Perdida Em Seu Olhar - (Finalizada) escrita por Eu-Pamy


Capítulo 19
Capítulo dezoito - Um dia para se esquecer.


Notas iniciais do capítulo

Eu gosto muito desse capítulo...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/252608/chapter/19

Capítulo dezoito.   – Um dia para se esquecer.

15/01/2000

Eu estava deitada no sofá, assistindo televisão, devidamente protegida do frio pelos meus dois cobertores, luvas e meias. Era domingo, e não estava passando nada de interessante na TV. O Lucas estava sentado na poltrona, fazendo o seu dever de casa em silêncio, quando a campainha tocou.

- Deixa que eu vejo quem é. – Ele disse se levantando, antes que eu pudesse fazer menção de me levantar.

Perguntei para mim mesma quem poderia ser ás nove horas da manhã de domingo. Provavelmente, deveria ser o carteiro, testemunha de Jeová, ou alguém querendo vender redes.

- Ela está sim, mas quem quer saber? – Escutei a sua voz dizer, mas não olhei para saber com quem ele estava falando. Ele parecia um pouco nervoso, o que estranhei. – Eu não sei se ela quer falar com você. – O menino disse alguns segundos depois; ainda mais aborrecido. – Tudo bem, espere ai. – Escutei seus passos se aproximando de mim. Olhei para ele. Sua expressão não era boa.

- Quem é? – Perguntei preocupada, me sentando no sofá.

Ele suspirou.

- O seu ex-marido. – Disse com a voz arrastada. – Eu falei para ele que você não queria vê-lo, mas ele insistiu. 

Meus olhos de arregalaram.

- O Rogério está aqui? – Ele assentiu. – Mas o que ele quer?

- Disse que quer conversar com você... – Ele olhou para a porta – Quer que eu o mande embora?

Meu olhar seguiu o dele, mas eu não vi ninguém. Refleti por um longo momento.

- Não... Acho melhor eu mesma falar com ele. – Passei a mão em meus cabelos, tentando ajeitá-los, e em seguida levantei, seguindo até a porta. Minhas mãos começaram a tremer, não sei se pelo frio ou de nervosismo. – O que você pensa que...? – Parei de falar quando nossos olhares se encontraram. Lá estava ele, o único homem que amei em toda a minha vida, meu ex-marido. Eu não sabia ao certo quanto tempo fazia desde a última vez que nos encontramos, mas ele não havia mudado nada, nem um fio sequer de cabelo. Rogério era e sempre será, o tipo de homem que despensa apresentações. Dono de uma beleza exótica, ele se transformara com o passar dos anos, em um imã para as mulheres. Lembro-me da minha felicidade no dia do nosso casamento,  olhando para aquele Deus vestido de smoking me esperando no altar. Seus olhos, seus cabelos, seu corpo... Tudo pelo qual um dia me vi completamente apaixonada, bem ali, na minha frente. Eu queria abraçá-lo, queria beijá-lo e queria matá-lo. Desde que o flagrei com outra mulher, evitei encontrá-lo a todo custo, porque sabia qual seria a minha reação. – Espero que você tenha um bom motivo para vir até aqui, na minha casa, depois de tudo o que me fez. – Ele me olhou com seus olhos verdes, e respirou fundo.

- Eu... – Uma pausa. – Será que você não pode me convidar para entrar? Eu estou congelando aqui fora... 

Meio que a contra gosto, dei passagem para que ele entrasse, fechando a porta logo depois.

- Espero que você não pense que é bem vindo aqui, porque você não é. Vou te dar apenas alguns minutos, porque estou de bom humor. Considere-se sortudo por eu não chamar a policia para você.              

Ele engoliu em seco.

Caminhamos até a sala. O Lucas estava em pé, e notei seu olhar penetrante para Rogério quando o viu.

- Eu só preciso de alguns minutos mesmo. – Disse Rogério. Ele encarou o menino com curiosidade. – Quem é ele? – Perguntou para mim. Eu sabia o que ele estava pensando. “Oh, meu Deus, então agora você virou babá de crianças?”

 - Eu me chamo Lucas. – Ele próprio respondeu. Rogério olhou para ele.

– Oh. Bom, e eu me chamo Rogério. Prazer em conhecê-lo, Lucas. – Esticou a mão para cumprimentá-lo, mas o menino não apertou a sua mão, apenas fuzilando-o com o olhar, como se a sua frente houvesse um terrorista.

