Watck - We Are The Cool Kids escrita por Amanda Spats


Capítulo 7
ANA E EVERY


Notas iniciais do capítulo

Nossa, como foi difícil escrever esse capítulo.
Eu escrevi umas três ou quatro versões dele, e sempre apagava. Nunca estava bom. Até que finalmente eu consegui escrever (QUASE) do jeito que eu queria...
Ah! E o Nyah vai acabar com a categoria bandas, tudo aquilo que a gente já sabe. Consegui fazer um tumblr pra fanfic, e as publicações vão ser por lá a partir do ano que vem, então FAVORITEM E NÃO PERCAM A FIC! watck.tumblr.com



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(Trilha sonora - Abertura ♪ Fun ft Janelle Monáe - We Are Young)


Every olhou o pai do outro lado da cozinha em silêncio.

Ele estava usando sua roupa de golfe e virava as páginas de uma revista de economia despreocupadamente enquanto tomava um copo de suco de laranja.

Every enfiou mais uma colherada de cereal na boca, tentando fazer barulho pra ver se ele a olhava, mas não deu certo. Provavelmente ele nem tinha reparado que ela estava ali.

–Every, acordada essa hora num domingo? –A mãe entrou na cozinha vendo primeiro a filha sentada no balcão, mas então virou o rosto e viu o marido ali. Parou, como se aquilo não fosse esperando.

–Ah, Charles, você ainda não foi pro golfe? –Ela fez sua voz morna, passando por ele sem olha-lo, indo até o armário e procurando a maior xícara que tinha para enchê-la de café.

Every ficou apenas observando os dois. Por um momento, achou que o pai não ia responder, até que ele disse com uma voz entediada, enquanto virava mais uma página, sem nem tirar os olhos da revista.

–Thomas está atrasado como sempre.

Ele deu uma olhada discreta para o relógio.

A simples menção no nome de Thomas fez o estômago de Every virar. Olhou pra mãe procurando alguma reação, mas como sempre, houve apenas um pequeno levantar de sobrancelha e mais nada. Ela não ia mais ficar ali, não era obrigada a aguentar aquilo. Empurrou a tigela de cereal fazendo barulho e saiu da cozinha, dizendo um “Bom dia para vocês” bem grosseiro.

Subiu as escadas e correu pro seu quarto, se jogando na cama com a cabeça afundada nos travesseiros.

Talvez se parasse de respirar ficasse mais fácil. Mas não aguentou mais de um minuto.

Escutou o ronco do carro esporte lá fora. Se levantou, foi até a janela e puxou um pouco a cortina, o suficiente para ver a Ferrari vermelha atravessar a entrada da casa e estacionar. Sabia que ele estava lá dentro, Thomas. Thomas e seu bronzeado cor de cenoura. Thomas e seus dentes falsos e brancos. Thomas e aquele brinco ridículo de brilhantes. Thomas e seu cabelo ridículo, duro de gel.

Viu o pai aparecer, abrir o bagageiro do carro e colocar seus tacos de golfe ali.

–Espiar é muito feio, seu pai não te ensinou?

Every sentiu as mãos do irmão a abraçando por trás. Ele apoiou a cabeça no seu ombro e ficou vendo o carro vermelho saindo pelo portão.

–Mentir também é. E ele continua fazendo isso o tempo todo. –Ela murmurou, vendo a Ferrari se distanciar.






(Trilha sonora - Conversa de Ana e Every ♪ Marron 5 - She will be loved)

Every empurrou a porta e se encolheu com a rajada de vento frio.

–Tempinho chato. – Every reclamou, tomando uma golada de seu copo de chá inglês extraforte, virando pra trás e esperando Ana sair da cafeteria com um copo de chá igual. Every lhe deu o braço e as duas foram andando pela rua, um pouco encolhidas de frio.

–Eu te disse para vestir uma calça – Ana reclamou. Every usava essa saia cor de rosa com desenhos de ossinhos pretos. Muito bonitinha, mas não muito apropriada para um dia como aquele.

–Eu não queria trocar de roupa só pra vir buscar um chá – Every resmungou.

As duas continuaram a andar pela rua molhada com a chuvinha fina que caia. As pessoas passavam por elas vestindo casacos e segurando guarda-chuvas.

–Então, Harry te levou pra casa ontem?

Ana não pode evitar um sorriso ao som do nome de Harry, mas a voz de Every estava cheia de insinuação.

–Every, não começa você também.

–Começar com o que?

–Com as insinuações.

–Quem disse que alguém insinuou algo senhorita Ana? Estou apenas perguntando uma coisa, não posso?

Ana fez uma careta e tomou um gole do seu chá, o que lhe deu algum tempo pra pensar.

–Na verdade, tem algo que eu queria te contar...

Every deu um sorriso empolgado.

–Eu-sabia!!!!

–Sabia o que?

–Você e o Harry. Eu vi o jeito que vocês estavam ontem. Finalmente rolou alguma coisa?

–Peraí... qual o “jeito” que estávamos ontem?

–Cheios de faíscas. –Every disse com uma voz esperta.

Ana olhou pra baixo meio envergonhada enquanto Every voltou a se pendurar no seu braço e caminhar ao seu lado.

–Não foi nada disso. Quer dizer, eu gosto dele, você sabe disso...

–Uhum.

–Mas ele... Ele está com essa garota da escola francesa.

–O Harry sempre está com alguém. –Every interrompeu.

–Sim! Esse é o problema! Esse sempre é o problema! Harry sempre está com alguém! Como eu posso fazer para ficar com alguém assim? Existe uma espécie de fila ou senha que eu tenha que pegar e ficar esperando minha vez?

Every deu uma risadinha.

–Não seja malvada Ana.

–Não estou sendo! Eu só... –Ela bufou, parecendo cansada – Eu só não sei como resolver isso. Eu não quero pegar uma fila, e eu não quero me magoar com isso.

Every não respondeu nada, só suspirou fundo.

–Eu não quero ser abandonada por ele – Ana suspirou também.

Every respirou fundo de novo.

Entendia o problema que Ana tinha, o medo de ser abandonada por qualquer cara que ela se relacionasse, já que sua vó tinha sido abandonada quando estava grávida, e sua mãe também tinha sido trocada por outra praticamente no dia que Ana nasceu.

Ana cresceu com aquele medo que o mesmo ia acontecer com ela, de alguma maneira.

–Sabe, eu sempre achei que o Harry vai ser um namorado incrível quando chegar o momento dele. – Every disse pausadamente, como se pensasse muito em cada palavra.

O negócio é que Harry e Ana pareciam perfeitos um pro outro. Talvez por que Ana era sua melhor amiga, e gostava de Harry há muito tempo, e Every queria ver a amiga feliz. Talvez por que ela sabia que Harry só precisava parar para pensar por alguns minutos para ver que ele estava perdendo uma garota incrível enquanto ficava andando com uma centena de garotas vazias.

Mas ela sabia que ele ainda não estava pronto pra aquilo.

E ela não queria que Ana se machucasse.

–Ontem ele disse uma coisa estranha sobre ter medo de estragar as coisas. Não sei bem se ele estava falando sobre mim ou sobre Vitoria.

Every deu um engasgo como se o nome da garota a fizesse rir.

–Vitoria? Qual é Ana! Se o Harry realmente tivesse uma fila de garotas, a senha dessa menina já foi chamada..

Ana olhou pra Every sorrindo. Every também sorriu, por ter conseguido fazer Ana sorrir.

–Além do mais, ele merece uma garota especial não acha? Não uma putinha qualquer da escola francesa.

Ana só deu de ombros e continuou andando em silêncio, tomando seu último gole de chá quente antes de jogar o copo no lixo.

–E agora, que vamos fazer?

Every olhou em volta, como se esperasse alguma coisa acontecer naquele instante, mas a cidade a sua volta parecia muito parada. Um domingo preguiçoso.

–Vem, vamos dar uma volta.







Liam sentia seu coração batendo depressa. Suas pernas estavam doendo, seu peito estava doendo, mas ele não podia parar. Queria forçar seu corpo até a dor, assim aqueles pensamentos podiam ficar distantes.

Dani, Dani, Dani.

Parecia que a música falava isso em seus fones de ouvido. Ele tinha que parar.

