The Real Side escrita por Jess Gonçalves


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

VIM AQUI COM MEGA PESO NA CONSCIÊNCIA PORQUE NEM SEI A ÚLTIMA VEZ QUE POSTEI AQUI

Vocês têm direito de me odiar, não tenho defesa.
Sei que TRS é originalmente aqui do Nyah, mas eu sou autora originalmente do ffobs e pra mim lá é muito mais prático. Então se eu sumir de novo, ceis já sabem ^^



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Não importava se outro ataque alienígena acontecesse ou se meio mundo fosse atacar Steve aquela madrugada: Avril teria que tomar um sedativo ou qualquer outra coisa do gênero, mas dormiria aquela noite inteira e sem interrupções, como a natureza mandava. Se ter ingerido quase uma farmácia tinha piorado a situação ou se era ela mesmo que estava drenando toda sua energia para se concentrar em sua missão deixara de importar no dia anterior, quando ela basicamente passou a noite inteira esperando que seu notebook apitasse, já que com alguma anormalidade ela teria um pouco de ação e conseguiria se distrair daquele tédio infernal que muitos chamavam de “hora de dormir”.
Então, por questões de Segurança Nacional, Steve teria que ficar sozinho por algumas horas.
Com essa decisão tomada, Avril fechou seu notebook depois de terminar a varredura na região e poder tirar um grande peso da consciência: naquele lugar Steve só encontraria problemas se procurasse por eles, e com muita dedicação. Deixando o dinheiro da conta na mesa, Avril deixou a lanchonete sem chamar atenção, se deparando com ruas pouco movimentadas na noite de Cleverland, começando sua busca por um hotel – tarefa que poderia ter sido evitada se ela tivesse se dado ao trabalho de ter ao menos visto em que hotel Rogers estava.
Não importava se as chances deles se encontrarem eram maiores se os dois estivessem no mesmo prédio. Ela passaria o tempo inteiro dentro do quarto, certo? Não existia nenhum risco.
Só que o estado de Avril era tão deplorável que não sentira que alguém a seguia.
Ela só percebeu algo estranho quando uma mão desconhecida puxou seu braço com agressividade.
— Passe a mochila, querida – sussurrou uma voz áspera perto do ouvido da garota, que sentia cada pelo de seu corpo arrepiar. Com movimentos que deveriam ser rápidos, Avril tentou se soltar do homem, mas, além dele ser muito mais forte, ela não tinha forças para isso e seus movimentos eram lentos e desajeitados. Nunca, em sua vida inteira, ela havia passado por isso, e parecia que alguém fizera questão de avisar o assaltando mais próximo de que aquela era a oportunidade: Avril Stark seria roubada durante horário de expediente.
— Ei, cidadão! - gritou uma voz conhecida, assustando o assaltante, que saiu correndo ao ver o dono da voz.
Uma mochilinha barata como aquela não valia a surra que ele levaria daquele armário loiro que se aproximava rápido e ameaçador.
Assim que percebeu que a moça já não corria perigo, o homem desacelerou um pouco, mas, assim que ela tentou arrumar a alça da mochila no ombro e pareceu se desequilibrar, Steve se adiantou para impedir que ela caísse, dando apoio até que ela estivesse perto do chão o suficiente para se sentar em segurança.
— Está tudo bem com você, senhoria? – perguntou ele, com uma mão no ombro desprotegido da garota, enquanto ela passava uma mão pelos cabelos claros, respirando devagar. O estranho foi quando ele a viu franzir o cenho, ainda olhando para o chão, e subindo lentamente.
Os olhos de Avril se arregalaram ao mesmo tempo em que os de Steve.
— Stark?
O fato estranho não era encontrar Avril em um lugar qualquer. O estranho era a garota estar sendo atacada por um marginal qualquer.
— Desde quando você é loira? – e a cor diferente de cabelo também não podia ser ignorada.
Avril quis rir, mas o máximo que conseguiu foi fazer com que sua respiração entrasse em um ritmo alterado, fazendo com que ela soasse nervosa. Não que ela não estivesse. Ela devia ser uma pessoa incrivelmente sortuda: de todas as pessoas daquela cidade que poderiam aparecer para ajudá-la, aparecera logo uma das poucas que não podia vê-la.
— Eu... Eu... – gaguejou a loira, se sentindo um pouco tonta, tanto pelos recentes acontecimentos como pela exaustão, o que não ajudou na formulação de boas perguntas – O que você está fazendo aqui?!
Steve a olhou desconfiado: Avril não era o tipo de pessoa que se encontra na rua, muito menos o tipo de pessoa que sofre um assalto e que não reage, o que o deixava imaginar que tinha algo muito mais errado do que a ter encontrado, coisa que estava claro nos mínimos gestos da garota.
— Vem, vamos para um lugar mais calmo – Steve deu-se por vencido, ajudando-a a levantar e colocando a mochila da garota nas costas.
Sem ainda saber o que devia pensar do acontecido, Steve guiou a garota até o hotel em que estava hospedado, que por sorte não era longe dali. Durante o caminho uma pessoa ou outra olhava torto para os dois, talvez imaginando que ambos voltavam de alguma festa. Então, Steve percebeu que julgava incomum ser visto com Avril em algum lugar que não tivesse ligação com a S.H.I.E.L.D, e quase começou a rir ao imaginar a reação de Tony diante daquela cena.
E em seguida veio o momento de reflexão, que o manteve ocupado por todo o percurso: no seu ponto de vista, Avril não era o tipo de pessoa que aparecia em uma cidade sem um motivo. Ele acreditava que Avril tivesse voltado para Oxford, para fazer o que fosse que ela fazia lá antes, então por que ela estava em Cleverland, exatamente no dia que ele chegara à cidade?

