The Colt escrita por DetRood, Crica


Capítulo 3
Capítulo 3




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CAPÍTULO 3:

Estávamos os dois, eu e Dean, muito temerosos pelo que encontraríamos do outro lado da porta do motel. Se, por um lado, não acreditávamos que o Trapaceiro tivesse feito o que pedimos, por outro, havia a esperança de que aquele idiota não pudesse resistir à tentação de se divertir às nossas custas e nos atendesse, só pra ver no que ia dar.

Dean passou à frente e estendeu o braço. Tocou na maçaneta e parou momentaneamente para voltar o olhar em minha direção, como se pedisse meu conselho. Retribuí o seu olhar com outro, ainda mais inquieto, mas como não havia como escapar... Era sair ou sair pra conferir e foi o que fizemos.

Quando meu irmão atravessou o portal, uma nuvem de poeira invadiu o quarto, entupindo nossas vias aéreas. Tossi terrivelmente com a secura que arranhava a minha garganta. Meus olhos arderam e tive que fechá-los por um momento, lacrimejando.

Só depois percebemos, com o barulho, que uma carroça enorme e pesada tinha passado a milímetros de nossos corpos.

Nos voltamos e vimos que o motel não estava mais onde deveria. Estávamos no meio de uma rua larga, sem calçamento e totalmente empoeirada.

Carroças de todos os tipos, das mais rústicas às elegantes, passavam de um lado para o outro, subindo e descendo a rua. Homens montados a cavalo também se misturavam a elas num trânsito meio louco, muito parecido com os das cidades pelas quais passávamos, só que sem sinalização ou policiamento. Um caos total.

Decidimos sair do meio da rua quando um sujeito, conduzindo um cavalo imenso e duas mulas, esbarrou em nós e nos chamou de algum nome que não consegui decifrar, mas pela sua cara, não deveria ser nenhum elogio, disso eu tenho certeza.

Seguimos em frente, atravessando a via, e paramos sobre a calçada feita de tábuas de madeira.

Levamos uns bons minutos para digerir as informações que desafiavam a nossa imaginação, mas o fato é que, a primeira parte do plano infalível do meu irmão tinha acabado de se concretizar. A placa em bronze, bem diante dos nossos olhos anunciava a cidade de New Haven e seus 2.678 habitantes.

_ Bem, Dean, parece que vamos conhecer o senhor Samuel Colt.

_ É o que parece, Sammy. É o que parece...

_ Por onde começamos?

_ Sei lá – Meu irmão não parecia tão confiante agora e a expressão em seu rosto, me deu uma sensação muito estranha. Estava me sentindo perdido_ O cara agora tem uns 24 anos e acaba de voltar ao país depois de viajar por 6 anos num navio. Para onde você iria, depois de tanto tempo?

_ Para casa?

_ Para casa.

_ E onde Colt mora?

_ Eles tinham uma fazenda fora da cidade, mas faliram e acho que venderam tudo pra pagar as dívidas.

_ Por isso a viagem, certo?

_ Creio que sim. Espere um momento – Dean revistou os bolsos do casaco e retirou de um deles, umas folhas dobradas e passou os olhos por elas, rapidamente _ Aqui – apontou a folha escrita_ Eles compraram uma pequena casa em New Haven antes que pai e filho embarcassem.

_ Mas não tem um endereço aí, Dean.

_ Não deve ser muito difícil encontrar o sujeito. Afinal, ele passou dezoito anos de sua vida neste lugar.

_ Tem uma fotografia, pelo menos?

_ Até tem, mas deve estar com uns cinquenta e tantos nessa figura.

_ Isso não vai nos ajudar muito - Meu nariz estava coçando. Desde que atravessamos a porta, estava com a sensação que ia soltar um daqueles espirros que quase arrancam a alma da gente.