Arrancou os fones com força, decepcionado, respirando fundo. Tinha mesmo forçado seu corpo demais, e agora sentia a dor. Viu um movimento ao seu lado e se virou, observando Every acenando pra ele do alto das arquibancadas de cimento da pista de corrida. Ana estava do seu lado e acenou pra ele também, as duas se sentando na arquibancada.

Bom, agora que ele tinha uma plateia, talvez ele devesse voltar a correr.

Ignorando a dor física e a dor sentimental, Liam respirou fundo e voltou a correr pela pista.

–Ele devia dar uma maneirada –Ana suspirou, vendo o amigo voltar a correr na pista. Ele parecia cansado, mas não parecia muito a fim de parar.

–Deixa ele. Você conhece o Liam –Every suspirou, pegando seu celular e checando uma mensagem que tinha acabado de chegar. Ana se debruçou sobre o corpo da amiga pra ler o que estava escrito. –É o Max, ele está perguntando onde eu estou.

Ana suspirou, voltando a olhar Liam.

Talvez ela devesse correr como ele. Parecia uma boa coisa pra se fazer e espantar os pensamentos.





–Filho? –Anne empurrou a porta de casa com o quadril, equilibrando a bolsa, as sacolas, a chave do carro e o celular nas mãos –HARRY?

Harry apareceu na frente dela, usando roupas de ficar em casa. Parecia sonolento, o cabelo embaraçado, mas estava com uma carinha animada.

–Anda, me ajuda! –Ela disse, enquanto Harry pegava as sacolas de sua mão e levava pra cozinha. –Você precisa começar a ir no mercado pra mim, por que eu odeio ir no mercado de domingo, e eu não tenho tempo de ir durante a semana.

–Qual a diferença de ir no domingo ou durante a semana? –Harry perguntou, fuçando nas sacolas e procurando alguma coisa gostosa pra comer.

–Qual a diferença? A diferença é que domingo está cheio e eu encontro todas essas mulheres do bairro que ficam conversando horas comigo, como se eu não tivesse mais o que fazer... –A mãe começou a reclamar sem parar enquanto guardava as coisas das sacolas nos armários e Harry abria um pacote de bolachas, se sentando no balcão da cozinha e mexendo no seu celular. Louis tinha mandado uma mensagem pra ele mais cedo, assim como Vitoria.

Anne olhou pro filho quando percebeu que estava falando sozinha, e suspirou.

–Harry?

Harry levantou os olhos, olhando pra mãe.

–Você não está escutando nada do que eu estou falando né?

Ele sorriu, mexendo no cabelo com seu jeito charmoso.

–Desculpa mãe, eu estava vendo uma coisa aqui...

Ela tentou olhar pra ele de um jeito que era pra ser bravo, mas não conseguia.

–É sua namorada? –Ela perguntou, guardando a última caixa no armário, separando uma caixa de macarrão pro almoço.

–Eu não tenho namorada. –Ele disse distraído.

Anne se debruçou no balcão e enrolou uma mexa do cabelo encaracolado de Harry nos dedos carinhosamente

–Me diga como um garoto tão lindo não tem namorada?

–Mãe...

Ela sorriu, virando e abrindo o armário em baixo da pia procurando uma panela pro macarrão.

–Hoje de noite eu vou sair com a Natalia –Natalia era a melhor amiga de Anne, e geralmente as duas saiam no final de semana para tomar um vinho em algum lugar e conversar –Talvez você possa chamar seus amigos pra vir ver um filme, já que você não tem uma namorada. Posso deixar dinheiro pra uma pizza.

–Beleza! Vou chamar a Ana. Eu já estava pensando nela mesmo, vai passar o filme favorito dela no Telecine... –Harry murmurou, ainda mexendo no celular.

–Só ela?

–Sim, por que?

Anne ficou observando o filho, e então deu uma risadinha. Harry parou de mexer no celular e olhou pra mãe.

–Que foi?

–Nada... –Ela sorriu, enquanto abria a caixa de macarrão.

Harry fez uma careta e se levantou, suspirando. Sabia o que a mãe queria dizer com aquela risadinha, mas nem ligava. Ia ligar pra Ana, mas ia fazer isso do quarto pra não ter que ficar aguentando as insinuações da mãe.







Max pulou sobre a bancada, parando na frente de Ana e Every.

–Então é aqui que as garotas bonitas se escondem? –Ele disse, beijando a irmã e olhando pra Ana. Ana também estendeu o pescoço e ganhou um beijo estalado de Max na bochecha. –E os caras bonitos também... –Max sorriu vendo Liam dar mais uma volta na quadra, já com as roupas encharcadas de suor.

–Para com isso –Every sorriu, beliscando o irmão.

Every olhou pra Liam, e agora ele diminuía o ritmo da corrida e desviava o caminho da pista acimentada, pulando os espaços em direção a onde eles estavam sentados.

–Ei Max! –Liam sorriu assim que se aproximou, e Max sorriu de volta educadamente –Como vocês sabiam que eu estava aqui? –Ele perguntou, olhando pra Ana e Every e respirando fundo, passando a mão pelo cabelo molhado de suor.

–É o único lugar que seu pai deixa você vir, mesmo estando de castigo. –Every sorriu de volta.

–Ei, eu vim chamar vocês pra uma festa! –Max disse, olhando pros três –Meu amigo me mandou uma mensagem falando dessa festa incrível que vai ter no Hotel Tomilon.

–No centro da cidade? –Every estranhou. Pegou um gloss na bolsa e começou a passar.

–Pois é. Vai ser na suíte presidencial. Parece que os filhos do dono do hotel estão na cidade e decidiram fazer uma festa antes de voltarem pros Estados Unidos.

–Eu sempre quis ir naquele hotel –Ana suspirou, lembrando do hotel chique que ficava no centro da cidade. A irmã mais velha costumava parar sempre na frente do prédio e ficava olhando pra ele até a mãe puxar as duas pelo braço. Por isso ela tinha ido pra escola de arquitetura.

–Pois então vamos! –Max a abraçou.

–Não sei... minha mãe não vai deixar...

–Ah, qual é? Você dorme em casa e tudo vai dar certo –Every respondeu, e então olhou pra Liam –E você, tá afim?

–Eu? Não... eu tenho trabalho de História para terminar. E ainda tem a coisa do castigo...

Every ficou em silêncio, olhando pro amigo.

–Você está bem Liam?

–Eu? Claro, claro –Ele disse, numa voz que não enganava ninguém.

Every podia ver que algo estava errado. Correndo pela quadra em pleno domingo, parecendo meio distante e perturbado... geralmente Liam era alegre, leve. Ele claro, era um cara responsável. Não era estranho ele preferir terminar uma lição do que ir numa festa. E ele não poderia mesmo ir, por que respeitava os pais a ponto de não fugir do castigo. Mesmo assim, Every sentia que havia alguma coisa.

–Bom, vou na casa do Mark, vocês estejam pronta as oito que passo em casa pra pegar vocês –Max disse, se levantando – Se você quiser ir –Ele olhou pra Liam –vai ser muito legal.

–Obrigado Max, mas acho que vai ficar pra próxima. –Liam sorriu educadamente. Max se despediu e saiu correndo pelo parque, deixando Liam, Ana e Every pra trás.

–Eu também acho que não vai dar pra eu ir... –Ana suspirou.

–E por que senhorita Ana? Pra ficar em casa pensando no Harry?

Ana arregalou os olhos e olhou pra Liam.

–Every! –Ela gemeu baixinho, fazendo uma careta que dizia “O Liam está aqui!”

–Ah, qual é! Todo mundo sabe da sua coisa com o Harry. –Every bufou desanimada. –E além do mais, o Liam não falaria nada pra ninguém, não é Liam?

Liam concordou com a cabeça. Na verdade, estava com a cabeça tão cheia de problemas que mal prestava atenção.

–Acho que você também devia vir com a gente –Every olhou pro amigo.

–Ah não Every, dessa vez não vai dar. Mesmo.

Liam tentou sorrir, beijou Every na testa e Ana no rosto e se despediu, correndo pela arquibancada e sumindo da vista das duas.

–Tem alguma coisa errada com ele. –Every falou baixo.

Ana olhou pro lugar onde Liam tinha desaparecido, sem dizer nada.

