Runaway escrita por Mostly Harmless


Capítulo 2
Capítulo I




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INFERNO: CAPÍTULO I

 Hopeless time to roam
The
distance to your home,
Fades
away to nowhere
How
much are you worth
You
can't come down to earth
You're
swelling up, you're unstoppable

 MUSE, NEW BORN

.............................

 

“Não. Não havia nenhuma luz no fim do túnel.” Eu me ouvi repetindo pela milésima vez.

Ou pelo menos eu não tinha visto nenhuma.

E como eu posso dizer isso?

Uma vez, eu morri.

Ninguém sabe por quanto tempo.

Num segundo eu estava patinando na superfície congelada de um lago próximo a nossa propriedade numa manhã de inverno, e no outro eu estava caindo na água gelada embaixo da superfície de gelo rachada.

Fiquei apagada por mais de uma hora e entrei em choque hipotérmico – o que explicaria o porquê, depois de me aquecerem, os desfibriladores, juntamente de uma dose massiva de epinefrina*, me trouxeram de volta.

Ou pelo menos, foi o que os médicos disseram. Eu tenho uma opinião diferente do porquê de eu ainda estar no reino dos vivos.

Mas essa não é uma coisa que eu goste de compartilhar.

“Neji!” Meu tio exclamou antes de me direcionar um pedido de desculpas silencioso pelo olhar. “Isso não é pergunta que se faça meu filho.”

Os olhos perolados curiosos do meu primo se desviaram dos meus para encontrar os de seu pai. “Otou-san, não vejo qual é o problema da pergunta. E não é como se fosse a primeira vez que Hinata tivesse de responder a ela.”

O gênio da família Hyuga estava mais uma vez certo.

Você viu alguma luz?

Definitivamente não era a primeira vez ou seria a última vez que alguém me fazia essa pergunta. Afinal, esta é a primeira coisa que querem saber quando descobrem que você teve uma experiência de quase morte.

“Mas é rude,” Tio Hizashi agora fulminava a cabeleira castanha de Neji. “Não é o tipo de coisa que se deve perguntar para alguém que passou por uma experiência tão traumática.”

Experiência traumática? Hum. Meu querido tio não sabe o quanto estava certo.

Tomei um gole do meu suco de laranja, me divertindo com o pensamento. Ao meu lado na bancada da enorme cozinha da mansão Hyuga, Hanabi reclamava com papai, entre generosas colheradas de cereal, sobre a injustiça de ter que começar as aulas em uma nova escola em plena sexta-feira.

Ao olhar o semblante carrancudo da minha irmã mais nova, culpa preencheu meu peito por fazê-la largar sua antiga vida e seus amigos, assim como papai, que resolveu tirar férias indeterminadas do trabalho. Tudo isso para me ajudarem a retomar a minha vida na cidade em que a família de meu tio havia se estabelecido anos atrás, Konoha.

Eu não queria me tornar mais um peso para minha família.

Mas o fato é que depois o “incidente” tudo mudou num piscar de olhos.

Há relatos de vários casos de EQM – Experiência de quase-morte -, onde pessoas passam por uma profunda mudança de personalidade e têm certas dificuldades em ajustar-se a vida após... Bem, a morte. Inofensivas vovozinhas que voltaram da morte para dançar nuas ao redor de fogueiras numa forma de celebrar a vida. Motoqueiros com suas jaquetas de couro levantando-se e indo direto para a igreja após nascerem de novo.

Ou seja, considerando todas as possibilidades, eu acho que me sai particularmente bem.

Entretanto ao relembrar dos arquivos que minha antiga escola enviou ao meu pai sugerindo que ele procurasse uma “solução educacional alternativa” para mim – que na realidade foi a forma educada deles informarem que eu havia sido convidada a me retirar da instituição –, percebo que a ANBU Black Ops Institute não partilha da mesma opinião.

Eles me expulsaram antes da estréia da peça anual da escola – “A Branca de Neve” – na qual, eu tive que os relembrar, eu havia sido escalada como a personagem principal.

Mas como meu professor de drama, Orochimaru-sensei, havia colocado? Ah, sim: “Minha história de vida parecia um pouquinho demais com a da pobre Branca-voltei-dos-mortos-de- Neve”.

E o pior é que eu não posso discordar, porque além do fato de ter morrido, eu havia nascido e sido criada como uma princesa graças a papai – Hiashi Hyuga, CEO da Byakugan Corps, uma das maiores empresas produtoras de petróleo e derivados do mundo –, e, graças a mamãe, também havia herdado a aparência de uma: estrutura óssea delicada e aristocrata, tez tão clara quanto a neve, longo cabelo negro e grandes olhos perolados, tão característicos da família.

Mas infelizmente também herdei o coração mole da minha falecida mãe... Que por algum milagre ainda não me matou. Bem, de uma vez por todas.

Só me faltava mesmo era encontrar o meu príncipe... E não, eu não iria pensar nele de novo.

“Nee-chan, acho melhor você adicionar alguma luz no fim do túnel da ao contar sua história.” Hanabi tirou-me do meu devaneio. “Só para deixar a história mais interessante, sabe?”

A minha frente, Neji que até então estava engajado com as panquecas em seu prato lançou a Hyuga mais nova um olhar incrédulo do outro lado do balcão de mármore.

“Porque uma história de alguém que morreu e voltou já não é interessante o suficiente, não é mesmo Hanabi?”

De onde estava pude ver o sorriso compartilhado por meu pai e seu irmão. Enquanto Neji normalmente é calmo e coletado, quando colocado no mesmo cômodo que nossa pequena firecraker - que tem uma mente muito engenhosa para uma menina de onze anos -, não consegue evitar iniciar uma discussão por muito tempo.

Mas todos nós sabemos que essa rixa começou numa comemoração de fim de ano há um bom tempo atrás, quando Neji foi alvo de uma das pegadinhas de Hanabi e acordou com suas anteriormente longas madeixas castanhas na altura de seus ombros. Entretanto evitamos relembrar o incidente... por mais engraçado que tenha sido.

Enquanto retirava a mesa do café da manhã e lembrava Hanabi de escovar os dentes, senti o olhar de meu pai sobre mim. Com um sorriso triste ele me informou que Neji me daria carona até Konoha High e me apresentaria as instalações da escola enquanto ele levaria Hanabi ao seu colégio.

Eu apenas assenti e lhe dei um beijo na bochecha, pegando minha mochila e a jogando sobre meu ombro direito enquanto caminhava em direção ao carro de Neji. Eu sabia o quanto papai havia sofrido com tudo isso; o fato de ser a imagem espelhada de mamãe deve tê-lo feito sentir como se a tivesse perdido novamente.E era por isso que eu faria tudo para que as coisas voltassem ao normal.

Era por isso que eu me proibiria de pensar na única pessoa que tinha olhos mais tristes do que meu pai.

Enquanto colocava o sinto de segurança já dentro do conversível vermelho do meu primo eu interrompi meus pensamentos.

Eu não mais pensaria nele.


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Notas finais do capítulo

*Epinefrina é um estimulante cardíaco.
O que vocês acham? Devo continuar a história?