- Eu sei quem você é. – Lucas respondeu, zangado.

Rogério ficou envergonhado e trouxe novamente a mão para perto do corpo. Olhou-me.

- Você adotou esse menino?

- Não te interessa Rogério. – Respondi seca.

Ele olhou para o chão.

- É, acho que não. – Suspirou. – Mas será que poderíamos conversar a sós? O que eu tenho para te dizer é... importante.       

Senti meu coração acelerar.

- Tudo bem. – Respirei fundo. – Lucas, por favor, nos deixe a sós por um instante. – Ele não respondeu, apenas continuava a encarar o Rogério sem se mexer, como uma cobra que se prepara para dar o bote na sua presa. Esse pensamento me vez arrepiar. – Lucas... – Ele não reagiu. – Lucas... – Chamei pela terceira vez. Ele olhou para mim, sem entender. – Você poderia nos das licença por um momento? – Seus olhos ficaram sem vida. – Por favor. – Ele suspirou, encarou o Rogério mais uma vez e se virou. – Obrigada. – Falei enquanto ele subia as escadas. O Rogério encarava o menino com um sorriso no rosto.

- Um pouco temperamental esse menino, não é? – Perguntou, mas quando olhou para mim, seu rosto ficou sério. – Imagino que você ainda esteja nervosa comigo.

Joguei meu corpo no sofá, desmoronando.

- E como é que você queria que eu estivesse? – Minha voz estava chorosa. Escondi meu rosto em minhas mãos. 

Eu evitei me encontrar com ele, porque sabia que perto dele, eu ficava fraca. Com um olhar triste, ele se sentou no outro sofá.

- Eu não sei. Mas tinha esperanças que...

- Que eu tivesse esquecido? – Perguntei, encarando-o. Ele deu de ombros.

- Acho que sim. – Ele olhou para os lados. – Gostei do que você fez com a casa... Ficou bonita. – Sua voz não tinha emoção.

- Eu não tenho dinheiro para comprar coisa melhor. – Falei, também avaliando o local.

Ele passou a mão pelos cabelos molhados.

- Não tem porque é uma teimosa. Eu disse que podia te ajudar.

- Eu não quero o seu dinheiro.

Ele sorriu.

- Eu sei.

Ficamos em silêncio.

- Como é que você conseguiu o meu endereço?

Ele coçou a sobrancelha.

- Seu advogado me passou.

- Ele o que?! – Perguntei descrente. Isso não era contra a lei ou coisa parecida? – Quanto foi que você pagou para ele? – A pergunta não o ofendeu.

- Não muito. - Bufei. Queria matar aquele advogado. Houve mais alguns segundos de silêncio. – Você está bonita, muito bonita na verdade.

- Obrigado. – Eu podia sentir a tensão ao nosso redor, mas não podia negar que conversar com ele não era ruim. Apesar de tudo, no fundo, ele ainda era o homem por quem um dia eu fui apaixonada e quis ter filhos. O problema era que quando olhava para ele, tudo o que eu via e sentia, era a traição. – Você também não está ruim. – Ele sorriu de lado.

- Eu estou com saudade de você. – Eu podia sentir a sinceridade daquela afirmação na sua voz. Eu não respondi. – Todas as noites... Todos os dias. Você não imagina o quanto eu me arrependo de ter feito o que eu fiz... – Suspirou – Se eu pudesse voltar no tempo...

- Mas você não pode. – Falei, olhando para o teto.

- Eu sei. Mesmo assim, eu me arrependo. Eu tinha tantos planos para nós dois... – Senti meus olhos umedecerem e a minha respiração começar a ficar pesada. – Você era tudo para mim.

- Então porque você me traiu? – Fiz a pergunta que eu sempre quis fazer para ele. Eu queria o motivo, precisava do motivo.

- Eu... Eu não sei. – Olhei para o chão, não era aquilo que eu queria ouvir. – Mas a culpa não é sua, nunca foi. – O comentário me fez sorrir melancólica.

- Você me traiu Rogério, não importa se a culpa é minha ou não, você me traiu. – Dei de ombros.

- Não diz isso.

- Mas é verdade.

- Mas não diga desse jeito... Você não é assim. A Susan que eu conhecia jamais diria algo assim.  

