Porque Nada é tão Fácil escrita por CuteMari


Capítulo 30
Definição de Desespero




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     Então, quando me agarrei ao peito de Filipe, enfiando minhas unhas em suas costas, o tempo voltou a correr normalmente. Depois de sentir a bala perfurar vários tecidos e parar na minha caixa toráxica só pude pensar em outras poucas coisas.  

     Cheguei a conclusão que de um tiro certeiro só é possível processar 3 sensações: O som forte, ensurdecedor e apavorante do disparo; A visão de um clarão rapidamente seguida da escuridão crescente que leva à inconsciência; e por fim, a dor. Essa que merece uma atenção especial. A dor ardente, insuportável, incessante, ignorante que eu nunca sentirei igual.

      Não enxergava mais nada a minha volta, nem ouvia os gritos desesperados de Filipe. Já não sentia mais chuva cair delicadamente pelo meu rosto e escorrer até o chão da rua. Luzes passavam pelos meus olhos e eu ouvia barulhos dos quais nada entendia. Minha visão eram apenas borrões, como se eu enxergasse através de um vidro embaçado. Então, senti um calor perto de meu ombro:

      - Vai ficar tudo bem, Jenn. - Sussurrou alguém perto de meus ouvidos com hálito fresco e voz tranquilizante. Tentei me virar para ver quem era, mas não conseguia. - Não se mexa, sou eu. -Disse novamente a voz.

      Então, eu tive quase certeza de que estava delirando, podia sentir que alguém, no meio de toda aquela confusão afagava meus cabelos e me tranquilizava. Senti as batidas aceleradas do meu coraçãodiminuirem vagarosamente e meus olhos se fechavam como se eu estivesse prestes a cair no sono. Então eu vi que quem me segurava em seu colo era a senhora, era meu anjo. Eu podia sentir sua áurea de bondade e beleza. Fechei por fim meus olhos em agradecimento me entregando ao que quer que acontecesse. Talvez fosse agora que minha vida acabasse, no chão, afogada em volta de meu próprio sangue.

      - Jenn!!! - E o grito desesperado de Filipe foi o último e único som que eu pude ouvir.

 

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     - Jenn!!! - Gritei desesperado, quando vi que ela desistia da vida e fechava seus olhos. Se não fosse por sua respiração regular teria certeza de que já estava morta. Mas se ninguém fizesse nada logo, esse realmente seria seu destino.

     Já havia se juntado uma pequena multidão em volta de nós. A polícia e a ambulância já tinham sido chamadas, mas eu não aguentava esperar, eu precisava fazer alguma coisa. Uma enfermeira que apareceu havia mandado todos ficarem longe, não deixou que ninguém encostasse em Jenn pois poderia ser pior. Do outro lado, um homem grande segurava Luís, que havia simplesmente ficado paralizado depois de atingir Jenn. Então, quando nossos olhares se encontraram sua expressão se contraiu em pânico. Ele se debateu mais uma vez e escapou dos braços do homem, largando a arma no chão e correndo para o outro lado da rua.

     Nem consegui pensar, apenas disparei correndo para tentar alcançá-lo. Mas então o homem que há pouco o segurava, me agarrou por trás, me imobilizando.

     - Não faça nenhuma besteira filho. - Disse ele, me tranquilizando e soltando o aperto. Logo depois que vi Luís sumir por uma das esquinas me soltei de joelhos nos chãos, sedendo as lágrimas que já queria sair fazia muito tempo.

     Então ouvi a ambulância logo atrás de mim, afastando todos os outros curiosos e carregando Jenn. Me abracei, totalmente desesperado, e comecei a rezar para que tudo ficasse bem até que alguém me arrastasse dali.


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