Colecionadores De Segredos. escrita por Lioness


Capítulo 21
Capítulo 20


Notas iniciais do capítulo

Heeey PEOPLE! Então, eu tinha feito as notas com todo carinho, mas na hora de postar CADÊ?! O gato comeu! Enfim, vou explicar tudo rapinho: eu comecei o rascunho em agosto, mas nesse mês meu pc morreu de novo. Aí, devido uns probleminhas de saúde, o conserto do pc ficou pra segundo plano - ou seja, até hoje. Então eu estou usando um outro aqui, mas quase não entro porque é meio concorrido, entende? Mas FINALMENTE consegui passar tudo pro pc e estou feliz por isso, espero que tenham ficado felizes com a atualização.
As partes estão em aspas porque estão contando algo que já aconteceu, okay? E também, a primeira parte do capítulo é um sonho, não é uma viajem da Sakura, é um sonho, ok?!
Ah, e VINTE capítulos, yeeeeeeey! Fiz com muito entusiamo, então espero que gostem.
Uma boa leitura.
Um capítulo gordinho pra vocês (:



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Capítulo 20

“--O que você vê? – ele riu.

–-Eu vejo uma linda garota dançando e rodando tranquilamente.

–-Por que não vem?

Parou por um pouco, sorrindo genuinamente. O vento forte balançava seus cabelos e dançava uma deliciosa valsa com seu vestido comprido e fino, apaixonado por teu perfume levando-o consigo até as vastas e brancas nuvens.

A singela e franzina garota dançava graciosamente pelo campo gramado.

–-Admira-la é o suficiente. – respondeu sorrindo.

–-Não seja preguiçoso! Levante-se de debaixo desta árvore e venha me acompanhar.

–-A ser feliz?

–-Por que não?

Correu descalça com um sorriso exuberante em seus lábios – vermelhos como amoras – até o rapaz sentado tranquilo e sereno. Os olhos azuis a fitava se aproximar e estender-lhe a mão para que pudesse levantar.
Aceitou a ajuda sentindo a delicada e macia mão o erguer até sentir seu peso sobre seus pés.

–-Você fica deslumbrante com este vestido branco. – ela sorriu timidamente.

–-Seus suspensórios são completamente sedutores acompanhados de seu chapéu. – rebateu, brincando.

Entrelaçaram os dedos firmemente e ela começou a guia-lo sobre o campo, sentindo a deliciosa e inebriante sensação da grama macia e úmida tocar-lhes as solas dos pés, acariciando-os assim como a brisa.

–-O que eu faria se não fosse por eles? – sussurrou ao ouvido da rosada.

Ela gargalhou cerrando os olhos. Vagarosa e delicadamente soltou seus dedos dos dele e começou a se afastar, andando de costas, sem enxergar.

–-Com certeza precisaria andar segurando as calças. – ambos riram – Mas eu não me importaria de ver teu cabelo loiro rebelde, mesmo que tenha fascínio por teu chapéu.

–-O que está fazendo? – o loiro perguntou calmamente – Se não tomar cuidado poderá tropeçar e cair. – ele a seguia devagar.

–-Sei que vai me segurar.

–-Faria tudo no mundo para não ter de ver teu vestido manchar de terra ou grama. – seus lábios arqueavam maliciosamente.

Ela parou. O vento intercalava seu vestido assim como fazia com as folhas das grandes copas esverdeadas das arvores que farfalhavam lentamente, rebatendo a flanela para frente e para trás, debatendo-o em suas finas pernas.

As pálpebras protegiam os olhos, delicadamente fechadas. Os fios róseos presos contra sua face alva e levemente rosada. Seu peito subia e descia devagar.

–-Surpreenda-me. – murmurou sedutoramente, de tal modo que ele apenas fora capaz de ler os seus lábios.

–-Não falharei.

O som contínuo e fraco de passos se rompeu ao segundo em que o loiro parou, rente a garota. Tão próximos que ambos sentiam a respiração quente e úmida do outro. Ela sentia o nariz dele roçar em sua pele. Estava com um sorriso extasiante e com a respiração palpitante quando sentiu o tocar dele em seu pescoço, afugentado os cabelos incômodos. Suspirou, mordendo o lábio inferior, quando os lábios grosseiros dele fizeram um longo trajeto em seu pescoço.

