Ao Bater Da Meia-Noite escrita por Gigua


Capítulo 3
Capítulo 2




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Quando eu acordei, senti uma leve tontura, meus olhos doíam e não lembrava bem onde eu estava. Eu devia ter dormido de mau jeito, pois só assim para poder explicar a dor insuportável em minhas costas e mãos, sem falar no torpor em que meu corpo se encontrava.

Eu preciso tomar uma aspirina, pensei. Vou até a cozinha, aproveito e ligo para Elena.

Fazia um tempo desde a última vez em que eu havia falado com ela — tanto por telefone quanto pessoalmente. Depois de tudo que acontecera, eu não tive cabeça nem vontade de sair da cama, desejando dormir para sempre para poder esquecer tudo.

Mas eu sabia que não podia fazer isso. Meu pai não deixaria, pois meu futuro acadêmico estava em pauta, no momento, e ele deixara bem claro que não iria me sustentar por muito tempo. O único jeito seria eu arranjar uma bolsa de estudos em uma ótima faculdade; uma que fosse a quilômetros de distância daqui.

Não que eu esteja sendo ingrata ou algo do tipo. Eu amo meus amigos, mas depois de ter enfrentado vampiros que costumavam estarem presos em uma tumba, uma vampira doppelgänger problemática, que diz ainda amar Stefan, sem falar em um clã de vampiros Originais, que quase destruíram a cidade, é de se esperar que eu deseje estar longe daqui o mais rápido possível.

Mas era hora de seguir em frente. Aqueles vampiros da tumba já não são mais um perigo, Katherine está fora da cidade, provavelmente em alguma cidadezinha onde não possa chamar atenção e Klaus...

Ao mencionar esse nome, tudo ficou mais claro e, então, eu lembrei que não estava em casa, tampouco poderia pegar o celular para falar com Elena. E tudo por culpa dele.

Mesmo com os olhos doendo muito, eu os forcei a abrirem e logo pude ver aquele quartinho apertado, mas aconchegante, que outrora fora o apartamento de Alaric. Ric havia sumido de Mystic Falls, mas, na situação em que ele se encontrava agora, foi até bom. Menos mortes podem ser evitadas assim.

Gostaria de comer agora, senhorita? — Uma voz veio da minha esquerda.

Ao olhar para lá, percebi que uma garota, que devia ter uns quinze anos, estava parada próxima à porta da frente, segurando uma bandeja com um prato, um copo de suco de laranja e uma flor em um pequeno vaso ornamental.

O quê? — Eu perguntei, embora houvesse ouvido perfeitamente o que ela havia dito. — Quero dizer, quem é você?

Só então que eu percebi que já não estava mais usando aquele pano velho que ele havia posto em minha boca, o que, de certa forma, foi um alívio. Aquilo cheirava fortemente a mofo, óleo e gasolina.

Gostaria de comer agora, senhorita? — Ela repetiu, como se não tivesse ouvido uma palavra que acabara de sair da minha boca. — Hoje eu fiz um sanduíche delicioso com rosbife e maionese.

Você é a garota que ele disse que apareceria, não é mesmo? — Eu perguntei, mas a pergunta pareceu ser mais para mim, ao constatar o óbvio, do que para a garota em si. — A que iria me alimentar enquanto ele estivesse fora?

Ela não respondeu, mas nem foi preciso. Ela se aproximou de mim e sentou-se na cama ao meu lado, talvez para poder ficar mais confortável, e pousou a bandeja ao seu lado para que pudesse se mover livremente.

Foi aí que eu notei que ainda estava presa à cadeira e que aquelas dores musculares presentes em mim eram resultado de uma má postura durante horas, talvez dias.

A garota ergueu o sanduíche e o aproximou até minha boca, esperando que eu desse uma dentada. Meu estômago estava revirando dentro de mim, dando várias cambalhotas que eu pensei ter engolido um acrobata de circo enquanto estava dormindo. Parecia que eu não via comida há séculos e não somente há algumas horas atrás.

Sem me importar se a menina havia ouvido o ronco do meu estômago ou não, eu dei uma bela mordida naquele pão, com ânsia, sentindo o delicioso gosto de carne em meus lábios ressecados e rachados.

