Colorblind escrita por HeyWonderland


Capítulo 7
Sitting, Waiting, Wishing.




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Logo depois do almoço, fiz uma bateria de exames que me deixou exausta, e acabei pegando no sono até o fim da tarde. Não havia nada que eu pudesse fazer, então decidi tentar desenhar, mas com os tremores nas mãos, já não sabia se estava desenhando uma guitarra ou um saxofone.

Acabei rindo de mim mesma. Vamos rir para não cometer suicídio, Alice. Larguei o lápis e me levantei, me dirigindo até o espelho. Meus cabelos escuros... Costumavam chegar à minha cintura, e agora, mal tocavam meus ombros. Meus olhos azuis lembravam uma cor acinzentada agora. Talvez fosse apenas impressão, mas inserida naquele cenário monocromático há tanto tempo, eu não estranharia se estivessem ficando acinzentados mesmo.

– Hora do jantar, Ally! Venha comer! -Anny abriu a porta e sorriu. Hora do jantar? Não pode ser. A hora do jantar é muito perto da hora de dormir, e Harry disse que voltaria ainda hoje.

Certo. E eu acreditei mesmo, não é?

– Vamos. - Suspirei e fui de encontro à Anny, já tentando esquecer a minha imagem no espelho.

– Algum problema, meu bem? - Ela pediu, preocupada.

Olhei a porta de vidro da clínica, e admito que apenas por uma ponta de esperança de Harry estar lá, entrando desesperado e tentando se explicar outra vez. Mas só o que eu vi foram árvores ao fundo, balançando devagar com a brisa leve. Estava uma noite linda, e quente. Nem parecíamos estar na Europa.

– Não, eu só... - Desviei o olhar para o refeitório. - Deixa para lá.

–-

As luzes se apagavam. O movimento da troca de plantão já havia parado e todos já estavam em seus devidos quartos. Era o fim do "hoje" para todos nós dentro da St. Peter.

– Boa noite, pequena Ally! - Anny abriu uma fresta na porta, por onde seus pequenos olhos me observavam. Eu sentei na cama outra vez e encarei minhas próprias mãos.

– Anny. -Eu suspirei e olhei para ela. - As pessoas nunca vão me tratar direito outra vez, não é? Quero dizer... Eu não sou uma garota normal, não posso fazer coisas que uma garota normal faz, e por isso, as pessoas sempre vão achar que eu... Sou indiferente.

– Você não é indiferente, Alice! -Anny entrou no quarto e fechou a porta devagar. - O que houve meu bem? - Ela sentou à beira da minha cama e pegou uma das minhas mãos.

– Ele prometeu que iria voltar ainda hoje, Anny. E eu sei que não deveria me importar tanto... Eu só... Eu achei que dessa vez as coisas iriam mudar. Mas nada parece diferente. Eu estou com medo de não acordar como todas as outras noites, e eu...

– Shh. -Anny sorriu e acariciou meu rosto. - Ally, são apenas vinte e três horas. O dia tem vinte e quatro, certo? - Ela beijou minha testa e se levantou, já se encaminhando para a porta.

– Mas Anny...

–Boa noite. -Ela disse, me interrompendo e ao sorrir, se foi.

Só havia um jeito racional de Harry cumprir sua promessa nessa uma hora restante: Nos meus sonhos. Talvez fosse isso. Ele viria me fazer lembrar que ao menos existe um refúgio, um mundo onde cada um de nós pode ter o que quiser, e ser quem quiser. Estar onde acha que deveria. Nossos sonhos apenas refletem nossos maiores medos ou nossos maiores desejos. E não importa o quanto você se esforce para sonhar com algo, percebe que raramente consegue? Sonhamos apenas com o quê já está dentro de nós.

Um barulho insuportável de pedras me acordou de um sonho bom. E isso não é nada agradável. Me levantei, ainda sonolenta, e fui até a janela. Meus olhos, que antes estavam incomodados com a luz da rua, agora, se arregalavam. Abri a janela e me debrucei.

– O que... O que é tudo isso? - Pedi com cautela, cuidando para não gritar. Havia mais dois garotos com ele, que seguravam um lençol ou uma lona esticada, não conseguia identificar.

– Eu disse que eu voltaria hoje à noite! Só não te contei o resto do plano. - Harry sorriu. Era um sorriso sapeca, daqueles que as crianças dão quando estão fazendo algo errado. Olhei para trás e meus olhos encontraram o relógio. 23h58 minutos. Sorri para mim mesma e voltei a olhar para baixo.


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