—--------- 

Assim que chegaram ao quarto, Steve fez questão de que a loira dormisse um pouco, não precisava ser um especialista para ver que fazia dias que ela não dormia direito. Se a insônia era pela mesma razão da última vez, o loiro não sabia, talvez perguntasse quando ela acordasse. O que demorou muito mais do que ele esperava.
Sentado em uma poltrona, Steve não sabia se vigiava a garota ou se ficava encarando sua mochila, sentindo-se tentado a vasculhá-la, mas receoso por invadir a privacidade da garota. Só que Avril já havia provado ser mentirosa uma vez, e se aquele fosse um de “seus melhores dias”? Fury podia tê-la enviado para vigiá-lo. Não dava apenas para confiar nela, como se ela fosse uma pessoa normal, por isso Steve se rendeu a sua curiosidade e revirou a mochila da garota.
Um mapa, um caderno com dezenas de contas, algumas peças de roupa, uma carteira e um aparelho eletrônico que lembrava um celular, que Steve já tinha visto nas mãos de Tony. No final das contas, não havia nada de incriminador na mochila. Mais aliviado, Steve deixou a mochila aos seus pés e fechou os olhos. Então não passara de uma coincidência muito estranha?

XX

Avril se revirou naquela cama estranha, se espreguiçando e se encolhendo logo em seguida, se aconchegando mais naquelas cobertas de aroma suave, com um sorriso satisfeito no rosto. Ela não fazia a menor ideia de onde estava e não estava dando à mínima. 
Ela havia dormido uma noite inteira, não tinha? O mundo era cor de rosa de novo.
Mas aos poucos a curiosidade e a precaução iam a dominando, e não demorou muito para que ela se rendesse para descobrir sua localização. Sonolenta, ela abriu um dos olhos e analisou o quarto, o fechando logo em seguida pelo excesso de luz que entrava no local pela janela aberta. E aí ela ficou preocupada. Avril não fazia a menor ideia de que acontecera antes de apagar. Parecia ser a tanto tempo, a realidade e seus sonhos conturbados se misturavam em sua mente. Receosa, ela levantou da cama e, com passos lentos e leves, deixou o quarto, encontrando um homem loiro quase adormecido no sofá com uma TV ligada a sua frente. Steve estava com a cabeça inclinada em um ângulo estranho. Não demorou muito para que ele sentisse a presença da garota e abrisse os olhos.
— Você acordou... Afinal - festejou o loiro, sem muito ânimo - Você tomou algum remédio para dormir antes de me encontrar?
— Sim... Por quê? - perguntou Avril confusa, apoiando-se na parede.
— Que dia foi ontem? – perguntou ele, sorrindo estranho, algo que não passou despercebido pelo olhar desconfiado da garota. Que diabos de pergunta era aquela?
— Vinte e nove de junho – respondeu ela em um sussurro.
— Hoje é dia dois de julho, Avril.
A garota arregalou os olhos para o homem, completamente surpresa com o que ele dissera e tentando assimilar a informação. Ela havia passado três dias dormindo? Bom, uma hora todos aqueles remédio teriam que fazer efeito, afinal.
— Quantos dias você ficou sem dormir? - perguntou Steve, fazendo um gesto para que ela se sentasse ao seu lado.
— Cinco semanas... Eu acho.
Dessa vez Steve que arregalou os olhos. Até onde se lembrava, o máximo que uma pessoa normal conseguia ficar sem dormir era algo como seis dias. Avril passara mais de um mês acordada e parecia extremamente normal. E com fome, a julgar pela cara dela.
