The Colt escrita por DetRood, Crica


Capítulo 6
Capítulo 6




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Como eu ia dizendo, Hellen nos deu uma idéia de seu plano para nossa fuga e disse que poderíamos dormir naquele quarto até a hora adequada de darmos o fora.

Meu estômago estava colando nas costas e meu irmão, coitado, estava quase sem cor, pela inanição. Não tínhamos comido nada desde a manhã no século XXI. Não seria fácil dormir com tanta fome.

Dean se atirou na cama e ficou ali, fitando o teto, depois que as mulheres saíram.

Eu me ajeitei na cadeira estofada que havia num canto e debrucei sobre a mesa redonda à minha frente. Estava exausto.

Ainda estava escuro quando Madison entrou no quarto, trazendo uma cesta. Acordamos os dois sobressaltados. Não costumávamos dormir ao mesmo tempo em situações de risco, mas acabei pegando no sono durante o meu turno de vigia.

Engolimos o café da manhã trazido pela garota e trocamos rapidamente nossas roupas pelas que estavam num embrulho, sobre a cama. Segundo Hellen havia dito, não teríamos muito tempo e precisávamos ser bastante discretos porque Carl Wilson podia ter muitos defeitos, mas burrice não era um deles.

Saímos pela porta dos fundos e subimos num carroção. Os caras do bar colocaram várias trouxas de roupas sobre nós. Madison e uma outra ‘funcionária’ tomaram seus lugares à frente, com o cocheiro. Aquele baixinho bigodudo, cheio de marra, lembram?

Por baixo de todas aquelas trouxas, não podíamos ver nada. Pouco ouvíamos além do ranger das rodas e do som dos cascos dos cavalos. Não sei como não sufocamos ali.

Alguns minutos mais tarde, sentimos a carroça mudando de direção, alcançando um caminho um pouco mais tortuoso. Sacudíamos de um lado para outro, o tempo inteiro. Estava ficando meio enjoado a essa altura.

Finalmente paramos. Percebemos o ruído que parecia água corrente.

Um breve silêncio se fez e o baixinho folgado apareceu por entre os lençóis sujos e rosnou algo que não pudemos compreender, mas que Madison traduziu, imediatamente.

_ Bem, estamos aqui.- Ela estendeu-me um pequeno rolo de notas presas por um elástico _ Hellen pediu que entregasse isso. Vai ajudar na cidade.- apontou a direção de uma colina que seguia o curso do rio – Só podemos vir até aqui, sem levantar suspeitas. Se seguirem por ali, chegarão ao rancho de Eliah antes do amanhecer. Ele os está esperando com cavalos e suprimentos.

_ Obrigado. – Agradeci, meio paralisado com a intensidade daquele olhar amendoado. Que olhos maravilhosos tinha aquela garota... Está bem, está bem... Ela era toda maravilhosa e eu estava mesmo babando.

Mas voltemos ao que interessa!

As moças e o sujeitinho voltaram para a carroça e seguiram na direção oposta, deixando a mim e a meu irmão para trás.

Tomamos o rumo indicado e apertamos o passo. Se o xerife estava assim tão interessado em nós, assim que amanhecesse colocaria a patrulha na nossa cola outra vez. Não havia tempo a perder.

_ Essas malditas botas estão me matando! – Eu não estava preparado para uma marcha acelerada com aquelas botas que mais pareciam feitas de concreto. Sem falar naquele bico fino e naqueles saltos quadrados de madeira. Oh, Deus... Agora eu entendo o que as mulheres passam. _ Vou ficar cheio de bolhas!

_ Deixa de ser mulherzinha, Sammy. Suas botas combinam perfeitamente com esse seu terninho simpático. Só está meio curto, não é, mano? E essa gravatinha de lacinho... Cara, não poderia ser mais gay. A sua cara!

_ Cala a boca, Dean, e anda!

O senso de humor do meu irmão é algo enlouquecedor, principalmente quando se está com a cabeça à prêmio, fugindo pelo meio do mato num fim de mundo, 170 anos antes de ter nascido. Mas esses são só detalhes...

Avistamos luzes em meio à escuridão e, felizmente, eram da cabana de Eliah Stein. Quase corremos, quando percebemos os contornos da construção.

