Colecionadores De Segredos. escrita por Lioness


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Então minna, estou de volta mas com algumas coisas pra dizer. Sim, eu demorei horrores - desviando de pedras - mas eu sou um ser humano que tem direito de curtir as férias não?! Mas este não foi o único fator que me distanciou não só da fanfic como do site. Eu estive um pouco mal recentemente e pensei seriamente na hipótese de não mais postar e deixar o site. Infelizmente vou dizer que em parte foi pelo feedback que quase já não existe mais. Menos de 25% dos meus leitores comentam ou demonstram sinal de vida e isso é triste, desmotivador e desencorajador. Eu aos poucos parei de sentir a vontade de escrever, mas aí eu me lembrei do tanto que eu gosto dessa fic, minha primeira sobre Naruto e NaruSaku que é um casal que amo. Lembrei também dos meus leitores que comentam, dos seus comentários tão fofos, eles demonstram que apreciam meu trabalho e sei muito bem o quanto é ruim gostar de uma fic e ela ser abandonada no meio do caminho. Aos poucos fui retomando meu ânimo, aos trancos e barrancos, mas eu tenho que dizer que é chato ter um número de leitores e um número muito inferior comentar. Apenas dizer: "gostei" não vai machucar os dedos e sim alegrar o coração do autor. Um review dá inspiração e alegria, então, se continuar assim tão fraco, não sei se terei ânimo para continuar, porque é realmente um trabalho fazer uma fic, e ter todo esse trabalho para quase ninguém apreciar e criticar é perda de tempo, o qual eu poderia estar utilizando em outros projetos e fics que eu tenho em mente.
Enfim, este foi o meu desabafo, espero que compreendam.
Só tenho mais duas coisas pra notificar: não postarei mais certo de duas em duas semanas - infelizmente, isso vocês já estão acostumados - e o capítulo acabou de sair do forno, então não está revisado. Qualquer erro não tenham medo de dizer nos comentários e não tenham medo ou preguiça de comentar, por favor.
Boa leitura.



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Capítulo 14

Os postes simples fincados na terra ao lado do corredor deixava o local com uma iluminação razoável. A calmaria após a chuva se fazia presente. Os pequenos ruídos dos mosquitos batendo contra os vidros dos postes sincronizados com o cricrilar feito pelos grilos eram irritantes. O vento bailava no céu enquanto uivava de uma maneira agradável. O frio estava fino e gostoso.

As mãos pairadas no ar estavam um pouco frias. Os olhos verdes estranhavam o que viam. Seu cenho mantinha-se franzido enquanto seus lábios estavam levemente abertos. Alguns fios de seu cabelo rosado caiam sobre sua face, mas eram facilmente ignorados. Á sua frente, um garoto estranhava aquela atitude.

--Sakura-san...? – sua voz saiu um pouco rouca, o sereno estava o incomodando.

--Hn...? – parecia estar saindo de um transe.

--Está tudo bem?

--S-Sim... Me desculpe, eu só me distrai um pouco. – ainda parecia surpresa.

--O-Ok. – infelizmente, a falta de inocência o fez pensar coisas erradas o que o levou a corar e a soltar um risinho pervertido.

Completamente ao contrário do que o garoto idiota estava pensando, a rosada estava distraída com algo totalmente diferente. Realmente estava ligado ao dorso do garoto, mas o problema era o que o marcava e não era a ferida recente.

A pele estava marcada por inúmeras cicatrizes. Todos os tipos de tamanhos. Todos os tipos de profundidade. Pouco espaço estava ileso. Algumas pareciam recentes, outras aparentavam ser antigas. Aquilo não era comum. “Porque um garoto da idade dele teria coisas assim?” perguntou-se. Alguns sinais de queimadura e outros até mesmo do que poderiam ser de agulhas estavam em meio aquele mar de dor. Levou as pontas dos dedos frios até a pele arroxeada e manchada de sangue e percorre-os pela maior das marcas. Sentiu um pequeno gemido agonizado vindo do garoto e parou.

--N-Naruto... – levantou os olhos e o fitou. Seu olhar era de curiosidade e de pena.

--Suas mãos estão frias Sakura-san. – tentou em vão não tocar naquele assunto forçando um sorriso, mas sabia que não conseguiria fazer isso.

--As suas costas... Estão...

