In Love With Her escrita por naty


Capítulo 40
Tio Jorge


Notas iniciais do capítulo

Como prometido...



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EDUARDA

Só consegui respirar aliviada quando ouvi o barulho do carro arrancando e indo embora. Eu estava sentada atrás do portão, ouvindo os chamados de Manuela e dona Marina, mas não tive força suficiente para ir lá fora e dizer a elas que não iria mais.

Doía muito saber que a minha história com a Manu tinha acabado, que eu tinha perdido a vez, mas prometi a mim mesma que não choraria de novo por causa disso. Sofreria quieta no meu canto, da maneira que sempre foi antes de eu conhecê-la e deixar que as minhas emoções ficassem óbvias a quem está de fora, de forma a me tornar vulnerável.

Eu nunca quis isso, nunca quis que as pessoas vissem que eu também sou fraca, que eu também sofro, mas isso era o “Efeito Manuela” na minha vida. Ela chegou e me mostrou que eu não precisava ter medo de demonstrar o que sentia, e isso foi tão bom. Foi ótimo conseguir colocar pra fora algumas coisas, porém, a minha segurança em fazer isso caiu por terra depois que terminamos. Acabei demonstrando muito mais do que achava conveniente.

Mas agora chega! A antiga Eduarda que apenas sorria o tempo todo estaria de volta, não importando o que vinha por dentro, a fachada prevaleceria novamente.

Levantei-me e entrei em casa agradecendo por meus pais e a Jéssica terem ido visitar o tio Bernardo, irmão da minha mãe. Precisava ficar sozinha para encarar o fato de que não tinha mais volta com a Manuela.

Não pretendia perder a sua amizade, portanto, precisava daquele tempo para aprender a agir como amiga. Aquela viagem seria uma péssima ideia se eu quisesse mesmo aprender a ser amiga dela.

Agora vejo que o convite foi apenas isso: um convite de amiga. Ela viu que eu precisava de um tempo fora e me ofereceu essa saída, mas nada além disso. Seu convite não fora, como eu pensava, uma segunda chance pra gente, tive a prova disso na noite de quinta.

Era cerca de sete da noite quando decidi ir à casa de Manu.

Para quê? Nem eu sabia, mas a desculpa era preocupação com ela. Mas uma preocupação válida, eu tinha ligado inúmeras vezes naquela tarde e ela não me atendeu.

–- Mãe, vou lá na Manu – avisei antes de sair de casa

–- Tá bom, mas não demora, seu pai quase chegando e a janta tá pronta! – minha mãe avisou, mas preferi nem responder e saí

Não pretendia demorar, só queria ver a Manu.

Eu estava tão feliz com a nossa viagem, com o tempo que eu passaria junto da minha baixinha. Poderia estar enganada, mas juro que vi no convite para ir ao Rio, uma vontade implícita de nos acertar.

Mas acho que me enganei com o que li nos olhos de Manuela. Afinal, se ela quisesse mesmo se acertar comigo, porque diabos teria aquela intimidade toda com a tal da Isa na portaria do seu prédio, ás vésperas da viagem?

Eu estava a menos de 20 metros das duas, vi claramente o abraço que elas trocaram e vi também aquela loira aguada segurando nas mãos da Manuela. Acho que naquele momento, eu finalmente descobri como a Manu se sentiu ao me ver beijando a Márcia. O ciúme tomou conta de mim com todas as forças. Claro que o que eu vi não foi um beijo, mas acho que teria sido, caso elas não estivessem em público, Manu sempre foi cuidadosa em declarações públicas de afeto quando não estávamos em um ambiente “seguro”. Só nos beijámos ou trocávamos carinhos quando estávamos sozinhas, ou entre meus amigos, e mesmo assim, se o lugar não desse acesso a mais ninguém. Ela dizia que era para o meu bem, que as pessoas não entenderiam, e principalmente que pelo fato de eu não ser assumida, deveria tomar ainda mais cuidado.

Baseada em minha experiência com ela, imaginei que se as duas tinham algo, eu não ficaria sabendo assim, uma vez que ela não demonstraria em público. Mas o que vi entre as duas, não me deixou dúvida alguma de que tinha alguma coisa rolando e que eu havia sido deixada para escanteio.

Elas se despediram com um último abraço e vi a loira indo embora em carro importado. Ainda fiquei ali mais um tempo antes de voltar para casa, derrotada. Um aperto no peito tornava difícil respirar.

O celular tocava e tocava, eu sabia que era ela, mas não queria conversar, não queria dar chance para o choro vir à tona.