Rendeu-se e ergueu as mãos até sua nuca, acariciando-a e o trazendo para mais próximo de si, perdendo-se em seus lábios apaixonantes, explorando sua boca assim como ele respondia com fervor, apertando sua cintura.

–-Nunca imaginei que me responderia assim. – ele disse, prosseguindo com um beijo mais possessivo e voraz.

Por um segundo a rosada sentiu acordar, embora parte de seu corpo estivesse relutante. Franziu o cenho e esforçando-se abriu os olhos, piscando, sem se deixar dos fortes braços que a envolvia. Como em flashes, uma face diferente aparecia diante de seus olhos. Traços ligeiramente mais delicados e mãos mais possessivas a abraçavam. A voz, que há poucos segundos tinia em seus ouvidos, era diferente. Entre os beijos ela começava a relutar e a debater-se, empurrando o rapaz com os braços. Ao ver o cabelo ruivo arregalou os olhos, assustada, aqueles olhos mais verdes que os seus. Subitamente, uma sensação de repugna a invadiu e ela fechou os olhos com força, ainda presa nos braços do rapaz.

Uma música, como se fosse de disco de vinil, antiga e arranhada ecoava ao redor. A voz – grossa e delicada ao mesmo tempo – do cantor acompanhada pelo violino e piano a acalmou por um pouco, a fazendo abrir os olhos novamente.

Sua boca já não estava mais acompanhada.

–-O que foi querida?

Ela arquejou de alívio, sorrindo. Ele ainda estava lá, com seus cabelos bagunçados e loiros, seus olhos como safiras e aquela voz reconfortante.

–-Não é nada. Apenas que, por um segundo eu pensei que fosse outro. – a expressão dele continuou impassível.

–-Nunca deixaria que isto acontecesse.

–-Desculpe, fora apenas um leve devaneio. Afinal, pedi que me surpreendesse e o fez muito bem!

–-Oh, mas esta não é minha surpresa.

–-Ah não? Então o que poderia ser?! – novamente, um sorriso malicioso e soturno surgiu nos lábios do rapaz.

A garota tinha um largo sorriso curioso no rosto, esperando pela resposta. Seus braços ainda encontravam-se em torno ao pescoço do loiro assim como as mãos firmes dele abraçavam sua cintura. Repentinamente, seu sorriso desapareceu como a última gota de uma tempestade e seus verdes olhos arregalaram, sem brilho. Refletido neles podia-se ver a surpresa, pavor e a incompreensão do que estava acontecendo. Uma dor, lacerante e profunda, atingiu-a duas vezes. Dois estrondos fortes e tenebrosos a ensurdeceu. Contudo, ainda fora capaz de ler os lábios do rapaz a sua frente.

‘Eu nunca permitira que teu lindo vestido se manchasse de terra antes que seu sangue o tornasse vermelho. ’

Ela o fitava gargalhar sadicamente, embriagada pela dor, sem piscar, incrédula, atônita. Sem perceber, começaram a escorrer de teus olhos tênues lágrimas que despencavam em queda livre até o chão, juntamente com o sangue que minava de sua boca e mesclava com a cor de teus lábios. De repente, tudo se escureceu como se fosse uma noite sem lua.

Ela não entendia, não podia compreender. O sorriso debochado e maquiavélico que ele tinha. Como se risse...

‘O que foi? Ora, minha pequena, não chore. A mamãe vai ficar bem. – dizia ainda apontando o cano da arma para a barriga da rosada – A mamãe vai ficar bem...

Novamente tudo se escureceu, sem um lugar em que pudesse enxergar. No entanto, ela continuava ali, sentindo o martírio, sentindo o fluido carmesim se alastrar por seu comprido vestido, ensopando-o, pesando-o, fazendo-a cair de joelhos.

A música encerrou.

Então, uma figura irrompeu o breu que a cercava e se aproximou em ecos. Ela estava parada, imóvel, esperando.

Uma pequena garotinha de cabelos róseos e olhos verdes como esmeraldas a fitava cruelmente.

–-Você não fez nada. – afirmou indiferente.

–-Eu não podia! – vociferou em resposta.

–-Você não fez nada para mudar. Apenas continuou a lamuriar-se. A culpa é sua.

–-Cala a boca! – hesitou com a fincada recente em seu abdômen.