- Mas eu não sou mais a Susan que você conhecia. Eu mudei. As pessoas mudam, sabe... Ás vezes para pior, ás vezes para melhor, mas elas mudam.

- Eu não queria que tivesse sido daquele jeito... Eu não queria te fazer sofrer.

- Mas você fez. – Olhei para ele, uma lágrima escorrendo dos meus olhos. Seus olhos se fecharam, e ele abaixou a cabeça. Eu jamais havia visto ele daquele jeito, tão... mortificado. Rogério era o tipo de pessoa que nunca se arrependia dos seus atos, e agora estava ali, arrependido. Talvez seja verdade mesmo, as pessoas mudam.

- Eu te amo Susan. Eu te amo tanto... – As palavras saíram sofridas, por causa do começo do choro. Aquilo machucou o meu coração. Ele só havia me dito isso duas vezes, no nosso casamento e quando eu disse para ele que não estava grávida.

Respirei fundo.

- Mas eu não. – Ele olhou para mim. – Eu achava que sim, mas agora eu sei que não. Eu não te amo. – Aquilo pareceu machucá-lo de uma forma sem precedentes, seu rosto se contorceu em ódio, desespero e tristeza de tal forma, que eu quase não o reconheci.

- Não diz isso... – Implorou, sorrindo desesperado. Meu coração acelerou.

- Desculpa, mas é a verdade. Eu não te amo mais.

- Por favor, Susan... Por favor, não diz isso... – Seus olhos estavam vermelhos. – Nós dois sabemos que não é verdade... Nós dois nos amamos. Por favor, eu sei que eu errei, e estou aqui tentando consertar esse erro, mas não diga isso, por favor, eu sei que você está nervosa... Mas não faz isso comigo.

- Eu não te amo Rogério, essa é a verdade. Jamais diria isso só para te machucar...

- É MENTIRA! – Ele se levantou e voou para cima de mim, me agarrando pelos braços com força.

- Me solta!

- Você me ama sim! Você é louca por mim! Tudo isso que está acontecendo com a gente é só uma fase ruim! Vai passar, você vai me perdoar e vai voltar a me amar! Logo, tudo vai voltar ao normal! Eu sei disso! Você é louca por mim, sempre foi! 

- EU NÃO SOU NÃO!

Seu rosto se contorceu novamente, lágrimas caiando dos seus olhos.

- É mentira... – Sussurrou, negando para si mesmo como um louco. – E eu vou mostrar como é mentira.

Com força, ele tomou meus lábios para si, me beijando como se a sua vida dependesse daquele beijo. Nojo e medo tomaram o meu ser. Tentei afastá-lo, mas ele era forte demais. Ainda com os olhos abertos, vi a criança assustada descer as escadas e correr na nossa direção, com toda a sua força, ele começou a bater no maior e meu coração quase se partiu nessa hora. Tudo aconteceu muito rápido. Como um psicopata, Rogério separou nossos lábios, jogou meu corpo com brutalidade contra o sofá, se virou contra o menino e esmurrou seu rosto, fazendo-o cair com força contra o chão, desacordado. Gritei desesperada, chorando alto, e só então ele pareceu retomar a sanidade. Seus olhos avaliaram aquela cena de horror, mirando primeiro eu, depois a criança jogada no chão, e por último as próprias mãos. Joguei meu corpo contra o chão, agarrando o garoto. Seus olhos se abriram lentamente.

- Me desculpa... – Disse Rogério, desesperado.

Olhei para ele, lançando-o um olhar mortal. Sua expressão era apenas dor e arrependimento.

- SAIA DAQUI! – Gritei. – SAIA ANTES QUE EU CHAME A POLICIA!

- Eu não queria...

- SAIA DAQUI! – Berrei em meio aos soluços. Ainda em choque, ele se virou e correu para a saída, encarei o menino no meu colo. – Está tudo bem... – Sussurrei. Minhas mãos foram para o seu rosto, onde a marca da mão do maior não deixava  dúvidas da agressão. Ele olhava para mim, sem esbanjar qualquer reação. – Tudo bem... Está tudo bem... – Falei, acalmando ele e eu.

- Está tudo bem com você? – Perguntou com a voz esganiçada. Sorri desolada.

- Não se preocupe comigo, querido. Não se preocupe comigo.        

   


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perdida Em Seu Olhar - (Finalizada)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.