Dois cães latiram e correram em nossa direção. Paramos imediatamente e aguardamos. Não que fossem cães enormes, mas não pareciam muito amigáveis e, como sabem, cães costumam ter a boca lotada de presas que podem fazer um estrago. Melhor não abusar.

Uma voz conhecida chamou os animais de volta para que nos aproximássemos.

Eliah apareceu com um lampião nas mãos e sinalizou para que o seguíssemos.

Entramos no celeiro e lá, estavam dois cavalos selados. O ferreiro entregou-nos um alforje, um mapa e dois cantis.

O homem pareceu intrigado quando nós dois encaramos o meio de transporte que nos era oferecido, meio sem jeito. Olhou-nos com estranheza e, depois de alguns segundos, concluiu o óbvio.

_ Vai me dizer que vocês não sabem montar?!

_ Nunca precisamos. – respondi.

_ Onde vocês, idiotas, viviam? Na Lua???

_ Você não vai querer saber.- Dean cocou o queixo, examinando a montaria a uma certa distância. Eu sabia perfeitamente o que aquele olhar significava: encrenca! _ Mas tudo tem a primeira vez, não é, maninho?

_ Então tratem de montar os animais e dar o fora daqui porque já vai amanhecer.

_ Vamos lá, Sammy, mostre a que veio! – Dean levou as mãos à cintura e me encarou num tom de desafio. Preciso lembrá-lo de que não tenho mais 10 anos.

_ Posso saber porque EU tenho que ir primeiro?

_ Porque você é o mais inteligente.

_ E o que isso tem a ver com o caso aqui?

_ O cavalo não é burro, então, vocês devem se entender e é provável que ele não te derrube. Aí, o outro bicho aqui vai ficar mais relaxado pra eu montá-lo.

_ De onde você tira tanta idiotice, cara? –Lembram do que eu disse sobre o senso de humor? Pois é. O meu estava mais pra baixo que as patas daqueles cavalos.

_ Certo. Então, pra encerrar o assunto, você monta primeiro por que eu sou o mais velho e estou mandando.

_ Agora mesmo é que não vai rolar!

_ Olhem aqui, vocês dois, bebezinhos: Não tenho nenhuma paciência para essas disputas fraternais e não estou disposto a ser apanhado dando fuga a dois criminosos procurados, então tratem de montar logo.- Não tinha reparada como Eliah estava vermelho. Ele batia o salto da bota no chão, irritado _ E se não sabem como, basta dizer!

_ Não deve ser grande coisa. – Dean ainda ia se arrepender de ter aberto a boca.

_ Andem: Os dois pra perto dos cavalos! Pelo lado esquerdo! – Stein esfregava o rosto, em sinal de reprovação à nossa total ignorância no manejo dos bichos _ Agora segurem no apoio da cela com a mão esquerda, apóiem o pé esquerdo no estribo e impulsionem o corpo para cima.

Não foi tão difícil quanto imaginei. Igualzinho aos filmes de Bang-bang.

Mais difícil foi sair do lugar. Sacudimos as rédeas, fizemos toda espécie de sons pra chamar a atenção dos animais e nada. Mais uma vez, Eliah trouxe a solução. Pressionamos os calcanhares contra a barriga dos cavalos e eles, imediatamente, começaram a andar para fora do celeiro.

Sinceramente, cavalos deveriam vir com manuais de instrução.

Diante da nossa visível falta de intimidade com a montaria, o ferreiro resolveu seguir conosco, pelo menos, parte do caminho. Não podíamos perder mais tempo e uma aula sobre cavalgadas estava longe do possível naquele momento. Íamos deixar a teoria e passar direto ao estágio probatório.

Tínhamos nos afastado um bom par de quilômetros quando o sol apareceu completamente.

Estávamos começando a nos acostumar com as rédeas e os pequenos sinais que orientavam os animais no caminho a seguir. Depois que você pega o jeito, até que é bem fácil. Ruim é a sela se chocando ao traseiro.

_ Vamos acelerar os animais. – Eliah ordenou.

_ Você quer que a gente galope? – Fiquei muito preocupado.

_ Não, princesa, quero te levar pra ver o sol nascer. É lógico que é para galopar! Wilson vai xeretar pela cidade e não vai demorar até alguém dizer que vocês estavam atrás de Colt.

_ E colocar a patrulha na direção de Hartford. – Dean concluiu o pensamento de Stein _ Coloca o cinto de segurança e pisa fundo garoto!