As duas ficaram um pouco em silêncio,até que Every olhou pra Ana.

–E também tem algo errado com você.

Ana suspirou.

–Não tem, eu só...

–Eu só nada. Não vou deixar você ir pra casa. Você vai comigo pra minha casa, agora, vamos escolher uma roupa legal, um sapato lindo e vamos pra essa festa e vai ser incrível.




–Droga, por que ela não atende? –Harry suspirou, jogando o celular de lado.

Lá fora já anoitecia e era a quarta vez que ele tentava falar com Ana sem sucesso.

–Já estou indo querido! –A mãe gritou do corredor.

–Tá bom!! –Harry gritou de volta, desanimado demais pra sair do quarto e se despedir da mãe.

Onde estaria Ana? Era uma noite de domingo, ela não devia estar fora.

O celular de Harry tremeu entre seus cobertores, e ele deu um pulo. Devia ser Ana ligando de volta. Depressa, ele afastou as cobertas, procurando o aparelho. Quando achou, o nome “Vitoria” brilhava na tela.

Harry nunca se sentiu tão decepcionado. Era como receber um cartão escrito “Te amo” no dia dos namorados e depois ver que foi sua mãe que te mandou.

Com raiva, Harry apertou o botão para ignorar a ligação.

Ligou de novo pra Ana, mas de novo caiu na caixa postal.





(Trilha sonora - Festa ♪ Justin Bieber ft Nicki Minaj - Beauty and the Beat)


Ana olhou pro prédio, iluminado e enorme assim que desceu do taxi. Max e Every desceram atrás, conversando sobre alguém que ela não conhecia. De qualquer jeito, ela estava encantada demais com o lugar pra poder conversar sobre alguma coisa.

Também tentava se equilibrar nos saltos que Every insistiu que ela usasse, o que não era fácil. Não devia ter deixado Every a convencer. Every sempre conseguia a convencer de qualquer coisa.

Tinha mentido pra mãe, dizendo que tinha um trabalho pra fazer pra segunda e que ia dormir na casa de Every, tinha se enfiado num vestido justo, verde e brilhante, de mangas compridas, que Every e Max insistiram que ficava ótimo nela (mas que ela estava morrendo de medo de estragar, por que tinha visto a etiqueta e dizia Balmain e ela sabia que Balmain era uma daquelas marcas muito, muito caras que Every tinha), estava usando salto alto, o que raramente fazia, por que Every tinha insistido que essa noite tinha que ser diferente das outra. Tudo por causa de Every.

–Ana, anda –Every a segurou pela mão e a puxou pela calçada. Os três entraram no enorme saguão do hotel, todo iluminado e moderno. Não pararam na recepção, pelo contrário, andaram decididamente em direção aos elevadores.

Ana ficou vendo Max passar um cartão roxo no identificador do elevador assim que ele parou no térreo. Ele olhou pra irmã gêmea e sorriu, e o elevador começou a subir. Quando a porta abriu, Ana não pode evitar um suspiro de surpresa.

Era um lugar incrível.

Pessoas em todos lugares, as luzes, a decoração. Um andar inteiro que devia ser uma das suítes mais legais que ela imaginava poder existir, e que agora estava tomado por uma festa. Pessoas em todos lugares, música alta, e a cidade como cenário, toda iluminada no escuro, atrás das paredes de vidro.
Max segurou a mão da irmã enquanto se enfiava entre as pessoas. Ele andava devagar, cumprimentando cada pessoa que via pelo caminho.

–Olá! –Ele sorriu, sendo abraçado por dois garotos ao mesmo tempo. Um monte de outros garotos vieram cumprimentar Max, que apresentava Ana e Every como podia.

Aquilo parecia outro mundo, e Every deve ter percebido que Ana estava perdida.

–Bem vinda ao mundo das crianças com dinheiro –Every sussurrou no ouvido da amiga, fazendo ela sorrir –Agora vem, vamos roubar uma garrafa de champanhe só pra nós.






Ana passou a garrafa de champanhe pra Every, que virou na boca com vontade, enquanto Ana dava risada da amiga. As duas não conheciam ninguém ali, mas nem Every nem Ana se importavam muito com isso.

O bom era sair de casa e esquecer dos problemas..

Every, pra esquecer que o pai estava fora e a mãe estava trancada no quarto tomando pílulas pra dormir, fazendo de conta que tudo estava bem. Ana, pra pensar em outra coisa e não em Harry. Harry, sempre a causa de seus problemas. Ana deu mais um gole na garrafa de champanhe olhando para as pessoas.

Max estava perto delas, sentado no braço de um dos lindos sofás de veludo preto, conversando com um casal de meninas com tatuagens lindas e cabelos raspados.

–O Max devia arrumar um namorado – Ana disse para Every, puxando assunto. Max era bonito, rico e inteligente. Que mais alguém podia querer?

Every olhou pro irmão.

–Ele gosta de alguém – Disse de um jeito distraído.

–Hum... sei como é isso – Ana deu um gole nervoso em sua bebida.

Every olhou pra ela de um jeito sério, mas Ana não percebeu.

–Vocês tem mesmo muita coisa em comum.

Every ficou olhando pra Ana, sempre tão inocente, sempre tão inconsciente das coisas que aconteciam ao seu redor. Decidiu não pensar naquilo. Estava ali pra se divertir.

Olhou em volta. Bem que podia achar algum cara bonito por ali pra flertar. Fazia tanto tempo que Every não ficava com alguém e isso seria um ótimo jeito de esquecer da vida: achar um garoto bonito pra dançar e beijar.

Mas nenhum deles chamava muito sua atenção. Every deu mais um gole na champanhe, desanimada.

Foi então que o viu, do outro lado da pista improvisada no meio da enorme sala. Ele estava encostado despreocupadamente no braço de um enorme sofá, o corpo relaxado, quieto, apenas observando as pessoas. Atrás dele, a parede de vidro com a noite de cenário e as luzes da cidade.

E foi como se algo dentro dela fosse ligado na corrente elétrica. Ele era... lindo.

Era magro, usava calças justas de um jeans escuro, e um tênis muito legal. Estava vestindo uma camisa regata preta e tinha uma pequena corrente com um círculo de metal que parecia um anel no pescoço. Seus cabelos castanhos estavam perfeitamente moldados em um topete estiloso. Seus olhos eram castanhos e ele tinha aquela boca rosada que de repente, parecia irresistivel para Every. Ela precisava experimentar.

–Ana, olha lá! –Every disse, quase sem fôlego. Ana seguiu o olhar da amiga até o garoto, do outro lado da pista.

–Ele é bonitinho.

Every olhou pra ela.

–Bonitinho? Ana, ele é o cara mais lindo que eu já vi em anos!

Ana sorriu.

–Acho que ele não faz tanto assim meu tipo.

–Claro que não, você está sempre cega pelo Harry –Every reclamou.

–Qual é Every? Eu não estou cega coisa nenhuma. Só por que eu não acho esse menino bonito eu estou “cega”?

Every parou de olhar pro menino e olhou pra Ana.

–Tá. Me diz qual foi a última vez que você olhou pra um menino e pensou “Eu quero!”

–Eu...eu...

–Viu? Devem fazer anos.

–Every, qual é. Eu olho pros meninos, eles que não olham pra mim, então no fim nem perco meu tempo.

–Ana, sua boba! Os meninos olham sim pra você! Olha como você está linda!

Ana suspirou, virando os olhos.

–Se você pelo menos desse uma chance pros outros...De qualquer jeito, deixa isso pra lá. Agora eu e você vamos lá perto desse cara lindo que eu quero ver ele de perto! –Every nem deu tempo de Ana decidir, e a puxou pela mão, atravessando as pessoas dançando, atravessando a mesa de bebidas e o DJ, até se aproximar dele. Ficou de pé perto de onde ele estava, fazendo de conta que olhava pra pista.

Pelo canto de olho viu que ele observou ela se aproximar e sorriu. Ela quase sentiu seu coração parar.

Ficou ali parada, nervosa, pensando em um jeito de se aproximar.

Não importa o quanto uma garota seja bonita ou tenha auto-confiança, nessas horas todas nós parecemos umas bobas. De repente, o garoto se levantou, passando por trás dela e falando com uma voz doce e rouca “Com licença”.

