Mike’s POV

Lembro-me como se fosse ontem, Jerry e eu finalmente havíamos conseguido conquistar a confiança do garoto mais popular do bairro, Sean, e ele nos levou até sua casa para vermos sua nova bateria. Jer e eu tínhamos 10 anos na época e Sean tinha 12.

Logo que chegamos, demos de cara com um menininho baixinho e de cabelo bem curto. Ele e Sean começaram a discutir, pois o pequeno não queria deixar nós três a sós.

No final, o pequeno na verdade era pequena e era a irmã caçula de Sean, 1 ano mais nova que Jerry e eu, e seu nome era Alice. Sean disse que deveríamos ignorá-la e se jogou em seu sofá nos convidando para jogar com ele.

Jerry havia gostado da menina de imediato e, enquanto Sean e eu jogávamos, os dois conversavam. Eu achei Alice uma chatinha e creio que ela percebeu, pois me desafiou para uma partida de vídeo game, o que era insanidade da parte dela, pois eu era tão bom naquele jogo que estava vencendo o próprio Sean.

Começamos a jogar, e como o esperado, eu venci a primeira partida. Alice fez uma carinha de choro e sugeriu que fizéssemos uma aposta para deixá-la mais motivada.

A aposta foi a seguinte: Nós jogaríamos um melhor de três, (contando com a partida que eu já havia vencido) e aquele que ganhasse teria o outro como escravo por um mês. Achei a ideia genial, eu precisava de uma escrava mesmo.

Sean me disse para tomar cuidado com Alice e eu achei fofo ele se preocupar com a irmãzinha... Só que na verdade ele estava preocupado comigo! A trapaceirinha havia fingido na primeira partida e me humilhou me derrotando em poucos segundos... 2 vezes. Jerry me zoa até hoje por isso.

E eu me tornei o escravo particular da nanica por um mês. Quem vê Alice toda meiguinha e fofa não sabe quão sádica a criaturinha pode ser.

Mas eu terminei me apegando a ela. Para mim, Alice era uma irmã caçula, eu parecia ser mais irmão dela que o próprio Sean, por isso mesmo me desesperei quando ela começou a crescer, seu corpo se desenvolveu muito rápido e os meninos começaram a prestar atenção nela.

Mas nenhum deles foi tão cretino quanto o próprio primo da minha pequena. Meu coração se partiu em mil pedaços quando a vi triste e ferida, bateu uma agonia e vontade de chorar, mas não chorei, pois queria ser forte para ela.

E foi em meus braços que ela desabafou, foi para mim que ela falou de sua dor. Sua filha nasceu e eu quis me casar com ela, não encostaria um dedo em minha "irmãzinha”, mas não queria deixá-la desamparada.

A verdade é que eu já a amava, mas não queria ver isso. E, por causa dessa minha teimosia, fiz a burrada número 1: Eu dei um fora nela.

Alice tinha 15 anos na época, todos os rapazes do bairro estavam de olho nela, até o Jerry era doido pra ficar com ela. Sim, o Jerry. Mas ela não ficava com ninguém. E ela queria namorar comigo.

Na época, eu era um autêntico galinha e disse que não queria saber de namorar uma pirralha que via como uma irmãzinha, como uma criança e preferia ficar com garotas que poderiam me providenciar tudo o que eu precisava. Sim, fui cretino.

Mais de 1 ano depois, ela finalmente desistiu de mim e arrumou um namoradinho qualquer. Só aí notei o quanto a amava, corri atrás e consegui que aceitasse meu pedido de namoro.

E então veio a burrice número 2: Eu a traí. E logo com uma de suas melhores amigas. O pior de tudo foi que eu estava tão bêbado que no dia seguinte nem lembrava de nada, mas Julie me garantiu que a forcei.

Eu me odiei, senti nojo de mim mesmo. O que me tornava diferente do primo cretino da Alice? Eu também havia forçado alguém, qual era meu direito de estar com ela depois de ter sido tão desprezível?

E eu contei a ela, tudo, exceto que a garota em questão era a Ju, não tinha porque Alice ficar com raiva dela se a culpa foi minha.

Alice nunca assumiu, mas eu vi a dor pela traição em seus olhos, ela estava desapontada comigo. Todos haviam avisado a ela que eu era um cretino e que não valia a pena, mas mesmo assim ela havia me aceitado. E eu traí sua confiança.

Ao contrário da castração lenta e impiedosa que imaginei que ela me faria, Alice simplesmente disse que me perdoava, mas que não poderia mais ficar comigo. Eu acho que preferia a castração...

–Eiii. Mike, cara, você tá legal? –A voz de Sean interroga me tirando de meu devaneio.

–Ah, estou sim. -Digo disfarçando.

Porque estou lembrando isso tudo mesmo? Ah sim... Estamos na lanchonete, a mesma em que a pedi em namoro por pelo menos três vezes antes de ela aceitar, onde também ela me deu um fora. E agora ela está sentada ao lado de outro cara, o namorado da Julie. Eu não se quanto aos outros, mas para mim é claro que rola um clima entre os dois e isso me destrói por dentro.

Vejo suas mãos se tocarem sem querer e então eles se olham e dão uma risadinha disfarçada. Os dois passaram horas conversando sobre bobagens e até já se beijaram, mas isso foi antes de Alice saber que Layne namorava com a Julie.

Mas é inevitável, eu olho para os dois e sei que eles vão se tornar namorados. Dói pensar nisso, mas eu sei que sim, mais cedo ou mais tarde.

Olho para o lado da mesa que Alice e eu costumávamos usar. Lembro-me de cada sorriso tímido dela, dos toques sutis em minhas mãos, os chutes por baixo da mesa quando eu falava alguma besteira...

E então olho para o lado dela. Curiosamente Alice está me encarando, ela olha para o lado de nossa antiga mesa e sorri para mim, colocando sua mão por cima da minha.

Alice ainda me ama, eu sei. Ela me ama, mas não é da forma que quero que ame. Eu a perdi e tenho certeza disso. Eu não a mereço, mas vê-la sorrir dessa forma tão adorável depois de passar tanto tempo séria e fria... Por mim não importa se não estou feliz com essa situação. Se ela está, então está tudo bem, pois quero ver esse sorriso fácil todos os dias, mesmo que não seja a causa dele.

Alice me encara e sinto ela me chutar por baixo da mesa.

–Você tá pensando besteira. –Ela diz e então toma um pouco de sua Coca-cola. –Como nos velhos tempos.

–Como nos velhos tempos... –Olho para Layne ao lado dela... Não, não é como nos velhos tempos, nunca mais será como nos velhos tempos, mas para mim é o suficiente.