Fechou os olhos desejando que tudo desaparecesse. As lágrimas compulsivas não deixavam de cair de seus olhos. Ela sofria. Uma dor alucinante, como se insistissem em furar seu coração com uma faca cega. Suas mãos, que pressionavam a ferida recente, encharcadas de sangue entre os dedos. Sentir seu vestido se transformar em completo carmesim a apavorava, ela tinha nojo.

–-Você se esconde.

–-Vá embora, agora! – ordenou dando socos no ar.

Golpeava o ar cegamente, incansavelmente, ainda de olhos fechados, como se estivessem vendados.

–-Sakura... – a voz mansa e calorosa saiu como um sussurro de compaixão e misericórdia.

Por um segundo, sentiu como se escutasse a tranquila queda de uma gota de chuva no chão. Então tudo se acalmou e tornou-se mais pacífico.

Abriu os olhos vagarosamente, sem poder enxergar, cega. Todavia, podia ver com sua mente o pôr-do-sol avermelhado no céu, escurecendo o campo florido em que a mulher estava sentada completamente manchada de sangue, como no dia do incidente.

E ela podia se imaginar lá, em seu vestido branco, cândido como nunca esteve. Ela estava lá, parada rente a mulher de cabelos tão róseos como os seus.

–-Sakura. – sua voz saia mansa e melancólica. Com um triste sorriso tanto em sua boca quanto em teus olhos.

–-Mãe...

–-A mamãe vai ficar bem, querida.

–-Mãe! – vociferou enquanto perdia suas forças, gritando por desespero.

As lágrimas voltavam com a mesma intensidade.

–-Não chore...”.

–------------- xx --------------

“—Sakura... – chamou sem resposta.

Podia ouvir o estalo de seus saltos altos contra o piso.

–-Sakura, você... – insistiu.

A voz parou de rompante, vibrando em seus ouvidos. Não podia vê-la. Estava com a cabeça descansando sobre os ombros caídos. Os olhos direcionados para o chão. Tão pesados... Nem se quisesse enxergaria, afinal, os fios úmidos e róseos caiam-lhe sobre as orbes sem brilho.

Mesmo assim, ela podia mentaliza-la. A longa franja loira ocultando um de seus lindos olhos azuis. Entretanto, apenas um era suficiente para saber que ambos agora estariam arregalados, pupilas contraídas e sua boca – certamente contornada e preenchida pela mais exuberante cor – semiaberta. A mão amarrotando o material da alça da bolsa por excessiva força ao aperta-la, o corpo rígido e o outro braço livre rente ao corpo. Uma palavra para resumir: perplexa.

–-Oh Sakura – escutava finalmente algum movimento da loira. Mais precisamente passos apressados e o baque surdo da bolsa pesada contra o chão – Quando me ligou eu pensei que... Eu vim o mais rápido que pude e... – finalmente percebeu o estado deplorável, surpresa, arregalou os olhos – Meu Deus, Sakura! Está me deixando preocupada! – gritou começando a desesperar.

Agarrou-a pelos ombros e forçou-a a levantar o rosto. Sentiu seus dedos úmidos e, por instinto, recuou. A queda livre de seu queixo foi instantânea a se ver manchada por vermelho.

–-Testuda, o que diabos acon...

–-Ino, cala essa droga de boca! – finalmente se manifestou, esquivando seu rosto da luz que a amiga havia acendido, afagando os olhos com a mão – Não te chamei para surtar, por isto mesmo liguei para você. Se quisesse desespero teria ligado pro Freddo.

–-Sakura, mas que merda você fez?! Estava choran...

–-Ino – começou o mais calma possível – para de falar.

Ino hesitou, movimentou os lábios, mas ao sair um pequeno som de protesto se calou. Seus olhos celeste fitavam Sakura com reprovação e redenção.

–-Obrigada. – um olhar sarcástico fuzilou a rosada. Ela ignorou, fungou e terminou de enxugar as maçãs do rosto avermelhado – Vamos beber.

Levantou-se devagar, apoiada nos joelhos, sem se importar com a blusa rasgada ao meio balançar com a corrente de ar.

Ino não ficou para trás.

Quando fazia menção de abrir a boca, completamente indignada e confusa, Sakura a cortou:

–-Me venha com o papo de “Tá maluca?!”, “Perdeu o juízo?!”, “O que foi que aconteceu?” e todo esse blá, blá, blá depois. Não vou falar sobre isso agora e você sabe que não. Sempre me criticou por não tomar essas porcarias. Agora preciso delas. Uma porcaria bem forte, por sinal.