Ele a tocou na cintura, e ela pode sentir um choque.

Ela olhou pra ele e ele a olhou de volta, sorrindo, indo até a mesa de bebidas e pegando um copo de plástico, enchendo de vodca. Uma pessoa parou do seu lado e começou a conversar enquanto Every observava tudo.

–Vai lá falar com ele –Ana incentivou Every.

–Não. Uma garota nunca deve falar com um cara. Deixa ele se aproximar, eu não sou oferecida assim.

Ana sorriu do jeito de Every. Ela parecia mesmo nervosa.

–Então vamos pegar uma bebida –Ana incentivou e puxou Every pela mão. Every deixou que Ana a puxassem. As duas pararam de novo do lado do menino, que ainda conversava com uma pessoa. Ana puxou um dos copos de plástico e encheu de vodca. Quando estendeu a mão pra pegar um pouco de energético, escutou a voz do garoto ao seu lado.

–Deixa que eu faço pra você.

Ela olhou e viu o garoto que Every tinha gostado.

–Ahn... não precisa.

–Eu insisto.

Ela sorriu, passando o copo pra ele e olhando pra Every. Ele também olhou pra Every.

–E então, qual o nome de vocês? –Ele falou com a voz suave, enquanto estendia o corpo para pegar uma lata de energético. Every suspirou vendo o braço dele ali tão perto, e uma marca de tatuagem no topo, com uma coruja. Ficou tão hipnotizada que mal se lembrou de responder.

–Eu sou a Ana e essa é minha amiga Every. _Ana disse, ao ver que Every estava em silêncio.

–Eu sou o Ed. –Ele sorriu, estendendo o copo pra Every. Depois fez outro e deu pra Ana. –Estão na festa com alguém?

–Com meu irmão –Every respondeu, dando um gole na bebida.

–Eu também –Ele sorriu, também bebendo do seu copo –E estão gostando do lugar?

–Aqui é lindo –Ana suspirou, olhando em volta.

–É o melhor hotel da cidade, e esse é o melhor quarto do hotel. Lógico que seria lindo –Every sorriu.

–Fico feliz que você ache que esse é o melhor hotel –Ed respondeu, com um pouco de mistério. Every ficou olhando pra ele, e ele sorriu –Esse hotel é do meu pai.

Ela quase engasgou na bebida. Ana arregalou o olho.

–Você que é o dono da festa?

Ed suspirou, olhando em volta.

–Pois é...

E naquele momento Every sabia que tinha definitivamente se apaixonado. Ele era lindos, rico e perfeitamente estragado, exatamente como ela.






Ed e Every começaram a conversar e em alguns instantes, Ana sentiu que estava mesmo sobrando. Por isso, sem dizer nada, se afastou dos dois e caminhou pela pista. A música estava boa e tinha muita gente dançando, mas ela não estava no clima de dançar. Decidiu ir até o sofá e se sentar um pouco enquanto acabava seu terceiro copo de vodca e energético. Já se sentia um pouco tonta.

Desabou no sofá de veludo, entre um casal se amassando e um garoto que parecia mais entediado que ela. Ficou ali, olhando pra pista. Pelo canto de olho pode ver o garoto ao seu lado virar o rosto e olhar pra ela. Ela também virou-se e o olhar dos dois se encontrou.

Ele deu um sorriso.

–Está se divertindo?

Ele tinha esses olhos azuis que pareciam quase brancos.

–Hum, sim. É uma boa festa.

Ele suspirou.

–Pena que não conheço ninguém...

–Eu também não. –Ela respondeu, e tomou o último gole de seu copo.

–Eu sou o Frank.

–Eu sou a Ana.

–Pronto, agora eu te conheço e você me conhece.

Ela sorriu. Ele até que era bonitinho, mas...

“Você está cega Ana”.

Na verdade, ele era muito bonito. Por que Ana não conseguia se sentir como Every quando via um garoto bonito? Será que ela estava mesmo cega?

–Você quer dançar Frank?

Ele olhou pra ela e encolheu os braços, como se falasse “Por mim tudo bem”.

Ana ia provar que não estava tão cega assim.






Liam rodou a página do Facebook, vendo todas aquelas fotos.

Dani na escola, Dani em muitos lugares com os amigos, sempre parecendo estar se divertindo, saindo, curtindo. Havia um monte de rostos que Liam não conhecia.

Dani conhecia todos seus amigos, cada um deles. Mas Liam não. Ele mal sabia quem eram aquelas pessoas, onde eram aqueles lugares. Aquilo não estava certo. Não podia ser daquela maneira.

Seus olhos bateram no relógio da cabeceira da cama, marcando quinze pras três da manhã. Ele tinha que estar no colégio as oito e não tinha dormido nada. Tinha passado a madrugada toda stalkeando a namorada na internet.

Isso não estava certo. Não era certo que Liam tivesse que stalkear a própria namorada para tentar saber o que acontecia na vida dela. Mesmo com a distância, Dani sempre soube de tudo que acontecia com Liam, mas ela, ela parecia cada vez mais e mais distante, quase uma desconhecida.

Liam engoliu a seco.

Fazia quanto tempo que eles não dormiam juntos? Quanto tempo que eles não se beijavam, que eles não se tocavam, não se viam ao vivo? Não estava certo, não mesmo.

E ele era o homem na relação, e ele ia tomar uma atitude.

Ele não era uma criança de castigo, e ia provar pra ela.

Uma ideia se formou na sua cabeça. Ele olhou de novo pro relógio. Só mais algumas horas...






O corpo de Frank estava tão perto do dela. A música parecia muito alta, mas ao mesmo tempo parecia distante, abafada. O sorriso de Frank surgia pela escuridão da sala como se fosse neon. Ele era mesmo bonito, os olhos claros, o cabelo escuro, a camisa branca.

Ele falou alguma coisa, mas ela não conseguiu escutar e a frase se perdeu no meio do barulho e das pessoas a sua volta. Mas ela sorriu, que era a melhor resposta pra qualquer coisa. E então o viu ali.

Os cabelos encaracolados, as costas marcadas, as pernas longas, o casaco marrom que ele sempre usava. Lá estava ele, parado perto da mesa de bebidas, de costas pra ela.

Lá estava Harry.

Por um minuto o mundo a sua volta pareceu girar mais devagar. Sem perceber ela deixou Frank na pista e caminhou até ele, sua boca já se abrindo num sorriso.

Ela tinha bebido um pouco demais, e talvez aquilo não fosse dar certo. Ela estava com vontade de o puxar e o beijar, por que só podia ser um sinal ele estar ali naquela festa, sem ninguém esperar por ele. E então ele se virou de frente para ela.

E ele não era Harry.

Era só um garoto qualquer, que a olhou como uma garota qualquer.

–Ana?

Frank se aproximou dela, a olhando como se alguma coisa estivesse estranha.

–Tudo bem?

–Eu... ahn, eu só achei que tinha visto um amigo... –Ela disse, fechando os olhos e passando a mão nos cabelos. Agora ela podia sentir que realmente tinha bebido um pouco demais. Precisava de um ar, precisava sair dali. –Eu preciso tomar um ar.

–Tudo bem, eu sei de um lugar onde podemos descansar e tomar um ar. –Frank a abraçou pelos ombros, e a puxou em seguida pela mão, a tratando com delicadeza e abrindo espaço entre as pessoas. Os dois atravessaram a pista cheia de pessoas, e saíram pela porta até o elevador. 

Ana ainda sentia seu coração bater depressa. Olhou pra Frank, esperando o elevador chegar e sorrindo pra ela.

Talvez ela estivesse mesmo cega. Talvez ela estivesse quebrada, e nada a consertaria.







–Podemos beber alguma coisa e você pode jogar uma água no rosto –Frank disse, passando o cartão pela fechadura do quarto do hotel.

–Você está hospedado aqui? –Ana perguntou, enquanto ele abria a porta e a deixava passar.

–Vamos dizer que sim... –Ele murmurou, jogando o paletó no sofá da pequena sala do quarto. Uma pequena versão do quarto onde estava tendo a festa, e mesmo assim, ainda era muito maior e mais moderno que a casa de Ana.

