The Real Side escrita por Jess Gonçalves


Capítulo 11
Capítulo 11 - Coisa de Família


Notas iniciais do capítulo

Férias chegando... A vida vai ser feliz de novo...



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Selvig não desgrudava os olhos de sua tela enquanto Avril tirava o Tesseract da maleta. Bruce e Tony estavam completamente perdidos no modo silencioso que os dois trabalhavam. Apenas um olhar do homem e a morena já mudava o que estava fazendo. Pelo menos parecia que eles estavam em completa sincronia.

Eles não eram necessários naquele laboratório e isso estava os incomodando.

- Stark, o que você quer fazer exatamente? - perguntou Selvig confuso. Não entendera as intenções da garota.

Avril deixou o cubo em seu lugar para explicar o seu projeto.

- Fury nos pediu para desenvolver um dispositivo para que Thor volte para Asgard - comentou ela, quando o esboço de um cilindro apareceu na tela - Esse dispositivo vai concentrar a energia do cubo, a liberando quando essa alavanca for acionada.

- E o que acontece quando essa energia for liberada? - perguntou Tony, sem saber exatamente quando sua filha montara aquele exemplo.

- Uma mini Bifrost particular - concluiu Avril sorrindo vendo as expressões confusas de Tony e Bruce - Ponte do Arco-íris? Nada de mitologia nórdica?

A garota suspirou desanimada.

- Vocês precisam ler mais - disse ela por fim, voltando sua atenção para a sua tela.

- Agente Stark - chamou-a Selvig - Honestamente, você precisa de mim aqui?

Avril sorriu para o homem.

- Precisar eu preciso - confessou a morena - Você passou mais tempo com cubinho de gelo do que eu. Mas eu ainda tenho o Tico e o Teco - apontou para Bruce e Tony.

- Desde quando eu recebo ordens de você? - questionou Tony, no mesmo instante que Nick Fury entrou no laboratório.

- Desde quando eu dei a ela esse poder e desde quando você se voluntariou para nos ajudar, Stark - rosnou o homem, depois se dirigindo a Selvig - Como Stark te dispensou, acredito que não irá se importar em ir descansar. Suas acomodações temporárias já foram providenciadas.

Concordando com a cabeça, Selvig se retirou do laboratório, não antes de ouvir Avril dizer que "tentaria não explodir o mundo sem ele".

- O projeto teórico está pronto? - perguntou Fury.

- Sim, diretor - afirmou Avril, sentindo uma pulsação nervosa vindo de seu pai. Oh, ela estava ferrada. Se fosse mais nova ela ficaria de castigo. Agora talvez ele cortasse sua mesada.

- Quando você montou isso? - perguntou Bruce, que já não se aguentava mais de curiosidade. Eles não estavam há mais de meia hora na base e ela já tinha o projeto praticamente completo.

- Durante o voo até aqui - contou ela, sentando-se em cima da mesa, arrumando sua postura e fazendo com que seu uniforme parecesse mais apertado, o que atraiu o olhar irritado de seu pai.

- Se você vai usar esse uniforme o tempo inteiro - começou Tony sorrindo - Pode, pelo menos, subir um pouco mais o zíper? Não acha que seu decote está um pouquinho exagerado?

Nick deixou o laboratório revirando os olhos. Uma guerra ele podia encarar, agora pedir que ele aturasse briguinha de pai e filha já era demais.

"Stark?", chamou a voz de Hill no comunicador. "Sim, estou falando com os dois. Cinco segundos para a visita de vocês entrar no laboratório".

Avril sequer teve tempo de xingar a mulher antes de Pepper entrar no laboratório correndo para os braços de Tony. Mesmo tendo passado rápido, foi possível ver o vulto vermelho que eram seus olhos inchados.

A ruiva se tornara a confusão em pessoa: intervia entre abraços apertados e tapas doloridos, entre palavras carinhosas e palavras ásperas.

- Pepper, as duas maneiras que você está agindo estão me machucando! - resmungou Tony, fazendo sua filha rir, chamando a atenção de Pepper.

Os olhos azuis da mulher se arregalaram ao reconhecer a roupa escura que sua quase filha usava: uma espécie de macacão preto e colado que ela vira algumas mulheres da S.H.I.E.L.D. usando.

- Agora o buraco é mais em baixo, Avril - riu Tony, cruzando os braços.

