More Than... escrita por Ane Viz


Capítulo 3
Capítulo dois: O passeio sem volta


Notas iniciais do capítulo

No capítulo anterior:
Se comporte filha.
Instantes mais tarde, pude escutar o som da porta batendo, estava literalmente sozinha. Pensei por alguns momentos se deveria ficar em casa ou dar uma voltinha. Que mal tem? Pulei da cama, coloquei uma calça jeans, uma blusa azul, e um sobretudo bege por cima com umas botas beges também. Peguei o celular colocando na bolsa com a carteira, os documentos, dinheiro e o que mais tinha ali dentro. Saí do apartamento com a sensação de que algo iria acontecer. Só não tinha noção do quão estava certa. Ou melhor, do quanto isso iria mudar minha vida para sempre.
Boa leitura!



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Capítulo dois: O passeio sem volta

“I am moving through the crowd

Trying to find myself

Feel like a guitar that's never played

Won't someone strum away” (78 violet)


O corredor estava vazio, chamei pelo elevador e tive que esperar um pouco. As portas depois de alguns minutos se abriram, entrei apertando o andar da portaria. Aproveitei o espelho no fundo do elevador para ajeitar meus cabelos. Tinha os deixado soltos porque devia estar frio. Quando cheguei à portaria do prédio, cumprimentei o porteiro me lembrando de que seu nome era Juan. Acenei um “tchau” após recusar que chamasse um táxi. A ideia era dar uma volta pela cidade nada demais.


–Até mais, Juan. – Disse a ele antes de continuar com sua tentativa de me convencer a não sair sem ter um transporta definido.


Sorri me lembrando de todas as vezes que sai sem saber direito como voltarei. Fiz uma careta lembrando não estar sozinha em nenhuma delas. As ruas estavam frias, mas não me incomodei. Passei por uns grupinhos afastados que riam baixinho parados perto de uma parada de ônibus. Desci pela rua observando tudo. Londres é um sonho. Concluí vendo as casas pelas quais passava. Ao encontrar algum prédio antigo ou casa sorria totalmente fascinada. Quem dera no Brasil fosse assim...

Abracei meu corpo ao sentir um vento passar por mim. Gelado. Resmunguei sozinha, para em seguida rir da minha própria idiotice. Claro, o que esperava? Calor? Deixei de lado a discussão interna sabendo não dar em nada. O céu estava escurecendo aos poucos apesar de ainda estar claro. Parei um pouco me decidindo para que lado seguir. E totalmente desconcentrada. O cabelo bateu contra meu rosto, me fazendo colocar atrás da orelha. Vi que lá longe vinha um ônibus.

Escutei algumas pessoas paradas um pouco adiante. Em silêncio me aproximei delas. Mordi o lábio sem saber direito se devia perguntar se era a parada de ônibus ou não. Afinal, não tinha nenhuma placa. Uma garota da minha idade pareceu perceber a confusão em meu rosto. Se afastou um pouco dos amigos, vindo até mim. Parou do meu lado, colocando as mãos dentro do casaco. Ela sorriu simpaticamente. Podia ver em seus olhos que estava com medo de me assustar.


–Tudo bem? – Perguntou curiosa.


–Hã, sim?! – Afirmei perguntando.


–O quê?


–Bem, queria saber se aqui é um ponto de ônibus.


–É sim. – Concordou. – Aquele ônibus aí – apontou para o que acabava de parar ali – vai para o centro da cidade.


–Excelente! – Sorri. – Muito obrigada.


–De nada, estrangeira.


–Até, Londres.


Ela riu acenando voltando para perto do seu grupo. Entrei, paguei a passagem, passei os olhos pelo lugar e encontrei um lugar no final. Andei até lá sem prestar muita atenção ao resto. Não conhecia o trajeto, mas ver as ruas passando estavam me acalmando. Era fato não saber onde estava indo. Somente sabia ser o centro de Londres. Via que as ruas iam começando a ficar repleta de pessoas. Pelo jeito, as ruas ficam lotadas nas noites daqui. Desliguei meus pensamentos analisando a cidade.

Londres sem dúvida era um lugar encantador, mágico. Estranhei um pouco o silêncio porque no Brasil sempre tem alguém falando, cantando. Estava totalmente perdida em pensamentos, mais uma vez, até uma voz chegar até mim. Assustada, me virei para ver quem estava falando comigo. Um senhor de mais ou menos, cinquenta anos, de cabelos grisalhos e óculos estava parado a minha frente. Sentei direito no assento, procurando prestar atenção em suas palavras. Qual é? É o meu primeiro dia aqui, me dê um desconto.


–Senhorita, com licença. – Falou o motorista educadamente. – Este é o ponto final. – Indicou o lugar.


Assenti.


–Senhor? – Chamei por ele.


–Sim?


–Poderia me dizer se estamos no centro?


–Sim, é exatamente aqui.


–Obrigada.


Levantei, reparei que era a única ainda ali. Disse um ‘desculpe’, recebendo um ‘de nada’ gentil. Ponto positivo em Londres. Pensei. São mais educados os motoristas. Além de ser incrível de paisagem e vista, tem os melhores cantores do mundo. Tem com ser melhor? Perguntei duvidando. Parecia sonho estar ali. Sempre quis viajar para cá e estar aqui... Bem, é maravilhoso. Olhei melhor onde estava. E perdi o ar, o lugar era verdinho, com flores, bancos desenhados e brinquedos. No centro, tinha uma fonte linda.


–Uau!