Sentiu que vinha outro protesto.

–-E não seja hipócrita, por favor. Você é minha melhor amiga, agora preciso muito de você. Vou te contar. Depois. Só... Só faça o que estou te pedindo, por favor. Minha cota hoje foi esgotada.

O último protesto. Sabia como a amiga era. Sabia quando – e como – ela desistia.

Silêncio. Ino precisava processar tudo primeiro. Via a melhor amiga de costas. O cabelo totalmente desgrenhado e úmido nas pontas. A camisa rasgada e manchada pelo sangue ainda minando sutilmente em seus ombros. Porém, penetrava-a mais a forma com que as delicadas esmeraldas se encontravam. Ao contrário do usual, os olhos de Sakura estavam opacos, repletos de amargura e ressentimento, rancor e aquela pontada de indiferença e ódio que poucas vezes viu. Sakura poderia se estressar facilmente, mas aquele olhar... Aquele semblante era um desprazer que apenas Ino presenciou em anos de amizade. Era de tamanha frieza que petrificava seu coração.

Em todas as raras vezes que presenciou tal mudança nunca soube o motivo e tinha plena consciência de que não saberia tão cedo. Entendia perfeitamente que não deveria perguntar, apenas estar lá. Mesmo que as situações sejam a rosada machucada. Depois Sakura fingiria que nada aconteceu e Ino a seguiria. No fim, ela meio que entendia.

Quando voltou de seus devaneios notou que a amiga já saia de sua presença, provavelmente cansada de esperar uma resposta.

–-Não vai sair assim, não é?!

Sakura sorriu minimamente de canto, quase imperceptivelmente. Ino sempre a ajudaria, independente da situação.”

–------------- xx --------------

“Os passos firmes e silenciosos se misturavam em meio à leva de carros que passavam ocasionalmente em uma sequência de minutos. O vento ricocheteava seu rosto e ardia em suas narinas.

O lugar por qual passava era calmo, repleto de enormes prédios residenciais. Um bairro de elite. “Um mero bairro de elite” Pensou.

A mão esquerda no bolso roçou em um material metálico e frio. Podia imaginar a joia rubi e prata cintilar no fundo de seu bolso.

Cerrou o punho direito.

Apertou instintivamente e inconscientemente lembrou-se de sua família, mas principalmente de seu irmão. Queria-o vivo. Seus pais vivos.

Isso agravava aquele desejo atormentador.

Suas unhas cravaram contra a rigidez de sua mão.

Estava começando a sufocar. Não entendia direito por que, mas diferente do comum, seu sangue fervilhava.

Sob suas unhas, o sangue adquiria a forma arredonda.

O material do colar que envolvia seu bolso escorregava como uma serpente em sua mão.

Seu cérebro alertou para a dor fraca e tênue oriunda de sua mão. Só então se deu conta.

Parou.

Vagarosamente relaxou os dedos. Suas orbes ônix fitaram com certa estranheza para as unhas escarlate. Os cinco cortes minavam sutilmente.

Fitava a mão, inerte.

Meneou a cabeça, inspirou e depois de minutos expirou. Voltou a caminhar da mesma forma de antes.

Ao passar por um enorme e imponente prédio não poderia conjecturar que, na cobertura, aquela menina de cabelos róseos implorava por um fim ou ajuda. Também nunca preveria que horas depois estaria ali, entrando naquele apartamento com ela no colo, muito menos a esperando acordar ou discutir com ela.

Uma mera surpresa inesperada.

Hn, a noite mal começa-ra.”

–------------- xx --------------

“Fitava o fundo do copo como se o reflexo da bebida destilada fosse um portal para Nárnia. Certo pesar com uma pitada de nostalgia preenchia seu semblante.
Os dedos entrelaçados envolviam o copo raso. Os ouvidos dispersos – o que raramente acontecia enquanto estava acordado – ignorando o rock suave ao fundo dos murmúrios de conversas alheias.

A sua esquerda o barman ocupado com novos clientes.
A sua direita uma mulher vulgar e insinuosa o olhava como se fosse um pedaço de carne.

Mas seus olhos não desviavam do copo.

A cabeleira loira, mais rebelde que o comum, camuflava com as luzes vagas e amareladas daquele lugar.

Um pouco preocupado e pensativo, eu diria.

O coração lento.