O loiro se ofereceu para lhe arrumar algo para comer e se virou para a cozinha, e foi ai que Avril começou a "funcionar".
— Não estamos em um hotel - deduziu ela.
— Eu já estava planejando ficar mais um tempo aqui - contou Steve - E quando percebi que você não ia acordar tão cedo, aluguei um apartamento. Assim sai mais barato.
— E como você me trouxe para cá? - perguntou a loira, inocentemente, quando Steve voltou à sala trazendo um generoso sanduiche.
— Te puxei pelo pé escadaria acima - brincou ele rindo, vendo-a parar de mastigar - Logicamente eu te carreguei, Stark. Dormiu demais e seu raciocínio pifou?
Avril resmungou ofendida, terminando de engolir o que estava mastigando e se preparando para responder a pergunta que o loiro começava a formular.
— Você não estava na Europa? – perguntou ele logo, exatamente no espaço de tempo que Avril acreditava que ele tocaria no assunto.
— Eu estava - respondeu ela, parando para outra mordida e continuando de boca cheia - Estou de férias.
— Em Cleverland?
— Algum problema com isso? Não posso ter curiosidade de conhecer Cleverland? Tem bastante cultura aqui também.
— Por que você está na defensiva? – retrucou Steve, cruzando os braços.
— Você está me interrogando, Rogers - riu ela sem vontade - É natural que eu esteja na defensiva.
O olhar de Steve voltou a ficar frio, como se ela estivesse bolando algo cruel na sua presença e ele precisasse descobrir o que era. Avril sabia que ele pensava isso e teria que tirar alguma vantagem disso.
— Desculpe - pediu ele - Estou sendo grosso.
Steve a deixou terminar o sanduíche em silêncio, e aos poucos ele também começou a sentir fome. O problema é que depois de quatro dias, a dispensa já estava vazia e lhe restavam duas opções: sair para repor o estoque e deixar Avril sozinha no apartamento – o que não era inteligente, já que não confiava nela; ou levá-la para comer fora, mas não é seguro andar na rua com uma pessoa como Avril. Não existia uma melhor opção. Avril, por sua vez, apenas levantou-se quando terminou sua refeição improvisada e lavou o prato que usara, tudo sob o olhar atento do loiro. Aquilo não estava indo nada bem e ela sequer sabia o que tinha que fazer. Fury não havia lhe passado nenhum protocolo de “o que fazer caso Rogers te veja”, então ela estava praticamente às cegas.
Bom, não totalmente, já que ela ainda estava alguns passos à frente do soldado.
— Tudo bem, faça seu interrogatório - suspirou ela, sem saber direito que diabos de estratégia era a que ela estava usando, mas fazendo um tremendo esforço para parecer o mais natural possível, algo próximo à conversa dos dois no aero porta-aviões – Não vou me importar. Mas agradeceria se você demonstrasse um pouco de confiança em mim.
— Você lê mentes? – arriscou ele, mas no fundo aquela era uma pergunta séria.
— Não preciso ler sua mente para saber o que você está pensando.
— Como?
Avril sorriu: adorava ver a expressão descrente de pessoas quando ela tentava explicar o que fazia. Parecia ser impossível acreditar que tudo de especial que ela fazia era tão simples.
