Lucy conteve outro arrepio de frio ao entrar em sua cama, se cobrindo com o grosso cobertor rosa. Se encolheu como uma bola na cama, sem ter noção de que horas deveriam ser.

Ela havia ficado escrevendo seu livro até tarde e simplesmente perdeu o horário de ir dormir.

Sorriu para o travesseiro, pensando como era boa a sensação de simplesmente encostar suavemente a ponta da pena suja de nanquim no papel e deixar a mão solta, as curvas das letras formando as palavras.

De um modo simples, Lucy Heartfilia amava escrever.

Desde pequena, aprendera que os livros escondiam mundos inteiros, e era mais do que fascinada por eles. Lembrava-se de pegar um livro na grande biblioteca de sua casa e se aconchegar em algum canto durante horas, esquecendo de tudo à sua volta. Isso até um empregado gritar seu nome quando a achava, esbravejando algo sobre o longo tempo que ela ficara sem comer ou como suas roupas estavam sujas.

Mas ela não se importava.

Porque o simples fato de ler, fazia tudo aquilo parecer menos importante. Quando ela se deixava levar pelas palavras, todo os seus sentimentos pareciam menos importantes.

Até que um dia, ela resolvera escrever.

E parecia que tinha achado uma pequena escada de atalho até o céu.

Apesar de viver em um mundo de magia, onde sua própria vida era um conto de fadas, escrever era algo completamente incrível para Lucy.

E extremamente difícil de se descrever.

Porque a sensação de ter uma ideia, o sorriso involuntário que chega aos lábios, os olhos brilhando, a mente rapidamente encaixando fatos sobre fatos, a imaginação dando vida à cena que nascera; era algo completamente único.

Era como se a loira não existisse. Seus sentimentos, seus pensamentos, sua personalidade, sua história, todo o seu ser se apagava quando escrevia.

Lucy pensava como uma forma de 'troca equivalente'.

Ela esquecia de sua vida ao permitir criar outras.

Devia ser por isso que perdia a noção do tempo quando escrevia. Não importava se estava em seu quarto, ou na guilda, ou embaixo de uma grande sakura, ou em qualquer outro lugar do mundo.

Quando conseguia de fato esquecer de si mesma e simplesmente escrever, nada mais importava.

Tudo bem que ás vezes, como todo autor, a loira sofria bloqueios de criatividade ou indecisão do que fazer à seguir na história.

Mas nada que uma boa música ou os comentários mais do que animados de Levy não pudessem ajudar.

Lucy se sentia como se fosse um canal de um rio. Um rio largo, profundo, intenso e avassalador. E era somente quando as 'comportas' se abriam e o fluxo do rio corria de modo natural que ela sentia que estava escrevendo algo muito bom. Era quase irônico, mas se sentia usada. Não no mal sentido, porque o resultado disso estava contido nas inúmeras folhas do rascunho de seu livro. Era apenas...A sensação de que não era ela quem controlava a situação, ou a ordem se seus pensamentos, e principalmente a forma como sua mão se movia rapidamente sobre o papel, as letras formando as palavras de mais uma história.

Porque escrever é isso.

É mais do que apenas ler e se deixar levar pela correnteza do rio.

É se tornar um meio de deixar o rio fluir.