–Acho que você melhoraria com uma água no rosto e um pouco de ar. O banheiro é logo ali –Frank apontou para o final do corredor.

Ana agradeceu e cruzou a sala em direção ao quarto principal. A porta estava encostada, e assim que ela abriu, ela parou.

Havia um casal na cama. As roupas estavam jogadas pelo chão e eles estavam cobertos pelo lençol, mas ele estavam fazendo...aquilo.

–Droga –Ela suspirou, virando as costas, mas antes de poder sair escutou alguém gritando.

–Ana?

Se virou de novo e agora pode ver o rosto do casal: Every e Ed.

–Every?

Frank apareceu atrás de Ana, olhando Every e Ed na cama.

–Frank! –Ed resmungou, com um tom de voz zangado.

–Ed! O que você está fazendo aqui?

–Eu que te pergunto isso! Esse é o meu quarto!

Ana olhou pra Frank e pra Ed, mas Every perguntou antes que ela pudesse.

–Vocês se conhecem?

–Sim, ele é meu irmão mais novo! –Ed resmungou.

–E vocês se conhecem? –Frank completou, apontando pra Ana e depois pra Every.

–Ela é minha amiga.

–Legal, você está com o irmão do Ed! –Every disse, com uma voz feliz, como se ela não estivesse ali na cama, se cobrindo com o lençol. Como se Ana não tivesse acabado de pegar ela transando com Ed. Como se Frank não tivesse ali do lado. Ana podia sentir as bochechas esquentando.






–Espera, deixa que eu entro primeiro –Frank brincou, abrindo a porta de um quarto exatamente igual o anterior. Ele sumiu pelo corredor e depois de alguns minutos voltou, abrindo os braços –Pode entrar, está limpo. Nenhum casal transando.

Ana deu risada.

Ele era mesmo uma graça.

–Desculpe por aquilo. _Ele disse, suspirando.

–Tudo bem.

Frank sorriu e a levou para a sacada. Eles podiam escutar a festa acontecendo alguns andares para cima, mas aquilo não atrapalhava. A vista era linda, toda cidade iluminada na madrugada logo abaixo deles.

Todas pessoas dormindo, enquanto eles estavam ali.

–A vista é muito bonita né? –Frank suspirou, e Ana concordou.

–Quer dizer que você é o dono desse hotel?

–Eu não. Meu pai.

Ana sorriu.

–Dá no mesmo.

–Não dá não. Ele pode vender tudo antes de morrer e gastar o dinheiro, deixando eu e o Ed sem nada.

Ana franziu a testa. Era um jeito estranho de pensar.

–Eu tenho algumas dificuldades de lidar com toda essa coisa de dinheiro –Frank suspirou, quando viu o olhar que Ana lhe dava. –O Ed lida melhor com isso, eu só luto contra isso. Parece que o dinheiro é minha característica mais importante...

–E qual é sua característica mais importante? –Ana sorriu.

–Acho que eu sou um cara legal.

Ana suspirou.

–Sim, você é.

Frank apenas olhou pra ela, com um pequeno sorriso. Seu ombro se encostou delicadamente no dela.

–E qual é a sua?

Ana pensou um pouco, olhando pra toda a cidade lá embaixo.

–Acho que eu estou um pouco ... – “Cega” ela pensou – Com frio.

Frank só sorriu e tirou seu paletó, colocando ele sobre os ombros de Ana.






–Nossa, já passa das três. Eu preciso ir pra casa –Ana suspirou, puxando o relógio de pulso de Frank.

–Ainda é cedo... –Ele murmurou sonolento. Os dois tinham ficado sentados no sofá que tinha na sacada, tomando suco de morango com agua com gás e conversando sobre besteiras. Agora o efeito da garrafa de champanhe e da vodca já tinha passado e Ana estava com sono. Já tinha passado da hora de ir embora. Precisava achar Every e ir dormir um pouco antes que fosse tarde demais. Ao contrário, acabaria dormindo na aula.

–Não, amanhã eu tenho aula...

–Hoje você quer dizer. Já é segunda.

–Sim. Hoje. O que torna tudo pior. Me ajuda a achar a Every?

Frank sorriu.

–Sua amiga está com meu irmão, lembra? Acho que ela não vai querer ir embora tão cedo...

Ana suspirou, murchando os ombros desanimada. Era verdade. Every estava com Ed, e provavelmente não ia querer ir embora. Ana não podia chegar em casa naquela hora da madrugada. Tinha mentido pra mãe que ia estudar com Every, não tinha dito nada sobre uma festa em pleno domingo.

–Eu tenho uma ideia. Por que você não dorme aqui?

Ana engasgou numa risada sem graça.

–Desculpa. Eu não quis dizer isso –Frank ficou meio sem graça. Droga, ele era uma fofura. –Quero dizer, a cama do quarto é imensa, daria pra dormir umas seis pessoas pelo menos. Prometo me comportar.

Ana sorriu, e se sentou do lado de Frank.

–Frank... eu...

Ele ficou em silêncio.

Era melhor avisar ele de uma vez que ele não ia conseguir nada com Ana. Mas por que? Ele era lindo, era legal, tinha uma boa conversa... mas não tinha olhos verdes nem cabelos encaracolados, nem pequenas covinhas, nem uma voz mansa, nem mãos grandes. O corpo de Ana não ficava quente quando se aproximava de Frank. Frank não chamava Harry.

–Droga, eu gosto de outra pessoa Frank. –Ana disse depressa, antes de perder a coragem.

Mas Frank só sorriu.

–Ele gosta de você?

Ana engoliu aquela pergunta a seco, a garganta se fechando. Não conseguiu responder, apenas olhou pro chão e balançou devagar a cabeça em negativa.

–Ele é um amigo. E está com outra pessoa.

Frank passou a mão por seus ombros, a consolando.

–Tudo bem Ana. Eu entendo como você se sente.

Ana o olhou, sentado ao seu lado. Podia ver as pequenas manchinhas em sua pele, seus olhos claros.

–Já gostei de muitas pessoas erradas –Ele suspirou. –Acontece. Só temos que sobreviver a isso.

Ela respirou fundo.

–Agora vamos, vamos dormir que nós dois estamos precisando.

Quando Frank a abraçou e caminhou com ela até o quarto, Ana pensou que gostaria mesmo de não ser tão idiota e ficar com Frank.




Na manhã de segunda, Harry ficou sentado no gramado do colégio, observando as pessoas atentamente. Tinha as pernas cruzadas, os cotovelos apoiados nas pernas e o queixo apoiado nas mãos.

Estava sozinho, sua mochila jogada ao seu lado, nem sabia que blusa estava usando e tinha enfiado seu gorro favorito na cabeça por que o cabelo estava naqueles dias. Não tinha conseguido dormir direito, só esperando pela segunda feira, quando ia pegar Ana na sua casa e perguntar sobre a noite passada.

Droga, ele sabia que parecia um namorado ciumento. Por que ele parecia um namorado ciumento?

Quando chegou na frente da casa de Ana naquela manhã, sua mãe atendeu a porta e disse que ela tinha passado a noite na casa de Every estudando e iria direto pro colégio.

Aquilo só fez Harry ficar ainda mais nervoso e ansioso.

–Cuidado, pensar demais pode matar –Harry escutou a voz de Louis ao seu lado, e o amigo deixou a bolsa de lona cair no gramado, fazendo barulho demais, e depois se jogou sentado ao seu lado. –Que está fazendo ai Haroldo?

–Esperando – Harry disse, sem se mexer nem olhar pra Louis.

–Esperando quem?

Harry não respondeu, então Louis deu de ombros. Não ia ficar insistindo.

Louis viu Zayn aparecer no fim do gramado e ir direto pra o trailer de comida. Podia ir lá conversar com Zayn, já que Harry parecia estar de TPM, mas quando ia se levantar viu que Zayn já estava indo em direção deles, devorando alguma coisa que parecia boa. O estômago vazio de Louis reclamou.

–A Every podia chegar logo pra me comprar alguma coisa pra comer – Louis murmurou. Não que ele não tivesse dinheiro, ele até tinha, mas queria guardar seu dinheiro pra coisas melhores. E Every tinha muito dinheiro pra gastar com qualquer coisa, então era justo.

