Tuana correu pra longe dali. Ainda não conseguia acreditar que estava chorando por causa de outro cara. Por causa de Felipe. E chorou na frente dele. Isso era muita humilhação. Ainda mais depois do que ele fez com ela. Queria chegar em casa e se trancar em seu quarto para sempre, se fosse possível. E iria mesmo fazer isso!

– Minha filha você está b... – A mãe de Tuana ia falando quando ela entrou em casa. Mas não deu tempo de terminar porque Tuana correu direto para o quarto. Já bastava ter chorado na frente de Felipe, não ia deixar sua mãe ver isso também. Ela jogou suas coisas no chão e deitou em sua cama. Alguém na porta.

– Tuana, minha filha, o que está acontecendo? – Era sua mãe.

– Não é nada mãe. Eu só quero dormir agora. – Tuana mentiu.

– Minha filha, abre a porta e me diz o que está acontecendo.

Tuana nem se mexeu. A mãe dela continuou ali na porta falando. Mas Tuana colocou o travesseiro em cima da cabeça e ignorou todo o resto do mundo. Até a mãe, que depois de um tempo desistiu e foi embora.

Tuana queria dormir pra esquecer tudo por um momento. Mas não conseguia. Ficou de costas na cama, tirou o travesseiro do rosto e começou a encarar o teto. Se era pra pensar, então que refletisse sobre tudo de uma vez. Sua cabeça já estava uma confusão mesmo, então... Seu quarto estava escuro, ela tinha fechado todas as cortinas, e estava quente também, pois ela não tinha ligado o ar. Estava começando a suar. Mas era bom. (Música da cena: Hysteria – Muse)

It's bugging me
Isso está me aborrencendo

Grating me
Me irritando

And twisting me around
E me torcendo todo

Yeah I'm endlessly
Sim, estou infinitamente

Caving in
Desmoronando

And turning inside out
E virando do avesso

'Cause I want it now
Porque eu quero agora

I want it now
Quero agora

Give me your heart and your soul
Me dê seu coração e sua alma

And I'm breaking out
E estou me libertando

I'm breaking out
Estou me libertando

Last chance to lose control
Última chance de perder o controle

Yeah It's holding me
Sim, isso está me envolvendo

Morphing me
Me modificando

And forcing me to strive
E me obrigando a lutar

To be endlessly
Para estar infinitamente

Cool within
Frio por dentro

And dreaming I'm alive.
E sonhando que estou vivo

Tuana ficou ali, daquele jeito, olhando para o teto por um bom tempo. Não sabia se o molhado em seu rosto era devido as lágrimas ou suor. Talvez os dois. Tuana saiu desse estado quando o seu celular começou a vibrar. Estava no silencioso, mas conseguiu ouvi-lo vibrando porque estava no chão. Pegou e viu um número que ela não conhecia. Ficou olhando por um tempo e resolveu que não queria falar com ninguém. Ainda mais um desconhecido. Deixou que tocasse até que parou. Ela deitou novamente na cama. E ouvir o celular voltar a vibrar. O mesmo número. Ela ficou um pouco intrigada. Quem será? Mas novamente, não atendeu. E mais uma vez voltou a tocar. O mesmo número. Tuana resolveu atender e dar um fora logo em quer que fosse.

– Alô? – Tuana falou. Silêncio do outro lado. Até que uma voz fez seu coração dar um pulo.

– Tuana. – Felipe falou.

Tuana sentiu como se aquela voz estivesse ali, a boca dele colada ao seu ouvido, sussurrando pra ela.

– Tuana, por favor, não desliga! – Ele disse.

– O que você quer? – Ela conseguiu dizer. – E como conseguiu meu número?

– Não importa como, só que eu quero conversar.

– Conversar? Não temos nada pra conversar. Pensei ter dito pra você não mais dirigir a palavra pra mim. – Tuana tentou falar com raiva. Mas não conseguia tanto. Seu coração ainda dava pulos. E de alegria. Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah, ela gritou em pensamentos.

