Obsessed Girl escrita por Sayurin Konata
Sempre gostei das pessoas mais velhas. Por alguma razão me sentia atraída por elas, talvez pela inocência de criança ou pelo ar convidativo e acolhedor que envolvia algumas. Elas sempre me machucavam ou decepcionavam no final, mas nunca desprezei uma nova cara por isto.
Mas o que aconteceu com relação à madame Rose... Ah, eu nunca imaginei, verdade!
Estava querendo um emprego, no mínimo um estágio. Diziam que eu tocava bem piano e que seria uma tacada arriscar em algum bar ou restaurante. Bem, eu gostava de acariciar as teclas pretas e brancas dando-lhes o prazer de expressar algo que existe há muito tempo em algum lugar do meu peito. Tinha prazer nisso. Decidi seguir o conselho. Disputei vagas e perdi várias chances em tudo quanto era canto. Foi depois de um mês que consegui o emprego de meio período. E conheci a responsável pelo restaurante.
Madame Rose Vicent era a dona do Cézanne's, um restaurante voltado à classe média alta. Encantei-me, tão simplesmente encantei-me com ela como jamais fiz com alguém. Aparentando estar na meia idade, era alta, de cabelos ruivos suavemente ondulados com o brilho e aroma de seda chinesa. Naquele primeiro dia de trabalho, ela usava um vestido simples, longo e verde escuro, com um decote em "V" grande, porém descente, com mangas curtas e delicadas. Vestira as mãos com luvas pretas enfeitadas com renda discreta. Quando andava o vestido balançava revelando os saltos fechados pretos e bonitos. A postura era elegante. O sorriso puro e satisfeito. Os olhos cintilando mais por conta própria do que pelas luzes de velas e lanternas do restaurante. As estrelas que haviam do lado de fora do estabelecimento pareciam estar todas ali, bem naqueles olhos castanhos.
Instantaneamente quis tê-la perto sempre. Sorrateiramente a espiava quando possível, desviando os olhos mesmo que por um momento do piano lustrado. Era algo entre amizade e amor. Algo louco. O que me faltava. Porém como poderia conquistar afinidade com ela? Como?
Mais tarde conclui que só havia um jeito:
Tocando.
Foi quando comecei a criar minhas próprias músicas. Todas continham mensagens indiretas que suplicava aos céus para que ela entendesse. Nem sempre era possível tocá-las, afinal de contas estava ali a trabalho e precisava seguir ordens. Eu ficava muito triste, frustrada e tinha que me esforçar para que a visão embaçada não me atrapalhasse e me causasse motivo de vergonha.
Foram dias, logo foram semanas e não demorou para chegarem a meses. Às vezes um elogio, um sorriso, um olhar. Entretando nunca vinha o sinal de que o recado fora captado. De que eu a adorava. De que me derretia em nossas raras conversas. De que desejava conviver mais com ela. Madame Rose não pecebia...
E ainda não percebe.
Perdi as contas de quantas vezes desisti, mas sempre voltei atrás em minha decisão. Eu sigo cantando e tocando músicas para ela sempre que posso. Faço o meu melhor com outras só para dar uma boa impressão e ainda esqueço de todos os meus problemas quando ela realiza o milagre de vir falar comigo. Ela é muito ocupada ainda, sabe?...
Mas eu continuarei. Continuarei até morrer, se isso for necessário. Mesmo que eu nunca a alcance, este será meu objetivo até morrer.
Por quê...?
Por que o piano está ficando molhado?
Pior: por que eu estou o molhando?
Por que todos não viram seus rostos para o outro lado e param de sussurrar?
Por que madame Rose apareceu logo agora?
E por quê... está me olhando desse jeito?
Mas eu levanto a cabeça, sorrio forçando duas lágrimas a cair e continuo a tocar. Sem parar. Erro e dou um improviso. Minhas bochechas queimam de vergonha. Eu pesisto. Persisto vendo as cicatrizes feitas propositalmente em meu braço, porque ela é o meu motivo. Até alcançá-la eu não pararei. Eu não pararei.
Eu não pararei...!
Madame Rose...
Desculpe, mas poderia só me aliviar?
Eu...
Eu não a deixarei.
... "mamãe".
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