--A vida não é gentil com os órfãos. – seu tom gentil foi repentinamente trocado por um sério enquanto o silêncio tomava conta deles, mas tratou de quebra-lo logo – Mas, então, como está a ferida?

--S-Sim... – retomou ao seu objetivo e começou a examinar o corte – Vejamos, – apalpou o contorno do lugar machucado – não parece funda, mas também não é superficial. É comprida. O problema é o sangue, temos que estanca-lo logo.

--Você parece uma médica desse jeito. – riu – Mas, não tem problema. Posso aguentar até a enfermaria.

--Baka! – deu-lhe um tapa consideravelmente forte na cabeça.

--Ai, ai, Sakura-san, eu já estou todo machucado sabia?! Você deveria ter dó de mim! – choramingou.

--A prioridade é estancar este sangue, você pode ter uma infecção seu idiota. E além do mais, você mesmo disse que é resistente. – sorriu orgulhosa enquanto levantava com um pouco de dificuldade e colocou-se a frente dele.

--E onde vamos conseguir as coisas para cuidar disto, senhorita médica?!

--Não me subestime, agora é o momento em que você me diz que sou incrível! – “Droga, falando desse jeito estou parecendo a Ino!” pensou – Estamos nos fundos do colégio, aqui é onde ficam os depósitos e se não me engano o depósito de remédios fica no corredor à direita.

  --Sakura-san, você é incrível! – seus olhos começavam a brilhar diante a figura imponente de Sakura. – Então, vamos lo... – foi interrompido enquanto se levantava pela mão da garota.

--Ei, você fica aqui, não quero que force mais.

--Mas eu vou te ajudar a trazer as coisas e...

--Não se preocupe, eu consigo sozinha. Além do mais, bons pacientes tem que ouvir seus médicos, não é?! – lhe deu um sorriso gentil.

--Mas... – suspirou em derrota, sabia que teria de ficar – Tudo bem. Qualquer coisa me chame.

--Pode deixar, eu me viro sozinha. Não devo demorar. Não saia daqui, quando voltar quero te encontrar como deixei, ouviu?

--Hai mamãe!

--Baka... – suspirou dando as costas ao loiro e virando o corredor.

--Hey, eu ouvi isso! – resmungou alto e indignado enquanto ela ria abafado já distante. – Hn... Bom... – olhou para os lados – O jeito é esperar.

Um semblante totalmente entediado tomou conta de sua face e cuidadosamente ele deitou no banco, não forçando a ferida aberta. Sorriu ao ver como ela estava cuidando dele. As pessoas não costumavam fazer isso por ele. Lembrou-se de seu livro que havia guardado no bolso e tirou-o para conferir se estava inteiro e felizmente estava. Suspirou aliviado e guardou-o novamente. Tentou descansar um pouco, mesmo para ele, havia se esforçado um pouco de mais. Os ossos continuavam doloridos, aquele tinha sido um impacto razoavelmente forte. Embora soubesse que uma soneca seria o suficiente para estar renovado, por hora o latejar estava absurdamente irritante. Suspirou novamente e fechou os olhos. Era hora de relaxar.

-------------- xx --------------

Eram por volta das sete e meia da noite, os seguranças noturnos já haviam começado seu turno. Os monitores davam uma última volta pelo colégio para enfim poderem fazer o tão querido jogo de poker na sala dos funcionários. Iriam beber, jogar, fumar e talvez namorar, então faziam seu serviço as pressas e por isso nem ao menos notaram um garoto ruivo andando pelos corredores.

Sua expressão facial não era muito reveladora. Seu cabelo ruivo intenso contrastava com seus olhos calmos e profundos. A passadas leves ele levava seus pés ao caminho que seguia. Era quase imperceptível. Parecia um pouco confuso com qual rumo tomar, mas o mapa em suas mãos era de grande ajuda. Parou em frente a dois grandes corredores, um pouco hesitante. Consultou o panfleto em mãos e tomou o caminho da esquerda.