Em alguns minutos, Zayn chegou e se sentou na frente dos dois.

–E ai? Como foi o final de semana?

–Você viu a Ana? –Harry perguntou.

–Não. Acabei de chegar – Ele respondeu, dando mais uma dentada no que estava comendo.

–O que é isso? –Louis perguntou, de olho na comida.

–Enroladinho de frango.

–Eu quero um pedaço –Louis nem esperou a resposta, apenas engatinhou na grama e puxou a comida da mão de Zayn antes que ele pudesse protestar, dando uma enorme dentada.

–Ei! Me dá isso aqui! –Zayn reclamou, puxando de novo a comida, mas agora só restava um pequeno pedaço do salgado.

–Ei gente. –Zayn olhou pra frente e Louis se virou, vendo Liam ali parado segurando a mochila em um ombro só. Ele parecia... horrível.

Até Harry, que estava em um dia ruim percebeu.

–Ei cara – Zayn ficou olhando pra Liam sem entender.

–Que aconteceu com você? –Louis, sempre muito direto.

–Nada. Não aconteceu nada – Ele estava com o rosto inchado? Tinha... chorado? –Vocês viram a Every? –Ele falou de uma vez, como se estivesse com pressa.

–A Every? –Harry olhou de novo pra ele –Você viu a Every?

–Não, estou procurando por ela –Liam disse impaciente, o que fez Louis fazer uma careta do tipo “Que bicho te mordeu?” –Vocês não viram ela?

–Não, ainda não –Zayn respondeu, ainda analisando Liam e tentando entender o que havia de errado –Tá tudo bem mesmo Liam?

Liam não respondeu. Só ficou olhando pro gramado em silêncio, enquanto Louis e Zayn o observavam.

–Olha, se vocês virem a Every, digam que eu preciso muito falar com ela ok? –E Liam deu as costas, saindo pelo gramado na mesma hora que Niall vinha andando em direção ao grupo. Liam passou por ele e Niall o cumprimentou. Liam só respondeu um “oi” baixinho e continuou andando, o que fez Niall fazer uma careta.

–O que aconteceu com o Liam? –Niall perguntou, assim que se aproximou dos amigos, se sentando no gramado.

–Não sei, tá todo mundo esquisito hoje –Louis disse, olhando pra Harry, com uma voz alta demais. Mas Harry nem ligou. –Bom, se o Niall já chegou, é oficial. Temos que entrar ou vamos nos atrasar.

–Não!

Louis olhou pra Harry com as sobrancelhas juntas, como quem pergunta “Que foi?”

–A Ana e a Every ainda não chegaram.

Zayn, Louis e Niall se olharam sem entender muito.

–Elas devem estar apenas atrasadas –Zayn respondeu, com seu jeito relaxado –Elas chegam pra segunda aula. Agora vamos.

Niall e Zayn se levantaram, e Louis os seguiu, mas Harry continuou sentado. Louis o olhou, impaciente.

–Anda, vamos logo cara. Que deu em você?

Harry bufou, desanimado. Não ia explicar pra nenhum deles o que estava acontecendo por que nem ele entendia direito o que estava sentindo. Por isso aceitou a ajuda de Louis e se levantou, andando em direção ao prédio do colégio, não sei antes dar uma última olhada pra trás, esperando ver Ana surgir em algum lugar.





Alguma coisa estava tocando ao longe... Ana abriu os olhos.

Que lugar era aquele? Tudo era branco e iluminado. Sua cabeça doía, ressaca de sono. Fechou os olhos de novo, mas alguém murmurou e se moveu ao seu lado.

Ana se virou devagar e viu o corpo de um garoto sem camisa, usando apenas calças de pijama azuis ao seu lado. Ele dormia, e seu cabelo escuro estava amassado.

Alguns minutos passaram para ela se lembrar onde estava.

Estava no quarto de Frank, no hotel.

O barulho continuou, e Ana teve que se levantar. Percebeu que vestia só a parte de cima do que devia ser a camiseta do pijama de Frank, e calcinhas. Ok. Nada tinha acontecido, ele só tinha oferecido “metade” de seu pijama para ela poder dormir.

Ana tropeçou pelo quarto até achar a bolsa de Every, que ela tinha deixado em uma poltrona cinza do quarto. Ela tinha acabado ficando com a bolsa da amiga por algum motivo que não lembrava, e agora um celular tocava lá dentro.

Ana pegou o aparelho e colocou na orelha ao mesmo tempo que Frank se levantava da cama, parecendo um zumbi.

–Alo?

“Every?”

Ana reconhecia a voz do outro lado, mas estava cedo demais pra saber quem era. Olhou o identificador de chamadas e viu o nome de Liam.

–Liam?

“Ana?”

–Oi Liam, sou eu. Que horas são? –Ana disse confusa. Por que Liam estava ligando pra ela de madrugada?

“Ana, posso falar com a Every?”

Ana estranhou. Liam não era daquele jeito.

–Liam, está tudo bem?

“Sim, eu só preciso falar com a Every.”

Ana olhou pra Frank e só apontou pro telefone e falou baixo “É um amigo”. Ele sorriu e sumiu pela porta do quarto em direção a sala.

–Liam, a Every não está aqui. Quero dizer, nós estávamos naquela festa do hotel que falamos pra você sabe? E então ela conheceu esse cara e agora não sei bem onde ela está. Ela acabou deixando a bolsa dela comigo.

Liam soltou um palavrão do outro lado.

–Liam, você está bem mesmo? –Ana agora estava começando a ficar preocupada.

“Estou. Escuta Ana, você pode achar ela? Eu preciso mesmo falar com ela.”

–Posso tentar... eu posso te ajudar em algo Liam?

“Me ajuda achando a Every. Eu estou indo ai pro hotel, me encontra daqui a uns vinte minutos na calçada?”

–Tudo bem, mas você está me assustando Liam...

“Está tudo bem Ana, sério. Te vejo em vinte minutos”

E ele desligou.

Ana coçou entre os cabelos, meio confusa, ainda olhando a tela do celular. Foi então que viu o horário. Oito e meia da manhã.

–P**** QUE P******!

Frank apareceu na porta, tomando suco de laranja, olhando pra ela estranho.

–FRANK! Minha aula! Eu perdi a primeira aula! Cara, tô muito ferrada! MUITO! Não posso perder a aula, senão eles vão ligar pra minha mãe e ela vai me matar.

–Calma... eu pedi café pra nós.

–Não tenho tempo! –Ana estava histérica, começando a procurar seu vestido e suas sandálias –Droga!!! Não posso ir pra escola usando isso!

–Posso te arrumar umas roupas minhas, elas vão servir em você.

–Suas roupas? Não posso ir usando suas roupas!

–Ué. Então você vai ter que ir usando seu vestido da festa.

Ana sentia vontade de chorar, de explodir, tudo ao mesmo tempo.

Não podia mais ter faltas. Daquele jeito, ia reprovar nas aulas por falta, e se aquilo acontecesse seria a terceira guerra mundial na sua casa. E ela terminaria morta, ou mandada pra um colégio interno.

–Tudo bem, eu vou pegar uma roupa sua. Droga, como eu vou chegar lá daqui?

Frank abriu seu armário e começou a abrir suas gavetas, procurando uma camiseta que não fosse muito grande.

–Eu vou te levar. Relaxa –Ele sorriu quando jogou pra ela uma camiseta preta do Guns N’ Roses.






–Every?

Ana socava a porta do quarto que Every estava, com Frank do seu lado.

–Não acredito que você não está com o cartão do quarto.

–Eu deixei ai dentro quando saímos na noite passada. Não achei que a gente fosse precisar voltar –Frank se desculpou. Ana choramingou, encostando a testa na porta.

Um aviso de “Não perturbe” balançava, preso na maçaneta.

Aquilo era quase uma piada.

O celular de Every começou a tocar de novo na bolsinha.

Ana puxou o celular e viu o nome de Liam.

–Droga, o Liam. Você vem comigo –Ela puxou Frank pelo braço e correu pelo corredor.






Liam viu Ana aparecer na porta do hotel, seguida de um cara que ele não conhecia.

Ela o abraçou, e fez um carinho em seu braço.

–Está tudo bem Liam?

–Está –Ele disse impaciente, mas agora um pouco mais tranquilo. –Cadê a Every?

