Capítulo 10

Passamos o dia ensaiando uma coreografia, enquanto Castiel planejava um cartaz. A propósito, não sujamos a jaqueta dele, apenas a camiseta. Lavamos e devolvemos. Após esta noite, poderíamos comprar roupas novas. Sem contar com os três ternos, que um deles ele usaria na nossa grande "estréia". 

- Alguém me ajuda a fechar o zíper!? - perguntei, e Castiel fez menção em fechar. Porém, passou reto, rindo discretamente. - Fala sério! É nossa grana que está em jogo. Só você pra se recusar a ajudar uma amiguinha nessas horas!

- Agora virou amiguinha é?  - ele riu

- Interesse? Mageeeena! Digo, Maiseeeena! - disse Melli. Todos rimos. Antoinette veio me ajudar.

Pegamos maquiagem emprestada da dona da pensão, que mantinha-se vaidosa da maneira que podia. Ela fez questão de ajudar no nosso plano. Embora fosse um tanto contra, comprou três cartolas com algumas penas para nós. 

O cassino escolhido era ali perto, numa das avenidas mais famosas. Na entrada, Castiel informou ser nosso agente e garçom. Não questionaram, pois estávamos vestidas como demonstrava o cartaz. Com a cartola estrategicamente posicionada para não exibir demasiadamente o rosto, entramos. 

Este lugar reunia todo o tipo de jogo, principalmente aqueles que eu nunca vi na vida - Ah, não me diga. - . Um bar inglês no canto esquerdo, com cartazes do Tio Sam. Tio Sam é uma personificação nacional dos EUA, e um dos símbolos nacionais mais conhecidos no mundo. Nas suas vestes, elementos como estrelas brancas, listas azuis e vermelhas, como a bandeira do país. Foi idealizado como forma de recrutar, ou seja, chamar soldados para a Primeira Guerra Mundial e defender a nação. Roletas, barulho de moedas caindo, pisca-piscas. Era um lugar digno de madames e "madamos" pomposos glitterizados excessivamente. 

Castiel entrou rapidamente na cozinha, já começando a atender os pedidos. Eram tantos funcionários que nem sabiam que ele não trabalhava lá. Fomos levadas ao camarim: espelhos com plumas rosa em volta, banquetas, sapatos de salto alto. Resumindo, me sentia em Hollywood. Não que em Vegas não existissem coisas do tipo, mas sacomé, estrangeiro tem uma mania de dizer "coisa de Hollywood". 

Nos chamaram no palco, e abaixaram as luzes. Nunca me senti tão nervosa. Milhares de pessoas.. melhor nem pensar coisa ruim, que atrai. Não reconheceriam nossos rostos, era impossível. Apresentaríamo-nos na penumbra.

Entramos no palco, nos portando tão bem quanto podíamos. Cruzando as pernas, com as mãos sobrepostas no quadril. A música começou a tocar, e nós estalávamos os dedos. Dando um giro de 360 graus na ponta dos pés, nos viramos novamente para a platéia. Pegamos guarda-chuvas que pedimos para deixarem no palco, levantamos os braços e continuamos a dançar. 

Quase no fim da música, ligaram as luzes que vinham de baixo, no palco. Alguém gritou:

- Mas essas aí não são as dançarinas que estão no cartaz! É UMA FARSA!

Pronto. Foi o fim da picada. O nervosismo fez com que eu enfiasse o dedo no olho, arrancando os cílios postiços. Vi que Antoinette e Melli estavam tropeçando. O vestido escorregou do ombro, - confesso: coloquei um pouco de enchimento nos vestidos, qual é, coisas da fama e cassinos, sabe, era necessário para nossa sobrevivência - e quase desequilibramos. Peguei ambas pelas mãos, e saímos "correndo" - mais pulando que correndo, por causa do salto - e puxei violentamente a cortina, a fim de nos esconder. Acabei por arrancá-la, quando Castiel veio com mais alguém: Nathaniel. Nos ergueram e nos colocaram nos ombros - Eu e Melli com Castiel, Nathaniel com Antoinette - . Pelo menos, conseguimos pegar os dólares que os caras atiravam no palco!

Corremos para uma van. Ao que tudo indica, Castiel chamara Nathaniel - seu amigo da loja de tintas - antes, que veio com a van de sua irmã. Nathaniel tinha uma irmã? Eu não sabia. Enfim, nos jogamos dentro da van.

- Para onde vamos agora? Estão vindo atrás de nós! Rápido!