– Eu quero me desculpar. – Felipe disse.

– Você já fez isso. Duas vezes.

– Mas dessa vez é diferente.

– Felipe, eu não quero falar com você. Esqueça o meu número e nunca mais ligue pra mim. Eu vou desligar agora. – Ela falou.

– Não! Tuana é sério, me escuta. Por favor! – A voz dele tinha um tom de desespero.

Tuana quase desligou. Mas não conseguiu. Queria apertar o botão de desligar, mas seu dedo não obedecia. Voltou o telefone ao ouvido. Ouviu a respiração dele do outro lado. Silêncio.

– Fala logo. – Tuana disse. Ouviu-o suspirar. De alívio?

– Olha, eu andei pensando. Depois daquela nossa... Conversa hoje lá na escola. E tenho muita coisa pra dizer...

– Você andou pensando? É mesmo? Isso é novidade pra mim. – Tuana tentou colocar um pouco de ironia na voz, como fazia antigamente quando o odiava. E agora, o que eu sinto por ele, se não é ódio? Felipe ignorou isso.

– Tuana, eu pensei que ia conseguir falar por telefone, mas é muita coisa pra dizer e desse jeito não dá.

Tuana ficou surpresa. Esse era o jogo dele agora? Se diverte hoje, joga fora amanhã, recicla e começa tudo de novo. Ele só pode ser LOUCO!

– O que você quer? Fala de uma vez! – Ela disse. Sua cabeça estava começando a doer com toda essa confusão. Ela não ia agüentar mais por tanto tempo. Tinha vontade de chorar de novo. Depois de todas as lágrimas que eu derramei, ainda tenho mais?

– Tuana, me encontra hoje à noite. Tem uma praça perto da minha casa. Lá é bem reservado, a gente pode conversar sem interrupções.

– Você ficou realmente louco. Eu não vou me encontrar com você em lugar nenhum!

– Você vai. E vai gostar. Lá tem árvores, banquinhos e tudo o mais. É bem bonita. E à noite tem uma iluminação bem gostosa.

O que ele estava dizendo?

– Do que importa a iluminação? Isso não vai ser um encontro. – Tuana disse e se arrependeu na mesma hora. Tinha acabado de aceitar.

– Eu sei. – Ele disse. Percebeu pela voz que ele estava rindo. – Só que... É um lugar legal.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo. Era se cada um estivesse ouvindo a respiração do outro e precisassem disso. Tuana fechou os olhos e falou sem querer:

– Minha cabeça dói, Felipe.

Ele não disse nada. Do outro lado da linha, Felipe também tinha seus olhos fechados. Era tão estranho, ela sentia o mesmo que ele. A cabeça dele era uma confusão só, e doía também. Tudo aconteceu tão rápido. E do jeito errado. E era ele quem tinha que resolver.

Tuana pensou que ele tinha desligado. Olhou o visor do celular. A ligação continuava ativa. Ela esperou.

– Vai passar. – Ouviu ele dizer.

De repente ela ficou nervosa. Vai passar? Como?

– Eu vou resolver as coisas. – Ele disse. – Sete horas lá na praça. Vou estar te esperando.

E ele desligou. Tuana ficou ali com o celular no ouvido ainda, ouvindo nada. Voltou a si, jogou o celular na cama e olhou a hora num relógio. Ainda eram 14h30min. Droga! Ainda faltava muito pra esse encontro. Encontro não. É só uma conversa pra acabar de vez com tudo isso.

Ele tinha tido que iria resolver as coisas. Mas o que ele queria dizer com aquilo? Tuana percebeu que estava suando agora muito mais que antes.

Felipe estava deitado em sua cama, pesando ainda na conversa que teve com Tuana. Bom, ela vai se encontrar com ele, isso é ótimo. Ele parecia uma criança ansiosa pra ir ao circo. Já estava contando os segundos pra que desse a hora. Dessa vez ele iria resolver tudo. Fazer tudo realmente ficar bem entre os dois. Bem até demais! Ele sorriu com isso.