– An- Angeline? -Eu pedi incrédula ao vê-la.

– Oi, Alice. -Ela disse, mascando chiclete, como se não fizesse a mínima diferença.

– Como você veio? -Eu disse, olhando para ela um pouco estupefata ainda. -Você é menor de idade.

– Ninguém diz o que eu sou agora. -Ela balançou um ID falso.

– Você mudou bastante. -Foi só o que consegui dizer em relação a tudo aquilo.

– É, eu mudei. Olha isso. – Ela tirou um papel do bolso de trás. - Mamãe me pediu pra te trazer.

Peguei o papel e abri, passando os olhos rapidamente pelo seu conteúdo.

– O que exatamente ela quis dizer com "a partir de agora sua guarda pertence ao seu pai e não me procure"?

– Bom, eles estavam tendo muitos problemas, Ally. – Ela respirou fundo. – Então se separaram. E acho que isso significa que agora o velho é quem manda em você e é pra você largar a gente em paz, pra sempre, eu acho. -Ela puxou um pouco o chiclete para fora da boca com dois dedos e puxou de volta com os dentes para a boca.

– Ótimo.

– Não queria que as coisas fossem assim, Ally. - Ela respirou fundo.

– Acho que você não se importa com nada. - Eu disse com um sorriso irônico no rosto.

– Eu realmente não me importo.

– Tá bem. Espero que você não esteja se drogando.

– Até algum dia, Ally. -Ela sussurrou, ao me abraçar.

– Você está parecendo uma vadia. -Eu disse no ouvido dela.

Ela se soltou de mim e sorriu. Acenou e se foi, saindo pela porta sem nem olhar para trás.

Acho que as coisas estão ficando cada vez melhores.

Li novamente a carta, e minutos depois ela estava picada e jogada no lixo. Por que é que eu não fui, e Kyle ficou?

Voltei para o quarto e só sai para comer porque Anny me obrigou. Fiquei até a noite lendo. E Harry não tinha ido outra vez até lá.

Agora eu realmente estava sentindo falta dele. Cinco dias sem vê-lo e aquela melodia ainda estava na minha cabeça "Isn't she lovely?"... O sorriso tímido de Harry era tão bonito.

– Ally? Ally? - Anny me chacoalhava pela manhã. Os raios de sol entravam pela janela me cortando um pouco a vista, enquanto certamente derretia a neve lá fora. - Tem alguém aqui que quer te ver. - Ela sorria.

Me levantei e passei a mão pelos cabelos, tentando fazer eles parecerem menos bagunçados, e com a ajuda de Anny pulei para a cadeira de rodas. Cocei os olhos e os abri lentamente, quando reconheci quem estava ali.

– Bom dia. -Harry olhava fixamente para a cadeira e engoliu seco ao terminar a frase.

– Bom dia? BOM DIA? -Eu pedi nervosa. -Você me esquece por CINCO DIAS e tudo o que você me diz quando me vê é... BOM DIA?

Ele corou, e começou a olhar para o chão. Anny olhou com os olhos arregalados e foi saindo do quarto lentamente até fechar a porta.

– Me desculpe. - Ele puxou a cadeira da escrivaninha como sempre fazia, e colocou em frente com a minha. - E... Eu sinto muito por você estar na cadeira.

– Não sinta Grades. - Eu desviei o olhar quando ele me encarou.

Um silêncio incômodo ficou pairando no quarto por algum tempo.

– O que aconteceu? - Eu pedi, quase sussurrando.

– Bom, eu... Saí da minha banda. Eu e minha namorada terminamos também... Não queria trazer meus problemas pra cá, você já tem muitos, não tem? - Ele encarou a janela.

Eu ri ironicamente.

– Grades, eu sou sua amiga ou não? Não é só porque eu sou doente que eu não posso ajudar meus amigos. Bem, se é que você me considera uma amiga, afinal.

– Claro que eu considero! -Harry retrucou tão rápido que quase atropelou as palavras.