma coisa – eu falei enquanto me sentava.

- Pode falar meu amor – ele sentava ao meu lado.

- Lembra depois que mataram Prim... – Alguma coisa caiu no chão. Eu e Peeta olhamos para os lados e não vimos ninguém.

- Acho melhor a gente ir para outro lugar.

Peeta me pegou no colo e fomos para o camarim. Quando chegamos lá, Clan parecia estar louco.

- ONDE É QUE VOCÊS ESTAVAM?

- Fomos lá fora pegar um ar – Peeta falou tranquilamente.

- O que houve? – Perguntei

- Não sei! Isso que eu queria saber!

- Porque tanta preocupação?

- Peeta quase tentou te matar e você odeia esse povo! Vocês podiam ter fugido! Não sei! Entrei em pânico! – Ele respirou e olhou para cima. – Desculpem... Foi muito nervosismo por causa de Enobaria... Ela resolveu voltar para o distrito 2. Vocês estão bem?

- Sim – eu e Peeta respondemos juntos.

- Certo, então se troquem, se quiserem tem produtos aqui em cima para tirar a produção. Vocês podem deixar a roupa em cima do sofá e a gente se encontra na hora do Jantar.

Clan saiu da sala mais calmo. Eu entendia que ele estava cheio de coisas para fazer, se não era fácil cuidar da produção de todo mundo. Assim que ele fechou a porta comecei a falar com Peeta.

- Então Peeta, lembra logo depois da morte da Prim...

- Não... – pensei que ele não queria ouvir minha história. – Aqui não. No terraço.

- Acho que o terraço não é mais seguro... – Falei enquanto pedia para ele me ajudar com o zíper de meu vestido.

- O que você quer dizer Katniss? - Continuei me trocando em silencio. Fiquei olhando para o chão. Depois de um tempo ele entendeu que eu me referia a Jessie. – Pode ser no nosso quarto então?

Fiz que sim com a cabeça. Terminamos de nos trocar, Peeta me ajudou a tirar a maquiagem e eu despenteei seu cabelo. Fomos até a porta por onde entramos e lá estava Johanna e Haymitch nos esperando.

- Até que enfim! – Haymitch parecia bravo. Em sua mão ele tinha uma bebida com uma cor muito estranha. – Entrem no carro.

Antes de entrarmos, Johanna disse:

- Ele brigou com a Effie.

- Andem logo – Haymitch berrou do banco da frente derrubando a bebida com uma cor meio vermelha no banco.

Entramos no carro. Durante a ida para o Antigo Centro de Treinamento, ficamos em silencio. Haymitch de vez em quando, resmungava uma coisa ou outra, mas sempre falando sozinho.

Quando chegamos, Haymitch estava tão estressado que nem nos esperou e subiu no elevador sozinho.

- Como ele é um amor de pessoa – Johanna falou, quando a porta do elevador fechou na nossa cara.  Logo o elevador do lado chegou e nele estava Jessie.

- Lembra Katniss daí o dia em que você foi pegar o Buttercup – Peeta falava olhando para mim, ignorando Jessie. – E ele pulou com tudo na sua cara?!

Peeta, Johanna e eu começamos a rir. Eu não lembrava desse dia. Eu nunca tentaria pegar Buttercup.

- Eu quase cai pra trás. Mas você me segurou. – Dei um beijo em Peeta.

Johanna fez um sinal para a gente parar. Entramos no elevador, agora vazio.

- Ela saiu muito brava – Johanna falava com uma expressão de satisfação no rosto. – Nem parou para pensar, saiu como um raio.

O elevador parou no quarto andar e minha mãe entrou com Flin no colo.

- Annie foi tirar um cochilo. Vou ficar com Flin com vocês tudo bem?

- Aham – respondi.

Teria que deixar minha conversa com Peeta para depois.

- Sra. Everdeen, quer que eu o leve?

Minha mãe deu Flin para Peeta segurar. Peeta ficou bobo. Ficou olhando para o menino como se fosse seu filho. Ficamos nós três observando aquela cena.

Quando chegamos no nosso andar fomos nós três para a sala. Haymitch não estava lá. Devia estar em algum lugar onde tinha bebidas. Sentamos no sofá ainda em silencio.

- Então, - Johanna falou depois de uns minutos., - você viu a entrevista, Sra. Everdeen?

- Vi sim Johanna, achei muito...- minha mãe pensava na palavra certa – Verdadeiro o que você disse no final.

- Só acho que eles precisam de algumas indiretas.

- Eles precisam acordar para o mundo – minha mãe falava.

As duas continuaram conversando super bem sobre a Capital. Eu não conseguia tirar os olhos de Peeta. Ele parecia tão feliz, cuidando de Flin. Peeta, pouco se importava com o que elas estavam conversando. As vezes ele olhava para minha mãe ou Johanna, mas ele parecia que me ignorava.

Como se ele não quisesse que eu vesse que ele estava feliz,com Flin no colo. Eu devia ceder. Ele queria tanto ter um filho. Não era justo eu continuar com essa atitude tão egoísta. Isso era o que fazia Peeta feliz, então eu estaria feliz.

Se Peeta pedisse para eu continuar com Buttercup, eu até que aceitava. Buttercup não depende tanto de mim. Ele não é algo tão grande assim. Mas agora um filho. Um bebe. Uma vida. Não era só isso. Era o meu filho, um bebe indefeso e uma vida inocente. Isso era muito maior do que ter um gato estúpido.

Peeta estava tão feliz. Essa alegria que estava em seu rosto, era tão radiante.

E tem mais, eu não poderia deixar a família morrer.

“Katniss você pensou isso?” Eu estava confusa. Precisava parar de pensar nisso. Pelo menos aqui e agora. Pensaria nisso mais futuramente.

- Ô mãe, quando você vai passar um tempo no doze?

Quando olhei para os lados elas não estavam mais ali. Na sala,apenas restava eu e Peeta, sentados um na frente do outro. E claro que no colo dele, estava Flin.