Passara o dia caminhando, sentindo o gostinho de pertencer à área clara da sociedade. Ao menos tentando, querendo.

Caminhou por seu antigo bairro... Muita coisa mudou, apenas sua casa permaneceu. Ou o que sobrou. Não quis entrar, era doloroso.

Pegou o metrô sem rumo. Tudo parecia tão diferente. As pessoas, os lugares. Era estranho. Imaginou-se andando com três crianças. Seria tudo diferente. Naquele mundo a organização nunca existiu. Ele nunca matou. Não seria estranho fazer uma simples caminhada, seria ótimo, incrível!
Como Nárnia.

Queria mergulhar no fundo daquele copo e parar lá. Com sua família, em seu mundo utópico onde ele não precisaria se vingar.

Levou o copo aos lábios. A bebida descia forte, apertando sua garganta.

Ele precisava mesmo se vingar?

Piscou lentamente, cansado.

O fundo vazio do copo refletia seus olhos. Brincava com o copo. Completamente vazio. Como Nárnia.

–------------- xx --------------

Caminhava a passos tortos, enxergando dobrado, mal se mantendo de pé. Naquela hora ela se arrependia de concordar com Ino deixar escolher seu sapato. Os cabelos rudemente bagunçados, deixando-a com um ar sexy. Ela nem imaginava o quão chamativa estava.

Um pouco a frente avistou um letreiro piscando “Pub” e em sequência algum nome. Parou, hesitou e levou os pés incertos rumo a entrada. Queria que naquele lugar tivesse porcarias mais fortes que a cerveja de Ino.

Ao entrar enxergou – embaçado – as luzes amarelas, as silhuetas das pessoas e o indie rock ao fundo fora convidativo o suficiente.

Mal sentiu o peso dos olhares ao caminhar até o bar. Já estava acostumada. Não é todo dia que se vê uma garota de cabelos róseos, o fato de encara-la era natural.
Esses mesmos olhares curiosos e maliciosos a acompanharam até a mesa que escolheu. Em sua mão uma garrafa de whisky acompanhada de um copo raso.

Os burburinhos começaram.

–------------- xx --------------

Os olhares maliciosos a perseguiam com tamanha voracidade que seria cabível comparar a lobos maus perseguindo uma única – e bêbada – chapeuzinho vermelho.

Lá estava ela sentada num canto do bar, brincando com o copo como se fosse uma bolinha na boca de um cachorro. Atraindo toda a atenção para si, vestida com uma regata justa de tecido vermelho cereja que dava maior credibilidade a seus seios médios, podendo se ver seu atraente busto claro como neve. Os jeans apertados e negros não ficavam para trás, dando uma deliciosa amostra grátis de suas pernas pelos rasgos espalhados. No entanto, nos pés algo ainda mantinha o ar de delicadeza entre toda aquela ousadia, algo que aumentava a cobiça dos olhares famintos e sem pudor algum daqueles homens: os sapatinhos de boneca, arredondados e em verniz preto. Adicionando tudo com seus cabelos bagunçados e a cara delicada de garota, Sakura era o desejo mais ávido e ardente daquela noite.

Um sorvete delicioso em um dia quente de verão sozinho entre crianças devassas e levadas. Um sorvete recheado com álcool, um pouco fora de si, desafiando a todos com seu olhar de indiferença.

Um sorvete com belos olhos sedutores como esmeraldas.
Um sorvete com lábios vermelhos e com gosto de amoras.
Um sorvete cobiçado.

Bastou tirar a jaqueta de couro e deixar seu dorso provocante à mostra para que os homens parassem de comê-la com os olhos e pararem de bebericar suas bebidas.

Agora chegava a ser um insulto. Uma questão de honra à masculinidade e virilidade daqueles poços fundos repletos de desejos indecentes. E também uma ofensa as outras mulheres naquele bar, inseguras, invejosas, sentindo-se ameaçadas e humilhadas. Mas ambos não tinham coragem de chegar perto da nova ameaça. Algo forte emanava da rosada que requeria coragem.

Coragem esta que só um homem teve.

–------------- xx --------------

As mãos trêmulas mal conseguiam buscar o número no celular de novo e de novo. A voz aflita e preocupada havia deixado inúmeras mensagens. Em vão.

Nervosa, ao ponto de explodir e sopitar cabelos loiros para todos os lados.
Andando, correndo, quase chorando de uma esquina para outra.

Desesperada, aturdida.

