POV Narradora

            Julie foi para o quarto junto com Dora. Elas pretendiam dormir. Segundo Julie, “Amanhã seria um longo dia”. Antes pediram um jantar, que elas acharam delicioso. Depois, Julie tomou um banho e sua acompanhante também. Já estavam prontas para dormir. Dora fez questão de arrumar a cama de Julie, como sempre fazia.

            - Boa noite, Dora.

            Ela se deitou, mas foi interrompida pelo mesmo toque do celular.

            - Droga... Que bela hora para se ligar para alguém. – Julie levantou irritadíssima da cama, se sentou e pegou o celular que tocava sem parar em cima do criado-mudo. Olhou no visor. – Hum. O que será que ele quer?

            - Atenda que você descobre. – Dora disse sorrindo torto.

            - Alô? – ouviu por um tempo. – Quer saber como foi? Certo... – Julie falava tudo o que havia feito no dia, recebendo a todo o momento um “hunrum” do outro lado como pedido para que ela continuasse a falar. – E foi só isso tudo. – se calou por um momento para ouvir a resposta. – Quer que eu faça o quê? – Julie perguntou fazendo uma expressão confusa.

            - O que ele disse? – Dora perguntou curiosa, mas recebeu como resposta uma mão de Julie que pedia silenciosamente que ela esperasse. Julie ouvia a tudo no celular atentamente.

            - Entendo. – Julie responde, soltando um suspiro triste logo em seguida. – Quer isso já para amanhã? – pausa. – Está certo. Boa noite. – e desligou.

            - O que ele disse? – Dora insistiu na pergunta.

            - Um verdadeiro absurdo. – Julie respondeu apenas. – Bom... Vamos dormir. Temos que estar descansadas para amanhã... – se deitou de lado. – Principalmente eu. – sussurrou para si mesma.

            Não muito longe dali no quarto ao lado, o quarto do Daniel para ser mais exato, o tal mais seus dois amigos e companheiros de banda estavam conversando enquanto tocavam algumas músicas. As músicas deles de preferência. Era sempre assim. Antes de dormi, eles ficavam os três juntos conversando, tocando. Faziam isso desde quando os três eram crianças, porém era mais comum quando um dormia na casa do outro. Depois da formação da banda e de começarem a fazer sucesso, isso se tornou cada vez mais frequente. Mas eles nunca cansariam disso, eram amigos desde sempre, quase irmãos. Irmãos de mães diferentes.

            - ...Aí, o Daniel disse que a menina parecia com a lua. Só que a menina tinha um rosto muito redondo e ela achou que o Daniel tava era “tirando uma onda” com ela e ela ficou muito brava e xingou ele demais. Eu comecei a rir muito, cara. Você perdeu isso, Félix. – Martim disse rindo arrancando risadas dos outros dois.

            - Ah, não Martim. Não acredito que você ainda lembra disso. – Daniel disse em meio a risadas. – A gente tinha uns 10 anos na época.

            - É. Era uma festinha de uma menina popular da nossa escola. O Félix não quis ir. Inventou que estava resfriado. Mas só disse isso porque não gosta de festas. – Martim disse.

            - E não gosto mesmo. – Félix disse. – Acho que vou dormir gente. Boa noite.

            - Também vou. Boa noite Daniel. – Martim disse, seguindo Félix.

            - Boa noite. – eles saíram e Daniel deitou na sua cama, dormindo quase imediatamente.

            Pela manhã, Daniel, Félix e Martim já estavam acordados. Julie também já estava de pé e se arrumava para ir à praia. Ele descobriu que os rapazes também iam pra praia e nada melhor do que aproveitar a oportunidade de acidentalmente encontrar com eles lá. Ela arrumou uma bolsa com algumas coisas dentro. Dora apareceu e estranhou ela estar de pé.

            - Vai aonde?

            - Na praia. Só que você não precisa vir.

            - O que é isso? – Dora disse apontando para o que Julie arrumava nela.

            - Um fone de ouvido e um broche.

            - Pra que? – Dora perguntou.

   Julie apenas sorriu, de um jeito estranho, segundo Dora, que não sabia o que aquele sorriso queria dizer. Dora a conhecia há anos, mas ainda não tinha aprendido a decifrá-la. Às vezes, Julie era uma caixinha de surpresa.

   Julie entrou no elevador. Colocou o fone no celular, os colocou na orelha e guardo o celular no bolso. Arrumou o broche. Segundos depois o celular tocou.

   - Está me ouvindo bem? – Julie disse.

   - (Estou... Não se esquece do que te falei.) – respondeu.

   - Ok.

   Assim que o elevador chegou ao térreo, Julie foi rumo à praia.

   Ainda no quarto do hotel, os garotos saíram e foram rumo ao elevador. De lá, foram pra praia. Estava bem vazia, já que essa parte da praia era própria do hotel e ainda estava cedo para os hospedes saírem dos quartos para ir à praia. Surpreenderam-se ao ver Bia lá.

  - Não sabíamos que gostava de praia. – Martim disse.

  - É claro que eu gosto. Ah, vocês ficaram sabendo que o Klaus vai chegar hoje? – Bia perguntou.

  - Não. Ele falou que chegaria logo, mas não sabia que já chegava hoje. – Daniel disse.

          Klaus era o empresário da banda. E já que a banda estava de férias, por que o empresário também não entra de férias?

          - Vou pegar um suco. Vejo vocês depois. – eles assentiram.

          Ao longe, Julie já via os meninos. Decidiu que estava na hora de se aproximar. Eles estavam parados um do lado do outro: Félix, Martim no meio e Daniel, assim como Félix, na ponta. Eles olhavam o mar, que estava calmo.

          - Oi. – era Julie. Eles se viraram para ela. – Desculpa atrapalhar, mas vocês são da banda Apolo 81 e eu sou muito fã de vocês. Não a melhor fã, mas a mais fiel. Sei tudo de você, conheço todas as músicas e tenho o CD de vocês. Não quero ser chata, mas eu posso abraçar vocês. Bom... É que não é todo dia que vemos nossos ídolos, assim tão pertinho. Eu posso. – eles assentiram. – Obrigada. – ela agradeceu.

   Abraçou o Félix, o Martim e o Daniel. Assim que se soltou de Daniel ficou de frente para ele, apontou com um dedo e disse:

  - Você é o meu preferido. Adoro o seu jeito. – ela fez uma cara como se ficasse envergonhada. – Posso dar um beijo no seu rosto? – ele assentiu com uma cara de bobo. E ela lhe deu um beijo no rosto, conseguindo fazer com que ele ficasse vermelho.

 - (Sua... Você tinha que ter dito isso para o outro, o Martim.) – a pessoa no telefone disse no ouvido de Julie, através do fone de ouvido. Julie ignorou.

 - Você é daqui? – Martim quis saber.

 - Não... Quer dizer, sou... Mais ou menos... Eu sou hospede do hotel. Eu estou no 12º andar.

 - Serio. É o nosso andar. – Félix disse. – Que coincidência. Nós não tínhamos te visto antes.

 - Pois é. – Julie fez uma cara de falsa surpresa. – Eu também não tinha visto vocês. – ela pausou. – Acho que vou pegar algo pra beber. Deu uma sede agora. Espero ver vocês de novo.

 Julie saiu, ouvindo a mesma voz irritante de sempre, lhe falando. Os rapazes se sentaram em bancos que tinham ali e continuaram olhando o mar, mas para um deles, o pensamento estava em outra coisa.