-------------- xx --------------

Já havia percorrido dois corredores a mais do que pensava que teria de ir. Calculara mal onde a sala estaria. Sua perna latejava ardentemente a cada passada que dava e aquilo a deixava mais irritada. Lembrou-se do que havia visto há pouco. Não pensara e nunca imaginaria que algo assim teria acontecido com alguém. Lembrou-se do que Naruto havia lhe dito e se perguntou o que teria passado em sua infância. “Algo nada fácil, pelo visto.” disse baixinho para si quando enfim encontrou a sala onde ficavam os suprimentos médicos. Estava trancada, mas nada que uma pequena força e pressão não resolvam. Habilmente destrancou a porta e mancou para dentro tateando a parede a procura o interruptor, estava escuro. Depois de quase derrubar uma pilha de caixas, o achou e surpreendeu-se com a quantidade de caixas.

--Bom, se algo acontecer, pelo menos estaremos preparados. – disse enquanto colocava as mãos na cintura e buscava com os olhos alguma caixa que lhe indicasse suprimentos para primeiros socorros. Logo achou uma pequena maleta branca com uma cruz em vermelho e pegou-a – Achou que não vão se importar se eu pegar isto emprestado. – sorriu.

Carregando a maleta com a mão menos machucada ela se virou, mas foi surpreendida por uma caixa grande a sua frente. Sem conseguir desviar, acabou tropeçando e caindo de costas no chão, batendo a cabeça em outra caixa atrás de si e deixando a maleta cair. Por sorte, não bateu a cabeça no chão por que suas costas foram logo de encontro com a caixa atrás de si e usou como apoio outra ao seu lado. Seria mais um hematoma para a coleção. Massageou as têmporas e suas costas enquanto praguejava. Levantou-se com dificuldade e esticou-se um pouco. As dores haviam aumentado um pouco mais. Olhou em sua volta e viu a bagunça que tinha feito. Suspirou exasperada e começou a recolher as caixas e a empilha-las novamente. Torcia para que não tivesse quebrado nada.

--Numa hora dessas, uma ajuda do Naruto iria cair bem... - soltou em um suspiro arrependido enquanto erguia uma das caixas e a colava no lugar.

Quando colocou a ultima caixa no lugar com extremo cuidado e a encostou contra a parede escutou um barulho de vidro e assustou.

--Droga, não me diga que eu quebrei algo!

Verificou a caixa e não era algo frágil. Percebeu que algo impedia de empurra-la toda contra a parede. Estranhou e com o cenho franzido puxou a caixa um pouco mais para frente. Inclinou-se sobre ela e notou uma garrafa, mas não era de remédios, era o total contrário. Afastou a caixa um pouco mais ao ponto que pudesse passar por ela e chegar à garrafa. Ainda com o cenho franzido, agachou-se e pegou-a. Levou-a até o rumo de seus olhos e notou que não tinha rótulo, mas já suspeitava do que se tratava. Quando a destampou e sentiu seu aroma, pode confirmar plenamente: era sake.

--O que uma garrafa de sake está fazendo no meio dos remédios? Será que é aqui que Ino esconde suas bebidas? Acho pouco provável, ela não esconderia tão mal. De quem será...? Bom, deve ser de algum outro aluno. Melhor eu deixar aqui, ou vão saber que alguém andou mexendo. – levantou-se e pegou sua mala um pouco adiante. Manquitolou até a porta e apagou as luzes. De algum jeito, conseguiu fazer com que a porta parecesse trancada e voltou a caminhar. Lembrou-se do garoto novamente. “Naruto, o que você passou?”.

-------------- xx --------------

O garoto caminhava a passadas pesadas, porém silenciosas. Estava nervoso pela gentileza que havia acabado de fazer, o que para ele era mais um favor, tanto para a garota quanto para o idiota. “Devia ter deixado ele se ferrar.” pensou. “Droga, aquela garota é irritante, deve ser mais uma mimada que fica triste quando não fazem as coisas que ela quer. Não tenho tempo a perder com garotas assim.”

Quem o visse de longe, diria que ele estava calmo, natural e normal. Mas quem conhecesse o moreno de verdade, saberia que ele estava fumegando. Sasuke detestava perder tempo com coisas inúteis, com pessoas. 