–Desculpa, eu fui até o quarto dela mas ela não atende de jeito nenhum.

–Ela pode ter ido embora –Frank interrompeu a conversa –Talvez ela foi pra aula?

–Ela não ia sem mim –Ana bufou.

–Ela não está no colégio por que estou vindo de lá –Liam completou. Os três ficaram em silêncio, até que Liam deu um grito nervoso.

–Droga!

–Liam! Que tá acontecendo de errado?

–Eu... eu preciso ir visitar a Dani em Londres. Ia pedir um dinheiro emprestado pra Every, por que eu não tenho, e estou de castigo, então meus pais não podem saber que estou indo e não podem me dar dinheiro.

–Mas... visitar a Dani hoje?

–Sim! Hoje, agora. Eu... eu estou ficando louco Ana. Eu preciso resolver isso, preciso ver ela e resolver isso. –Liam suspirou.

Ana só pode abraçar o amigo e afagar seu cabelo castanho. Liam parecia mesmo muito perdido.

–Se você quiser eu te empresto o dinheiro cara –Frank disse, cortando o silêncio.

Ana e Liam olharam pra ele.

–Eu... quem é você?

Ana sorriu.

–Liam, esse é o Frank, a gente se conheceu na festa ontem.

Liam tentou sorrir e apertou a mão de Frank.

–Você... pode fazer isso? –Ana perguntou.

Frank sorriu, abrindo a carteira que tirou do bolso

–Ana, dinheiro é minha melhor qualidade lembra? –Ele sorriu, estendendo três notas de 100 libras pra Liam.

–Não preciso de tudo isso, preciso só de umas cento e vinte libras pro trem.

–Londres é uma cidade cara meu camarada –Frank disse, em um adorável sotaque americano –Pode pegar. Não tem problema.

Ana olhou pra Frank. Aquele cara era mesmo legal.

E sem pensar, sua mão foi até seu pescoço, e seus lábios foram até seus lábios e ela o beijou. Não era um beijo apaixonado, era um beijo que dizia “Obrigado por ser tão legal sem nem me conhecer direito”. Quando seus lábios se separaram, Frank sorriu. Ana o olhou meio assustada, por que só naquele momento pensou que talvez não devesse fazer aquilo.

Olhou pra Liam um pouco envergonhada, mas Liam parecia estar em outro espaço, em outro lugar longe dali. Provavelmente pensando sobre o caminho mais rápido pra chegar na estação de trem.

–Bom, eu vou indo –Liam enfiou as mãos nos bolsos. –Obrigado de novo pelo dinheiro cara.

Frank só deu um sorriso, e também deslizou as mãos no bolso, sem jeito.

–Você vai ficar bem Liam?

–Claro. –Liam se aproximou de Ana e falou baixo –Olha, meus pais não sabem que eu estou indo. Eu vou voltar amanhã... sei que eles vão ficar uma fera, mas dava pra você segurar as pontas por mim?

–Tudo bem.

Ana passou os braços pelo ombro de Liam e o abraçou forte.

–Qualquer coisa me ligue.

Liam apertou a mão de Frank se despedindo, e saiu andando pela calçada. Ana sentia que ele estava cometendo um erro, mas quem era ela pra dizer alguma coisa? Ela tinha seus erros pra se preocupar.

–Oh droga, a aula!







A porta do elevador se abriu e Frank foi andando a sua frente pelo estacionamento do hotel, cheio de carros.

–Espero que você não se importe. Foi o Ed que escolheu o carro, ele acaba dirigindo muito mais que eu de qualquer maneira, então eu deixo ele escolher...

Ana continuou o seguindo, entre os carros normais.

Tinha um carro simples e popular estacionado, com o logo de uma empresa de aluguel de carros colado na porta. Ana foi em direção ao carro, quando Frank apertou a chave para abrir a porta. Mas não foi aquele carro que destravou, fazendo um pequeno barulho.

Foi o carro da frente. Um enorme carro esporte alaranjado.

Ana ficou parada olhando, enquanto Frank puxava a porta pra cima. OhMeuDeus, era um daqueles carros tão modernos e caros que a porta se abria pra cima! Ela mal sabia como entrar naquilo!

–Eu sei. Eu disse pra ele que uma Lamborghini já era suficiente, não precisava ser...dessa cor.

Ana deu risada.

–Não. É que eu... eu nem sei entrar nisso! Aqui em Bristol nós andamos de ônibus, no máximo de taxi.

Frank mordeu os lábios como se estivesse envergonhado.

–Talvez eu devesse ter chamado um taxi.

–Não! Está ótimo! Eu só não sei abrir a porta...

Ele correu pro lado dela e puxou a porta pra cima, esperando ela entrar e fechando a porta. Em alguns segundos ele estava do seu lado, e o motor do carro fazia mais barulho que qualquer coisa.

–Coloque seu cinto. Não vamos levar uma multa.

Ana sorriu. Pelo menos o cinto parecia normal, como qualquer outro.







–Por que estamos comendo aqui fora hoje? –Niall reclamou, de boca cheia, acabando de dar uma mordida no seu lanche. Louis comia um lanche igual ao seu lado, enquanto Zayn apenas bebia uma garrafa de Gatorade. Já Harry, estava calado e observava o gramado como sempre. Eles estavam no primeiro intervalo das aulas.

–Precisamos tomar um ar –Harry disse, daquele seu jeito lento com sua voz rouca. Mal prestava atenção nos meninos, só estava tentando se manter em ordem. Mal tinha conseguido prestar atenção na aula, ficou só olhando pra carteira de Ana, e tomou uns dois sustos, um quando uma das meninas da classe chegou atrasada e ele achou que podia ser ela, e outra quando a secretaria bateu na porta para entregar um papel para a professora, mas era só um recado para outro aluno.

Agora tinha descoberto que Every também tinha faltado e parecia oficial. As duas não iam pra escola. Mas por que? Harry pegou seu celular de novo, esperando ter alguma mensagem ou ligação perdida.

–Cadê o Liam eim? –Niall perguntou, com a boca cheia.

Naquele momento os quatro pararam em silêncio. Não tinham notado que Liam não tinha entrado na aula e não estava ali.

–Verdade. Onde ele está?

Harry viu algumas garotas da escola francesa começarem a aparecer aos poucos pelo gramado. Havia um motivo pra ele não gostar muito de tomar lanche no gramado e preferir a cafeteria: Vitoria sempre estava por ali e provavelmente viria atrás dele. Ela já tinha mandado uma mensagem para ele aquela manhã perguntando por que ele não tinha atendido suas ligações no domingo, mas ele ignorou.

E ele não queria dar explicações, não naquele momento.

–Ei, olha só aquilo –Zayn fixou os olhos no carro laranja surgindo na esquina devagar. O ronco do motor podia ser escutado dali, a alguns metros de distancia.

–Que beleza. –Louis suspirou.

O carro parou a meio fio, perto do trailer de comida. Os garotos ficaram olhando pro carro como todo garoto, imaginando um dia poder dirigir um daqueles. Na verdade, várias pessoas pelo gramado pararam para ficar olhando o carro.

–Vamos lá tirar uma foto! –Niall sorriu, sacando seu celular do bolso e se levantando. No mesmo instante um garoto saiu do carro e deu a volta, abrindo a porta do outro lado.

–Harry?

Harry tirou os olhos do carro e olhou pra Vitoria, que acabava de aparecer na sua frente, usando seu uniforme da escola francesa, junto com uma amiga. Louis também olhou pra ela com seu olhar de desprezo usual.

–Você veio me ver é? –Harry pensou que ela ia passar uma bronca nele por domingo, mas ao invés disso ela falou com aquela voz de criança que Harry detestava, e se sentou do lado dele, o agarrando pelo braço e afundando sua cabeça em seu ombro –Eu te liguei mil vezes ontem!

–Eu... eu vi, mas não pude responder. Estava fazendo minha lição. De matemática.

Harry pode ver Louis do lado de Vitoria, virando os olhos como quem diz “Você não sabe mentir Harry”. Harry lhe lançou um olhar bravo, sem que Vitoria visse.

–Ei! É a Ana! –Ao escutar Zayn falar o nome de Ana, Harry imediatamente ficou atento. Seus olhos percorreram o campus, até ver Ana ali.