— Se coloque no lugar da pessoa - começou ela sorrindo – Tenha o mínimo de conhecimento sobre ela, imagine pelo que ela já passou, como talvez ela iria reagir com algo. Isso é mais eficaz do que essa habilidade sem graça de ler mentes.
— Como você pode usar isso em mim? – continuou Steve, tão interessado e desconfiado que Avril poderia apertar suas bochechas.
— Eu sei o básico da sua história. Você é um soldado e não vai acreditar em nada do que eu digo por que você não me julga confiável. Sua postura está na defensiva, mas não porque eu sou algum tipo de ameaça em potencial no momento, mas porque você está tentando entender aonde eu quero chegar nessa conversa... Você quer saber se eu estou de algum modo manipulando o rumo do assunto. E sua postura séria não passa de um aviso de que eu devo tomar cuidado e responder suas perguntas com sinceridade, ou se não eu estarei com problemas, teoricamente – sussurrou Avril, ela mesma assustada por ter ido tão longe no quesito “sinceridade”. Só porque havia sido parcialmente descoberta, ela iria chutar o balde? Era necessário colocar Steve em um teste como aquele?
Por um momento Avril não pode mais analisá-lo, havia perdido a imparcialidade. Ela havia exposto demais e queria saber como ele iria reagir, e aquele “querer” se confundia com o que ela via de verdade e não era possível ter uma resposta com 100% de certeza.
— Você é estranha – comentou Steve convencido disso, deixando que ela respirasse mais aliviada. Afinal, não havia o perdido – Não de um jeito estranho. Mas não normal... E estranho.
— Eu ouvi isso a minha vida inteira, não se preocupe – contou Avril, com um olhar diferente que o loiro não tinha certeza de já ter visto antes, um olhar que pareceu amolecê-lo e querer deixar a garota em paz. E essa sensação que o trouxe de volta. “Lembre-se de com quem você está lidando, Rogers”.
Steve teve que se controlar para não voltar a interrogá-la, pois ela saberia muito bem como passar por esse problema, como já havia provado. Ela era uma mentirosa e assassina, era uma espiã muito bem treinada e com certeza estava o manipulando, mesmo sem ele saber exatamente no que. Ele teria que ser mais paciente e descobrir as coisas aos poucos.
— Troque-se - pediu ele - Não tem mais comida aqui e já está perto da hora do almoço.
Avril concordou, pegando sua mochila no canto da sala e se virando para o banheiro. Ela não reparara, mas seu cabelo estava uns três níveis acima do conhecido "ninho de rato", e demorou alguns longos minutos para deixar seus fios arrumados. Depois de quatro dias dormindo – e sem um pingo de higiene –, Avril foi forçada a tomar um banho, deixando Steve esperando por mais alguns minutos. Ela chegou a se questionar se era melhor constatar Fury logo, mas não julgou seguro fazer isso com Rogers tão próximo. Talvez conseguisse se afastar dele durante o almoço e conseguiria suas novas ordens. Quando ela finalmente saíra do banheiro, o loiro mais uma vez quase adormecera no sofá. 
— Dormir setenta anos não foi o suficiente? - debochou ela, se arrependendo depois ao ver a expressão nada feliz do soldado com a piada - É mais forte que eu.
— Sangue Stark... Já devia ter me acostumado com isso - resmungou o loiro, levantando e guiando a garota para fora do apartamento.
— Eu devia considerar isso um elogio?