Estava em duvida do que deveria fazer quando – e caso, mas não “Eu vou encontra-la! Nem que vire a noite e queime meu Louboutin, mas vou encontra-la!” – a achasse. A ideia de bater e soca-la até não poder mais parecia excelente.

–-Ei, ô loira, sai da frente! – a voz brava e grossa gritou do carro após o cantar de pneu a assustar e ela revidar com uma resposta malcriada.

Olhava para os lados freneticamente, suspirando. “Será que dou tanto trabalho assim?!” pensou alto “Se for, nunca mais vou beber.”.

Ah, até mesmo ela sabia que isso era impossível!

–------------- xx --------------

Quase um metro e oitenta se erguia elegantemente da cadeira, terminando de beber seu gim e deixando o copo em cima do balcão do bar, onde esteve sentado por um bom tempo, esquadrinhando, calculando, planejando e fitando pelo canto dos olhos.

Um blues ao fundo acompanhava seu andar confiante e petulante, atribuindo olhares de desejo, respeito e inveja. Enfim, era quase impossível de não vê-lo ir até a fonte de desejos.

Ela encharcava a boca com o gosto ácido que descia como um sopro de dragão em sua garganta, apertando os olhos que lacrimejavam por inexperiência, deixando uma lufada de ar sair por sua boca. Logo em seguida olhava para o copo vazio e, previsivelmente, havia quatro deles. Riu debochadamente. Alguns minutos atrás só havia dois! Estava ficando chapada e era uma sensação boa.

Recostou a cabeça no bando macio e mirou o teto. Era verde azeitona contornada por madeira. As luzes não eram muito fortes e via tudo misturado. Fechou os olhos sorrindo prazerosamente, esticando os braços como se abraçasse o banco. Era inebriante, ótimo. Estava entorpecida como nunca esteve. A sua mente estava vaga e diferente do comum, seus pensamentos não estavam a mil. Nem pensando estava. Parecia flutuar, como em um sonho, como se vivesse em uma profunda letargia mirabolante e constante onde nada existia além de seu copo de whisky maravilhoso. Enfim, nada acontecera.

Gaara? Haruno Hisashi? Naruto? Sakura? Quem eram todos esses? Ela não fazia ideia.

–-Se está procurando seu copo, ele ainda não foi parar no teto, continua na sua mesa. – a rouca e máscula voz a cortou, chamando sua atenção.

Sakura espreitou os olhos para juntar as imagens que se formavam. Um homem alto, bem maior que ela, possuidor de cabelos pretos e lisos que quase caiam aos ombros. Olhos castanhos e traços bonitos. Um sorriso no canto da boca e jaqueta de couro marrom o cobrindo. Era bonito.

Mas, a única coisa que lhe chamou a atenção foi o copo cheio que ele fizera o favor de encher. Sem escrúpulos tomou-o de sua mão e começou a bebericar, sem olha-lo. Ele, que por sua vez, a fuzilava de soslaio intensamente. Os punhos cruzados postos a mesa.

–-Não é muito nova para usar esse batom vermelho?

–-O suficiente para você responder um processo por dar bebida e assediar uma menor. – respondeu sem demora ou medo, embaralhando nas palavras.

–-Oh, pelo visto as garras já estão na mesa, lobinha?

–-Preparadas para arrancar sua jugular. – debochou engolindo metade da bebida.

A rosada finalmente o olhou nos olhos com certo desprezo e desdém que só o atiçou ainda mais.

Ele riu completamente cínico, escorrendo os dedos pelo cabelo e suspirando.

–-Qual o nome de tão distinta mulher? – compenetrava os olhos dela, esperando por uma resposta.

A rosada se concentrou no copo. A bebida destilada tremia em ondas. Manteve total impassibilidade.

–-O que é isso? Mal me serve um copo e já quer meu nome? Não bastou quebrar minha privacidade?!

–-Não seja teimosa, lobinha... – acariciou os cabelos dela, escorrendo os dedos fio por fio até a nuca, aproximando-a, a obrigando a olhar em seus olhos.

–-Hey... – começou formulando palavras – Por que... Por que não vai embora? Seria mais divertido se...

–-Escuta – interrompeu rudemente, conseguindo alguma atenção – O que está pensando?!

Ela revirou os olhos em desdém, bebericou um pouco mais, apoiou os cotovelos na mesa e inclinou a cabeça, demonstrando sua mais digna atenção. Arqueou as sobrancelhas e se esforçou para falar:

–-Honestamente?