O sanduíche estava bom. A garota poderia ter colado um pouco menos de maionese, pois ela estava começando a escorrer do pão e indo direto ao chão ou ficando preso em volta da minha boca.

E assim ficamos durante um bom tempo. Ela levava o lanche até mim, eu o mastigava e o engolia sem nenhuma pressa e logo o processo recomeçava. De vez em quando a garota segurava meu queixo e inclinava minha cabeça para trás, a fim de dar-me aquele delicioso suco dos deuses.

Eu não sabia que estava com tanta fome até que a menina se aproximara com aquela bandeja. Com minhas forças revitalizadas, pude me concentrar mais nas cordas que me juntavam àquela cadeira, à procura de algum feitiço que pudessem cortá-las ou queimá-las. Qualquer coisa era válida se me ajudasse a cair fora dali.

Mas nada deu certo. Eu estava focada, com a respiração controlada, mas nenhum dos feitiços que eu conhecia parecia surtir algum efeito. Parecia que as cordas foram enfeitiçadas.

E você está absolutamente correta — Disse uma voz, distante. — Sua sagacidade é uma das suas características que mais me agrada, Bonnie.

Eu dei um pulo ao perceber que havia mais alguém na sala. Eu não havia percebido que estava falando sozinha, em voz alta, e fiquei me perguntando o que é havia dito que pudesse me colocar em problemas.

Ao olhar em direção à voz, percebi que a garota já não estava mais ao meu lado, sentada na cama, mas sim ao lado do sujeito que acabara de falar. Ambos estavam meio escondidos na sombra, no canto do apartamento, com seus rostos tampados pela escuridão. Eu não fazia ideia que horas eram, mas deduzi que já deviam passar das 22h, pois ele havia dito que chegaria ao mais tardar da noite.

A garota ainda segurava a bandeja, só que agora possuía um olhar vago e distante, como se 

não estivesse ali em espírito, só em corpo.

O que será que compulsão em excesso faz com uma pessoa? Pensei.

Bem, pelo o que pude ver, você se comportou bem, ou então já estaria com graves ferimentos no rosto e no resto do corpo — Ele olhou fixamente para mim, avaliando-me de cima abaixo à procura de escoriações. — É como eu suspeitava: novinha em folha.

Como assim? — Eu engasguei com o restinho de sanduíche que ainda estava em minha boca. — Eu pensei que você não estava falando sério sobre a garota me dar uns tapas.

E eu, por acaso, tenho cara de quem brinca? — Apesar de ele continuar na escuridão, pude sentir seus olhos queimando sobre mim. — Lembre-se, minha pequena e tola bruxinha, eu não sou um homem que gosta de fazer joguinhos.

Ele parou, se aproximou mais de mim e, após me olhar com mais intensidade, disse:

Se bem que eu poderia muito bem fazer alguns joguinhos com você, se é que me entende — Ele me deu um sorrisinho malicioso. — Pensando bem, eu nunca a vi com nenhum garoto, Bon-Bon. Você não gosta da fruta?

Eu corei.

Senti minhas bochechas queimarem em graus incontroláveis, não sabendo como me livrar daquela pergunta tão direta. Como ele pôde falar algo tão íntimo, tão pessoal, sem nem ao menos demonstrar acanhamento?

Ah, lembrei: ele não tem sentimentos. É difícil demonstrar algo quando o seu coração é uma pedra dura e fria, pensei.

O que foi? — Ele ficou próximo demais de mim, colocando ambas as mãos no encosto da cadeira a fim de manter o equilíbrio. — Por que está corando? Por acaso eu disse algo que não devia?

Não sei como era possível, mas minhas bochechas ficaram ainda mais rosadas com ele estando a poucos centímetros de mim, podendo sentir meu hálito — assim como eu podia sentir o dele.

Bem... H-Havia o L-Luka — Eu disse entre um gaguejo e outro. — Jeremy.

Só? — Ele disse, impressionado. — Você não sai muito de casa, não é?