_ Não vai – De repente, Dean dobrou os papéis e enfiou de volta no bolso, erguendo os olhos diretamente para mim, de um jeito muito determinado _ Mas ficar plantado aqui também nos levará a lugar algum, então, mexa esse seu traseiro e vamos fazer o que fazemos melhor: xeretar por aí e descobrir onde o senhor Colt mora.

Passamos toda a manhã andando de um lado para o outro, comendo poeira, mas as pessoas não nos davam muita atenção. Raras eram aquelas que se dispunham a responder à simples pergunta que tínhamos a fazer. Parece que, desconfiar de estranhos não era privilégio do século XXI. Estávamos cansados. Eu estava ficando com uma dor de cabeça infernal e meu estômago reclamava.

Demos uma boa olhada ao redor e, como sempre, meu irmão disparou na direção do bar. Ele sempre dizia que, em cidades pequenas, um bar funciona como uma central de informações muito eficiente. Todo mundo passa por ali e, geralmente, toma umas e outras. Vocês sabem como o álcool funciona, não é mesmo? Depois de alguns drinques, a cabeça já não funciona muito bem e a língua fica solta, revelando detalhes da vida que, às vezes, gostaríamos de manter ocultos.

Para uma cidade pequena, havia muito movimento. Talvez essa agitação toda se devesse ao fato de ser domingo. Os moradores dos arredores vinham ao serviço religioso, os vaqueiros de folga, tomavam uns tragos e visitavam as ‘meninas’ do Saloon... Pelo menos era assim que acontecia nos filmes de faroeste.

Devo confessar que meu sangue gelou nas veias quando passamos por aquelas portinholas que balançavam na entrada e toda aquela gente parou para nos observar. Dean meteu seu melhor sorriso na cara e seguiu em frente como se nada estivesse acontecendo e eu fui atrás dele.

Paramos diante do balcão de madeira e meu irmão esperou pelo barman. O sujeito, baixinho, bigodudo e muito mal encarado ficou olhando para nós, de um para o outro, como se estivesse observando um par de alienígenas. Eu estava me sentindo um alienígena. Um alienígena pronto para ser dissecado pelo facão que o cara trazia embainhado no cós da calça.

_ Vão querer o que? – Finalmente o homenzinho perguntou com um vozeirão que não combinava em nada, com a sua estatura.

_ Nós estamos à procura de Samuel Colt – Dean apoiou as duas mãos sobre o balcão _ Sabe onde podemos encontrá-lo?

_ Rapaz, isso aqui é um bar, não um serviço de informações - o baixinho deixou o pano engordurado com o qual secava os copos de lado e depositou uma garrafa sobre o balcão _ Se não vão beber nem jogar, deem o fora.

_ Nós não queremos problemas, senhor – Comecei a temer pela nossa segurança, quando meu irmão decidiu argumentar _ Só fiz uma pergunta e creio que poderia ser um pouco mais educado com a clientela e responder.

_ Enquanto não beberem nada, não são clientes - os olhos miúdos do outro lado do balcão se estreitaram _ Então, bebam ou saiam.

_ Estamos saindo – puxei Dean pelo braço antes que fizesse alguma besteira. Não íamos beber nada àquela hora, muito menos de estômago vazio e, pelo tom do homem, não receberíamos nenhuma informação ali_ Vamos nessa, Dean.

Bem na hora. Dean estava por um fio e meu estômago, por incrível que possa parecer, colando nas costas.

Do outro lado da rua, num prédio de dois andares, avistamos a placa de uma espécie de pensão. Atravessamos e passamos pela porta envidraçada. Um ambiente muito mais agradável. Sentamos à mesa mais ao fundo e aguardamos o atendimento. Estávamos cobertos de poeira e eu precisava urgentemente, de um copo de água gelada.

Meu irmão, sem mais nem menos, ficou de queixo caído e não respondia ao meu chamado, apenas seguia com o olhar, alguém ou alguma coisa que se aproximava pelas minhas costas.

CONTINUA...


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