XX

Steve a levou para um restaurante próximo ao prédio, ao ar livre, aproveitando o sol agradável daquela tarde.
Avril, por mais incrível que pudesse ser, estava tranquila. Não estava preocupada com o fato de o loiro ter a descoberto. Pelo contrário, chegava a estar mais confortável com isso. Steve, em alguns, momentos podia ser facilmente manipulável, se ela fosse esperta e, bem, ela era.
Talvez assim sua missão até ficasse mais fácil.
Até aquele momento ela havia se saído muito bem. Steve estava desconfiado? Claro, e era inevitável, mas ela já havia conseguido um pouquinho da confiança do loiro ao ter falado demais, mesmo sem que ele mesmo soubesse.
— O que desejam? – perguntou uma garçonete, depois de alguns longos de Avril fingindo estar interessada no cardápio e de Steve parecendo estar tentando desvendar o céu.
— O prato de hoje, por favor – pediu Steve, e Avril acabou por pedir o mesmo. A garçonete sorriu e deu às costas, indo em direção ao interior do estabelecimento enquanto anotava o pedido dos dois – Então, o que te traz a Cleverland, Avril?
“Se eu responder “você”, não estarei mentindo”, pensou ela, entretanto desconsiderou a resposta já que ia contra o seu plano.
— Eu sempre estava em Malibu ou em New York – disse ela por fim – Nunca tive a oportunidade de conhecer melhor outros lugares. Se eu saísse um passo da minha rota, eu poderia ser perseguida por paparazzi e, na pior das alternativas, ser sequestrada.
— Vida difícil, não é? – debochou o loiro, mas a piada não foi compartilhada.
— Em menos de um dia você e meu pai estavam quase se batendo. Imagine o que é passar uma vida inteira ao lado dele – resmungou Avril, e logo a garçonete retornou com seus pedidos – E eu não era uma garota mimada. Não o tempo todo.
— Toda tecnologia que você pudesse querer? – arriscou Steve.
— Esse ponto quase cancela toda a chatice do Tony – contou a garota, sorrindo de leve e checando as horas em seu celular, deixando-o em cima da mesa e pegando seus talheres em seguida – E o que você faz aqui, Steve?
— Achei melhor me afastar um pouco dos grandes centros urbanos por um tempo – disse Steve, olhando para qualquer canto, menos para a loira a sua frente. Se era desconforto ou uma jogada para que ela pensasse que ele estava se expondo, Avril não sabia dizer, e tentava a qualquer custo não decidir o que ela queria que fosse verdade – Fui muito exposto na Batalha de NY, julguei melhor esperar as coisas acalmarem.
Entre uma garfada e outra – Avril ainda estava com fome mesmo depois do sanduíche –, a garota não deixou de notar que Steve não estava realmente comendo – se ele estivesse encostado na comida duas vezes já era muito. Talvez fosse mais difícil contornar a situação do que ela pensava, mas só em pensar que teria que entregar a missão para a Agente 13 caso ela desistisse foi o suficiente para que uma determinação a dominasse.
Se Steve queria respostas sinceras, ele as teria.
— Terminou o interrogatório? – perguntou ela quando já se sentia satisfeita e o prato do loiro continuava quase intacto – Eu consigo pensar em uma infinidade de variáveis de perguntas que você poderia me fazer.
Em um movimento brusco, Steve apoiou as mãos na mesa, fazendo um barulho alto que atraiu a atenção das pessoas a volta.
— Pessoas normalmente fogem de interrogatórios. Isso as deixa desconfortáveis – sussurrou ele, em um tom baixo e ameaçador – Mas você não. Você está me incentivando a continuar, relembrando disso o tempo todo, em alguns momentos de forma sutil, outras extremamente explícitas, como agora. Por quê? O que você quer eu saiba que você não pode me contar sem que eu pergunte?
Treze segundos.
Esse foi o tempo que Avril precisou para assimilar o que o loiro havia dito, se decidir como se sentia em relação a isso, e aceitar que aquilo era um caso perdido e que valia mais a pena conviver com o ego inflado da Agente 13 por assumir uma missão que a espiã perfeita não conseguiu suportar.
Havia algo muito errado com ela e não dava mais para diferenciar se era influência de Loki em sua mente ou não. Era improvável demais que o asgardiano tivesse a tornado mais humana, mas era isso que ela sentia. Uma necessidade de ser um ser sociável, na verdade. De ter alguém que a entendesse. Ela havia sentido isso perto de Pepper e de Tony, mas não conseguia colocar isso em prática porque não acreditava que a reação dos dois seria boa. Mas Steve? Ele era ligeiramente parecido com ela, era ainda um pouco deslocado na realidade, e tinha alguns problemas para dormir.
Cada momento sozinha era uma brecha para ela própria se julgar sobre algo que não tinha controle, e a falta de ação havia apenas prejudicado seu estado. Mas nos últimos minutos? Mesmo com a desconfiança óbvia de Steve, ela havia sentido tudo aquilo com menos intensidade, e isso não parecia tão ruim.