Os cavalos dispararam quando colocamos mais pressão nos calcanhares e sacudimos as rédeas energicamente. Precisávamos colocar uma boa distância entre nós e o xerife para ganharmos tempo e podermos encontrar Samuel Colt.

Galopamos o dia inteiro, só parando perto de um riacho para dar água aos animais.

Seguimos pela estrada de Hartford por toda a tarde, em ritmo acelerado.

Minhas costas estavam me matando e, pela expressão no rosto de meu irmão, a situação não era muito diferente com ele.

Paramos num bosque que ficava bem próximo à entrada da cidade.

Segundo Eliah, seria mais prudente entrarmos em Hartford depois do anoitecer, porque a essa altura, o xerife Wilson já teria enviado um mensageiro com o alerta sobre nós à todas as cidades vizinhas e, assim que puséssemos os pés lá, o delegado notificaria a delegacia de New Haven e nos trancafiaria a sete chaves.

A parada veio bem a calhar. Quando desmontei, sentia como se um fogareiro estivesse aceso entre as minhas pernas e reparei que as pernas de meu irmão nunca estiveram tão arcadas.

_ Essa porra dessa calça está acabando comigo, Sammy – Dean puxava o tecido grosso do jeans para baixo _ Acho que qualquer chance de perpetuar a família ficou esmagada entre essa merda de pano e aquela maldita sela.

_ Nem me diga... – Me joguei sobre a grama e estiquei o corpo, aliviando o peso das costas .

_ Nunca vi homens mais frouxos que vocês dois. – Não percebemos a aproximação do ferreiro. Ele acariciava o cavalo negro amarrado ao tronco de uma das árvores _ Não sei do que tanto reclamam. São excelentes corcéis.

_ Pois eu prefiro Chevrolet.- Tive que rir da associação de meu irmão.

_ O que???

_ Nada. Esquece. Só estava pensando alto.- Dean deitou-se sob a copa da árvore, aproveitando a sombra e dobrou os braços para trás, apoiando a cabeça neles _ Ai, que saudade da minha garota... 275 cavalos de conforto e boa música...

_ Sua namorada tem 275 cavalos? – o homem se espantou _ Deve ser uma moça muito rica.

Não deu pra segurar a gargalhada nessa hora, né?

_ Do que os dois palhaços estão rindo? Não vejo graça nenhuma. E você não deve ser muito competente, porque, um sujeito que tem uma garota dona de 275 cavalos e tem que tomar um emprestado, não deve mesmo ser muito eficiente! – Dean fechou a cara, mas eu rolei no chão. O problema na comunicação era uma diversão!

***

As primeiras estrelas brilhavam no céu quando Dean voltou do mato, trazendo um coelho pelas orelhas, que atirou em minha direção.

_ O que você pensa que está fazendo, engraçadinho? – Aquele bicho fedia!

_ Eu cacei. Você cozinha.

_ E eu preparei a fogueira – Eliah afirmou, respondendo ao meu olhar suplicante _ Quem não trabalha, não come, garoto – Me atirou o facão, que agarrei no ar_ Vamos comer e,assim que a diligência passar, seguiremos em frente.

_ E quando isso vai acontecer? – Dean perguntou, sentando-se junto à fogueira, verificando a munição do revólver que Stein tinha-lhe dado.

_ No máximo, uma hora. As pessoas voltam para casa assim que a diligência deixa os passageiros e segue viagem. Daí, poderemos transitar pela cidade com mais segurança, sem tanto movimento.

_ Espero que Samuel Colt ainda esteja em Hartfod – meu irmão olhava dentro do fogo, pensativo – Não temos muito tempo.

_ Podemos ir direto à casa de Morse. Eles andam juntos e vez por outra, fazem umas demolições aqui e ali para arrumar algum dinheiro.

_ Por que Colt não vende suas armas? Ele não é bom nisso? – Sabia, pela pesquisa de Dean, que Colt, em 1838 já tinha registrado várias patentes de uma série de modelos de revólveres e espingardas.

_ Acho que é pelo jeito dele. Ninguém o leva muito a sério.

_ E que jeito seria esse? – Percebi o interesse de meu irmão na conversa.