Sabia que de nada lhe adiantaria ficar de cabeça quente, então tinha decido ir para o quarto, tomar um banho e relaxar um pouco. Não estava acostumado a dormir, não gostava. Desde criança, nunca teve a oportunidade de saber o que chamam de “uma boa noite de sono”. Adormecer não fazia parte de seus privilégios. Não sonhava. Não tinha pesadelos. Não tinha nada, seu estado era como vegetativo então optava por não dormir. Claro, por cansaço, muitas vezes tirava alguns coxilos, mas de pouca duração. No fundo, tinha medo de acordar e encontrar tudo destruído, assim como aconteceu quando pequeno, naquele armário velho. “Talvez...” uma voz remota e profunda proferiu dentro de si “Talvez Naruto esteja certo. Talvez eu deva criar... Laços...”.

O corredor estava vazio e um tanto quanto escuro. Cessou seus passos e com as mãos no bolso ficou ali parado. Os olhos ônix não expressavam absolutamente nada, apenas um pequenino brilho. Seu cabelo escuro fundia-se com as sombras formadas pelas portas e armários. Já não estava mais nervoso a respeito da garota ou de seu amigo. Estava pensando, organizando-se e sentindo. Repassava tudo em sua mente: imagens, sentimentos, dor. Então, seu pequenino brilho desapareceu de suas orbes. Suspirou internamente de um jeito profundo, encarando o horizonte. Retomou suas passadas, mas na direção oposta. O colégio estava como ele gostava, com pouca gente e pouco movimento. Iria fazer uma caminhada e conhecer melhor a área. Não iriam sentir sua falta no momento, sabia muito bem os planos dos monitores. Lembrou-se de Jiraya, ele devia estar junto com os monitores e professores que dormem na escola se divertindo, fumando e jogando ou então estaria em algum bordel ou bar pela cidade, mas em ambos os lugares, devia estar fazendo o mesmo. Lembrou-se também que o dia seguinte seria domingo e que queria comprar algumas coisas na cidade. Teria que pedir a autorização de saída a Jiraya, o que seria uma coisa muito chata de se fazer quando ele provavelmente vai estar de ressaca.

Bufou e continuou a caminhada. Não sabia muito bem para onde iria, mas deixava isso por conta de seus pés.

-------------- xx --------------

Os grilos já não cantavam tanto quanto antes. Uma das lâmpadas de um poste piscava, estava perto de queimar. Podia-se ouvir o aninhar dos pássaros na árvore mais próxima. O clima pacífico era gostoso e propenso ao descanso. A paisagem era bonita, assim como a lua grande no céu.  O banco lhe era extramente confortável em comparação a outras coisas que já lhe serviram de cama. Não dormia, mas também não estava totalmente acordado. Não sentia dor, apenas um latejar e já não mais o incomodava. Estava sentindo falta dela e estranhava a demora. Perguntava-se se havia acontecido algo, mas estava decido a espera-la um pouco mais para depois procura-la.

Ela virava o corredor ainda mancando, carregando a maleta na mão. Seu semblante também era um pouco cansado, tinha feito bastante esforço hoje. Já ia chama-lo quando se deparou com a imagem do loiro deitado no banco. Sua expressão era serena e tranquila. Pode-se dizer que até mesmo reconfortante. E essa tranquilidade invadiu-a também, acalmando seu coração e mente. Sorriu e o admirou por um pouco. Seu físico era impecável, ela admitia, e seu rosto não era feio, seus traços eram belos. Sentiu que suas bochechas avermelhavam-se, mas não ligou. Apenas saiu do transe quando o viu se mexer e chama-la.

--Você demorou.

--Desculpe, tive alguns problemas com as caixas. – caminhou em sua direção – E como está? Dói muito?

--Não, nem ao menos sinto direito. Eu te disse, apenas lateja.

--Bom, isto é bom, é um sinal de que esta curando. Vamos, sente-se, eu vou fazer o curativo.

--Tudo bem.

Naruto a obedeceu enquanto ela sentava atrás de si da mesma maneira que antes. Ele tinha o corpo curvado e os braços descansavam nas pernas. O sangue contido neles já estavam secando, ele estava se curando rápido, diferente da garota que ainda tinha feridas minando. Ela abriu a maleta que havia colocado ao seu lado e retirou um pequeno vidro de rosca escrito o que continha – aquilo iria servir para esterilizar os machucados – e o colocou ao seu lado. Em seguida retirou a gaze, um pacote de algodão, lenços umedecidos e as luvas de borracha e assim, logo as vestiu. O som da borracha grudando em sua pele era desagradável, assim como o toque do material com suas feridas em aberto nos dedos.

