Volta Pra Casa, Papai! escrita por Mayara Rabelo


Capítulo 1
Capítulo Único




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- Filho, por favor, come toda a comida.

Era a terceira vez que Sara pedia para Brian comer, e o garoto de sete anos não atendia a seus pedidos. Sentados na mesa de jantar, sozinhos, nenhum dos dois tinha ânimo para nada.

- Não vai comer também, mamãe? – Perguntou Brian, tristemente.

Nem ela se alimentava direito. Sara colocou de lado os talheres e fitou firme os olhos de seu filho. Olhos idênticos aos de Grissom, que permanecia á quilômetros de distância deles. A saudade estava tão insuportável que era impossível não se sentir mal.

- Não consigo, baby... – Sara respondeu.

- Sente falta do papai tanto quanto eu sinto, não é?

Não foi preciso palavras, não era preciso dizer nada. Ela se levantou rapidamente, segurando as lágrimas até chegar ao banheiro. Fazia nove meses que Grissom estava no Peru, sem conseguir arrumar tempo algum de voltar. Sara era uma pessoa compreensiva, e o deixava ir, sem reclamar. Mas em compensação, chorava aos prantos pela dor da ausência.

Entrou no banheiro com rapidez, e trancou a porta, sabendo que seu pequeno talismã iria entender o motivo da sua saída repentina. Brian já havia se acostumado com isso, sua mãe chorava constantemente, e desde que seu pai viajou, ela pedia para que ele dormisse ao seu lado.

Só que hoje, ele tomou uma decisão.

Pegou o telefone e digitou os números que sabia de cor.

- Alô? – Grissom atendeu.

- Papai?

- Brian... Tudo bem, filhão? – Disse rapidamente. – Será que não daria pra você me ligar depois? O papai está no meio de uma palestra.

- Não! – Disse ríspido. – Me escute! – Seu rosto alvo ficou vermelho e seus olhos passaram a lacrimejar. – Eu “tô” cansado sabe? Cansado de ver a mamãe chorar, cansado de ter tanta saudade de você... – Sua voz ficou mais calma, e Grissom deixou cair todos os livros que estavam em sua mão.

- Brian, eu...

- Ainda não terminei papai. – Suspirou. – Esse não é o jeito certo de te tratar, eu te amo e sempre te tratei bem, com carinho, sempre obedecendo. Mas hoje eu “tô” cansado. – Bufou, feio menino emburrado. – Papai... Eu te peço, por favor... Volta pra casa...

As palavras, que já não eram suas amigas, se evaporaram. Foi como se tivessem ficado presas, entaladas em sua garganta, sem previsão de melhora. Brian deixou uma lágrima escorrer, mas logo a limpou.

- Volta pra casa, papai! – Quase gritou, mas logo se arrependeu de ter agido assim. – Me desculpa por ter falado desse jeito... Eu...

- Não, filho. – Agora foi sua vez de levar o tom á sério. – Você não tem que pedir desculpas, eu tenho que pedir. Mas tenho que te confessar que não estou aguentando mais ficar sem vocês, todos os dias eu olho pra minhas malas com a intenção de voltar, mas quando vejo tem outra palestra, e nunca posso adiar. Perdoa seu pai, filhote? Eu amo você e... – Brian o interrompeu.

- Te perdôo se voltar pra casa.

Grissom sorriu, deixando também uma lágrima traiçoeira cair. Não devia ter demorado tanto. Porque não tomou essa decisão logo? Porque era tão difícil pra ele decidir as coisas?

- Cadê a mamãe? – Gil perguntou já com uma ideia na cabeça.

- No banheiro de novo, chorando muito.

- Não diga a ela nada do que conversamos ok? – Grissom disse, quase sussurrando, e Brian ficou sem entender.

- Como assim? Ela tem que saber pra ficar feliz.

- Filho, confie no papai.

Não foi preciso uma confirmação. Brian confiava sua vida nas mãos daquele homem tão sábio e ao mesmo tempo tão indeciso, como Grissom era.

_______

Três horas da madrugada e a campanhia toca fazendo Sara despertar. Fechou o roupão em si, dando um laço mal feito, e arrumou um pouco os cabelos. Brian permaneceu na cama dela, também acordado. Mas fingiu estar dormindo porque tinha uma leve impressão de que sabia quem tinha chegado.

- Quem será essa hora? – Sara murmurou pra si.

Ao abrir a porta, sua visão foi completamente tomada por um “ser” que jamais esperava ver nesse momento. Grissom jogou as malas de lado e não esperou muito para encobrí-la com seus braços.

Sara deixou suas lágrimas cair novamente, sendo que dessa vez, a felicidade do reencontro era intensa, e esse era o motivo do choro.

Sem que percebessem, ainda no abraço, Brian desceu as escadas e ficou á uns degraus acima, para ver de camarote a cena mais linda da sua vida.

Grissom segurou o rosto de Sara com suas duas mãos, e beijou forte, apertanto seus lábios nos dele. Depois olhou no fundo dos seus olhos, e com sua imensidão azul marejada, ele pronunciou.

- Nunca mais vou deixar vocês.

Sara ficou sem palavras. Tentou abrir a boca para dizer alguma coisa, mas foi inútil, nada saiu. E ele percebeu, então disse.

- Nunca, meu amor. Nunca mais, certo?

Ela assentiu, deitando a cabeça em seu ombro, chorando copiosamente.

– Isso é uma promessa, Sara.

Depois dessa cena, Brian subiu para seu quarto, deixando sua mãe e seu pai a sós, para que consigam matar a saudade sem que ele esteja por perto. Mas e ele? Não estava com saudades? Estava sim, com muita. Mas amanhã ele mataria as suas. Porque até nesses momentos, em que ele poderia estar ali com seu pai, brincando e contando novidades, ele prefere fazer sua mãe feliz, em primeiro lugar.

Afinal, quem que gosta de ver a sua mãe chorar?

The end


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