Faltavam apenas 2 semanas para minha vida voltar ao normal. Depois de 4 longos meses, finalmente voltaria para casa.

Havia saído da aula há pouco tempo e caminhava na rua tranquilamente. Avistei uma garota de longos cabelos pretos e cacheados, e me lembrei de Carol, uma amiga do Brasil.

Costumava reclamar muito por morar lá. Mas depois desse tempo ali, passei a dar mais valor àquele lugar. No fim das contas, o Brasil era até legal.

Confesso que, se meus amigos estivessem comigo no Canadá, esse lugar pareceria bom.

Passei por uma loja de donnut's e entrei para comprar um. Uma coisa da qual eu iria sentir falta, eram os donnut's. Que rosquinha viciante!

– Il me fait anglais. – Ouvi uma menina dizer atrás de mim, na fila.

– Il est beau. – Uma outra disse.

– Brésilien. – A primeira garota falou. – Son nom est Pedro.

– Et vous voulez l'embrasser. – A outra falou rindo.

– Oui... Ce ne serait pas une mauvaise idée. – Mais risinhos.

Me irritei com aquilo, mas estava ficando divertido. Torci para que dissessem algo mais comprometedor. E disseram.

– Il a un cul chaud. – A segunta garota falou e arrancou uma risadinha da primeira.

Ingênuas. Pensavam , provavelmente, que só porque eu era um brasileiro que fazia inglês (lembrem-se: fazia inglês já sabendo falar inglês), eu não entendia o que diziam.

– Misses. – Falei me virando. – Pourrait laisser mon cul toute seule? – Elas se encaram assustadas e saíram da fila totalmente constrangidas. Não pude não rir.

Peguei meu donnut e saí da loja comendo até que cheguei em casa.

Fui direto para o meu quarto e peguei o notebook. Uma hora daquelas, acredito que as meninas estariam online.

Fiz o login e logo fui falar com Rafa:

– Hey!

– FONTEEE – Ela digitou. – Eu posso pedir sua web?

– Claro. – Recebi o convite e aceitei. Ela estava num quarto e ao seu lado estava Carol. – Oiiiii! – Gritei.

– Fonte, que saudade! – Carol disse.

– Também... Muitas, muitas saudades. – Falei.

– Então, como foi o seu dia? – Rafa perguntou. Me lembrei da cena na loja de donnut's e contei para elas.

Muitas e altas gargalhadas rolavam entre nós. Eu sentia falta da diversão fluindo livremente em mim.

– Ah! – Rafa chamou minha atenção. – A gente conheceu uma menina hoje.

– É mesmo! – Carol disse. – Eu me joguei em cima dela. – Ri e elas me contaram os fatos.

– Tem também um garoto chamado James. – Rafa disse. – Ele é legal.

–Tem um professor muito tenso... Ele usa um topete que parece um par de chifres. – Carol falou e nós rimos.

– Nada bate os meus colegas de turma. Hoje nós fomor para a Nigara Falls e um guri da Croácia começou a falar que uma queda d'água ali conseguia matar a sede de não sei quantas milhões de pessoas. A gente ficou mais molhado que o Jack Sparrow nos três filmes todos juntos. Provei uns vinhos e... Ah... Nem fiz muita coisa. – Continuamos conversando durante algum tempo, mas depois tive de desligar.

Hora do jantar, camemos um daqueles pratos típicos que nunca soube o nome, assistimos um pouco de TV e depois joguei Call Of Duty com Deniel, o filho do casal dono da casa.

Ficamos lá até umas duas da manhã, quando fui dormir.

Uma coisa que nunca levei em consideração foi a possível zoação com o fanatismo de Carol por Scott Pilgrim. Se eu dissesse "durmo todos os dias em Toronto e conheço uma menina com o cabelo da Ramona" ela provavelmente piraria.

Já Rafa só piraria se eu dissesse "fui à uma loja onde só vendem waffles". Ela era a pessoa mais Zacky que eu conhecia. Claro, só na hora de comer, porque eu nunca soube muito bem para onde iam as toneladas de alimento que ela ingeria.

Com esse último pensamento, caí no sono.

E que pena cair num sono tão pesado. Se tivesse sido mais leve, não teria me atrasado no outro dia...