Retirou dois lenços e começou a limpar o sangue superficial que manchavam as costas dele. Fazia o contorno das feridas com a mão firme, porém com extremo cuidado, da mesma forma com que havia aprendido com Shizune. Quando por fim acabou – depois de alguns minutos – deixou os lenços já totalmente manchados em um canto e abriu o vidro de rosca, colocando a tampa na caixa e, com a mão que estava livre, puxou um pouco de algodão e o molhou com o líquido.

--Ei, Naruto, isso pode arder um pouco, então, por favor, não chore ok?! – provocou com leve sorrisinho petulante.

--Sakura-san, você sabe, homens não choram! – respondeu com o mesmo tipo de sorriso.

--Bom, vamos ver.

Iniciou o processo de esterilização primeiro contornando as feridas e em seguida, com muito cuidado, aprofundando mais na carne. Não disse nada, apenas sorriu quando Naruto gemeu extremamente baixo e se contorcia à medida que intensificava os lugares que levava o algodão. Ele não chorava, mas se o olhasse de frente, veria uma expressão agonizada em seu rosto e olhos firmemente cerrados, assim como suas mãos. Como uma criança. Seu corpo pode ter sido treinado para suportar as piores das dores, mas aparentemente um ardorzinho era seu ponto fraco. Ela riu novamente “Bom, acho que coisas ardentes são o seu calcanhar de Aquiles, senhor resistente.” Pensava a garota quando escutou um pequenino “au” vindo do garoto.

--Não se preocupe, já está acabando.

--Não tem nenhum problema Sakura-san, – tentava fazer com que sua voz parecesse forte, mas falhou miseravelmente – isso não é nada!

--Sei...

--Não acredita em mim? – agora sua voz era perfeitamente manhosa.

--Claro que acredito! Como não poderia?!

--Você é má. – ela riu. Um novo “au”.

--Hey, Naruto, por que... – parou por alguns segundos, ele esperava atento – Por que me protegeu?

--Proteger? – o loiro estava confuso.

--Eu percebi que iríamos bater naquela árvore. Era para ser eu a receber o impacto. Porque me protegeu? Porque recebeu no meu lugar? – parou por um instante o que fazia e ele lhe virou o rosto.

--Porque naquela ocasião, éramos apenas nós dois e devemos cuidar um dos outros. Devemos cuidar de quem nos importa. Afinal, como eu poderia ser seu amigo sem ao menos me importar com você? – seus olhos eram sinceros assim como suas palavras. O tom manso e confortável de sua voz tocaram Sakura, ela emudeceu e corou sutilmente – Além do mais, é dever de todo homem proteger as mulheres! – lhe sorriu confiante e orgulhoso.

--Bom, você ainda é só um garoto, então não fique se gabando. – retomou seu serviço.

--Hey!

--Obrigada. – ele novamente olhou para ela confuso. Agora era ela que lhe olhava de um jeito sereno e sincero – Eu podia realmente ter me machucado ali, obrigada.

--Não foi nada Sakura-san, desde que você esteja bem.

--Mas, por favor, pense um pouco antes de fazer as coisas, pode acabar morrendo. Essas feridas não foram tão graves, mas também não é superficial. Assim você vai acabar enterrado antes dos trinta.

--Nah, isso só vai deixar umas marquinhas de nada.

--Pra vida inteira.

--Bom, então pela vida inteira vou sempre me lembrar de quando começamos a ser amigos, assim como você, afinal, também ganhou umas marquinhas. – ela corou e riu do jeito de pensar do loiro. Normalmente aquelas palavras a deixaria tensa, mas a inocência do garoto a fez relaxar. – Ah, e de quando eu te carreguei! – adicionou entusiasmado.

--E de quando rolamos pela grama e acabamos todos ralados e acabados. – ela emendou.

--E de quando eu te vi dormindo no meio do jardim que, convenhamos Sakura-san, isso não é coisa de garotas normais fazerem. – sua expressão era debochada. Ela intencionalmente atingiu a ferida aberta com o algodão – Ai, ei, essa doeu! – choramingou.

--Por um acaso – as palavras saiam devagar, mas ela estremecia e quase cuspia fogo – está me chamando de... – pausou para tentar manter a calma o máximo que conseguisse – a... nor... mal...?