Entre um sorrisinho irônico e outro ele disse isso, como se perguntasse como estaria o tempo daqui a algumas horas. É incrível como ele podia ser tão sem tato.

Você me dá nojo, sabia? — Após me recurar, eu consegui formar essa frase de um modo que ela saísse convincente. — E, afinal, o que está tramando? Por onde andou?

Sem sair de cima de mim, ele disse:

Nojo? Tenho certeza que esse não é o sentimento que você sente por mim, bruxinha. Estou neste mundo há um bom tempo para saber quando uma garota gosta de alguém.

Ah, é aí que você se engana — Eu disse, revirando os olhos. — Prefiro levar uma estaca no coração a cair de amores por você, seu cretino.

Pode enganar-se o quanto quiser — Ele disse, me provocando —, mas eu sei que você é louca pelo meu sotaque.

Acho que está me confundindo com alguém, queridinho — Eu disse, me aproximando mais, sem medo — Eu não sou o tipo de garota que se impressiona com um rostinho bonito.

Sem responder a minha provocação, ele se afastou, como se estivesse impressionado com meu modo de agir. Pelo visto, ele devia pensar que eu era fraca o bastante para sucumbir ao seu apelo sexual. O jogo de palavras havia terminado e, pelo o que pude ver, eu havia ganhado essa rodada.

É hora de irmos — Ele se recompôs rapidamente, sem deixar transparecer que seu ego havia sido ferido. — Alana, meu bem, por que você não solta a nossa querida hóspede para que nós possamos dar um passeio?

Eu ouvi bem? Certifiquei-me de dizer isso somente na minha mente. Nós vamos sair? Mas aonde é que estamos indo à uma hora dessas, meu Deus? Os habitantes de Mystic Falls já devem estar dormingo, sem falar que o comércio já deve ter fechado há horas.

Onde vamos? — Eu me atrevi a dizer. — Você já viu que horas são?

Sim, eu sei exatamente que horas são — Ele disse, sem parar para me olhar. — Mas só agora é que eu vou poder me encontrar com a pessoa.

Ela é uma vampira — Era para ter saído uma pergunta, mas disse como se fosse uma afirmação. — Ela não tem anel para se proteger do sol?

Sim, tem — Ele disse enquanto trocava de camiseta. — Mas estava verificando o terreno antes de aparecer. Eu costumo chocar as pessoas, com minhas entradas triunfais.

E por que você vai me levar?

Para fazer com que eu entre de um jeito mais dramático ainda, pois será você quem dirá que estou vivo — Ele parou, com um olhar distante. — Acredite, esta noite será inesquecível!



Ao sairmos do prédio, pude ver pelo relógio da igreja próximo à praça principal que já passava das 23h e, como era de se esperar, as ruas estavam tão desertas quanto um cemitério. Seguindo na frente, ele foi andando despreocupadamente pelas ruas da cidade, com passadas largas e confiantes, como quem acabou de ganhar um prêmio milionário.

Alana estava logo atrás dele, me puxando sem nenhum tipo de delicadeza, fazendo-me tropeçar ora sim, ora não, coisa que eu não podia evitar já que ainda continuava com os braços atados às minhas costas.

Eu pensei que andaríamos até o local onde ele encontraria a tal pessoa, mas me enganara completamente. Era de se esperar que haveria um carro caro ali, à sua espera, com outro humano sob o efeito de compulsão.

A regra de “primeiro as damas” não estava mais em seu vocabulário, porque ele foi logo entrando, acomodando-se próximo a outra janela do banco traseiro, batendo o pé sem um pingo de paciência enquanto nós adentrávamos.

A empregada, sem um pingo de compaixão com o meu estado, foi logo me jogando para dentro do carro, fazendo com que eu caísse de cara no colo dele, o que me fez corar novamente. Ela me ajeitou com grande agilidade e, sem ninguém dizendo nada, seguimos em frente.

Saímos do subúrbio da cidade, começando a ir para as áreas das mansões e casarões que eram muito apreciadas na cidade — algumas, até, sendo ponto turístico para dar lucro à prefeita.

