Por um segundo estou lavando o fio de Beetee e cantando, por outro vejo um vulto passar por mim. Tento avisar aos outros, mas minha mente estava vazia. Totalmente ocupada com memórias passadas, com canções em momentos onde eu era feliz. A última vez que eu fora feliz. Antes de ficar desorientada, antes dos meus primeiros Jogos, antes das festas de comemoração da minha vitoria, o momento em que meu melhor amigo vencera os Jogos.Minha mente está cheia, mas totalmente vazia. 
     Me lembro a primeira vez em que vi Beetee. Eu tinha 7 anos e ele 10. Nós passeavamos pelas poucas arvores que temos no distrito 3. Até o dia em que ele fora sorteado para os Jogos. Me vi chorando várias noites, eu nunca tinha coragem de olhar a tela da maldita televisão ligada horas e horas. Eu não saia do meu quarto e nem ia à escola pois não queria encontrar a cadeira do meu melhor amigo ,ao lado da minha, vazia.
     No dia em que anunciaram o fim dos jogos, meu coração disparou. "Ele não tem chance, não está fisicamente preparado" pensava. Eu começara a cantar, a mesma musica em que estava cantando no momento. Mas parei porque pressentia uma coisa forte. Então eu ouvi uma voz, talvez a voz da salvação. "Beetee, vencedor da quadragésima sexta edição dos Jogos Vorazes". Olhei para a tv, com os olhos arregalados e vi o replay, Beetee usou um fio para eletrocutar seus adversários.
     Nesse exato local, mais conhecido como arena da 75° edição , vejo minha vida passando diante de meus olhos. Ou melhor, o ano em que ganhei os jogos.
~Flashback on
- Wiress cuidado!- ouvia meu companheiro de distrito gritando para mim em algum lugar no alto. 
- Hup, cade você?- respondo.
- ABAIXA!
Vejo uma pessoa passando com um machado na altura da minha garganta na hora em que me abaixo. Agora consigo distinguir nitidamente o que esta a minha volta. Ou melhor, quem. Era um bando com 4 pessoas, duas atras e duas na frente. 
- Parabéns 3, conseguiu chegar até aqui. Geralmente o seu distrito morre no banho de sangue
-Mas isso não importa, porque você vai morrer agora. 
- NÃO WIRESS.-grita Hup
Neste instante só consigo ver algo caindo da árvore, ou melhor pulando. Hup cai de pé bem na minha frente e vejo a ponta de uma espada atravessando seu corpo.
- HUP!- berro. Ao escutar o canhão e ver o corpo ensanguentado de meu parceiro de distrito , saio correndo por instinto, tentando me manter viva. Eu preciso sobreviver e voltar para casa, principalmente depois de me provocarem desse jeito.
Não me lembro muito bem o que aconteceu nos dias seguintes, só lembro que fiz um aliado, um garoto muito legal do 6. 
Mas me lembro perfeitamente do meu último dia na arena. Aliás, como não lembrar? É esse dia que me traz tantos pesadelos, é esse dia que me impede de completar uma frase.
Restaram 4 tributos. A essa altura, a arena já estava bem menor. Fomos convocados para um banquete, e quem não comparecesse seria eletrocutado até a morte. Com medo, eu e Will fomos ao tal banquete. Fomos os primeiros a chegar, mas ainda não havia comida. Meu estomâgo roncava, não comia nada a dias e os patrocinadores não estavam ajudando, se é que eu tinha algum.
Escuto um barulho, um galho se partindo, e me viro para trás a tempo de ver a garota do 7 jogando uma pedra em minha cabeça, o forte impacto me fazendo desmaiar. Quando acordo, não estamos mais na Cornucópia.
Estou deitada na grama, Will está ao meu lado, chorando.
-O que- respiro fundo, tentando me concentrar na frase para completá-la- aconteceu?
Will levanta a cabeça, olhos vermelhos, as mãos sujas de sangue.
-Eu os matei. Lutei contra a garota do 7, ela tinha um machado, mas era fraca. Venci e peguei seu machado, depois o garoto do 2 chegou e eu... Eu o matei. Matei os dois. Matei duas crianças inocentes- nem tão inocentes, penso- que deveriam ter família, amigos, pessoas esperançosas de que voltassem.
-Calma- respiro bem fundo, tentando me concentrar-Will. Ou você matava- respiro mais fundo ainda e conto até três. Esse negócio de não completar frases está passando dos limites-ou morria. Não há escolha aqui-solto um grito de raiva. Eu estou tentando ajudá-lo, mas não consigo nem terminar uma sentença!- na arena- tento consolá -lo, sem êxito.
-Somos os últimos sobreviventes. Não quero matá-la, não quero carregar a culpa dessas mortes. Parabéns, Wire, você venceu- ele termina a frase e usa o machado,que outrora pertenceu à menina do 7, a culpada por meu problema com as frases,  para se matar, enterrando o machado em seu peito. Sangue quente respinga em meu rosto.O canhão soa, os trompetes também, e a voz de Claudius Templesmith ecoa pela  pequena arena me anunciando como vencedora da quadragésima oitava edição dos Jogos Vorazes. Nesse instante desmaio.
~Flashback off
O motivo do porquê eu não conseguir terminar uma frase sem ajuda do Beetee. Volto minha mente à arena-relógio e só consigo perceber que minha visão está ficando turva. 
Neste exato momento, paro de cantar e meu mundo para de girar.
TICK TOCK...