--Nah, só de esquisita mesmo. – ele assentiu sem perceber a áurea assustadora atrás de si.

--O QUE DISSE?! – esbravejou pressionando com força o algodão contra a carne exposta, causando tremenda dor em Naruto – que agora então percebia a gravidade da dimensão de suas palavras – que agonizava arduamente.

--AI, AI, n-nada Sakura-san! – batia os pés freneticamente no chão enquanto apertava as coxas com as mãos. Seus olhos já lacrimejavam.

--Foi o que eu pensei. – o loiro finalmente se acalmou, fungando. – Eu também pensei que tinha me dito que homens não choram. – seu tom de voz era altamente insolente – Ah! Me lembrei. Você ainda é um garoto! – sorriu orgulhosa e debochada enquanto maneja a mãos novamente com cuidado terminando a última ferida.

--Sakura-san... – virou-lhe o rosto, chorando. – Você é realmente má.

--Disse algo? – lhe fuzilou com os olhos, embora a voz permanecesse calma.

--Nada, nadinha de nada, não senhora!

--Que bom. Acabamos a esterilização por aqui, já pode parar de chorar, sim? – ele fez bico – Agora só tenho que cobrir essas feridas com a gaze. Naruto, poderia se inclinar um pouco mais?

--Ok. – a obedeceu.

Deixou o algodão junto com os lenços e devolveu o vidro para a maleta. Virou suas costas um pouco menos que noventa graus e alcançou o pacote de compressa de gaze estéril e abri-o. Retirou o material algodoado de lá e o colocou sobre a ferida maior, a que tinha mais precisão. Encostou os dedos com um completo cuidado e delicadeza, tentando não mais lhe causar dor, ele já havia pagado pelo atrevimento. Segurou com a gaze conta a pele com a mão direita enquanto pegava o esparadrapo dentro da maleta com a mão esquerda. Desta vez Naruto não gemia ou demonstrava sentir dor, sinal de que o cuidado de Sakura estava sendo eficiente. Com a boca, começou a puxar o esparadrapo e a corta-lo em alguns pedaços, o suficiente para manter a gaze presa e então os colou entre o material algodoado e a pele bronzeada do rapaz. Em questão de poucos minutos já estava tudo pronto. Suspirou e relaxou, puxando a ponta dos dedos da luva de borracha novamente com o dente e recostando no banco.

--Acabei. – exasperou.

--Hn...? – tentou olhar o feito por de trás das costas – Parece estar muito bem feito. Por último eu quase não senti nada. Você leva jeito para essas coisas Sakura-san!

--Oh, Naruto, obrigada, mas você nem ao menos consegue ver direito. Ainda preciso melhorar muito para conseguir fazer os primeiros socorros direito.

--Bom, eu conheço enfermeiros que você deixaria no chinelo.

--Bem, vamos, ainda temos que passar na enfermaria, temos que jogar esse lixo lá e devolver a maleta – pegou os itens que citou – A noite vai ser longa! – levantou-se com um pouco de preguiça e pôs-se a frente do loiro.

--Sakura-san, você parece estar exausta! – ele também levantava agora.

--Nada que uma noite de sono não resolva. – bocejou – Agora vamos. Quanto antes resolvermos isso mais vamos ter tempo para descansar.

--Agora que você disse, me deu um soninho. – bocejou também, já haviam começado a caminhar corredor à frente.

--Naruto, não diga “soninho”, faz você parecer com uma criança pequena.

--Ah, Sakura-san, não seja cha... – nem chegou a terminar de completar sua frase, sabia que aquela palavra em questão desencadearia coisas não muito agradáveis.

--Hey, pode carregar a maleta pra mim? – ignorou completamente o que ele iria dizer.

--Claro.

--Obrigada, só tome cuidado para não derrubar.

--Que tipo de macaco sem coordenação motora você acha que eu sou, hein Sakura-san?

--Do tipo que não consegue descer um simples e pequeno declive na terra.

--Hey, ele não era tão pequeno assim! Ele era cruel e grande! – mensurou o tamanho com os braços de um jeito infantilmente exagerado.

--Pode deixar que eu contarei para os outros assim. – ela estava perplexa com a infantilidade recente que ele agora mostrava. Não que aquilo fosse uma surpresa, ela já esperava isso dele. Também não era um fator completamente ruim, embora fosse idiota, a descontraí-a, mesmo irritando-a.

