O lugar era escuro, úmido, fétido. A morte impregnada em cada canto da sala.

Quanto tempo estava ali? Uma semana... um mês... mais? Realmente não fazia ideia.

O corpo estava dolorido dos abusos ao qual sofreu. Sempre, sempre no meio da noite... ou seria da manhã? Quem sabe no meio da tarde? Há tempos não via o sol. Não saberia dizer em que dia estavam, que horas eram... não sabia sequer se estavam no mesmo ano.

Não se lembrava muito bem dos detalhes. Lembrava-se que saíra de casa para caminhar durante a manhã. Fez questão de ir sozinha. Lembrava-se de ouvir um barulho, então... nada. Acordara naquele lugar.

Pensara em seus pais, seus irmãos... Deviam estar preocupados com ela, procurando-a.

Ouviu a porta sendo aberta.

Um calafrio percorreu sua espinha. Sentiu medo, como sempre sentia quando ele aparecia. Medo... Nojo de suas mãos percorrendo seu corpo enquanto ela lhe implorava que parasse. Seu corpo estava gélido, o coração batia descompassado. Sentiu ainda mais medo ao ver o que ele trazia em uma de suas mãos — uma foice, o instrumento da morte.

— Chegou sua hora, meu bem. — disse o homem com a voz arrastada, grave.

Era a primeira vez que ouvia sua voz.

O homem acendeu uma vela. A claridade repentina incomodou seus olhos, mas logo se acostumaram.

Olhou o homem a sua frente.

Ele vestia-se inteiramente de negro. A pele era pálida, as expressões cadavéricas. A claridade das chamas que dançavam entre os dois davam-lhe uma aparência ainda mais fantasmagórica.

Ele ergueu a foice acima de sua cabeça. Sorriu malevolamente. Seu longo cabelo negro caiu em seu rosto, escondendo seus olhos vermelho-sangue.

— Agora você morre, querida. — disse ele.

Ele desceu a foice em sua direção.

Ela sabia que morreria.

Sentiu a lâmina fria em sua pele, então... acordou.