Era uma praça linda. Agradeci estar sozinha porque tinha certeza parecer uma boba. Saí de perto da parada. Umas nuvens cinza surgiam no céu indicando que logo iria chover. Andei um pouco por ali e percebi não saber onde estava. Respirei fundo tentando me acalmar. Peguei o telefone na bolsa e procurei na memória o número de alguma das meninas. Liguei para todas e nada. O nervosismo me impedia de pensar direito. Droga, Lorena! Tinha que se perder e logo no primeiro dia? Repreendi a mim mesma mentalmente. O aparelho vibrou me fazendo atender.


–Alô?


–Filha, como está?


–Oi mãe, bem, e você?


–Tudo bem. – Pausou um pouco. – Esperei você ligar e como esqueceu preferi tentar falar contigo.


Droga! Pensei irritada comigo mesma. Como pude me esquecer de ligar para casa? Respirei fundo, iria deixar de lado alguns detalhes. Não queria brigar com ela, menos ainda nessa situação.


–Oh, me desculpe. – Ajeitei o cabelo que a brisa gelada bagunçava. – É que estou fazendo várias coisas. – Puxei a gola do sobretudo para cima tentando me proteger mais. – Organizando minha nova vida.


Ela suspirou baixinho e sorri triste.


–Então, está tudo bem?


Mordi meu lábio inferior. Se realmente contasse a verdade seria uma conversa emocionante. Claro mãe, fiz várias coisas hoje. Arrumei o quarto, comi e... Ah, é. Eu me perdi. Não é demais? Provavelmente, no segundo seguinte me ligaria dentro de um avião dizendo estar indo me buscar. Imaginei a cena e sorri.


–Sim, e por aí?


–Bem, com saudades.


–Eu também. Manda um beijo para o pai.


–Pode deixar, estou indo, amor. – Engoliu um choro. – Se cuida.


–Ok mãe. – Ri. – Vocês também. Tchau.


–Tchau.


Guardei o celular na bolsa. Andei mais um pouco pela rua, notei uma placa que parecia velha. Franzi o cenho ao ler o nome Caldeirão furado. Nome estranho para um restaurante. E por que é tão escondido? Quase não reparei nele. Um casal passou por ali, mas pareceu nem reparar na entrada. Dei de ombros, talvez, alguém pudesse me ajudar a encontrar um ônibus de volta para a minha nova casa. Passei pela portinha, sentindo meu coração disparar. Entrei e vi várias mesas com cadeiras, pareciam de madeiras. Em uma do canto tinha jogado um jornal.

Dei uma rápida olhada ao redor, notei um balcão que parecia um pouco empoeirado. Não tinha ninguém ali. Segui para a mesa, iria dar uma olhada no jornal enquanto esperava alguém aparecer. Peguei e ri do nome Profeta diário. Corri os olhos por ali e parei para analisar uma foto, então, me assustei soltando um grito. A pessoa no jornal sorriu para mim e acenou. Larguei o jornal na mesa e uma voz grave falou por trás de mim, chamando minha atenção.


– Está tudo bem, Srta.?


Girei nos calcanhares e vi um homem barrigudo e careca. Ele olhava de forma curiosa para mim. Como se eu fosse louca. Dei mais uma espiada no jornal, recebendo um sorriso.


–O – O jornal... – Falei gaguejando.


–O que tem? – Perguntou o senhor se aproximando.


–A foto.


–É um jogador de quadribol.


– Quadri o quê? – Balancei a cabeça. -Não, é isso. Ela se mexeu.


Ele riu.


– É claro. Queria o quê? - Voltou para trás do balcão. - Quer alguma coisa?


Concordei, mantendo afastado os meus pensamentos de como toda aquela situação era estranha.


–Onde posso pegar um ônibus?


Ele apontou com a mão a porta dos fundos.


–Obrigada. Er...


–Tom, sou o responsável pelo Caldeirão furado.


–Certo. Obrigada Tom.


Segui em direção ao lugar indicado, mas na hora que cheguei ali cruzei os braços.


–Só pode ser brincadeira. – Resmunguei.


A porta atrás de mim bateu e um homem enorme apareceu na minha visão. Andei para trás um pouco assustada.


–Tudo bem, mocinha?


–S-Sim. - Gaguejei.


–Onde pretende ir? – Questionou enquanto pegava um guarda-chuva rosa tocando em alguns tijolos.


Então, como mágica, eles começaram a se mover. Fiquei de boca aberta, desconcertada. Ele virou para mim e sorriu.


–Nunca veio aqui, certo?


Balancei a cabeça negativamente.


–Senhor, posso te perguntar uma coisa?


–Hagrid, Rúbeo Hagrid.


–O quê?


–Esse é meu nome, e o seu?


–Lorena, Lorena Improta.


–Nascida trouxa?


–Ei, porque está me insultando? – Perguntei ofendida.


Ele parou embaixo do Arco. Seus olhos fixaram nos meus e vi um brilho ali.


–Você não sabe... – Comentou baixinho.


–O quê? – Perguntei sem jeito. – Por que a foto daquele jornal estranho se mexe? – Tomei folego. – Por que ninguém além de mim pareceu ver esse bar de nome engraçado?


Olhei confusa para ele. Não tinha a mínima ideia de que aquele passeio seria sem volta.


–Não sei se sou a pessoa certa para isso, mas... Você é uma bruxa.


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Notas finais do capítulo

Oiii Lô, aí tem mais um capítulo. Espero que goste dele. Aí que começa a mudança. Aguardo, como sempre, ansiosa a sua opinião!
Beeeeeeijos mil!



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