--... – a olhou de soslaio com uma expressão desconfiada – Sério mesmo? Promete?

--Naruto...

--Hm...?

--Cala a boca! Até cinco minutos atrás estávamos em um clima agradável, mas eu estou começando a achar que você é mais legal calado.

--Sakura-san... – disse em um muxoxo emburrado. Ela sorriu de canto. Em parte, aquilo era verdade. Aquele jeito era extremamente irritante e idiota, mas de tanto ser assim, chegava a ser contagiante e levemente cômico. Ela estava relaxada, mesmo com dor, não tinha motivos para se alterar neste momento.

-------------- xx --------------

Os pés pequeninos seguiam um na frente do outro. Seus olhos não saiam do chão, mas seu rosto mostrava ter um sorrisinho encantador. Em seu ombro, ela carregava uma bolsa exageradamente grande, recheada de livros e mais livros.

O dia parecia não ter sido tão ruim para ela quanto ela imaginava, afinal, aquilo não era tão ruim, aliás, não era. Sorriu novamente de um jeito doce ao lembrar. Não se preocupava por onde andava, afinal, era de se esperar – ela esperava – que não houvesse ninguém por ali, mas mal pensava ela que atrás de si, passadas a acompanhavam no completo escuro silêncio.

-------------- xx --------------

As nuvens já haviam sumido do céu, deixando apenas a lua e as estrelas como supervisoras da noite. O frio começava a ser cruel, queimando do pior jeito. A garota de cabelos rosados seguia mancando ao lado do garoto loiro passivamente, como se o tempo já não fizesse mais diferença e como se os ferimentos já não latejassem mais. Seus olhos mirados no céu.

--Hey, Naruto...

--Hn...? – lhe ergueu o olhar.

--Está um pouco frio, não?

--Está fresco. – ele não parecia sentir uma ponta de frio – Precisa de um agasalho, Sakura-san?

--Não, eu gosto assim, em noites frias é mais gostoso olhar o céu. – ele fitou-a com a sobrancelha direita erguida.

Prosseguiram em silêncio. Ele continuava a encara-la tentando decifrar a expressão em seu rosto, era curioso e um tanto quanto engraçado, fofo. Seu sorriso pequeno era meigo e seu olhar era pacífico e lhe passava calma. Relaxante. Notou que ela não tirava os olhos do céu e que já não mais havia nuvens, apenas a lua e as estrelas. Uma bela visão. Era realmente admirável, então passou a admira-la também.

Em instantes seu semblante relaxou, assim como seu corpo tenso. Seus olhos tornaram-se como os dela e como ela, o loiro deixou que um sorriso formasse em seu rosto. A dor não lhe incomodava, apenas aquela gaze em contato com sua pele, mas agora parecia que já não mais existia nada que pudesse lhe preocupar. Entendeu enfim como a rosada se sente.

--É bom não é? – a rosada lhe perguntou.

--Ver as estrelas? – seu jeito de perguntar era cínico já que sabia do que se tratava, mas seu tom de voz não deixava de ser manso e gostoso.

--A sensação. É reconfortante, relaxante e... – puxou ar – Nostálgico. Como pode alguns pontinhos no céu ser tão agradável e te fazer tão... E te fazer sentir tão...

--Bem...? – Naruto completou. Ela o olhou um pouco surpresa, sem saber por que – Bom, o céu é um refúgio. Algo que sempre esteve acima de nossas cabeças e sempre estará, mas que mesmo assim o ignoramos. No céu não há brigas, mortes, perdas. Elas estão sempre lá, toda noite e dia, mesmo quando o Sol as ofusca. Elas são serenas e quando a admiramos, ela nos passa sua serenidade. Elas estão ali, bem no céu, nos acolhendo sempre que precisamos, com sua paz e beleza, nos fazendo pensar, refletir e espairecer. Fazendo com que fiquemos mais belos e calmos, como elas. Fazendo companhia para os sozinhos e acompanhando os já acompanhados. Espalhando alegria tranquilidade pela noite.

--Naruto... – ela sorriu gentilmente e surpresa para ele – Não pensei que sentisse assim... – cruzou as mãos em suas costas com os braços esticados – Isso foi muito bonito.

