Band Of Brothers escrita por Lekkerding


Capítulo 5
Verdades


Notas iniciais do capítulo

Entre névoas de lendas e omissões, Tammy e Zoro refletem sobre algumas descobertas de si mesmos e de suas origens.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/247986/chapter/5

Tammy acenou para Cox, na saída. Ainda não tinha entendido o papel dele em toda aquela história. Um funcionário do armazém, como Crowpar... E o que tinham as estalagens com isso? O que eles sabiam sobre ela?

Os olhos velhos não enganavam. E o recipiente no alforje, menos. Cox tinha algo a ver com a Torre dos Sábios. Mas o quê? A torre era uma lenda.

Ela era uma lenda. E Zoro também.

Os nevaranos eram engajados nas ciências, nas artes e nas magias, e com isso, trouxeram aeons de prosperidade ao povo. Mas a curiosidade de um garoto fez tudo ruir. Patren, o Rei Menino.

Tomado por uma sede de saber absurda, Patren quis conhecer todos os segredos do multiverso. Seus desejos foram satisfeitos, mas isso custou muito a Nevareth. O Rei Menino queria conhecer tudo, mas não aprendeu a dominar seu conhecimento. E a quebra do Quarto Selo, que encerrava as origens do multiverso e as leis da vida, transformou Patren em um deus. Isto, de acordo com seus fiéis.

A verdade estava escrita na ruína de Nevareth. Patren, o Monstro Despertado, era agora o Poder Absoluto; sua transformação consumiu galáxias inteiras. A única coisa capaz de salvar o multiverso da destruição certa foi o sacrifício de Arionell, uma aprendiz da Torre dos Sábios, dita filha do antigo Rei, como o próprio Patren. O sangue dela trouxe a clausura do Rei Menino no núcleo de Nevareth.

Poucos escaparam da calamidade, e o planeta, devorado por toda sorte de desastres cósmicos, só se tornaria habitável novamente milhões de anos depois. O Êxodo foi excruciante para os nevaranos. A Retomada, ainda mais difícil – principalmente por descobrirem que o Despertar trazia a cisão das fronteiras. Os véus da realidade foram dissipados, e civilizações inteiras migravam de mundo em mundo.

Graças ao Rei Menino, os nevaranos perderam sua terra, e ainda foram obrigados a dividi-la com quem nada respeitava ali.

Ainda assim, tradições e mitos se mantinham. Os mais velhos passavam o que sabiam, ou melhor, o que acreditavam, para os mais novos. Eles sabiam que a Torre dos Sábios tinha sido consumida no Despertar, mas ainda davam glórias a Sirius, depositando flores nos destroços reluzentes do que se supunha sua armadura. Contos de sombras amigas no deserto, com o sorriso amigável de Aldebaran. Templos fechados no deserto e em Porto Lux alegavam encerrar a essência de Veradrix. Histórias sobre o soldado errante chamado Freed. Contos sobre a passagem de Yuan pelas luas, velando os nevaranos.

Isso, claro, sem mencionar a lenda das seis estrelas. Com todas essas falsas esperanças, os nevaranos se reconstruíram, e conseguiram restabelecer seus jogos políticos por Capella, Procyon e Pollux, os ditos “sábios remanescentes”. Não que fossem os sábios reais da Era Venerável; mas isso tinha pouca importância para os que acreditavam neles.

Ela era uma lenda. Ela era herdeira de uma das seis. Ela era uma estrela. Mas preferia continuar a ser um mito.

Com os pensamentos presos no passado, Tammy não notou seu alforje no chão. Zoro notou. Um saco velho, pesado e surrado. Mas só um item descansava ali dentro. Um objeto cilíndrico, antigo... Zoro examinava atentamente o artefato. A ferrugem não escondia as escrituras gravadas no objeto. Terráqueos achavam tais desenhos bonitos; eles não concebiam a caligrafia nevarana. Mas Zoro era fruto daquela terra, e conhecia seus antepassados. Lia atentamente. Num misto de surpresa e alegria, tirou de seu alforje o pergaminho antigo de sua mãe.