Seguíamos sempre em frente, sem nunca pararmos ou virarmos em direção à entrada reservadas para carros. Por um segundo eu pensei que estávamos indo embora, fugindo e ficando à espera da poeira baixar para, depois, voltarmos e colocarmos mais lenha na fogueira.

Só foi eu pensar nisso que o motorista começou a se aproximar a uma das últimas casas, girando o volante para poder estacionar próximo à fonte — que estava desligada —, à espera de novas ordens.

Demorei alguns instantes para reconhecer o local, mas assim que o fiz, meu coração parou por dois segundos antes de subir à minha boca e bater igual um louco.

Eu não posso acreditar que estou aqui, pensei. Não depois da última vez.

Chegamos — Ele disse, quebrando o silêncio desconfortável que estava naquele carro. — Como é bom estar em casa.

E assim, ele saiu, sem nem ao menos esperar por uma resposta, indo diretamente para a porta da frente. Como era de se esperar, Alana me arrancou daquele coro estofado macio e confortável, o que me fez desequilibrar e dar de cara com o chão.

A queda foi rápida e bem dolorida. Eu havia caído de cara, batendo meu nariz com força no piso. Lágrimas vieram aos meus olhos, mas me segurei o máximo que pude para não chorar. A dor poderia estar me incomodando, mas eu seria melhor que ela e a ignoraria.

Ao pensar desse jeito, me levantei sozinha, me recompondo, e segui na frente de Alana, que corria para me alcançar, com medo de que eu pudesse fugir. Do jeito que eu estava, era improvável — quase impossível — que fizesse isso. Caso fizesse, não iria muito longe antes de alguém me pegar.

ela tem ordens expressas para que você seja castigada caso você faça alguma gracinha.

As palavras que ele dissera para mim, hoje mesmo naquela noite, ainda estavam impressas na minha cabeça. Ela me atacaria sem dó e nem piedade, podendo me estraçalhar como um pedaço de papel. Alana podia ser pequena, mas, assim como eu, ela devia ser enfezada.

Se ao menos minhas mãos estivessem livres... Eu sou uma completa inútil estando assim, pois não conseguia me concentrar direito em algo, já que a dor muscular em meus braços tirara toda a minha atenção.

Bata na porta — Ele ordenou. — E chame Rebekah.

Como é que ele espera que eu bata na porta? Ele é cego por acaso? Ou essa é outra de uma de suas brincadeiras psicóticas? Eu estava prestes a abrir a boca para reclamar quando Alana chegou e bateu na porta em meu lugar.

Eu a fechei tão rapidamente quanto a havia aberto, esperando que alguém abrisse logo a porta. O suspense estava me matando e, sendo curiosa do jeito que sou, comecei a ficar impaciente, pulando no mesmo lugar para tentar aliviar o estresse.

Pude ouvir passos vindo em direção à entrada e, logo, a porta se abriu. A luz da lua deu luminosidade suficiente para podermos ver que ali, na nossa frente, encontrava-se Rebekah em pessoa, com os olhos inchados.

Ela andou chorando, deduzi o óbvio. Mas por quê?

O que você quer, Tyler? — Ela disse rispidamente com aquele sotaque bem carregado. — Pensei que você não obedecesse mais às ordens de Klaus.

Tyler, ao meu lado, esboçou algo que parecia ser um sorriso, mas não dava para ver bem, já que ele estava olhando para baixo.

O meu senhor gostaria de falar com a senhorita — Alana disse, sem rodeios. — Podemos entrar, por gentileza?

Como se só agora percebesse nossa presença ali, Rebekah virou-se para nós e nos deu um olhar gélido que fez até minha espinha tremer. Estava claro que ela estava nervosa. Mas será que estaria tão nervosa a ponto de nos matar sem nem ao menos nos convidar para entrar antes?

E por que diabos eu deixaria vocês entrarem na minha casa? — Ela perguntando, ora olhando para mim, ora para Tyler e ora para Alana, esperando por um ótimo motivo. — Eu devia matá-los agora mesmo.

Se eu fosse você, não faria isso — Tyler interviu, soltando aquele sotaque forte britânico. — Afinal, você não iria querer matar o seu irmãozinho, não é mesmo?


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