_ Samuel Colt é um sujeito esquisito, calado, vive isolado do resto da cidade, principalmente depois que perderam a fazenda e fez aquelas viagens. Mas tenho que admitir que é inteligente. Está sempre inventando coisas. Se alguém, algum dia, der crédito às suas invenções, é provável que acabe ficando rico.

_ Bem, vamos provar a gororoba que o Sammy preparou e voltar à estrada, certo? – Dean guardou a arma no coldre e sorriu para nós. Eu sabia muito bem que aquele não era um sorriso de satisfação. Conheço meu irmão.

Comemos o bendito coelho que foi assado sobre a fogueira. Até que estava bom, se considerarmos que eu só tinha um punhado de sal para trabalhar. O que não faz a fome...

Apagamos a fogueira e montamos novamente, ao ouvirmos o galope dos cavalos que puxavam a diligência. Ela passou por nós em disparada e, nesse momento, Eliah colocou no rosto uma expressão aborrecida e voltou o rosto para o lado. Apontou, em meio à noite, um cavaleiro solitário que seguia a carruagem.

O que isso tinha demais? Além do fato de ser um possível assaltante? O cara no cavalo estava brilhando. Reluzindo. É. Tinha uma aura amarelada ao redor de todo o corpo e do cavalo também. Se já não tivesse visto um tanto de coisas assustadoras, poderia dizer que aquela visão era a mais estranha que presenciara em toda a minha vida.

Eliah tomou as rédeas de seu corcel e partiu atrás do meliante reluzente.

É claro que eu e Dean fomos atrás dele.

Certo. Não depois de xingarmos um sonoro ‘puta que o pariu!’

Rapidamente alcançamos nosso companheiro, o ferreiro, e emparelhamos com a criatura que perseguia a diligência.

Stein gritou com o sujeito e apontou sua arma para ele. Nós fizemos o mesmo, apesar de já termos uma vaga noção de que atirar naquilo não resolveria o problema.

O cavaleiro gargalhou alto quando percebeu nossa disposição em alvejá-lo e acelerou o ritmo do animal que montava, ganhando terreno.

Nós três efetuamos vários disparos e, digo a vocês, que era impossível errar àquela distância.

Foi aí que puxei o alforje e retirei o saco de sal de dentro dele. Imediatamente, Dean compreendeu o meu intento e fez o mesmo.

Quando alcançamos o cavaleiro novamente, emparelhamos com ele e soltamos a corda do saquinho de couro com os dentes e jogamos todo o sal na direção do homem.

O que já esperávamos, aconteceu: quando o sal o atingiu, o homem luminescente e seu cavalo se desfizeram no ar.

Não dá nem pra explicar a cara de Eliah com o resultado de nosso ataque de sal ao cavaleiro. O sujeito estava pasmo. Tão pasmo que quase caiu do cavalo.

A diligência seguiu seu caminho, ainda em alta velocidade, deixando-nos para trás.

Nós diminuímos o ritmo e paramos para que os cavalos animais estavam espumando.

_ Mas que diabos foi aquilo?! – o ferreiro estava com um olhar estupefato.

_ Acho que era um fantasma. – Ele tinha visto, não adiantava nada eu inventar uma teoria. Estava na cara.

_ Eu já tinha ouvido o pessoal comentar de um Cavaleiro Fantasma lá na cidade, mas achei que fosse exagero. – Pobre Eliah, tinha sido apresentado ao sobrenatural da pior maneira possível.

_ Parece, amigo, que o povo não estava exagerando, afinal. – Dean colocou a mão sobre o ombro do homem _ Mas fica frio que, pelo menos por hoje, o Gasparzinho não vai dar as caras novamente.

_ Como vocês sabiam... como sabiam que o sal o destruiria?

_ Tem muita coisa que a gente sabe sobre coisas que você nem imagina.

_ E o sal não o matou - Completei a frase de meu irmão _ Só o repeliu, por enquanto.

_ Okay...- o ferreiro parecia estar recuperando o fôlego _ Vocês dois, esquisitos, vão ter que me explicar essa história direitinho.

_ Está falado, Eliah. – Dean pulou de volta à sela, como se tivesse feito isso a vida inteira _ Mas agora precisamos encontrar o Colt, certo?

Eu e meu irmão nos adiantamos, evitando que Eliah tivesse a oportunidade de fazer mais perguntas que não queríamos responder, pelo menos, não tão cedo.