Cheguei em casa e fui direto para o quarto. Não quis jantar, não quis conversar com ninguém, apenas queria ficar sozinha.

Passei a noite em claro e só fui conversar com minha mãe na manhã de sexta-feira, antes de eles pegarem a estrada rumo ao interior de São Paulo, para o sítio do tio Bernardo.

Não tive coragem de contar a minha decisão de não viajar mais para o Rio, sabia que mamãe me faria ir com eles para São Paulo.

Meu plano de permanecer em casa e não contar para ninguém, era um tanto falho, tudo podia dar errado, mas não queria pensar nisso.

A minha sorte, era que a dona Marina não sabia da ida de meus pais para São Paulo, caso contrário, tenho certeza que já teria ligado para eles, avisando que eu não apareci. Ela provavelmente pensou que eles estavam comigo, e portanto, cientes da minha desistência.

Meu maior problema, era que meus voltariam para casa dentro de duas semanas e me encontrariam aqui. O castigo para o resto das férias era certo, mas eu não me importava, não tinha nada a fazer mesmo.

Passei o dia em casa, em estado lamentável, jogada no sofá sem olhar para a TV enquanto pensava no quanto eu era sortuda com tudo que estava acontecendo na minha vida.

Não me julguem!

Um pouquinho de auto piedade nunca fez mal a ninguém e eu não seria a primeira a morrer por ficar lambendo minhas feridas. Tudo bem, tem toda aquela história de a-cruz-dos-outros-é-sempre-mais-pesada-que-a-sua, mas dane-se, eu estava sofrendo, não queria saber do sofrimento dos outros naquele momento.

Merda! Isso soou muito egoísta, não foi a minha intenção.

Os primeiros dias se resumiram a isso, ficar jogada no sofá, ou quase arrebentando as cordas do violão de tanto tocar músicas tristes e que me lembravam Manuela. Agora eu percebo o quanto o ser humano fica chato quando sofre, um verdadeiro porre.

Falava com mamãe todos os dias, como se estivesse mesmo no Rio, e me esforçava muito para parecer alegre, e acho que fiz um bom trabalho uma vez que ela não fazia nenhum questionamento a respeito disso. Uma coisa que me deixou um pouco apreensiva era que mamãe me relatara que Princesa não andava muito bem. Eles a haviam levado para São Paulo uma vez que não teria ninguém em casa para cuidar dela, assim como Manu provavelmente fez com Dobby.

Estava tudo ás mil maravilhas, até eu precisar sair de casa para comprar comida. Já estava em casa a uma semana, era sexta-feira novamente e o estoque de macarrão instantâneo tinha acabado, meus biscoitos recheados estavam no fim e a minha última tentativa de cozinhar algo resultou em uma massa cinzenta grudada no fundo da panela, que eu gostaria muito de poder chamar de macarrão.

Não tinha mais jeito, eu teria que ir ao supermercado.

Pois bem, tirei o pijama, tomei um banho e me vesti para sair. Só compraria o necessário para sobreviver sem precisar sair de casa até meus pais chegarem e me proibirem justamente de sair, olha que ironia.

Peguei um ônibus e me dirigi a um supermercado um pouco mais distante de casa para não correr o risco de ser vista por algum conhecido. Só não e atentei ao fato de ser tapada o suficiente para esquecer que o supermercado onde eu me encontrava, era pertinho da casa do tio Jorge, pai da Ana.

Estava bem eu lá no caixa - passando meus infinitos Cup Noodles que eram as minhas refeições de café da manhã, almoço e jantar e meus biscoitos e chocolates que comia nos intervalos entre eles quando ouvi aquele grito estridente, inconfundível.

–- EDUARDAA! – droga, Ana Maria, precisava gritar tanto? Aposto que lá onde meus pais estavam podiam ouvir sua voz.

Ainda tentei me esconder atrás de uma prateleira com revistas e livros que havia ali perto do caixa para que as pessoas pensassem que não conhecia aquela louca que gritava no meio do supermercado, atraindo a atenção de todos.

–- NÃO ADIANTA SE ESCONDER, EU “” TE VENDO! – berrou novamente, dessa vez tão perto que eu quase me convenci que tinha rompido os tímpanos

– Posso saber o que você faz aqui que não tá no Rio e Janeiro? – Ana perguntou, mas eu a ignorei completamente enquanto tirava o dinheiro da carteira e entregava para a senhora com óculos de fundo de garrafa que estava no caixa.

–- Eduarda Ribeiro, eu juro que se você não começar a falar agora, nesse momento, right now, eu vou fazer um escândalo nesse supermercado.

