Preciso me controlar para não ficar literalmente de boca aberta enquanto observo Jacob com Gabriel. Ele está mostrando sua moto ao meu irmão e contanto pacientemente como está tentando consertá-la sozinho, o que deixa Gabriel completamente encantado.

Eu estou num dos cantos da garagem ainda sem acreditar na cena que se desenrola em minha frente, não faço idéia do porque Jacob está sendo tão gentil e sorridente com o Gabe e isso só o deixa mais misterioso para mim, mas preciso admitir que vê-lo sorrindo tanto faz meu coração palpitar... Deus, ele fica ainda mais lindo quando sorri!

-Viu que incrível Bells? – Gabriel diz animado chamando minha atenção. Eu não faço idéia do que ele estava dizendo, mas sorrio mesmo assim.

-É incrível sim Gabe. – digo.

-Quando crescer você vai poder ter uma moto também. – Jacob diz para ele.

-Quero uma igual a sua. – Gabriel diz olhando ao redor da garagem com os olhos brilhando. Ele logo se distrai com outras coisas e enche o Jacob de perguntas, que responde tudo pacientemente.

Quando Gabriel fica distraído Jacob se aproxima de mim.

-Ele é bem esperto. – diz me olhando.

-É sim, e é tudo pra mim. – sorrio.

-Dá para ver o quanto você o ama e o quanto ele te ama também.

-Sim, somos muito unidos... Somos só eu, ele e nossa mãe.

-E seu pai? – ele pergunta gentilmente me surpreendendo a cada segundo, mas me esforço para manter a conversa e não ficar simplesmente como uma pateta o olhando embasbacada.

-Nosso papai foi embora. – Gabriel diz e nós olhamos ao mesmo tempo para ele.

-Gabe, está ouvindo nossa conversa? – ergo a sobrancelha, mas ele só sacode os pequenos ombrinhos e volta a olhar uma revista de motos que Jacob tinha lhe dado. 

-Hum... Seu pai foi mesmo embora? – Jacob sussurra meio sem jeito.

-Sim, simplesmente foi embora... Desde então tudo mudou, deixei de ir para a faculdade porque minha mãe e o Gabe precisam de mim e é por isso que vendemos os doces, é o nosso sustento. – digo tudo em voz baixa porque não gosto que Gabriel ouça essas coisas, ele é esperto demais.

-Nossa, e eu fui todo mal educado quando você veio aqui pela primeira vez me oferecendo os doces. – ele desvia o olhar de mim.

-Oh, não, está tudo bem, não se preocupe com isso. – digo rapidamente.

-É que eu não estou acostumado com alguém batendo em minha porta, sei que é uma escolha minha, prefiro ficar mais isolado mesmo... Enfim, só fiquei surpreso quando você apareceu.

-Está tudo bem mesmo, eu entendo. – na verdade eu não entendo, não consigo imaginar porque ele quer tanto viver assim isolado e porque sua irmã quer tanto ajudá-lo a ponto de ir me procurar, mas ele com certeza têm seus motivos que devem ser muito importantes e eu fico satisfeita por estar aqui agora e por ele estar sendo tão receptivo.

-Ok... – ele murmura e coloca as mãos nos bolsos. –Você tem quando anos Bella?

-Dezoito. – vejo a surpresa em seus olhos.

-Tão nova e já com tanta responsabilidades. – sua voz sai baixa.

-Eu não me importo muito com isso, quer dizer, é claro que sofri muito quando meu pai se foi, me revoltei e até me ressenti por ter que abandonar meus sonhos, mas eu tenho minha mãe e o Gabriel, os amo tanto, e temos amigos incríveis também que nos ajudaram... – dou de ombros e fico surpresa com o modo intenso que ele me olha. –Mas eu tinha a opção de me revoltar, ficar depressiva ou ir seguir adiante e percorrer o caminho que estava sendo colocado em minha frente e preferi a 2ª opção, quero ser feliz, quero ver minha mãe feliz de novo e acima de tudo quero ver o Gabriel crescendo bem e sendo muito feliz e estou fazendo de tudo para isso... E quando vejo o Gabe sorrindo tudo vale à pena e sei que o único que saiu perdendo nessa história foi meu pai.

Me surpreendo ao perceber o quanto falei, mas fico ainda mais surpresa com o olhar do Jacob, é indecifrável, mas tão intenso.

-Uau. – ele diz quebrando o silêncio. –Você é uma daquelas pessoas que acredita que tudo na vida acontece por um motivo? E que devemos seguir em frente independente de qualquer coisa e tudo o mais...

Ele para de falar, sua voz fica amarga e ele desvia o olhar.

-Mas é assim... Ao menos é assim que temos que pensar ou não conseguimos sobreviver... – paro por um instante pensando que ele já deve ter sofrido muito. –A vida é cruel Jacob, eu sei bem disso, é injusta, dolorosa, mas não podemos nos entregar nos momentos ruins, por pior que eles sejam, porque de repente acontece uma coisa, uma mínima coisinha, que faz tudo valer à pena.

Ele não diz nada, apenas me olha e eu não consigo desviar meu olhar, é como se estivesse presa a ele... Mas a voz do Gabriel nos tira de nosso pequeno e estranho transe.

-Jake... – sim, ele já está chamando o Jacob de Jake. –Essa moto é igual a sua, olha.

Ele corre em nossa direção apontando para uma moto na revista que é mesmo idêntica a do Jacob.

-É sim... – Jacob sorri se ajoelhando para dar atenção a ele, mas percebo que seu sorriso não é mais tão sincero e me pergunto se falei besteira ou demais.

Observo Jacob dando toda atenção a Gabriel, mas percebo que às vezes ele parece se distanciar, como se vez ou outra sua mente saísse aqui do presente, isso me intriga, mas não ouso perguntar algo, ainda não.

-Bom, acho que está na hora de irmos. – digo, por mais que eu queira ficar mais tempo ao lado do Jacob e descobrir mais e mais sobre ele, não quero forçar, o que aconteceu aqui hoje já foi uma grande surpresa para mim, uma surpresa muito agradável.

-Já? – Gabriel faz uma carinha pidona e eu rio.

-Sim senhor, você já ocupou muito o tempo do Jacob.

-Imagina, não foi nada. – Jacob diz se levantando de onde estava abaixado ao lado do meu irmão.

-Vamos Gabe, tenho algumas coisas para fazer em casa.

Ele pega em minha mão meio a contra gosto.

-Ei amigão, leva a revista com você, é sua. – Jacob diz lhe entregando a revista de motos e o rostinho dele se ilumina. –E outro dia você volta aqui e te mostro mais da minha moto ok?!

-Ta bom. – Gabriel quase pula de animação o que faz o Jacob sorrir mais sinceramente.

-Obrigada Jacob. – digo e ele me olha.

-Não precisa agradecer... E amanhã passa aqui com uns doces que eu vou querer comprar.

Mais uma vez ele me surpreende.

-Ok, eu passo sim... Agora temos que ir.

Ele apenas assente.

-Tchau Jake. – Gabriel diz.

-Tchau amigão, e volte quando quiser.

-Você falando assim ele vai querer estar aqui o tempo todo. – digo e Jacob apenas sorri para o Gabriel que está empolgado com a revista que ganhou. –Bom, agora estamos indo mesmo, até amanhã Jacob.

-Até. – ele diz simplesmente e fica ali na garagem enquanto eu e Gabriel vamos embora.

Ainda estou um pouco aturdida pelo que aconteceu, acho que nem mesmo a Rachel esperava por uma reação tão receptiva assim do irmão quando foi me procurar... Gabriel começa a tagarelar sobre seu novo amigo e o olho tendo a nítida certeza de que essa reação do Jacob foi pela presença do Gabe, foi como se meu irmão o iluminasse... Mas por quê?

-Bella. – sou tirada de meus pensamentos quando Embry me chama. Olho para sua varanda onde ele está sentado de boca aberta por ver de onde estou vindo.

-Emby... – Gabe solta minha mão e corre em sua direção. –Olha o que ganhei do Jake.

Embry recebe o Gabriel carinhosamente e olha a revista, mas arqueia uma sobrancelha me lançando um olhar inquisidor e suspiro sabendo o que vem por aí. 

-Que legal Gabe. – ele diz voltando sua atenção para meu irmão. –Porque você não vai lá dentro mostrar ao Seth, ele está na sala.

Gabriel corre para dentro da casa gritando pelo Seth e Embry se aproxima ficando bem na minha frente.

-Bella, o que você estava fazendo na casa desse Jacob? E ainda por cima com o Gabriel.

-Eu fui entregar um bolo... E todas essas coisas que dizem do Jacob é besteira, ele é um cara bem legal. – digo tentando cortar logo o assunto, mas Embry ainda insiste.

-Bella, você só pode ter pirado, e pelo visto o Gabe já se apegou a esse cara, não sabemos nada dele...

-Embry... – o interrompo rapidamente. –Não quero discutir com você sobre isso, muito menos me irritar contigo, agora confia em mim, está tudo bem, Jacob foi muito gentil com o Gabe e comigo também, como eu sempre disse as coisas que fofocam sobre ele é um monte de besteira.

-Você não tem jeito né?! – ele suspira exasperado e eu sorrio.

-Para com isso Embry, sério, está tudo sob controle... Agora tenho que ir para casa.

-Tudo bem... Só tenha cuidado ok?

-Sim senhor. – brinco e ele sorri e revira os olhos.

Mas estou tão animada com o que aconteceu com o Jacob que nem me importo muito com a chateação do Embry... Só consigo pensar em amanhã voltar na casa do Jacob, não tenho ideia de como será e isso me dá um friozinho no estômago. Nunca me senti assim antes, essa expectativa inexplicável, nem mesmo nos meus primeiros encontros com o Embry e perceber isso me assusta um pouco!

      ****

O restante do dia se passa como um borrão, Gabriel não para de falar sobre seu novo amigo e eu não consigo parar de pensar no modo receptivo que Jacob nos recebeu, de como ele foi todo atencioso e carinhoso com o Gabe e de certa forma comigo também... E isso é tão contrário do modo como ele me recebeu na primeira vez em que bati na sua porta.

Não consigo parar de pensar no que aconteceu a esse homem para torná-lo assim, para deixar sua irmã tão preocupada como Rachel parecia estar quando veio me pedir ajuda.

Parece meio absurdo eu ficar tão focada assim no Jacob e em sua história, sei que eu não devia estar me intrometendo assim, mas além de Rachel, a própria irmã dele, ter vindo me pedir ajuda, eu sinto uma forte vontade de ajudá-lo de alguma forma e depois de ver hoje como na verdade ele é um homem doce e gentil fiquei com ainda mais vontade de fazer algo por ele.

Uma vozinha no fundo de minha cabeça me alerta que não é só isso... Que aquele belo e misterioso homem está mexendo comigo, com meus pensamentos e meu coração, como ninguém jamais mexeu antes e isso é perigoso e excitante ao mesmo tempo.

-Bella. – minha mãe me chama me tirando de meus devaneios. Estou sentada no sofá de frente para a tv, mas nem presto atenção no que está passando nela, e acabei de colocar o Gabe para dormir.

-Oi mãe.

-Estou indo dormir... E você faz as entregas amanhã ou eu?

-Eu faço. – digo rapidamente ao me lembrar do Jacob me pedindo para passar lá amanhã.

-Ok... Ah e quem é esse novo amigo do Gabriel de quem ele falou?

-Nada demais. – dou de ombros porque não quero falar sobre isso, sobre o Jacob, com ela nem com ninguém ainda.

Ela me olha por um tempo, mas depois sorri e me dá um beijo na testa.

-Boa noite querida.

-Boa noite mãe.

Ela vai para seu quarto. Eu desligo a televisão e me deito no sofá suspirando.

Penso novamente no Jacob e sinto um friozinho gostoso na barriga, o que já está virando rotina quando penso nele.

-Oh meu Deus, Bella, você está sendo tão estúpida. – sussurro para mim mesma e sorrio enterrando o rosto na almofada.

       ****

Quando acordo me surpreendo por ver que dormi a noite toda no sofá mesmo. Me sento me espreguiçando e fico ainda mais surpresa ao ver que tímidos raios de sol entram pela janela.

Fico de pé num pulo e vou até a janela sorrindo ao ver que está fazendo um belo e raro dia em La Push.

Ouço o som convidativo do mar e prometo a mim mesma que assim que as entregas acabarem vou até a praia dar um mergulho... Passar um tempo no mar sempre me renova.

Depois de mais uma olhada no céu vou para o banheiro tomar banho e começar meu dia.

Depois do café da manhã minha mãe vai levar o Gabe para o colégio e eu me preparo para mais um dia de entregas, mas hoje saio de casa com uma expectativa a mais... Verei o Jacob novamente e não faço ideia de como será agora que Gabriel não está comigo.

No caminho passo pela praia e paro por um tempo admirando o mar que está calmo e parece me chamar, hoje a praia está mais movimentada e fico satisfeita comigo mesma por eu ter colocado meu biquíni por baixo de meu vestido porque assim que sair da casa do Jacob é pra cá que virei. Ando mais devagar enquanto passo pela praia, uma das razões que sempre amei morar em La Pus foi por estar tão perto assim do mar, pena que o sol é tão raro por aqui.

Enquanto caminho por ali em direção a casa do Jacob acabo me lembrando do meu pai, cada vez penso menos em Charlie, mas uma das coisas que eu mais gostava de fazer com ele era vir à praia e estar aqui traz algumas recordações. Charlie sempre foi um bom pai apesar de tudo, é difícil entender porque ele simplesmente nos deixou sem ao menos um bilhetinho de despedida.

Lembro das discussões dele e Renée estarem mais constantes pouco antes dele ir embora, mas não consigo pensar em algo que possa de alguma forma justificar essa atitude louca e irresponsável dele. Um dia ele simplesmente juntou suas coisas e se foi... As pessoas fofocam, dizem que ele tinha uma amante e fugiu com ela, outros falam que ele estava cansado da vida que levava aqui... Nunca conversei sobre isso com minha mãe, sei o quanto ela sofre com essa história e também não gosto de falar sobre isso perto do Gabriel.

Suspiro sacudindo a cabeça levemente para afastar esses pensamentos... Charlie se foi por vontade própria, não tem motivos para ele ter feito isso e precisamos continuar com nossas vidas.

Quando dou por mim já estou na frente da porta da casa do Jacob e sorrio de expectativa enquanto bato na porta.