Ele não tinha certeza antes; mas agora, tudo estava muito claro.

Tammy já estava no portal. Zoro correu, esbaforido. Sua armadura de titânio era pesada para seu corpo franzino, o que por vezes o fazia parecer desajeitado.

Não que ele se importasse naquele momento. Precisava contar a ela.

Os terráqueos acreditavam que a sala dos portais era a décima nona maravilha do multiverso. Era apenas um grande salão escuro, com portas de acesso rápido às colônias. Nevareth era habitável, mas o ambiente não era agradável com viajantes. A caminhada de 3 luas das tundras para a floresta, e o uso do portal era a diferença entre vida e morte.

Tammy e Zoro estavam sozinhos na sala. O céu no deserto tinha tons alaranjados; era normal ter a sala dos portais vazia, quando os viajantes já estavam recolhidos às tavernas, ou em expedições além das colônias.

– Tammy! Você precisa ver isso! – Zoro ainda era novo. As descobertas o fascinavam, e ele mal podia se conter. Antes distraída, Tammy agora se dava conta. Absorta em seus pensamentos, havia deixado cair o alforje...

E sua vida estava nas mãos daquele garoto alegre, numa sala escura. Eles estavam sozinhos, mas ainda assim, era arriscado tratar tais coisas ali. Qualquer um poderia entrar. Se um humano aventureiro ouvisse um décimo da empolgação de Zoro, suas cabeças estariam aos pés de um dos três governantes em tempo recorde.

Tammy avaliou rapidamente a situação. Zoro tinha nas mãos dois estojos velhos e enferrujados. Os dizeres gravados em ambos eram muito similares. Ela sabia que Zoro tinha um pergaminho. O dela, ainda era um mistério. A sala continuava vazia. Rapidamente, retirou de um dos bolsos uma joia esverdeada. Ao esmagar a pedra com a mão direita, pegou Zoro pelo braço. Por um instante, a sala ficou clara como o dia.

Zoro nada entendia. Num segundo, estavam na sala dos portais. Então, Tammy pegou seu braço. Zoro se sentiu leve, e uma luz muito forte se fez. Então, sentiu um calor insuportável. À sua volta, rios e rios de lava, onde lobos flamejantes matavam a sede sem fim. Tammy não estava ali, ou...

– Devolva isso. – num gesto brusco, Tammy retirou o pergaminho da mão de Zoro.

– Tammy, eu... Onde estamos? Nós não passamos por nenhum portal, e... Zoro ainda estava zonzo.

– Estamos onde deveríamos estar. Fale livremente, pois aqui ninguém pode ouvir.

– Mas onde é aqui? Isto parece a ruína vulcânica de Porto Lux, mas não pegamos a balsa e... Estes lobos... Está tudo diferente!

– Estamos na Cidadela. – Tammy examinava os dizeres de seu pergaminho. Talvez fosse melhor ter ido diretamente ao mundo perdido, mas o pergaminho de Zoro apontava outro lugar esquecido. Outra lenda.

As histórias contavam que as seis famílias haviam encerrado as fontes de suas habilidades em locais inóspitos de Nevareth. Essas habilidades deveriam permanecer ocultas, pra o bem da civilização nevarana. Combinadas, estas habilidades permitiriam àquele que as controlasse a abertura dos Selos, e o domínio sobre seu conteúdo. A cura para Nevareth, e a paz para o Rei Menino.

Eram lendas. Mas agora, ela estava no centro destas lendas. Ela... E o garoto franzino, ainda abismado com o porte dos wendigos. Ele certamente acreditava que eram aqueles os lobinhos de Porto Lux.

Absorta em seus pensamentos, Tammy não percebeu a sombra que se formava em suas costas. Um vulto feminino se aproximava dela, silencioso como um felino.

Um clarão. Num instante, Tammy pensava nas histórias que ouvia, e no peso que elas tinham; no outro, estava no chão, quase cega pela intensidade da aura formada no portal do templo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Band Of Brothers" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.