–-Garota – ele fechou os olhos por um segundo – você acha que pode chegar aqui, vestida assim, provocar e sair tranquilamente?! – demonstrava certa incredulidade.

–-Um brinde ao nosso país livre! – cantarolou erguendo o copo, rindo.

–-Você não vai fazer o que bem entender. – afirmou sorrindo maliciosamente.

Sakura soltou o copo e bufou perplexa. O olhou bem ao fundo dos olhos castanhos, pervertidos, vorazes. Infelizmente não eram azuis. Ela queria aqueles olhos azuis. Mas aqueles eram castanhos e medíocres. Tão confiáveis como uma nota de três. No fundo ela percebia. Pena que aquele não era um momento para autoconhecimento.

–-Não vou fazer o que bem entender? Tudo bem. Veremos.

O cara gargalhava e acompanhava ela se levantar cambaleando, pegando seu casaco e tomando de uma só vez o que sobrava da garrafa. Tão rápido como o efeito turvo que seus olhos adquiriram. Estremeceu e meneou a cabeça. Os dentes corroíam e sua boca queimava em brasas! Seu estômago revirou.

Antes ela não estava chapada, acabara de confirmar. Só estava tonta. Entretanto, agora sim ela podia dizer. Completamente chapada. High!

Jogou com força a garrafa que tinha no chão, estilhaçando-a em centenas de pedacinhos. Piscou algumas vezes. As luzes fortes estavam todas embaraçadas e olhares curiosos e espantados a fuzilavam.

O barman a fuzilava com fúria.

–-Rosinha, o que tá fazendo?! Ficou louca?! – o cara perguntou a puxando repentinamente com força pelo braço, apertando a ferida, dando um solavanco – Não vai embora assim, não é garotinha abusada? Mimadinha de merda! – rosnou entre dentes em seu ouvido, roçando e escorrendo a língua por seu lóbulo.

“Sakura?”

Um arrepio percorreu a garota. Ele invadia seu pescoço sem pedir permissão e apertava sua cintura sem pudor. A ferida no braço doía. Ela começava a se debater, inquieta, mas não resultava em muita coisa, estava completamente zonza e ele estava sóbrio. Nojento, nauseante. Porco.

E ela mal identificava, mas sentia a imobilidade e inércia dos outros. Vendo-o escorrer a mão por não devia, lhe afagar, apertar e toca-la como um animal.
Desprezível.

Sem perceber, Sakura libertou sua perna das mãos dele e, com toda a força que pôde, acertou seu salto no pé dele. Pego de surpresa pela dor, ele imediatamente a soltou e começou a mancar.

–-O que diabos você fez, vadia?! Quebrou meu dedo! Filha da puta! – vociferava pulando, matando-a com os olhos, o semblante em dor.

Sakura tentou enxerga-lo, olhando com nojo e indiferença.

–-Não posso fazer o que bem entender, certo? Foi mesmo o que disse? – cuspiu palavra por palavra, balançando como um barco em alto mar.

A garota cerrou o punho lentamente, tentando acumular força. Seu sangue fervilhava como nunca, colocando o corpo rubro da cabeça aos pés, extremamente cálido, quente como lava.
E ela estava à beira de uma erupção.

Novamente sem ver (e sem entender como) acertou um soco carregado e sem piedade no rosto amargurado do cara, o levando ao chão e fazendo-o urrar de dor, trocando a mão no pé pelo olho. Em seguida se esforçou para tentar ficar ereta novamente – o que era impossível – e disse, chacoalhando a mão:

–-Acho que errou, idiota. Isto foi por falar da minha mãe!

“Hm, isso é revigorante!” exclamou mentalmente.

O barman a olhou torto e sorriu com seus dentes amarelos.

–-Até que foi divertido você ficar. – gargalhou – Tão fraquinho e pretensioso!

Mais alguns homens se ergueram, a olhando rir debochada sobre o homem que rolava no chão, massageando o olho. Tão tonta que um sopro a derrubaria. Eles rodearam o amigo caído e o ajudaram a se levantar. Aqueles olhos... Ela não percebia, mas havia fome, raiva.

O cara de cabelos preto a olhou com ódio. Ela parou de rir.

–-Agora que juntou o grupinho virou machinho foi?! – sem medo algum ela disse.