Ana estava parada do lado do carro laranja, conversando com um garoto?

Quem era aquele garoto mauricinho?

Zayn e Niall se levantaram de vez e correram pelo gramado. Harry ficou apenas observando, ainda completamente confuso com aquilo.

Viu Zayn e Niall se aproximar de Ana e do garoto. Ana pareceu apresentar o garoto para os dois, que apertaram a mão dele. Depois eles falaram algo sobre o carro, e o garoto pareceu deixar eles a vontade. Niall logo pulou pra dentro do carro, enquanto Zayn tirava uma foto sua e Ana sorria ao lado dos dois.

E o garoto sorria pra Ana.

E Harry sentia algo dentro dele ferver.

–Quem é aquele almofadinha? –Louis cortou os pensamentos de Harry.

Harry nem respondeu. Tinha medo que se falasse algo ia gritar.

–Que coisa mais brega, um carro dessa cor –Vitoria murmurou. Harry se segurou ainda mais pra não descontar sua frustração nela.

Niall e Zayn então pareceram se despedir do menino, e voltaram andando em direção a Harry e Louis. Ana agora conversava com o garoto. Harry viu ele dizer algo bem perto dela, colocando uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha, e depois dizer mais algo. Eles se abraçaram, e o garoto entrou no carro.




–Seus amigos são divertidos.

Ana sorriu.

–Sim, eles são os melhores.

–Espero que eu possa me consideram um amigo seu agora.

–Com certeza.

Ana suspirou.

–Desculpe pelo beijo... eu...

–Tudo bem, eu entendo. Não levei pra esse lado. –Ele sorriu, colocando uma mecha de seu cabelo atrás da orelha carinhosamente.

Os dois ficaram em silêncio.

–Pena que você vai embora hoje.

–Mas você pode me visitar em NY sempre que quiser ok?

Ana sorriu, e Frank aproximou seu corpo, a abraçando.

–Fique bem Ana.

–Você também Frank. Ah! Entrega o celular pra Every. Acho que você vai acabar vendo ela primeiro que eu –Ela deu o aparelho na mão de Frank, que colocou no bolso.

Ela observou ele dando a volta no carro, e ficou esperando ele entrar, dar a partida e acenar, em seguida vendo o carro sumir na esquina.

Naquele momento se perguntou se tinha feito a escolha certa. Ou se devia ter feito como Every, se entregado e tentado algo com alguém novo. Ele era um cara muito legal. Muito legal mesmo.

Mas agora tinha ido embora.

Ana olhou pro prédio do colégio e suspirou. Tinha que voltar pra sua velha vida. Viu o vestido brilhante nas suas mãos, sobra da noite passada. Era como se ela fosse a Cinderela, e já passava muito da meia noite.

Andou pelo gramado, cruzando com aquelas garotas detestáveis da escola francesa, que olhavam pra ela como se ela tivesse roubado algo ou estivesse fedendo. Suspirou.

E viu mais adiante os meninos se levantando.

As pessoas já começavam a entrar no prédio para a próxima aula.

Ana se aproximou.

–Arrumou um cara com um carro legal? –Louis falou assim que ela parou na frente deles. Ana olhou pra ele com um pouco de raiva pelo comentário maldoso.

Foi então que viu Harry ali, olhando pra ela. E ele também não parecia muito feliz.

(Trilha sonora - Ana correndo ♪ David Guetta ft Tegan & Sara - Every Chance We Get We Run)

Notou Vitoria do lado dele, também olhando pra ela como todas garotas da escola francesa faziam. Como se ela... não fosse ninguém.

Ou melhor, como se ela fosse uma aproveitadora ou coisa assim.

Harry ainda olhava pra ela com o rosto fechado.

–Bom, eu tenho que ir pra aula –Vitoria cortou o silêncio, puxando Harry pelo pescoço como se só eles dois estivessem ali. –E você, se comporte e atenda meus telefonemas.

–Pode deixar, vou fazer isso –Harry envolveu sua cintura com as mãos, mantendo ela perto e suas bocas se encontraram num beijo. Um enorme, longo e desagradável beijo.

Por um motivo bizarro, todos ficaram em silêncio, olhando pra aquilo sem entender direito quando foi que Harry gostava tanto de beijar Vitoria, ainda mais em público.

–Arrumem um quarto –Louis resmungou sem paciência, dando as costas pra eles e saindo. Niall também deu os ombros e seguiu.

Mas Zayn olhava pra Ana.

E Ana sentia seus olhos encherem de água.

Ela já tinha visto Harry beijar um monte de garotas na sua frente. Harry já tinha tido namoradas, e um milhão de garotas.

Mas ela não queria ver aquilo naquele momento.

Não depois de ter pensado nele durante a madrugada toda, não depois de ter desistido de um garoto bonito por ele. Não depois de ter escolhido ele.

Escolhido ficar com Harry, mesmo sem nunca nem ter o beijado.

E era só isso que ela tinha, um grande “nada”, e agora Harry estava ali, lembrando que ele não a pertencia. Que ela não tinha chances, que tudo era só uma bobagem da cabeça dela e que ele estava com outra.

Harry sempre com outra, e Ana sempre pensando em Harry.

Aquilo era absolutamente humilhante.

E ela não queria chorar. Não ali, não na frente de ninguém.

Por isso virou as costas e começou a andar. Não queria correr, mas também não queria ficar ali mais nenhum minuto.

–Ana?

A voz de Zayn fez com que a vontade de chorar aumentasse. Ela não parou de andar, mesmo sabendo que Zayn vinha atrás dela chamando seu nome, e que ele tinha percebido.

–Ana?

Ela já estava distante o suficiente pra começar a correr. Correu entre os alunos que ainda entravam no prédio, correu desviando dos alunos pelo corredor, correu escutando Zayn ainda atrás dela, chamando seu nome. Precisava achar o banheiro.

A porta estava ali, e ela abriu com força, correndo pra dentro. Uma garota que estava se olhando no espelho enquanto passava gloss olhou pra ela torto, assim como outra garota que secava as mãos.

A porta se abriu em seguida e Zayn apareceu ali.

–Ei! Isso é um banheiro feminino! –Uma das garotas disse pra ele, zangada.

Mas ele nem prestou atenção nela. Só olhou pra Ana, que ficou ali parada olhando pra ele, e agora com algumas lágrimas teimosas caindo pelo rosto.

Droga, ela estava com vontade de vomitar...

Correu pra uma das cabines e se ajoelhou no chão, sem nem ligar se estava sujo ou limpo. Sentiu o enjoo, e sentiu Zayn ao seu lado, segurando seu cabelo, lhe ajudando enquanto ela vomitava.

–Tá tudo bem. Tá tudo bem... –Ele falava, numa voz mansa.

Aquilo fazia Ana sentir mais vontade de chorar.

Por que ela sempre era aquela que tinha que ser consolada?

Ela era uma imbecil. E se fosse Harry e não ela na noite passada? Se fosse Harry numa festa incrível, conhecendo uma garota incrível, ele teria por um segundo pensado nela? Ele teria escolhido ela, por qualquer motivo?

O enjoo já tinha passado, então ela puxou um pedaço de papel higiênico e limpou a boca.

Zayn ainda estava ali, agora sentado ao seu lado, olhando pra ela. Ele não tinha nenhuma dúvida no olhar, e parecia saber exatamente por que ela estava ali chorando.

Ela olhou pra ele e sentiu o choro vir de novo.

–Droga Zayn, eu amo o Harry.

Pronto. Estava ali. Todas as palavras.

Zayn não se moveu. Só arcou um pouco mais as sobrancelhas, como se tivesse um pouco de pena de Ana. Ela não resistiu e deixou seu corpo cair pra frente, a cabeça deitando no ombro de Zayn, que abraçou seu corpo, a trazendo mais pra perto.

–E ele ama aquela babaca da Vitoria, e eu sou uma idiota –Ela disse entre soluços.

–Eu sei... é um saco gostar de alguém que gosta de outra pessoa –Zayn respondeu baixinho, ainda acariciando suas costas.





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Notas finais do capítulo

Me digam o que vocês acharam dele! Demorou tanto pra sair que estou com saudade dos comentários!