Mais uma vez ela estava se envolvendo com a missão em um nível proibido.
Desistir realmente era a opção mais sensata.
Treze segundos.
Foi o tempo que Steve demorou para perceber que talvez havia sido grosso demais até para o que era permitido com Avril, com a confirmação ao assistir a garota se levantar e a seguindo para onde quer que ela estivesse indo, mesmo sabendo que era um decisão idiota.
Steve já tinha tentado confiar na garota, e em nenhum momento ela provou ser digna dessa confiança. Mas então por que ele se sentia tão mal por vê-la partir daquela maneira? Ele sabia muito bem que o potencial de Avril para ser uma “boa pessoa” era muito grande, mas não era sua culpa se ela decidia ignorar esse seu lado. O que ela estava fazendo era tentar parecer confiável para manipulá-lo, não sendo realmente verdadeira.
E foi essa possibilidade que o fez levantar e impedir a garota de se afastar ainda mais.
Por mais idiota que soasse, Steve não queria se recusar a olhar a garota sem piedade. Ele havia visto uma pessoa quebrada e se recusava a acreditar que aquilo era fingimento, porque ele havia se sensibilizado. Ele tinha tido contato com uma garota perdida e assustada nas últimas semanas, Steve havia simpatizado com ela, e não era tão fácil entender que aquela garota não era real.
Não foi difícil alcança-la, mesmo com a boa distância entre eles. Segurando seu braço sem colocar tanto força, Steve a impediu de prosseguir em seu caminho ainda não definido, forçando-a a fita-lo, mesmo sem querer.
— Por que você está afastada da S.H.I.E.L.D? – perguntou ele, causando certa indignação na garota – Você queria que eu te interrogasse, não era? Então eu irei continuar.
— Não acha que eu vou manipulá-lo? – debochou a loira, puxando seu braço com mais força que o necessário, já que Steve não estava realmente mais o segurando. Foi mais para mostrar sua irritação.
— Não sei se eu me importo com isso agora – confessou Steve, e, antes que qualquer pudesse dizer mais algo, o dono do restaurante apareceu, irado pelos dois terem saído sem pagar a conta.
Envergonhados, ambos inventaram desculpas esfarrapas e Steve insistiu que pagaria a refeição sozinho.
— Eu não fui afastada – disse Avril, alguns passos mais longe do restaurante – Eu me afastei. Não me sinto em condições de trabalhar.
A sinceridade naquela frase assustou Avril em um novo nível, porque era absolutamente verdade. Sua principal ferramenta de trabalho estava comprometida. O único motivo de Fury ter lhe designado àquela missão estava fora de seu controle. Ela devia realmente ter se afastado do trabalho por segurança – não só dela, mas como de Steve também.
— Tem algo relacionado com Loki?
Por alguns segundos Avril acreditou que Steve sabia mais do que devia, e não fez questão – e nem conseguiria – esconder sua surpresa.
— Todos notamos sua mudança de comportamento, Avril. Principalmente depois da captura do asgardiano – explicou o loiro, colocando as mãos nos bolsos de suas calças. Não sabia se era bom confessar que todos a observaram por um período de tempo, mas talvez demonstrasse de que alguma maneira ele se preocupava com ela – Claro que havia também o tópico “meu pai quase morreu”, que podia estar te influenciando, mas a invasão mental parecia ser o seu maior problema. É por isso que você não estava conseguindo dormir?
Mais uma vez, trezes segundos de silêncio onde nenhuma resposta parecia ser boa o suficiente para a garota.
— Eu realmente não sei – foi a melhor resposta que Avril conseguiu, soando cansada e sem esperanças – Eu não sei mais nada de muitas coisas ultimamente.
A incerteza por trás da resposta, a hesitação em verbalizá-la... Aquilo era o mais perto de um pedido de ajuda que Avril já havia chegado. Naquele momento, ela própria se enganara, fantasiando que tudo o que dizia era apenas para conquistar definitivamente a confiança de Rogers, mas era mais do que isso. No fundo ela enxergava no soldado alguém que ela poderia confiar e contar, caso fosse necessário.
O leve desespero na voz da Stark em contraste com sua expressão determinada deixou Steve em um dilema: a garota precisava de ajuda e talvez ele fosse o único a chegar tão perto para ouvir aquele discreto pedido de socorro. Conhecendo-a como conhecia, ele tinha certeza que algo mais explícito que isso nunca sairia da boca da garota. Aquilo era mais do que uma tentativa de conquistar sua confiança, e foi o que motivo Steve a tomar uma decisão.
Ele poderia ter gasto todos os segundos do mundo para decidir como se posicionar em relação àquele momento, mas não foi isso o que ele fez. Não foi muito tempo, talvez até menos que treze segundos para determinar algo que ele tentaria se convencer ao máximo:
Avril até podia estar tentando manipulá-lo, mas, naquele momento, ela havia sido sincera, mesmo que ela não soubesse disso ainda.


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