Agradeci a senhora, que nos observava com curiosidade, coloquei minhas coisas em uma sacola retornável que havia levado comigo, e só então peguei Ana pelo braço e saí rebocando-a para fora dali.

–- Em primeiro lugar, você já fez o escândalo e todo mundo nesse supermercado está de prova. Segundo, e mais preocupante, você tem andado demais com o Rafael, está ficando idêntica a ele – falei mal humorada

–- Vou levar em conta o que eu estou vendo nessa sua cara emburrada e relevar o que você disse. Você tem duas opções, ou me conta o que aconteceu e explica direitinho o que a senhorita ainda está fazendo em BH enquanto a sua família foi para São Paulo e a sua namorada foi para o Rio, ou eu ligo para a Manuela agora e descubro porque você tá com essa cara de enterro.

Dei de ombros sem encarar a minha amiga, que era uma das pessoas que mais me conheciam em todo o mundo.

–- Eu desisti de ir Ana, só isso. E a Manuela não é minha namorada – falei em um fio de voz, encarando o chão

–- Só isso uma ova! Vem, nós vamos lá pra casa e você vai me contar essa história direitinho, tim-tim por tim-tim

Sem alternativas, me vi forçada a seguir Ana até sua casa, que ficava a menos de dez minutos de caminhada dali.

***

–- Toma, cuidado que tá bem quente – Ana disse, me entregando uma xícara com chá de camomila, que tem efeito calmante, e sentando-se do meu lado no sofá novamente com a sua própria xícara na mão.

Nós tínhamos esse hábito de tomar chá nas horas mais estranhas. Adorávamos, foi um costume que aprendemos ainda crianças com a mãe de Ana, que era louca por chás de todos os tipos. Sorri ao me lembrar disso, acho que o meu primeiro sorriso de verdade desde quinta-feira à noite.

–- Duda, eu não acredito que você fez isso – Ana falou distraidamente, enquanto mexia seu chá com uma pequena colher.

–- O que você queria que eu fizesse? Fosse com ela e passasse as férias inteiras me torturando por tê-la perdido para aquela loira aguada?

–- Ei! – Ana reclamou

–- Desculpe, não quis ofender a classe, mas que ela é aguada, isso ela é!

–- Amiga, você tá pior do que eu pensei. Agora deu para mentir? Nós duas sabemos que a Isa não tem nada de aguada, a garota é linda, simpática, inteligente – a cada palavra eu me afundava mais no sofá, principalmente por saber que era tudo verdade – Assume que isso é dor de cotovelo em estágio avançado que é melhor

Ana me olhou e eu apenas dei de ombros, não querendo dar o braço a torcer, mudei de assunto rapidamente.

–- Isso não importa mais, se a Manu vai ficar feliz com ela, eu também fico feliz

–- Claro que fica! – Ana foi irônica – Você não vai nem mesmo tentar lutar por ela?

–- Eu pisei feio na bola com a Manuela, ela tem todo o direito de não me querer mais. Se eu pensei que ela me daria outra chance quando me chamou para viajar? É claro que eu pensei! Mas se eu tentei de tudo para ela voltar para mim durante esse tempo que ficamos separadas e ela não me quis mais, acho que tá na hora de tirar meu time de campo.

–- Deixa de ser mula, Eduarda! A Manu te ama e eu tenho certeza que ela não com a Isa, isso é tudo coisa da sua cabeça.

–- Ana, eu sei o que eu vi!

–- Um abraço! Claro, abraçar as pessoas é a nova forma de dizer “a gente tá se comendo”

–- Ah, não enche! Vem cá, cadê seu pai? Tô com saudades dele, faz tempo que a gente não se vê. – falei desviando o foca daquela conversa, sabendo que acabaríamos brigando por causa disso caso o papo continuasse naquele rumo

–- Ele deve chegar daqui a pouco, tá de plantão, parece que o cargo de Cirurgião Chefe está vago e ele quer mostrar serviço para consegui-lo. Você sabe, desde que a mamãe morreu, a vida dele é aquele hospital

–- É... Espero que ele consiga o cargo, tio Jorge merece

***

–- Eduarda, eu não vou deixar você ir embora e ficar sozinha naquela casa

–- Mas tio...

–- Eu concordei em não contar para seus pais que você mentiu que foi para o Rio, mas não vou te deixar voltar para lá, você vai ficar aqui e amanhã a Ana vai com você pegar algumas coisas para passar o tempo que seus pais estiverem fora conosco, fim de papo.