Não levou mais que meia hora para alcançarmos a entrada da cidade.

Seguindo a orientação do ferreiro, tomamos as ruas paralelas, evitando o centro e a aglomeração que, certamente, tinha se formado ao redor da diligência.

Definitivamente, Hartford era bem maior e mais movimentada que New Haven. Havia prédios de três andares e muito comércio.

Seguimos diretamente até a casa de Morse.

Um senhor esguio nos atendeu e informou que seu mestre Samuel não estava no momento, mas que talvez pudéssemos encontrá-lo em companhia do senhor Colt no Cassino ou ainda, na casa dos Haddock, do outro lado da cidade.

O sujeito co cara de perdigueiro deu-nos o endereço e todas as referências para encontrarmos a mansão dos Haddock. As pessoas do passado eram bem mais solícitas, não acham?

Montamos novamente e seguimos ao encontro de Morse e Colt.

Decidimos por procurá-lo primeiro na mansão porque o cassino, com certeza, estaria repleto de policiais.

O casarão se destacava na rua: Paredes altas e brancas com janelas escuras e uma bela varanda florida. Estava cercada por grades altas e fechada por um portão gradeado.

Nossa experiência provava que caras como nós não são bem recebidos em casas como aquelas, então resolvemos esperar um pouco e ver se alguém aparecia.

Uma jovem desceu de um pequeno,mas elegante, coche, acompanhada por um senhor grisalho.

Como já estávamos plantados na porta da mansão há mais de uma hora, fomos até ela.

_ O que vocês querem? – O homem mais velho falou asperamente, levando a mão ao bolso interno do casaco.

_ Não queremos feri-los, senhor, apenas uma informação, por favor – Tirei o chapéu e usei a boa e velha estratégia da cara-de-cachorro-sem-dono.

_ Não sei em que poderia ajudá-los com isso – o homem grisalhos nos examinou de cima à baixo _ Não creio que conheça alguém da convivência dos senhores.

_ Espere um momento, papai. – A moça voltou-se para nós _ Não foram os senhores que afugentaram o assaltante que perseguiu a diligência ainda a pouco? Sim! Não temos como agradecer, senhores. Foram tão bravos!

_ Célia, tem certeza, minha filha? – o cavalheiro segurou no braço da moça que se aproximava de nós, puxando-a para trás.

_ Tenho certeza, papai. Estava escuro,mas quando olhei pela janela, vi que eram três cavaleiros que perseguiam o criminoso e pude perceber claramente, seus trajes.

_ Então, senhores, estou em dívida com vocês – Puxou a moça para mais perto de si e encaminhou-se para o grande portão _ Passem amanhã cedo e providenciarei para que sejam regiamente recompensados.

_ Nós não viemos por recompensa,senhor – Senti o chute na minha canela _ Só precisamos encontrar o Samuel Colt.

_ Não tenho ligações com este sujeito- o rosto do velho se transformou _ Se é só isso, sinto não poder ajudá-los.

A moça pareceu querer dizer alguma coisa, mas o pai a carregou para dentro antes que pudesse se manifestar.

Meio desanimados, os três montamos, mais uma vez, e seguimos até o cassino.

Apeamos e amarramos os cavalos num beco escuro. Ficamos por ali por um tempo, observando o entra e sai. Estávamos todos exaustos, famintos e imundos.

Depois de mais de duas horas de campana, Eliah decidiu entrar e certificar se Colt ou Morse, ou com sorte, os dois, estavam no cassino. Não era segredo que o armeiro arriscava a sorte nos dados e nas cartas sempre que o dinheiro faltava.

Assistimos Stein atravessar a rua e entrar no prédio iluminado e barulhento.

Dean sentou-se sobre um barril, encostado à parede e deixou que sua cabeça se apoiasse na parede atrás de si. Ele parecia mais cansado que o normal. Suas olheiras estavam mais visíveis e as linhas de expressão, mais marcadas, no rosto. Eu sabia muito bem o que era aquilo tudo. Medo. Meu irmão estava apavorado, mas é claro, ele nunca admitiria, nem em pensamento.

Voltei meus olhos para a entrada do cassino e meu coração disparou dentro do peito. Sacudi o braço de Dean, trazendo-o para junto de mim. Um sorriso lago se desenhou em seu rosto. Finalmente algo começava a dar certo.

CONTINUA...


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