O cara se soltou dos braços que o apoiavam e a pegou pelos braços repentinamente, com força e com fúria a jogou em cima da mesa. Sakura gemeu com o baque. O mundo rodou intensamente em sua volta. Sentiu um novo peso a pressionar e algo a machucava, apertando seus braços.

–-E que tal agora, cherry? Ainda acha que tem toda aquela pose e força?! Quero ver pra onde foi toda aquela arrogância e coragem. – murmurou em seu ouvido, terminando com um rastro de saliva que deixava em seu pescoço.

–-Você não tem o direito de me chamar de cherry. – vociferou como pôde, ainda com força o suficiente para acertar sua perna no meio das pernas abertas dele.

O cara urrou novamente de dor, encolhendo-se, escorrendo as mãos nos cabelos. Os olhos lacrimejavam. Instintivamente os outros do grupo aproximaram para ver o que havia acontecido, confusos. Viam o amigo andar de um lado para outro, segurando gritos de dor, irado. De repente, ele irrompeu o cerco de homens e se jogou em cima de Sakura, fazendo-a bater a coluna com força contra a mesa de madeira, apertando seus braços mais do que nunca.

–-Você vai comigo hoje, vadia. Precisa aprender uma liçõesinhas de educação. – rosnou entre dentes, estremecendo a voz de ódio.

Sakura gemou de dor. Fora uma pancada forte em suas costas. Sua perna latejava e seus arranhões no braço ameaçavam a sangrar devido à pressão. Meneava a cabeça, esfregando o cabelo na mesa de olhos cerrados. Agora a pontinha de consciência a culpava por ter se metido em algo assim e abandonado Ino.

–-O que você vai fazer? – um dos homens perguntou ao de cabelos pretos.

–-Vamos leva-la logo. O barman já está ameaçando vir aqui e interromper.

De fato. O tal – também dono do pub – o olhava torto e com raiva. Se ficassem mais um segundo sequer, a chance de levar a garota seriam dizimadas.

Um dos amigos do cara se aproximava de Sakura e tentava a pegar pelo colo, o que era um pouco difícil já que a rosada relutava como nunca. O cara apenas observava, andando de uma lado para outro, inquieto.

Sakura já começava a se arrepender e uma ponta de medo e insegurança corria por seu sangue. “Merda! Merda! Estou mais do que encrencada! O que eu faço...” Mas estava muito mole para conseguir fazer qualquer coisa. Seu filete de esperança evaporou quando, por fim, o homem conseguiu pega-la.

Entretanto, algo repuxava no estômago de alguém sentado no bar. Os barulhos angustiantes, o desespero perceptível nos gemidos dela, o tipo de gente desprezível que a cercava e que, com toda a certeza, fariam coisas mais desprezíveis depois. Aquilo era repugnante e nauseante. Ele não aguentava apenas ignorar como os outros covardes. Os nervos subiam a cabeça e já cortava a palma da mão com as unhas. Sufocava e ele estava virando um animal. Não conseguia se controlar mais.

E agora estavam levando-a, semiconsciente.

O cara de cabelos pretos não teve tempo sequer para piscar quando um soco extremamente mais forte o acertou novamente, o jogando no chão e tirando sua consciência.

Todos os olhares voltaram-se surpresos e perplexos para o homem loiro, parado rente ao cara caído no chão, ainda com o punho cerrado. Todos pararam o que faziam. Hn, muitos ali se davam por sortudos por não estar na mira do olhar voraz e assassino dele.
E aqueles que estavam na mira... Chegava a ser engraçado como tremiam e engoliam em seco.

Ainda sentado no bar, Sasuke terminou de beber seu drink calmamente e sorriu de canto, se levantando. Aquela noite seria divertida. Daria para estralar os ossos das costas.

Algo como Flat On The Floor do Nickleback começava ao fundo. Hn, o clima era comicamente tenso."

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Notas finais do capítulo

Pra quem não entendeu bulhufas: só espere que entenderá devagar.
Vishi, vishi, vishi, o Naruto tá fulo da vida e o Sasuke tá afim de briga! Vejo muito barraco por aí...
Ah, e trilha sonora: na primeira parte, em que a Sakura está coladinha com o Naruto, a música foi inspirada em Guilty do Yann Tiersen. Quem quiser conferir, fica legal escutar enquanto lê.
Vejo vocês nos comentários!
Beijocas (:



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