Abaixei a cabeça e concordei com ele, afinal, só de concordar em mentir para o melhor amigo apenas para me proteger, tio Jorge já estava me ajudando demais, não poderia desobedecê-lo.

–- Tudo bem tio, brigada por tudo

–- Dá cá um abraço, teimosa!

Não pensei duas vezes antes de abraçar aquele homem que eu amava como um tio de verdade, mas para ele, eu era mais que uma sobrinha, Jorge sempre me tratou como se fosse filha dele.

–- Ei, assim eu fico com ciúmes, quero abraço também! – Ana acabava de descer as escadas e correu, nos abraçando.

Me sentia muito bem ali, aqueles dois eram minha família também e sabia que podia contar com eles sempre que precisasse.

Tio Jorge subiu para tomar banho e falou para irmos arrumando tudo na sala para assistir alguns filmes.

–- E eu quero pizza de calabresa, tem dinheiro no balcão da cozinha – falou enquanto ia em direção ao quarto.

Como sempre, a discussão sobre quais filmes iríamos ver foi causada pela recusa de Ana em ver qualquer coisa que tivesse a mínima característica de terror. Decidimos por duas comédias.

Ana e eu dividíamos um sofá, eu sentada e ela deitada com a cabeça em meu colo, e tio Jorge esticou-se no outro. Assistimos o primeiro filme enquanto degustávamos da pizza e antes da metade do segundo, Ana apagou enquanto eu mexia em suas mechas loiras.

Ao perceber que a filha tinha dormido, tio Jorge resolveu puxar assunto vendo que eu não estava lá muito interessada no filme:

–- Duda? – chamou sem desgrudar os olhos da televisão a nossa frente

–- Oi tio

–- Eu sei que esse tipo de coisa você gosta de conversar com a Ana, mas eu notei que você está meio triste e também não engoli a história de você ter dormido demais e perdido a hora de viajar para o Rio com a Manuela. O que eu quero dizer é que você pode confiar em mim para qualquer coisa, se precisar da opinião de alguém mais velho e não quiser falar com a Drica e o Toni, eu estarei sempre aqui.

–- Brigada tio Jorge, mas não se preocupe, não é nada – ele me passava muita confiança, mas mesmo assim, eu tinha receio de conversar abertamente sobre meus problemas.

Ele acenou em concordância e voltou sua atenção para o filme, eu fiz o mesmo por alguns segundos, e então me lembrei de algo em que tio Jorge poderia ser muito útil.

–- Tio? Na verdade, tem sim uma coisa em que o senhor pode me ajudar

–- Sim... – eu podia ver um sorriso de canto em seu rosto, mas ele não fez nenhum comentário

–- É so-sobr... É sobre o Diogo – falei e vi um pouco de confusão começar a se manifestar em suas feições antes que ele fizesse sinal para que eu continuasse – Tio, antes de continuar a falar, eu preciso que o senhor me dê a sua palavra de que vai manter segredo sobre essa conversa, meu pai não pode nem sonhar que eu andei perguntando sobre isso.

–- Duda, eu acabei de dizer que você pode confiar em mim para qualquer coisa, não foi? – perguntou sentando-se de frente para mim e eu balancei a cabeça em sinal de conformidade – Então muito bem, você tem a minha palavra de que essa ou qualquer outra conversa que possamos vir a ter jamais sairá daqui, melhor assim? – completou com um sorriso que me deu uma tranquilidade imensa para continuar com o assunto

–- Acho que isso serve – brinquei para quebrar um pouco o clima tenso que se instalara ali.

–- E então? Vai me deixar te ajudar?

–- Sim... É que eu queria falar sobre o pai do Diogo, o Eduardo. Eu quero saber a verdade sobre a história dele e dos meus pais – decidi falar logo, sem mais enrolações, agora que me sentia segura para falar sobre o assunto, estava ansiosa para saber o que ele poderia revelar.


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Notas finais do capítulo

o que me dizem? gostaram do capítulo?

p.s. Prometo responder aos comentários atrasados na próxima vez que postar. Desculpem a falta de retorno, principalmente quem está sempre por aqui, lendo e comentando.

Um beijo para todxs, mas em especial para: Sarah Martins, Gambeta, Ms Lee Barbosa Fernandes, DudaTrigger, Lady Riddle (bem-vinda!), DudaDuda, ShayRs, Mitch, eloysi.

Se esqueci de alguém, me perdoem, difícil lembrar de odo mundo assim, no susto, e eu também não tenho uma das melhores memórias não kkkk


abraços e até mais ;*