Pepper colocou as mãos na cintura e lançou um olhar severo a morena, sussurrando um simples "explique-se".

- É meio óbvio, não é? - disse Avril - Se eu estou usando o uniforme daqui, eu trabalho aqui.

- Amoleça esse tom de voz, Avril - ordenou a ruiva.

Bruce se mexeu um pouco incomodado, tentando pensar em alguma desculpa para deixar o laboratório, quase implorando ajuda com os olhos.

- Bruce, você pode ir...? - começou a garota, pensando em algo que o homem pudesse buscar.

- "Ir"? - sugeriu ele sorrindo, deixando o laboratório logo em seguida.

- Quanto tempo você trabalha aqui? - indagou Pepper vendo Avril revirar os olhos - Quando pretendia nos contar?!

- Honestamente? - rosnou Avril, se colocando de pé. Estava tão cansada daquela maldita situação que estava sem paciência para lidar com a ruiva - Eu ia passar o resto da minha vida aqui e vocês nunca saberiam.

- Mentiras atrás de mentiras, não é? - comentou Tony.

- Nós já conversamos mais cedo, Tony. Agora é Pepper e eu.

Ambos Stark se olhavam com raiva e Pepper já se preparava para apaziguar a futura briga entre pais e filha.

- Naquela hora estávamos sentindo o peso de uma perda - argumentou o homem - Achou mesmo que aquilo era tudo o que eu queria dizer? Você mentiu! Disse que estava em Oxford, mas estava em uma base da S.H.I.E.L.D.

- Eu estava em Oxford. Não menti sobre isso.

- Uma boa ação não cobre centenas de ruins - rosnou Tony - Acreditávamos que você estava na Inglaterra estudando, mas estava sendo treinada para ser uma espiã!

- Tony - pediu Pepper, colocando a mão em seu ombro - Menos.

- Não tem menos, Pepper! - continuou ele, afastando a mão da mulher - Você sabe com quem você está se metendo, Av? Assassinos e mentirosos. É isso que você é?

- Quem você pensa que é para insinuar o que eu sou? - grunhiu a morena, adiantando-se até o pai - O que você acha que sabe sobre mim? Por favor, nada que você pode achar em tabloides.

- Abaixe o tom, garota - ordenou Tony em sussurro.

- Você não tem autoridade para isso - lembrou ela - A vida é minha e eu escolho a profissão que eu quiser.

- Escolher profissão é uma coisa, enganar seus pais é outra!

- Vocês nunca perguntaram o que eu fazia fora da universidade. Eu me formei em Oxford e fui treinada lá – contou Avril - Se tivessem me perguntado e eu não tivesse falado a verdade, aí vocês teriam o direito de me julgar.

- Acha isso um bom argumento, Avril? - gritou Tony - Você mentiu para nós! Eu sou seu pai!

- E você por acaso sabe o que significa esse título, Tony? - retrucou Avril a centímetros do rosto do homem - Pai de sangue qualquer um pode ser. Pai não é só quem sustenta, Sr. Stark. Você julga tanto Howard e nunca reparou que faz a mesma coisa comigo!

- Av... - tentou intervir Pepper.

- Não se mete, Potts - rosnou a morena - Você não tem direito de quer me cobrar qualquer coisa, Tony. Pepper é mais minha mãe do que você é meu pai! Consegue entender isso? Cuidar de mim nunca foi função dela, e, se era, ela não encarou como uma obrigação. Ela, diferente de você, mesmo sabendo que estava tudo certo, olhava minha lição de casa. Ela não tentava me comprar com presentes caros, mas me presenteava com carinho. Ela conseguia me decifrar mesmo quando a mais forte das minhas barreiras estava montada. E o que você fez por mim, Tony? Em que momento da minha vida você foi meu pai? Eu tenho alguma importância na sua vida?

Tony parecia uma estátua. Eram verdades demais vindas de uma única pessoa para ele aceitar. Ele estava quebrando por dentro e não queria demonstrar. Ele não podia reclamar de Avril, ela aprendera a ser fria com ele, não foi? E era isso que ele estava mostrando. Avril estava quebrando por dentro e por fora e já não se importava mais em quem iria ver.

- Por favor - pediu Pepper com os olhos vermelhos - Vocês estão de cabeça quente...

- O engraçado... É que Howard pelo menos te deu o exemplo de trabalhador - continuou Avril, ignorando a ruiva - Olha o exemplo que você me deu! Por um milagre divino eu não sou alcoólatra. Mas tem coisa que é óbvio que veio de você. No final das contas somos opostos e iguais, não?

Com passos duros Avril deixou o laboratório, sem saber exatamente para onde ir. Tony que se virasse com aquela porcaria de dispositivo. Ela estava cansada, física e mentalmente. Por pura ironia do destino, seus pés a levaram à área de treinamento, que para a sua alegria estava vazia.

Bom, não faria mal ela quebrar uma mão socando um saco de areia. Ele estava quase a chamando!

Antes que ela começasse sua sessão, Avril sentia a presença de mais uma pessoa no local.

- Eu estava tentando calcular quanto tempo ia demorar a Fury te mandar aqui - resmungou Avril, atingindo o saco de areia com uma série de golpes.

Clint sorriu se aproximando.

- Se Fury sabe do que aconteceu, ele acreditou que não fora algo que se deve receber atenção - disse o arqueiro - Vim porque encontrei um Stark com a maior cara de velório que eu já vi na minha vida, com uma ruiva insistindo em dizer que você só estava de cabeça quente, que não pensava tudo o que dissera.

A morena acertou um último golpe forte antes de se virar para o seu superior.

- O que veio fazer aqui? Tentar aliviar para o lado do meu pai? - grunhiu ela, vendo o homem negar.

- Quero saber por que agiu daquela maneira - disse Clint por fim, se sentando em um dos bancos mais próximos - Pensei que você tinha me dito que não tinha nenhum rancor do seu pai.

- Mentir não é o que eu sei fazer melhor? Então por que a surpresa?

Sentada ao lado do arqueiro Avril se sentiu com dezenove anos novamente, começando seu treinamento. Os dois no mesmo lugar, conversando sobre o mesmo assunto, em espaços de tempo tão diferentes, mas continuava a mesma coisa.

- Não é tão simples simplesmente não guardar rancor... Embora eu ache que essa palavra não se encaixe muito bem - continuou ela, sem fazer questão de olhá-lo nos olhos, não importava se ele acreditaria ou não - Podia passar o resto da minha vida deixando Tony acreditar que ele era o pai do ano, mas ele foi hipócrita. Portou-se como o pai de todos os anos. Não deu para deixar passar.

 - Não acha que pegou pesado? - perguntou o loiro, a fazendo rir.

- Até Tony estranha verdades que saem da minha boca. Foram vinte e três anos falados em cinco minutos, fui até boazinha.

- Não acha que deveria falar com a sua mãe, no mínimo? - perguntou o homem - Ela está sofrendo com os dois lados.

- Pepper precisa parar de querer juntar nós dois - suspirou ela se levantando - Ela sai duplamente machucada.

Clint sorriu ao vê-la caminhar devagar até a saída, vendo algo de diferente na postura da garota, mas preferiu não comentar ou perguntar: mesmo se ele tivesse certo, ela não contaria o que acontecera. Naquele momento não muito bom forçá-la a mentir.

Àquela hora a movimentação na base era menor, aos poucos todos estavam se controlando diante do recente ataque mundial, e parecia que ninguém mais estava sobre os efeitos de Loki, mas ainda temiam a presença do deus no aeroporta-aviões. No laboratório, apenas Bruce e Tony permaneciam trabalhando. Avril ficou sem jeito ao entrar no recinto, sentindo-se pressionada assim que eles a fitaram.

- Por um momento, pensei que você fosse ficar verde - comentou Bruce, a fazendo perder a seriedade.

Tony não gostara muito da brincadeira e sua expressão continuou inalterável.

- Você não é o único com crises de raiva... - suspirou a morena, sentando-se mais uma vez na mesa - Onde está Pepper?

- Dormindo - disse Tony friamente, desligando a sua tela - Assim como nós. Fury pediu gentilmente para que terminássemos isso amanhã. Acredito que saiba onde é seu quarto.

Tony marchou para fora do laboratório como um raio, deixando Bruce e Avril sozinho no local, um mais confuso que o outro.

Avril realmente pegara pesado, cutucara uma ferida aberta de seu pai. Mas não fora por maldade. Claro que a maior parte do que disse foi por raiva, mas aquilo talvez abrisse os olhos de seu pai. Ele poderia melhorar com isso. Ou nunca mais olhar na cara dela.

Provavelmente ele nunca mais olharia na cara dela.

- Vai falar com ele, Av - aconselhou Bruce, tirando seus amados óculos. De uma maneira bem estranha ele tinha adquirido uma afeição pela garota - Ele vai entender, ele te ama, você sendo agente ou não.

- Para alguém que as pessoas têm medo de chegar perto, você é o tipo de pessoa que se mantêm próxima - comentou Avril, vendo Bruce esboçar um sorriso triste - Tenho pena de quem te julga por boatos.

- As pessoas não me julgam por boatos, Av - disse ele - Elas me julgam pelo monstro que vive em mim.

- Você não é um monstro - contradisse a morena - O Hulk pode até ser um pouco... Surpreendente quando se vê, mas você está longe de ser um monstro Bruce. Você precisa rever as suas definições de monstro.

Avril caminhou com passos leves até o cientista, colocando sua mão no ombro do homem.

- Tivemos um longo dia - suspirou ela - Melhor irmos dormir. Não acredito que Thor vá ficar nervoso por passar mais uma noite na Terra.

Bruce concordou e disse que desligaria os computadores, saindo do laboratório alguns minutos depois da garota.

Avril por sua vez decidiu seguir o conselho de Bruce pela manhã. Tony também deveria estar exausto e merecia um descanso, assim como a sua filha. Parecia que ela estava há dias sem dormir, por isso não hesitou em se jogar na sua cama. Só havia um problema: Avril não conseguia dormir.

XX

Eles deviam achar que dormir era uma tarefa fácil para terem a designado, mas aparecia ser algo impossível para Avril ficar inconsciente. Tinha algo muito errado com ela desde que voltara a dominar sua mente, parecia que havia mais informação no ar do que ela conhecia, era como se ela tivesse inventando dados para trabalhar.

Ela tinha a faca e o queijo na mão e queria fazer panqueca. Era confuso.

Agoniada Avril esticou a mão para pegar seu celular na mesa ao lado de sua cama: 3h00 da manhã e ela ainda lutava com seu cérebro. Assim não dava para continuar.

Bufando ela levantou da cama de deixou seu quarto, tomando o cuidado de não fazer barulho no corredor já que nas portas ao lado dormia todos os Vingadores, sem exceções. A última coisa que ela queria era alguém perguntando o porquê dela estar acordada e o porquê de estar indo falar com Loki.

O ruim do aeroporta-aviões é que aquele lugar nunca estava vazio, sempre tinha alguém andando pelos corredores trabalhando, diferente da morena que parara de frente a uma grande porta de aço guardada por dois armários-agentes.

- Ninguém tem permissão para ver o prisioneiro, Stark - informou um dos agentes sem realmente olhá-la.

- Perderam a noção do perigo? Tudo voltou ao normal e eu continuo trabalhando aqui. Podem e devem voltar a me chamar de agente - resmungou Avril passando as mãos no rosto e fechando os olhos - Olha, eu não vou demorar, só preciso de cinco minutos com ele.

- Diretor Fury proibiu visitas ao prisioneiro - insistiu o homem.

- Eu preciso falar com ele para continuar meu trabalho - mentiu a garota - Loki conhece o Tesseract tão bem, ou melhor, que eu e esse conhecimento foi requisitado pelo Selvig, pode ligar para ele se quiser, mas ele não vai ficar muito feliz em ser interrompido...

O homem fitou Avril desconfiado. Sabia que provavelmente ela estava mentindo, mas o que ele poderia fazer?

- Cinco minutos contados - informou o agente, assustando o seu parceiro. Eles estariam incrivelmente ferrados se Fury descobrisse aquilo.

Loki estava sentado no chão no canto da sala, ainda com a mordaça e as algemas, sua expressão era de extrema tristeza, algo que Avril não esperava ver vindo dele. Por mais estranho que fosse ela esperava as mesmas frases perigosas que ele dissera antes, o mesmo sorriso trapaceiro que não parecia sumir de seu rosto.

- Uau! - exclamou Avril - Dizem que ir para uma guerra muda as pessoas, será que perder uma também causa o mesmo efeito?

O olhar de Loki se tornou mais frio e por um instante Avril pode ver o gigante de gelo em sua frente. Mais uma vez ela não sentia medo na presença do homem, mas pela primeira vez ela se sentia intimidada, mesmo sem ele poder lhe fazer mal algum. Pelo menos não físico. O problema era o mental.

- O que aconteceu? Hulk comeu sua língua? - riu ela - Você não precisa do dom da fala, você pode invadir minha mente, dessa vez eu deixo. Ou você está tão fraco que não consegue penetrar em uma mente tão frágil como a minha?

Embora estivesse feliz, Avril sentia-se mal por não ouvir a outra voz da conversa. Sem temer que talvez ele pudesse despejar mais informação que ela pudesse suportar, Avril agachou na frente do homem, tirando com uma delicadeza que ele não merecia o objeto que impedia sua fala.

- Viu como eu não guardo ressentimentos? Podia te deixar aí com a língua presa, mas sou legal o suficiente para te dar a liberdade de conversar. Não vai precisar se matar para invadir minha mente.

Loki continuava com a expressão inalterada.

- Então você vai continuar em silêncio? - rosnou a morena se levantando - Você vem como um vírus na minha mente e agora não tem a decência de me explicar o que fez?

Pela primeira vez Loki sorriu. Algo então ele fizera certo.

- Só uma resposta e eu te deixo em paz – pediu a garota nervosa – Apenas uma resposta completa: o que você fez comigo?

O silêncio foi que Loki deu como resposta. Para que perderia mais tempo com aquela humana? Mesmo que tudo tivesse dado errado, ele tinha atingindo seu objetivo com Avril, mas isso não mudava as coisas. Ela que se entendesse com ela mesma, seu auxílio a morena não teria mais.

- Sabe - começou ela nervosa, andando de um lado para o outro - Eu devia ter imaginado que isso ia acontecer... Você não sabe o que é ajudar os outros, não é? Você disse que queria me proteger, mas queria uma arma ao seu lado e eu quero saber em que arma você me transformou!

Mais uma vez Avril e Loki estavam a centímetros de distância: ele, sentado em um chão sujo e com as mãos presas, mantinha sua calma inabalável; já ela estava a ponto de cuspir fogo. Olhos azuis e castanhos se fuzilavam sem dó.

- Quanta dor uma pessoa pode suportar? - questionou ela o surpreendendo - Quanta dor um olhar pode expressar, Loki? Chega perto da que você está sentindo?

A risada descontraída de Avril irritou Loki de um jeito incrível. Aquela mortal idiotamente acreditava que poderia ler suas expressões para tirar suas conclusões próprias? Era ignorância demais para uma única pessoa. Aquela conversa já cansava o asgardiano, que pensou em um jeito fácil e simples de tirá-la de seu "quarto". Sorrindo mais uma vez, Loki começou a gritar, chamando a atenção dos guardas que logo invadiram a sala, afastando Avril dele sem muita delicadeza. Não importou se Avril disse que ele não estava a atacando e que mesmo sem a mordaça Loki era inofensivo, Avril foi tirada a força da sala por um dos agentes enquanto o outro recolocava o objeto que impedia que Loki falasse.

- Espero que tenha conseguido as informações necessárias para o seu trabalho, agente Stark - grunhiu o segundo agente, fechando a porta de aço que se travou sozinha.

Bufando, Avril se afastou daquele corredor com passos largos e pesados, não se importando se acordaria uma ou todas as pessoas da base. A morena não sabia se fora o barulho que fizera ou se Thor estava tão sem sono quanto ela.

- O que esta fazendo acordada, bruxa? - perguntou o loiro, corrigindo a frase antes que a garota o enfeitiçasse - Algo perturba sua mente, Stark?

- Acho que o sono não gosta mais de mim... - brincou a morena, ignorando o fato de o loiro continuar a chamá-la de bruxa.

Thor sorriu. Não entendia o porquê de todos falarem aquelas coisas maldosas sobre Avril, até que ela era simpática.

- Sua postura mudou depois que teve sua mente de volta - comentou o deus - E não foi o peso da morte do filho de Coul que a fez mudar.

Avril olhou o homem assustada. Agora todos eram peritos em observar expressões?

- Sei o poder que meu irmão tem, agente - continuou ele ao ver que Avril não se pronunciaria - Posso ver em seus olhos que Loki mudou alguma coisa em você. Poderei voltar para casa com a garantia que a mudança que ele fez não a fez mal?

Mais uma vez ela estava exposta, e por estar no limite, não se importou em contar a verdade.

- Não tenho completa certeza se o que deu irmão fez me causou bem ou mal. Magia não é a minha área - confessou Avril.

- Magia e ciência são a mesma coisa de onde eu vim – comentou o loiro sorrindo – Você apenas não está acostumada.

- Anda acontecendo muita coisa que eu não estou acostumada – riu Avril, se apoiando na parede.

- Isso tem a ver com seu pai? – perguntou Thor inocentemente.

- É difícil explicar... Ou é muito fácil e nós que complicamos – disse ela por fim, depois de uma considerável pausa – Mas não se preocupe. Não sei o que sei o que mudou em mim, mas pode ter certeza que isso não vai criar problemas. Não o suficiente para você ter que voltar.

- Não sei se devo ficar feliz com isso, mas agradeço a sinceridade, Avril - disse Thor a fitando firmemente - Agora, acredito que mesmo que nós não consigamos dormir, pelo menos descansar devemos.

- Boa sorte tentando - suspirou Avril vendo Thor sumir pelos corredores.

Avril não perderia seu tempo tentando dormir, iria terminar a porcaria de seu trabalho primeiro.

XX

"Vingadores, reunir no laboratório" foi a primeira coisa que algumas pessoas ouviram pela manhã, e alguns até acordaram com essa voz. Avril pensara que teria os heróis em sua presença em espaço de tempo bem menor. Como eles conseguiram dormir depois de tudo que acontecera na noite passada?

Os primeiros a pisar no laboratório foram Thor e Steve, ambos com detalhes que deixavam claro que não haviam dormido bem, ou até mesmo não dormiram. No final das contas Avril não fora a única que brigara com a cama. Bruce, Natasha e Clint foram o segundo grupo a aparecer.

- Acredito que você não deixou trabalho para mim - disse Bruce, assim que viu um cilindro transparente com um metal dourado nas extremidades, muito parecido com o desenho que Avril mostrara na noite passada.

Tony chegou por último, com fortes olheiras embaixo de seus olhos castanhos e com seu sorriso cínico inseparável. O olhar que lançara a filha era mesmo que ela sempre via, sem tirar nem por. Nada mudara na relação dos dois.

- Você por acaso sabe o que é dormir? - perguntou Tony, surpreso ao ver o dispositivo pronto - Isso faz bem às vezes.

 - Você nos acordou a essa hora para apresentar esse cone mágico? - resmungou Clint bufando - Sabe quanto tempo eu demorei a pegar no sono?

- Prometo que não vou demorar mais que cinco minutos, aí você vai poder voltar para seu ninho e vigiar seus ovos - disse Avril - Fury deixou bem claro que era para reunir vocês quando tudo estivesse pronto, não é minha culpa. Thor, você pode me ajudar?

Estranhando ser chamado, Thor se pôs ao lado da morena.

- Fury pediu a Selvig e a mim duas coisas: o dispositivo tinha que trabalhar com a energia do Tesseract; e teria que levar duas pessoas na viagem.

Avril pegou o dispositivo, que era bem maior do que Bruce e Tony imaginavam, segurando uma extremidade do dispositivo e pedindo que Thor segurasse a outra.

- Não tinha como instalar um acionamento por voz - continuou ela a explicar, revirando os olhos por sua ideia ter sido desconsiderada - Demoraria muito para fazer. Por isso fomos forçados a utilizar uma tecnologia um pouco mais antiga, mas do mesmo jeito eficaz. Thor gire a sua alça para a direita.

Assim que Thor a obedeceu, o dispositivo fez um estalo oco.

- Se o Tesseract estivesse aí dentro, agora, teoricamente, estaríamos em Asgard.

- "Teoricamente"? - repetiu o loiro confuso.

- É claro que existe a mínima chance do aparelho falhar, mas aí voltamos para o fato de que fui eu que o planejei e montei então essas possibilidades passam a ser inexistentes - disse Avril, colocando o dispositivo em uma mesa - Não posso afirmar que será completamente seguro ou eficaz, pois eu não pude testar. Não há um segundo Tesseract, então não pudemos ter cobaias. Você terá que confiar na minha palavra e na minha capacidade, Thor.

Assustando a todos, o loiro concordou, demonstrando que confiava na garota. Só um extraterrestre para confiar em Avril Stark tão facilmente.

- Av, já passou cinco minutos e um segundo! - reclamou Clint.

- Está dispensado, agente Barton - disse Avril e não demorou a que o arqueiro deixasse o laboratório - Só não vá dormir demais e perder a hora para migrar para o sul!

- Sabe que ele vai te infernizar por meses, não sabe? - perguntou Natasha.

- Graças a Deus ele fica aqui e eu na Europa.

- Sabe que Fury pode designá-los para a mesma missão, não é? - disse a ruiva sorrindo maldosamente, vendo o terror se espalhar pelo rosto da colega.

- Não dê ideia, Romanoff! - grunhiu Avril, antes de Natasha deixar o local. A morena não queria missões por pelo menos um mês. Estava completamente exausta e tinha coisas um pouco pessoais para estudar.

Enquanto Avril guarda os materiais que utilizara, os homens na sala evitavam trocara olhares, mais uma vez estavam completamente desconfortáveis com a situação, e Avril fazia parte do grupo, pensava várias vezes antes de falar e acabava decidindo por não fazê-lo

- Quando vamos deportar os visitantes? - perguntou Tony à filha, que escondeu um sorriso ao ver Thor mostrar uma expressão confusa.

- Não sei exatamente que horas vai ser, mas sei que vai ser hoje - disse a morena, sentando-se encima da mesa - Diretor Fury ainda está se resolvendo com o conselho, então pode demorar um pouco.

- Conselho? - repetiu Steve.

- Aqueles intrometidos que mandaram aquela porcaria de míssel - comentou Tony, fazendo Steve concordar depois de ter lembrado.

- Digamos que mesmo você terem se unido por conta própria e sem o nosso consentimento, a culpa caiu toda sobre nós - continuou Avril - Aos olhos deles, devíamos tê-los impedido.

- A pergunta-chave é "como?". Como vocês parariam nós seis juntos? - perguntou Tony rindo, apontando para Bruce em seguida - Nem o Grandão em tamanho econômico vocês controlam.

Bruce não pareceu muito feliz com a piada.

- Exatamente por isso não é muito inteligente fazer gracinhas perto do Fury hoje.

- O que tem eu, Stark? - rosnou Fury, aparecendo na porta e pegando todos de surpresa - Avril, assim que Barton e Romanoff terminarem seus depoimentos, é a sua vez.

- Depoimento? - estranhou a garota - Para o conselho? Clint e Natasha eu entendo, mas por que eu? Eu não fiz parte dessa vez.

- Preciso enumerar em quantas partes disso a sua mão está? - ironizou o homem – Filha de um dos integrantes, nossa responsável pela Fase 2, uma das que foi atacada diretamente pelo invasor... Esqueci-me de dizer alguma coisa?

- O senhor não comentou da minha incrível competência no que foi me ordenado a fazer e podia ter feito comentários mais gentis. Nosso relacionamento está desandando, você nem reparou que estou usando brincos, diretor.

- Está querendo receber outra advertência, Stark?

- Não, senhor – respondeu Avril, pegando uma garrafa de água de sua mesa – A última que eu recebi ainda está consideravelmente nova.

- Então se prepare para seu depoimento, os conselheiros não são tão amigáveis quanto eu – rosnou o diretor, já se retirando do recinto - Depois me procure, tenho que passar as instruções da sua nova missão.

Avril teve sérios problemas para engolir a água que estava na sua boca. Nem vinte quatro horas haviam se passado desde que o exército de Loki fora derrotado e Fury já tinha outro trabalho para ela? Ela receberia outra advertência, mas faria com que ele no mínimo adiasse essa missão.

Avril saiu correndo atrás de seu chefe sem se importar se atropelaria pessoas no caminho.

No laboratório, Tony soltou uma risada forçada assim que sua filha deixou o local, saindo logo em seguida. Por mais que tentasse, a história toda não descia pela sua garganta. Era quase impossível aceitar que sua filha se tornara o tipo de pessoa que ele mais detestava.

Pepper que era a compreensiva, não ele. A ruiva aceitara sem resistência o trabalho da garota, não argumentou ou disse que não gostara. Apenas ficou do lado dela.

Pepper girava na cama tentando dormir novamente, mas sem obter sucesso. Estava nervosa sobre tudo o que acontecia, tudo que ela se envolvera tão intimamente.

- Pepps? - chamou-a Tony abrindo um pouco a porta.  A ruiva tentou falar, mas apenas saiu um som incompreensivo - Perdeu o dom da fala?

- O que aconteceu com o Senhor Mau-Humor de ontem? - perguntou a mulher sorrindo. Tony sentou-se ao lado dela, mas ficou fitando o teto do quarto.

- Do que adianta bater na mesma tecla? - suspirou o homem - Avril é adulta e deve saber o que faz da vida. A única coisa que posso fazer é não afastá-la mais do que ela já está.

Pepper sorriu. Afinal, por menor que fosse, era uma evolução.

- Se vocês se empenhassem em conviver bem, tudo seria mais fácil.

- Acha que ela perderia seu tempo para se aproximar de mim?

- Avril pode pensar várias coisas, mas ela não acha que você é perda de tempo - sussurrou Pepper perto de seu ouvido.

Tony desviou seus olhos do teto para fitar a ruiva, procurando qual quer vestígio de incerteza nos traços delicados da mulher.

- Como você pode ter tanta certeza? – perguntou ele por fim.

Pepper riu, afastando sua franja dos olhos.

- Sou a mãe dela, não sou? – sussurrou ela, vendo algo se quebrar novamente nos olhos de Tony – E você é o pai dela, só precisa se sentir e agir assim.

XX

- Diretor! - Avril implorava, andando atrás de Fury pelos corredores - Só mais um dia de folga!

- Você teve uma semana, Stark.

- Isso não conta! Estava tentando recuperar um relacionamento.

- Isso não diz respeito ao meu trabalho, agente - continuou Fury - Por isso você fará exatamente o que eu mandar. Você ainda é submissa aqui.

- Quantos anos eu passei sem pedir folga?

- Isso foi levado em conta quando você pediu a sua última folga. Vai querer outra advertência?

Contrariada, Avril cruzou os braços em frente ao peito, bufando alto.

– Pode pelo menos adiantar qual é a minha missão?

- Você podia desfazer essa trompa, agente – resmungou Fury, assim que eles chegaram a central – Fui incrivelmente bonzinho com você.

- Sinto que vou sofrer.

A movimentação na central estava bem menor do que Avril costumava ver, o que permitia que eles conversassem mais alto, e chamassem mais atenção.

- A pergunta certa não é “o que” é a sua missão, mas “quem”. Lembra-se de sua missão na Espanha?

Avril parou por alguns segundos vasculhando em sua mente qualquer coisa relacionada àquele país e logo se lembrou com um susto: em Madrid ela tivera que vigiar de longe uma pessoa suspeita.

- Pensei que eu tinha deixado bem claro que não queria mais esse tipo de trabalho – resmungou ela – Vigiar pessoas é cansativo e chato. Ou você me coloca na ação ou me tranca em um laboratório, simples.

- Você é a mais qualificada dessa vez, Stark.

- Eu sempre sou a mais qualificada! – disse Avril, e Fury não sabia dizer se ela estava reclamando ou se achando. Pelo sorriso discreto de canto, ela estava fazendo os dois. Ele merecia um prêmio por paciência inabalável.

- De todos os agentes que eu poderia mandar, você é a que precisará de menos recursos – explicou ele, se virando para olhar as suas telas – Você apenas precisará de sua mente, suas habilidades de espionagem e, se quiser descansar, um computador.

- Elogios não vão mudar minha opinião. Ainda não gosto desse tipo de missão e ponto. Dá para dizer logo quem é o infeliz que eu vou ter que servir de babá?

Fury olhou a morena por cima do ombro, tentando não sorrir. O sol começava a nascer e algumas luzes do aeroporta-aviões estavam sendo apagadas.

- Acredito que Capitão Rogers esteja consideravelmente feliz.


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Notas finais do capítulo

Acho que dá pra esquecer os atrasos nas atts com esse capítulo, né? Até eu me assustei com o tamanho dele!
Hoje não teremos aquele monte de Notas, já que pessoinhas vão demorar pra ler e escrever e eu tô com pressa u.u Mas nas férias acho que todo mundo volta (:
Assunto aleatório: alguém aqui assistir Doctor Who?



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