--Bom, muito tempo sozinho te faz ter bastante tempo para pensar.

--Eu e minha mãe costumávamos deitar no jardim a tarde e ficar até passar da minha hora de dormir. Ela sempre me dizia de como olhar o céu a fazia sentir-se livre e de como era divertido. Eu nunca perdi esse hábito, sempre que faço sinto de novo como era estar com minha mãe.

--Bom, toda vez que como algo com gosto de queimado me lembro da minha mãe! – ambos riram – Mas mesmo assim, é gostoso.

Uma pequena ponta de tristeza se mostrou em sua voz rouca e suas safiras por um instante pararam de cintilar. Percebendo isso, a rosada moveu seus passos sutilmente para o lado de seu então amigo e lhe empurrou com o quadril, sem tirar o sorriso do rosto, distraindo-o de suas memórias ruins.

Ele foi pego de surpresa e cambaleou um pouco desajeitado para o lado. Estranhou tudo aquilo, mas viu que a sua direita uma garota lhe esperava com um sorriso amigável e encantador, com belos olhos de íris incomum e lindamente verdes transmitindo certa animação que ele aceitou de bom grado e retribuiu com outro sorriso de canto sapeca, aproximando-se mais dela e voltando a caminhar, mas não pode deixar de dizer algo:

--Noites quentes também são boas de olhar para o céu. – lhe provocou, mesmo não tendo a intenção de irrita-la.

--Mas noites frias são melhores e mais agradáveis. – lhe respondeu no mesmo tom.

--O quentinho é gostoso.

--Mas quando você se faz ficar quentinho é melhor ainda. Além do mais eu já te disse para não usar palavras no diminutivo desse jeito!

--Ah, Sakura-chan! Mas você fica tão engraçada nervosa! – lhe fez uma careta na tentativa de parecer fofo, mas falhou miseravelmente e, ela não pode deixar de rir, não do jeito que estava, mesmo segurando.

Então seguiram a noite com aquele mesmo clima descontraído e aconchegante, como se conhecessem há anos, como se não existisse tempo naquele momento, como se fosse apenas a lua, as estrelas e eles. Como se não estivessem em um internato nas circunstâncias de cada um.

A companhia um do outro se fazia tão agradável e natural que mal se aperceberam quando chegaram à porta da enfermaria e que aquele seria o fim da noite para ambos. “Ou talvez não.” pensaram ambos, afinal, a enfermeira não era uma pessoa fácil. Ambos sem saber, torciam para que não e no fundo sabiam disso.

-------------- xx --------------

Aquecia os braços esfregando-os arduamente com as mãos, até a pele alva se encontrar avermelhada. Enfim chegava a porta de seu quarto. Estava cansada e a bolsa em seu ombro estava pesada, assim como suas pálpebras. Bocejou preguiçosa e levou os dedos frios até a maçaneta mais fria ainda. Coçava os olhos com a mão livre e já girava a maçaneta, mas interrompeu o processo ao sentir uma presença atrás de si. Virou-se rapidamente e assustada, agarrada a sua bolsa e gritou, porém seu pedido de socorro não durou por muito tempo. Logo foi calada pelo apelo em chiado da boca daquela presença. Seus olhos perolados se depararam com um curto cabelo ruivo vibrante e olhos verde mar. Era um rapaz que não vestia o uniforme, mas obtinha o mapa do colégio nas mãos. Ele ainda acalmava-a quando ela desapertou sua bolsa e enfim tomou coragem de dizer algo:

--P-P-po-posso a-a-a-aju-ajudar? – não queria gaguejar e transparecer medo, mas isso era uma missão impossível.

--Eu procuro uma aluna chamada Haruno Sakura, a conhece? – seu tom de voz era frio, porém educado, mas mesmo assim, não deixava de ser assustador.

--S-S-Sakura-s-san...? – murmurou.

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Notas finais do capítulo

Bom, desculpem por qualquer erro ortográfico. Um grande obrigado aos meus leitores que deixam comentários e um incentivo para os fantasmas: por favor, deixem seus comentários ao final do capítulo, sim? Não sabem o quão gratificante é!
Enfim, já sabem: erros de coerência? Ortografia? Português? Diga nos comentários!
Até o próximo capítulo.
Ja nee (: