Apesar de ainda estar cheia de curiosidade sobre o misterioso Jacob, eu tive que esquecer isso e me concentrar no Embry. Seth estava certo o tempo todo... Embry ainda é apaixonado por mim, ou ao menos tem algum tipo de esperança sobre a gente e não posso deixar as coisas assim, preciso conversar francamente com ele, por mais difícil que possa ser.

Então, depois de pegar o Gabriel no colégio me arrumo e fico esperando pelo Embry que chega na hora marcada.

-Se divirta. – Renée diz quando vou me despedir dela e do Gabe e apenas sorrio, não posso negar que estou um pouco apreensiva, não quero de jeito nenhum magoar o Embry.

-Ei, está linda Bella. – ele sorri abrindo a porta do carro pra mim.

-Obrigada. – digo simplesmente, ele também está lindo, na verdade o Embry é muito lindo e seria muito mais fácil se eu ainda fosse apaixonada por ele, mas as coisas não são tão simples assim infelizmente, principalmente quando se trata de sentimentos e relações.

-Então... – ele começa a falar assim que dá partida no carro e pega o rumo de Forks. –Seth ontem foi no cinema com uns amigos e viu um filme de terror que adorou, o que acha?

-Vou adorar. – ri, ele sabe o quanto curto filmes de terror.

-Estou feliz por você ter vindo. – ele diz e apenas sorrio, ainda não quero iniciar a conversa.

Fomos o restante do caminho conversando sobre amenidades, a conversa entre a gente sempre fluiu muito bem e adoro isso.

Quando chegamos no cinema Embry faz questão de pagar as entradas e as pipocas e eu deixo sabendo o quanto ele às vezes pode ser orgulhoso com essas pequenas coisas.

O filme é incrível e por um tempo consigo me esquecer de tudo e embarcar na história da telona, mas assim que as luzes do cinema se acendem eu olho para o Embry e me lembro da tarefa difícil que ainda tenho hoje. Durante o filme algumas vezes senti ele tentando se aproximar, segurar minha mão e isso deixou ainda mais claro o quanto eu estava sendo estúpida ao ignorar o que estava diante dos meus olhos e o que Seth sempre me alertou.

-O que acha da gente ir naquela praça aqui perto comer aquele cachorro-quente que adoramos? – ele sugere e eu aceito prontamente sabendo que será uma boa oportunidade de conversarmos.

Já com os cachorros-quentes em mãos nos sentamos em um banco na pracinha e eu tomo coragem para iniciar a conversa.

-Embry... – digo e ele me olha. –Acho que precisamos conversar.

-Sobre o que? – ele tenta disfarçar, mas em seus olhos vejo que sabe exatamente do que estou falando.

-Você sabe... – desvio o olhar por um instante, mas logo volto a encará-lo. –Sobre nós dois...

Não consegui terminar de falar e ele suspirou pesadamente.

-Então você enfim percebeu né?!

-Porque você não falou comigo antes sobre isso? – sussurro.

-Porque no fundo sei qual será sua resposta. – ele deixa o cachorro-quente de lado e chega mais perto de mim. –Foi você quem terminou comigo lembra? Veio com aquele papo de que não estava dando certo, que devíamos ser só amigos...

-E você concordou comigo. – o interrompo.

-O que mais eu poderia fazer Bella? Te conheço como a palma da minha mão, vi que você estava decidida, que eu não conseguiria fazê-la mudar de ideia... E eu não queria perdê-la, preferi ser só seu amigo... Mas de uns tempos pra cá tem ficado cada vez mais difícil segurar a barra.

-Eu não sei o que dizer Embry... – e não sei mesmo! –Você é meu melhor amigo, te amo, é uma das pessoas mais especiais da minha vida, mas...

-Mas é só isso né?! – ele completa minha frase. –Você não é mais apaixonada por mim.

-Isso. – sussurro. –Embry, desculpa.

-Não se desculpe. – ele sorri de leve, mas desvia o olhar.

-Embry... – pego em seu rosto e o faço me olhar nos olhos novamente, odeio ver a tristeza ali, mas tenho que ser sincera com ele. –Eu não quero te perder, é difícil imaginar minha vida sem você, mas não posso e não vou te dar esperanças sobre algo que sei que não vai acontecer.

-A gente teve algo tão especial Bella, de certa forma ainda temos. – ele acaricia meu rosto e sinto um nó na garganta.

-Mas nossos sentimentos não são mais os mesmos e não quero te machucar... Você não pode ter falsas esperanças sobre nós dois, só o que posso te oferecer é minha amizade e você merece estar livre para encontrar uma garota que te ame como você merece.

Ele não diz nada e apenas me abraça com força.

-É por isso que eu nunca quis ter essa conversa, sempre soube que você falaria isso. – ele diz em meu ouvido.

-Desculpa, mas você merece minha sinceridade.

-E agradeço por isso. – ele se afastou um pouco, seus olhos estão marejados e isso me corta o coração, mas sei que é o melhor.

-Se você preferir que eu me afaste, ao menos por um tempo... – dizer aquilo me matou um pouquinho por dentro, mas eu faria o que fosse melhor para ele.

-Não, acima de tudo somos amigos, eu vou ficar bem.

-Tem certeza?

-Absoluta. – ele sorri, mas percebo que ainda está triste e fico com medo das coisas não serem mais as mesmas entre a gente, mas fiz o que era certo e espero que com o tempo tudo se ajeite.

-Bom, então vamos terminar esse cachorro-quente e depois vamos para a reserva, ok? – ele diz claramente querendo encerrar o assunto e respeito seu desejo.

-Tudo bem. – digo e mesmo sem estar mais com fome termino meu cachorro-quente.

Depois voltamos para o carro que está em frente ao cinema e tomamos o rumo de La Push. Um silêncio incômodo nos domina, não sei o que dizer e chego a pensar em falar sobre o que aconteceu com o Jacob, mas logo mudo de idéia, é bem capaz do Embry ficar chateado se souber disso, já que ele sempre disse ser “perigoso” eu ir tentar me aproximar do seu vizinho misterioso.

Inquieta ligo o rádio e por sorte está tocando uma música que eu adoro, começo a cantarolá-la baixinho olhando pela janela do carro e de repente Embry começa a rir. Olho surpresa para ele.

-O que foi?  

-Nada... É que eu tinha me esquecido do quanto você canta mal. – ele diz ainda rindo.

-Não acredito que você disse isso. – resmungo me fingindo de chateada, mas acabo rindo com ele e fico feliz ao ver que apesar de tudo as coisas podem ficar numa boa entre a gente.

A partir de então o resto do caminho foi percorrido com mais tranqüilidade e sem incômodo, sei que os sentimentos do Embry por mim não irão sumir de uma hora para a outra, mas fui sincera com ele e agora ele poderá seguir em frente e quem sabe logo se apaixona por uma garota que o mereça e o faça feliz.

Chegamos em La Push quando está começando a chover e ele me deixa em frente a minha casa.

-Obrigada Embry, eu adorei o filme e preciso mesmo me lembrar de me divertir de vez em quando. – sorrio.

-Está tudo bem, vamos fazer isso mais vezes. – ele diz.

-Ok... E sobre o que conversamos...

-Não... – ele me interrompe. –Não precisamos mais falar sobre isso... Eu vou ficar bem, foi bom termos conversado sinceramente.

-Você é uma das pessoas mais importantes da minha vida. – o abraço com força e como sempre me sinto aconchegada em seus braços.

-Você também é uma das pessoas mais especiais pra mim... E independente de qualquer coisa será sempre assim. – ele diz nos afastando um pouco para olhar em meus olhos.

-Para sempre. – sussurro e sorrimos.

Nos despedimos e corro para dentro de casa fugindo da chuva que começa a apertar. Quando entro Renée está sentada no sofá vendo TV com Gabriel dormindo em seu colo.

-Oi. – sussurro para não acordar o Gabe.

-Oi querida, se divertiu? – ela também sussurra.

-Sim. – digo simplesmente. –Mas estou um pouco cansada, vou dormir, quer que eu coloque o Gabe na cama?

-Sim, obrigada. – ela diz. –Ele está cada vez mais pesado.

Sorrio e pego o Gabriel com cuidado, ele tem o sono bem pesado e apenas se remexe, mas não acorda.

-Depois vou direto para meu quarto dormir. – sussurro e Renée assente.

-Vou logo também, boa noite.

-Boa noite.

Levo o Gabriel para seu quartinho e o ajeito em sua cama. Fico o olhando um pouco e depois de um beijo em sua testa vou para meu quarto, me troco e caio na cama.

O sono logo chega, mas apesar de tudo que aconteceu hoje comigo e o Embry é com o Jacob que eu acabo sonhando.

   *****

Dia seguinte é minha vez de ir fazer as entregas e como é rotina vou por último na casa de Embry e Seth, hoje eles não estão de novo e é Sue quem me atende gentilmente. Mas quando saio da casa dela me viro em direção à casa do Jacob já decidida do que fazer. Depois de sonhar a noite toda com ele acordei com uma ideia fixa na cabeça e me conheço bem o bastante para saber que preciso fazer logo isso ou não terei sossego. Não sei se é uma ideia muito estúpida, se isso o aborrecerá, afinal não sei nada sobre ele e depois de vê-lo só o achei ainda mais misterioso, mas foi uma ideia que tive assim que acordei e não voltarei atrás.

Já vim preparada então vou para a casa dele rapidamente e tiro da cesta a única embalagem que ainda tem ali... A que deixei ali especialmente para ele... É um pedaço do bolo mais famoso da minha mãe e mais delicioso, eu coloquei numa embalagem mais especial, com um pequeno laço e tudo e junto tem um bilhetinho.

Paro na frente da porta da casa dele e respiro fundo olhando mais uma vez para o bilhete que escrevi antes de sair de casa e sem minha mãe perceber. Leio rapidamente o que escrevi...

Jacob, me desculpe se te incomodei ou aborreci no outro dia quando bati em sua porta, não era minha intenção... Espero que esse pedaço de bolo sirva como um pedido de desculpas e alegre seu dia (ele sempre me alegra quando estou triste)...

Bella.

Fiz uma careta, não sei por que escrevi a parte do bolo me alegrar quando estou triste... Aquilo parece tão estúpido, mas agora já é tarde demais.

Chego a pensar em bater na porta, nem que seja ao menos para vê-lo mais uma vez, confesso que estou morrendo de vontade de vê-lo de novo, mas não me sinto tão corajosa assim para isso agora, talvez outro dia... Então apenas deixo a embalagem com o pedaço de bolo e o bilhetinho num banco que tem ali na varanda ao lado da porta, bato na porta insistentemente e bem alto e corro em direção a casa do Embry me escondendo em sua varanda, de um lugar onde eu possa ver o Jacob, mas ele não possa me ver.

Para meu alívio assim que consigo me esconder o Jacob abre a porta de sua casa e sai na varanda... Meu coração está disparado e não só pela pequena corrida que fiz até meu precário esconderijo. Jacob, para minha surpresa, está sem camisa, apenas com uma calça de moletom e mesmo de longe posso ver seu cabelo molhado, provavelmente ele tenha acabado de sair do banho. Observo enquanto ele olha cuidadosamente ao redor e meu coração agora parece que vai pular do meu peito... Deus, acho que vou morrer! Nunca vi músculos tão definidos em toda minha vida. Os braços dele são fortes, o abdômen todo definido, mas de um jeito nada exagerado, pelo contrário, parece natural nele, mesmo estando um pouco longe e escondida consigo ver e apreciar toda sua perfeição.

Jacob olha mais uma vez ao redor até que vê meu presente no banco em sua varanda, ele pega a embalagem cuidadosamente e parece ler o bilhetinho, mas não consigo ver sua expressão porque ele logo entra em sua casa fechando a porta.

Meu coração ainda está batendo muito rápido e acabo rindo de mim mesma... Estou parecendo uma adolescente boba, agindo estupidamente... Mas não me arrependo!

Com cuidado e rapidez saio dali e vou direto pra casa. Durante todo o caminho penso no que Jacob deverá estar achando de tudo aquilo, será que ele comeu o bolo? Ou apenas riu, jogou o bilhetinho fora e está me achando uma menininha idiota agora? E porque eu me importo tanto com isso?

Nunca agi assim, mas estranhamente tenho a sensação de que fiz a coisa certa, talvez ele seja tão isolado porque ninguém tentou realmente se aproximar dele... Talvez agora ele se sinta mais bem-vindo a reserva.

Ainda não sei direito porque fiz aquilo e não tenho ideia do que pode acontecer por causa disso... De repente ele nem ligue e continue em seu enclausuramento... Mas fiz e agora está feito e talvez na próxima vez que eu for até a casa do Embry de novo tenho coragem de tentar falar com o Jacob mais uma vez... Vontade de me aproximar dele, nem que seja só para admirar mais um pouco sua beleza, eu tenho e muito!

   *****

Mais tarde aproveito que não está chovendo nem fazendo frio e levo o Gabriel até uma pracinha pequena que tem perto da praia, enquanto ele brinca com alguns amiguinhos que encontrou por lá eu me sento em um banco perdida em meus pensamentos até que o Seth aparece do nada me surpreendendo e se senta ao meu lado.

-Seth, que susto. – dou risada.

-Foi mal. – ele sorri. –Mas você estava mesmo toda distraída, o que foi?

-Nada. – dou de ombros.

-Embry me disse da conversa de vocês ontem. – ele diz e o olho com mais atenção.

-E como ele está? – pergunto.

-Ele vai ficar bem. – ele diz meio evasivo. –Fiquei feliz de você finalmente ter percebido e falado com ele.

-Sim, tentei me enganar, mas você sempre teve razão e eu precisava ter uma conversa bem franca com ele.

-Vocês vão ficar bem. – ele passa um braço pelos meus ombros e me aconchego nele.

Ficamos conversando sobre outras coisas até que uma mulher que nunca vi antes passa pela pracinha... Ela é muito bonita, morena, alta e sorri para as crianças que brincam ali.

-Essa é a mulher que sempre vai visitar o meu vizinho misterioso. – Seth diz e eu me surpreendo.

-O Jacob?

-Isso, ela está sempre lá.

Olho mais atentamente para a mulher que agora se afasta e está mesmo indo em direção a casa do Jacob... E então antes de conseguir me conter eu já estou falando tudo com o Seth...

-Eu bati na porta do Jacob. – falo.

-Que? Como assim? – ao contrário do Embry que agora com certeza estaria já me dando uma bronca o Seth ri.

-Fui lá oferecer os doces, mas ele não quis. – digo.

-Ele falou numa boa com você?

-Mais ou menos, não foi muito rude ou ignorante, mas também não foi simpático. – dou de ombros. –Mas ele é tão lindo.

Seth ri.

-Ele pode ser lindo, como você diz... – ele revira os olhos. –Mas é muito estranho, não sai de casa nunca.

-Ele deve ter seus motivos, não sei por que, mas notei certeza tristeza nele. – murmuro e depois digo rapidamente o que fiz mais cedo.

-Ah meu Deus, você é doida Bella, deixou até um bilhetinho? – Seth não consegue parar de rir.

-Não fala assim. – apesar de um pouco envergonhada acabo rindo com ele.

-Ok, você nunca tinha agido como uma adolescente bobinha antes, tudo tem sua primeira vez.

-Seth. – bato em seu ombro, mas ele sorri.

-Agora falando sério, você ficou toda apaixonada por ele?

-Não. – digo rápido demais e ele ergue uma sobrancelha. –Não é nada disso, só fiquei curiosa... Porque um homem tão jovem e lindo como ele vive isolado desse jeito? E quem será essa mulher que vai visitá-lo, acho que eles se parecem um pouco, talvez sejam parentes.

-Não faço nem ideia. – ele diz e me olha um pouco mais seriamente. –Olha, eu não acho que esse cara seja um louco ou criminoso como alguns por aqui dizem, ele tem todo o direito de viver isolado ou como quiser, mas também não sei se é uma boa ideia você ficar se aproximando assim dele.

-É só curiosidade. – sussurro, mas começo a perceber que está se tornando mais do que isso. –De qualquer forma não comenta nada com ninguém ok? Muito menos com o Embry.

-Pode deixar. – ele pisca e sorri, mas o Gabriel o vê ali e grita por ele chamando para ir jogar futebol com seus amiguinhos e Seth vai me deixando sozinha e cada vez mais perdida em meus pensamentos sobre o Jacob.